sexta-feira, 28 de julho de 2023

O QUE É FILOSOFIA?

 






Todo mundo espera que eu conte a historia da filosofia desde Tales, mas, isso não responderia a pergunta inicial. Para responder “o que é filosofia?” temos que olhar com os olhos muito longe (como a coruja de Atenas) sobre a frase e a pergunta. Quando dissemos “o que é” queremos saber se aquilo tem explicação, pois, o “é” é uma indicação de algo ou alguém. Mas, o “alguém” – como se perguntasse “quem é aquele sujeito?” – tem uma conotação muito mais individual. Nesse caso, o “o que é” como coisa (o problema metafisico da essência da coisa – repassa o real motivo da pergunta em si mesmo. Dai, em essência, a FILOSOFIA como conceito para a ser o sujeito da analise e da resposta pertinente.

O filosofo não pode ser confundido como um sacerdote que guarda uma caixa ultrassecreta que ninguém – como querem os acadêmicos puristas – pode acessar dentro e saber dos males que isso pode trazer. A filosofia é um desenvolvimento de um pensamento logico sobre acontecimentos (fatos) que aconteceram ou ideias – através de discursos – podem nos afetar e nos alienar completamente. O que acontece que muitos usam a filosofia (como modo de denúncia) para analisar coisas específicas e não, a filosofia tem o modo de analise generalizado como modo de analisar um todo. Concordo com o filosofo e teólogo Johannes Hessen que disse: “Enquanto as ciências particulares tomam por objeto uma parte da realidade, a filosofia dirige-se à totalidade do real.”. Ou seja, a ciência não tem nenhuma competência em analisar a totalidade da realidade porque não pode analisar sem sair do foco daquilo que esta analisando – dizem que por consequência de Descartes, mas voltamos a questão mais adiante – por interesses daqueles que lhe patrocinam ou aqueles que não querem mesmo. A filosofia tem um aspecto mais livre, porque o poder não gosta da filosofia (porque faz as pessoas raciocinarem), e porque o próprio povo não gosta da razão.

Para responder “o que é isto” temos que analisar o que seria sua natureza, seu propósito. Tem a ver com a verdade (areté), mas, não é qualquer verdade. Era a verdade grega, ou seja, o não oculto das verdades da realidade. A verdade pós-moderna tem a ver com o relativismo e a desconstrução de certos discursos e no mais, tem a questão do subjetivismo que tem a ver com a questão intrínseca das amarras o que é verdade ou não. A meu ver, não sou desconstrutivista ao ponto de achar que todo idealismo platônico esteja errado – ai trazemos um pouco da questão iluminista e da igreja cristã – mesmo o porque, a questão platônica é outra. A questão das ideias (ou formas) tem a ver com a consciência entre o eu pensante (cogito) e o outro (a coisa externa), no rompimento daquilo que existe e aquilo que imaginamos. Por que a questão platônica não pode ser algo psicológico? Ou de imaginação?

Na essência a filosofia respondeu varias questões com a imaginação. Nós, os filósofos, respondemos questões imaginando realidades e explicações sobre aquilo que estamos analisando. Primeiro, como muitos, olhamos a realidade com outros olhos, pois, como sempre digo, se era para ser igual todo mundo, eu não teria feito o ensino médio (como a maioria das pessoas não gostam de fazer). Por que? Com o conhecimento todo mundo pode fazer uma analise mais apurada dos fatos, porque tem conceitos o bastante para fazer tal espreitada. Se é para fazer coisas iguais a maioria da sociedade, jogaria meus livros na lata do lixo e seria mais um na multidão. Seria fácil e não me agoniaria com uma humanidade cheia de defeitos e erros risíveis. E, por outro lado, não é que o iluminismo foi errado em dizer que o conhecimento iria mudar o mundo – de fato muda – mas, a humanidade confunde conhecimento com dogmas primários. Dogmas primários deixam o ser humano com alma de rebanho.

 Mas o que é um dogma primário? Esse conceito foi criado por mim para explicar coisas enraizadas a milênios como preconceitos e tendencias, como homens terem que ser os provedores, ou que pessoas devem reverencias a outros seres humanos só por serem líderes artificiais. Criamos um mundo antinatural para abrigar conforto e bem-estar, mas, criamos prisões conceituais para abrigarem nossas certezas (artificiais). Todos os ditos líderes mundiais são líderes artificiais, porque não mostram força e nem a capacidade de liderança sem nenhum poder bélico. O ESTADO constrói esse tipo de líder para ser seu bonequinho.

