domingo, 7 de novembro de 2021

Os canalhas querem carniça

 




Amauri Nolasco Sanches Jr

 

Desde muito cedo sempre achei de mal gosto de a mídia ficar fazendo homenagens para artistas que morreram, porque sempre via aquilo como uma “boquinha” de audiência. Ora, onde fica o ponto moral de respeito por quem se morre por um acidente trágico? Não estamos falando de coisas que quebram ou objetos que apodrecem, seres humanos como nós sofrem algo e morrem de forma trágica e outras pessoas (seres humanos) sofrem porque eram parentes ou amigos próximos dessa pessoa. Essas homenagens – como essa mídia urubu sempre fez – sempre me deu um ar de demagogia, do mesmo modo, que adversários políticos ficam “lambendo” aquele que se morreu.

Na sexta-feira (5), uma trágica tragédia nos pegou de surpresa: o avião que a cantora Marilia Mendonça caiu num riacho perto onde ela iria fazer um show naquele dia mesmo. Independente de não gostar da música dela – e não gostava porque é uma sofrência exagerada – temos que ter empatia com os parentes da moça e lamentar do trágico fim de uma carreira toda pela frente por causa de um acidente desses. Um ser humano que morre. Um ser que amava e era amado, respeitava ou não, tinha seus desafetos ou não, mas era um ser humano, um igual a nós. Poderíamos perguntar: qual o ponto moral dessa reflexão? O que poderíamos fazer para não desacreditar que nossa sociedade não ficou objetivada?

A questão começa quando se tem a tentativa de reaver algumas condutas morais universais – por que não, éticas – que são basilares para uma conduta social mais justa. Ser justo ou injusto tem a ver com condutas morais, porque tem a ver com o modo social, que queiramos ou não, vai moldando a personalidade daqueles que não tem um caráter forte. Caráter tem a ver com ética e ética tem a ver com educação familiar. Se confunde muito no Brasil educação e escolarização, que não é a mesma coisa, porque o caráter é construído dentro de uma educação familiar do exemplo. Homens violentos são filhos de outros homens violentos. Do mesmo modo, pessoas com uma má educação – o conhecido folgado – sempre receberam essa educação. Homens machistas tóxicos, são exemplos de outros homens machistas tóxicos. O respeito e a etiqueta – que vai muito além de se portar numa mesa – está sempre ligado ao caráter do individuo e ate mesmo, no modo de traição, onde se você não teve um ambiente saudável, dificilmente, vai construir um. Ou seja, o caráter é construído dentro da sua casa. A escola escolariza para construir uma moral social, onde se aprende as matérias que vão ser importantes socialmente (embora eu ache que a escola emburrece e faz o ser humano escravo da tecnocracia burocrata).

A questão vai muito além do que meras escolas, tem a ver com a cultura que estamos inseridos. Se não se lê e se objeta pessoas ao ponto de um presidente da república confundir educação com politicamente correto, o que dizer respeitar pessoas ou a moral social? Porque respeitar uma escolha é no mínimo, respeitar vários pontos da construção de uma sociedade justa e que respeita o outro como um ser humano que tem opiniões e que um modo de pensar é só um modo de pensar, nada mais. Não tem nada a ver, por exemplo, alguém ser gordo e não ter talento na música, ter uma deficiência e não ter talento na escrita, pois, os dois exemplos são pontos estéticos e nada tem a ver com talentos inatos (sim, sou a favor de alguns pensamentos inatos). Embora a cantora em questão, teve que se render com a estética normativa para não encherem o saco dela, mesmo assim, noticias sobre isso enchiam os portais de fofoca. Eram lidos? Eram mais acessados? Há alguma dúvida que há um mercado estético graças ao pensamento de perfeição normativo?

Do mesmo modo, quantas notícias já escrevi sobre pessoas com deficiência e ninguém ligou a mínima? Só notícias de tragédias ou sofrimento. Ou, campanhas apelativas como o Teleton, que nos transformam pessoas sofredoras e que dependem de outras para vivermos. Mas, quantos talentos podemos ver com deficiência?  Isso não se mudou de deficiente ou aleijado, para pessoas com deficiência, mostrando como o capacitismo, a gordofobia etc., nada tem a ver com a linguagem. Aí se entra a educação. Será que a cultura do apelido não é um modo de expressar o preconceito? Será que a cultura de rejeitar aquilo que é estranho, não colaborou com isso?