quarta-feira, 26 de maio de 2021

A nossa Nuremberg é um '‘pênis’' na Fiocruz

 




Estou lendo “Lições de Metafisica” de José Ortega Y Gasset (1883-1955) – ele foi ensaísta, jornalista e ativista politico, também, fundou a Escola de Madrid e foi o maior filósofo espanhol do século vinte – e dado momento, ele em sua aula de metafísica (o livro é um copilado dele mesmo dessas aulas com edição, claro), ele diz que o salão e a poltrona onde está sentado, é mera abstração do agora. Ou seja, se estou aqui digitando esse texto em algum programa de edição de texto, estou potencializando para alguém ler, só que meu agora não será o agora da pessoa que vai ler o texto no futuro. Assim, não podemos projetar a nossa realidade – com todos os valores e conceitos que isso exige – com outras pessoas que tem as suas realidades e tem a mania de achar que existe uma realidade universal. Até entendo que isso veio diretamente dos gregos – introduzida pela igreja católica através da filosofia platônica – mas não somos gregos, não somos um povo antigo e não temos nenhuma realidade universal como acabei de provar.

Esse texto não é só para debruçarmos sobre o “pênis” visto pela doutora Mayra Pinheiro – que faz parte da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde – mas, também, o que ficou claro com a leitura daquele patético texto do senador Renan Calheiros, que comparou essa CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ao julgamento de Nuremberg. Primeiro, esse fenômeno que a secretaria demonstrou, seu primeiro sintoma foi percebido no vídeo da “tiazinha” que entrou no Congresso e numa exposição sobre o Japão achou que a bandeira japonesa era uma bandeira comunista. Uma outra coisa de Ortega Y Gasset, é que ele pensava que ignorância não era só não saber ou não pensar, mesmo o porquê, uma pedra não sabe e ela não ignora nada. A pedra não tem consciência de si mesmo. O problema todo é que o brasileiro, de um modo geral, precisa de um líder porque não gosta de saber quem é o seu eu, mas não é o “self” (o eu transcendental), mas o eu voltado no tempo agora e perceber que o agora é diferente do ontem e vai ser diferente no amanhã. Por isso mesmo, chamam o povo de um modo geral – aquilo estou mesmo generalizando – de reacionário (a esquerda, também, não podem dizer nada, porque são também). Se inventa um passado que nunca existiu, para justificar as maluquices que se diz hoje. No caso da “tiazinha” que pensou que a bandeira japonesa era uma bandeira comunista, a questão era que ela não tinha ou não tem consciência de uma realidade fora de uma bolha que criaram (todo mundo que acredita na esquerda é comunista, que não é verdade). E a esquerda que construiu uma imagem dos militares como a instituição fascista por excelência, que não pode ter militares que acreditam numa vertente da esquerda.

Dai vale uma reflexão. Tudo que achamos ser uma realidade, na verdade, são abstrações de uma cultura ou de um pensamento. Uma bandeira, por exemplo, é uma abstração de alguma nação ou de alguma ideologia que governa (igual n caso da União Soviética ou a Alemanha Nazista) e que, nada mais é, do que uma ideia. Como mapas (não existem fronteiras). Como muitas outras coisas que pensamos ser verdade, que na realidade, são coisas para demarcar um ponto a se seguir e nesse contexto, a questão do símbolo fálico (que a humanidade usa a séculos) ainda está muito enraizado na nossa cultura. Porque o cristianismo – por via de Paulo de Tarso – demonizou o sexo como algo que pode sim dar prazer e fazer as pessoas terem uma sensação boa de ter autoestima. Não há problema nenhum nisso. Se você não gosta ou não quer isso, está tudo bem, o outro quer. Você enquanto você é único, tem seu próprio conceito e suas crenças. A “tiazinha” viu o comunismo porque as suas crenças (levadas pelo medo) não enxergou ser um vermelho, não do comunismo, mas de um sol do oriente onde o Japão se encontra. Isso teria que ser um conhecimento universal.

Do mesmo modo podemos dizer das falas do senador ou da secretaria, são visões subjetivas (no sentido de entendimento) de crenças (talvez, até conceitos) que rodeiam suas realidades. Talvez, politicagens, ou até mesmo, visões morais de uma coisa que não existe, mas que acaba atrapalhando o andar de uma ética e educação melhor. E, porque não, modernizar o Brasil, um país atrasadíssimo.