Voltamos ao “não faria ensino médio” e vamos ver que a escolaridade é muito mais um conceito hoje – em um mundo pós-moderno cheio de questões liquidas – do que uma forma de educação. Claro, educar se começa na Grécia antiga e se chamava PAIDEIA e era mostrar a alma grega, já a forma romana (ou latina) tinha a ver com o EDUACARE, ou “trazer a realidade”. Qual escolarização hoje, traz a realidade? Se na antiguidade as cavernas eram escuras e traziam sombras – como formas retorcidas dos objetos da realidade – hoje, no mundo pós-moderno, as cavernas são iluminadas. As escolaridades trazem uma outra coisa (nem alma e nem a realidade), trazem a alienação e a escravização do ser humano em um projeto de progresso que trará danos a natureza e ao próprio homem (ser humano).

Se por um lado a educação (como conhecimento) liberta, por outro lado a educação pós-moderna escraviza em narrativas de convencer a viver em cavernas. Simulacros. Mas, o que seria simulacro? A ideia por traz do simulacro foi formada como conceito filosófico pelo filosofo francês Jean Baudrillard em seu livro “Simulacro e Simulação” (de 1981 que deu origem ao filme Matrix de 1999). O conceito de simulacro se refere uma copia, uma imitação ou representação que não possui uma realidade original ou genuína por detrás dela. Vimos isso na estética quando meninas muito jovens querem parecer “bonecas” perfeitas, desejadas, entre filtros (das redes sociais), botox nos lábios ou no rosto, ou silicone nas partes que tem mais acentuação sexual. A futilização da estética em um ato de esconder quem você, realmente, é para sair da mesmice sendo mais uma usada, descartada quando não mais servir como novidade.

O conceito de Baudrillard pode ter ligação com o meu do dogma primário, pois, como vivemos em uma sociedade em que o conceito de realidade foi obscurecido e substituído por simulacros, ele atende a dogmas que temos na parte animal. Ou seja, a maioria dos homens não mais deseja a essência feminina como protótipo de humanização (de um modo racional) e sim, a objetificação do corpo como meio de prazer que ao se satisfazer, são descartados. Assim, Baudrillard descreve como quatro estágios que poderiam ser representações que vão além da relação tradicional entre o original e a cópia.

Primeiro lugar, existe um simulacro verdadeiro, que nessa fase, uma cópia ou representação imita fielmente uma realidade original (como os simuladores que temos por ai) que ainda existe. A cópia, ainda, tem uma correspondência daquilo que é real. Podemos observar, que ele descreve realidades que, talvez, estavam começando e ainda não tinham uma maior força como existe agora. Os simulacros são muito mais reais (as irmãs Wachowski foram fiéis no Matrix) e podem imitar uma realidade que existiu ou que, ainda, não existe e pode existir. Como filmes de ficção cientifica.

Em segundo lugar, existe o simulacro perverso, que cria uma cópia e começa a distorcer e deturpar a realidade original, mas ainda faz referência a ela. Ou seja, nesse estágio está muito difícil entender um original (como pessoas que perdem sua originalidade) porque a conexão entre a copia e a realidade se torna muito mais fraca. As bonecas são algo que simula, como existe a simulação da simulação imitando as questões estremas.

Em terceiro lugar, existe o simulacro mascarado onde não se relaciona com nenhuma realidade original, mas tenta parecer genuína e autêntica. Seria uma ilusão da realidade que é mantida, mesmo não tendo nenhuma correspondência com uma original. Estamos falando em simulacros de realidades que não correspondem a nenhuma realidade conhecida.

Em quarto e último, um simulacro completamente simulado, onde as representações se devem sem nenhuma referência com qualquer realidade original. Tudo se torna puramente simulado, sem nenhuma base real. A sociedade esta imersa em um mundo de representações que se autorreferencia a qualquer realidade original. Tudo se torna somente um simulado, sem nenhuma base do real. Ou seja, a humanidade esta imersa em um mundo de representações autorreferenciais que não teria nenhuma substancia do real.

Quando você tem o conhecimento não precisamos analisar as coisas de forma rasa, assim, a resposta em ultima analise sempre surge de uma forma mais correspondente a além que todo mundo acredita saber.

 

Amauri Nolasco Sanches Jr