Todo mundo espera que eu conte a historia da filosofia desde
Tales, mas, isso não responderia a pergunta inicial. Para responder “o que é
filosofia?” temos que olhar com os olhos muito longe (como a coruja de Atenas) sobre
a frase e a pergunta. Quando dissemos “o que é” queremos saber se aquilo tem
explicação, pois, o “é” é uma indicação de algo ou alguém. Mas, o “alguém” –
como se perguntasse “quem é aquele sujeito?” – tem uma conotação muito mais
individual. Nesse caso, o “o que é” como coisa (o problema metafisico da
essência da coisa – repassa o real motivo da pergunta em si mesmo. Dai, em
essência, a FILOSOFIA como conceito para a ser o sujeito da analise e da
resposta pertinente.
O filosofo não pode ser confundido como um sacerdote que
guarda uma caixa ultrassecreta que ninguém – como querem os acadêmicos puristas
– pode acessar dentro e saber dos males que isso pode trazer. A filosofia é um
desenvolvimento de um pensamento logico sobre acontecimentos (fatos) que
aconteceram ou ideias – através de discursos – podem nos afetar e nos alienar
completamente. O que acontece que muitos usam a filosofia (como modo de denúncia)
para analisar coisas específicas e não, a filosofia tem o modo de analise
generalizado como modo de analisar um todo. Concordo com o filosofo e teólogo
Johannes Hessen que disse: “Enquanto as ciências particulares tomam por objeto
uma parte da realidade, a filosofia dirige-se à totalidade do real.”. Ou seja,
a ciência não tem nenhuma competência em analisar a totalidade da realidade
porque não pode analisar sem sair do foco daquilo que esta analisando – dizem
que por consequência de Descartes, mas voltamos a questão mais adiante – por
interesses daqueles que lhe patrocinam ou aqueles que não querem mesmo. A
filosofia tem um aspecto mais livre, porque o poder não gosta da filosofia
(porque faz as pessoas raciocinarem), e porque o próprio povo não gosta da
razão.
Para responder “o que é isto” temos que analisar o que seria
sua natureza, seu propósito. Tem a ver com a verdade (areté), mas, não é
qualquer verdade. Era a verdade grega, ou seja, o não oculto das verdades da
realidade. A verdade pós-moderna tem a ver com o relativismo e a desconstrução
de certos discursos e no mais, tem a questão do subjetivismo que tem a ver com
a questão intrínseca das amarras o que é verdade ou não. A meu ver, não sou
desconstrutivista ao ponto de achar que todo idealismo platônico esteja errado
– ai trazemos um pouco da questão iluminista e da igreja cristã – mesmo o
porque, a questão platônica é outra. A questão das ideias (ou formas) tem a ver
com a consciência entre o eu pensante (cogito) e o outro (a coisa externa), no
rompimento daquilo que existe e aquilo que imaginamos. Por que a questão
platônica não pode ser algo psicológico? Ou de imaginação?
Na essência a filosofia respondeu varias questões com a
imaginação. Nós, os filósofos, respondemos questões imaginando realidades e
explicações sobre aquilo que estamos analisando. Primeiro, como muitos, olhamos
a realidade com outros olhos, pois, como sempre digo, se era para ser igual
todo mundo, eu não teria feito o ensino médio (como a maioria das pessoas não
gostam de fazer). Por que? Com o conhecimento todo mundo pode fazer uma analise
mais apurada dos fatos, porque tem conceitos o bastante para fazer tal
espreitada. Se é para fazer coisas iguais a maioria da sociedade, jogaria meus
livros na lata do lixo e seria mais um na multidão. Seria fácil e não me
agoniaria com uma humanidade cheia de defeitos e erros risíveis. E, por outro
lado, não é que o iluminismo foi errado em dizer que o conhecimento iria mudar
o mundo – de fato muda – mas, a humanidade confunde conhecimento com dogmas
primários. Dogmas primários deixam o ser humano com alma de rebanho.
Mas o que é um dogma
primário? Esse conceito foi criado por mim para explicar coisas enraizadas a
milênios como preconceitos e tendencias, como homens terem que ser os
provedores, ou que pessoas devem reverencias a outros seres humanos só por
serem líderes artificiais. Criamos um mundo antinatural para abrigar conforto e
bem-estar, mas, criamos prisões conceituais para abrigarem nossas certezas
(artificiais). Todos os ditos líderes mundiais são líderes artificiais, porque
não mostram força e nem a capacidade de liderança sem nenhum poder bélico. O
ESTADO constrói esse tipo de líder para ser seu bonequinho.
Voltamos ao “não faria ensino médio” e vamos ver que a
escolaridade é muito mais um conceito hoje – em um mundo pós-moderno cheio de
questões liquidas – do que uma forma de educação. Claro, educar se começa na
Grécia antiga e se chamava PAIDEIA e era mostrar a alma grega, já a forma
romana (ou latina) tinha a ver com o EDUACARE, ou “trazer a realidade”. Qual
escolarização hoje, traz a realidade? Se na antiguidade as cavernas eram
escuras e traziam sombras – como formas retorcidas dos objetos da realidade – hoje,
no mundo pós-moderno, as cavernas são iluminadas. As escolaridades trazem uma
outra coisa (nem alma e nem a realidade), trazem a alienação e a escravização
do ser humano em um projeto de progresso que trará danos a natureza e ao
próprio homem (ser humano).
Se por um lado a educação (como conhecimento) liberta, por
outro lado a educação pós-moderna escraviza em narrativas de convencer a viver
em cavernas. Simulacros. Mas, o que seria simulacro? A ideia por traz do
simulacro foi formada como conceito filosófico pelo filosofo francês Jean Baudrillard
em seu livro “Simulacro e Simulação” (de 1981 que deu origem ao filme Matrix de
1999). O conceito de simulacro se refere uma copia, uma imitação ou representação
que não possui uma realidade original ou genuína por detrás dela. Vimos isso na
estética quando meninas muito jovens querem parecer “bonecas” perfeitas,
desejadas, entre filtros (das redes sociais), botox nos lábios ou no rosto, ou
silicone nas partes que tem mais acentuação sexual. A futilização da estética em
um ato de esconder quem você, realmente, é para sair da mesmice sendo mais uma
usada, descartada quando não mais servir como novidade.
O conceito de Baudrillard pode ter ligação com o meu do
dogma primário, pois, como vivemos em uma sociedade em que o conceito de
realidade foi obscurecido e substituído por simulacros, ele atende a dogmas que
temos na parte animal. Ou seja, a maioria dos homens não mais deseja a essência
feminina como protótipo de humanização (de um modo racional) e sim, a objetificação
do corpo como meio de prazer que ao se satisfazer, são descartados. Assim, Baudrillard
descreve como quatro estágios que poderiam ser representações que vão além da relação
tradicional entre o original e a cópia.
Primeiro lugar, existe um simulacro verdadeiro, que nessa
fase, uma cópia ou representação imita fielmente uma realidade original (como
os simuladores que temos por ai) que ainda existe. A cópia, ainda, tem uma correspondência
daquilo que é real. Podemos observar, que ele descreve realidades que, talvez,
estavam começando e ainda não tinham uma maior força como existe agora. Os simulacros
são muito mais reais (as irmãs Wachowski foram fiéis no Matrix) e podem imitar
uma realidade que existiu ou que, ainda, não existe e pode existir. Como filmes
de ficção cientifica.
Em segundo lugar, existe o simulacro perverso, que cria uma cópia
e começa a distorcer e deturpar a realidade original, mas ainda faz referência
a ela. Ou seja, nesse estágio está muito difícil entender um original (como
pessoas que perdem sua originalidade) porque a conexão entre a copia e a
realidade se torna muito mais fraca. As bonecas são algo que simula, como
existe a simulação da simulação imitando as questões estremas.
Em terceiro lugar, existe o simulacro mascarado onde não se
relaciona com nenhuma realidade original, mas tenta parecer genuína e autêntica.
Seria uma ilusão da realidade que é mantida, mesmo não tendo nenhuma correspondência
com uma original. Estamos falando em simulacros de realidades que não correspondem
a nenhuma realidade conhecida.
Em quarto e último, um simulacro completamente simulado,
onde as representações se devem sem nenhuma referência com qualquer realidade
original. Tudo se torna puramente simulado, sem nenhuma base real. A sociedade
esta imersa em um mundo de representações que se autorreferencia a qualquer
realidade original. Tudo se torna somente um simulado, sem nenhuma base do
real. Ou seja, a humanidade esta imersa em um mundo de representações autorreferenciais
que não teria nenhuma substancia do real.
Quando você tem o conhecimento não precisamos analisar as
coisas de forma rasa, assim, a resposta em ultima analise sempre surge de uma
forma mais correspondente a além que todo mundo acredita saber.
Amauri Nolasco Sanches
Jr