Platão em à República (politeia: a cidadania em grego)
colocou o governo na mão dos sábios chamando de sofocracia (que vem de
sophrosine: a virtude da moderação) e dizendo que, as questões do governo
seriam melhores vistas. Muitos vem isso como um começo de um governo
socialista, já que o filosofo colocou a sociedade em classes sociais definidas
em organizações. Outros veem como uma tirania dos mais sábios dizendo que não
haveria liberdade e que as pessoas já seriam definidas desde sua concepção para
serem ou da defesa, ou artesão etc. O fato é que, por eu estudar filosofia política
dentro do bacharelado que estou cursando, muitas coisas me levaram a refletir
em torno da liberdade política e a liberdade social.
A questão é: o que se fez com nossa escolarização que não
diferenciou aquilo que é real e aquilo que não é real? Pois, se você não
incentiva uma juventude a ler literatura ficcional (nem que seja revistas HQs)
não há como as crianças diferenciarem aquilo que se é e aquilo que não é,
então, Platão seria refutado em não deixar poetas entrarem em sua república. A
virtude é muito mais além daquilo que chamam de moralidade hipócrita saída do
cristianismo – que nada tem a ver com Jesus – e sim, um sentimento de pertencimento
da espécie humana e participante da sociedade onde esta. Nada tem a ver,
também, com uma inclusão, já que as minorias não nasceram no meio de uma
floresta. Ou seja, a virtude (respeito pela espécie humana) não pode ser
aprendida na imoralidade corrupta de uma sociedade que só pensa em uma
aparência estética, em uma transada ou apenas nos bens materiais.
Aristóteles – que na Metafisica chama a si mesmo de
platônico – diz em sua Ética a Nicomaco, que a ética tem que ser praticada.
Mas, em sua Política, diz que a questão do “bem” tem que prevalecer dentro de
um parâmetro ético (e diríamos hoje, moral) de saber que cada uma das suas
ações vão ser refletidas em uma sociedade inteira. Porém, tanto Platão quanto
Aristóteles concordariam com a sofocracia. Acontece que tanto na área ética
como na área política, ações nesses dois mil anos políticas, puseram em dúvida
essas teorias. Até mesmo o governo teocrático católico e islâmico, começaram a
colocar em duvida se o ser humano poderia ser virtuoso o bastante para ter um
governo dos sábios.
Com o darwinismo – a teoria da evolução – começamos a
entender nosso instinto de seguir líderes e saber que são como tal. Só que tem
um problema, somos racionais e podemos indagar certas ordens ou certos líderes.
Mesmo assim, somos animais cívicos (políticos) por natureza da própria espécie,
mas, temos como compreender nossa realidade diante de problemas que temos que
resolver. E como se dará isso? Primeiro, temos a consciência que existimos e
que há uma realidade no mundo, a vida e todos os seres que nos rodeiam são
partes de um TODO que chamamos de realidade. E como seres que temos aptidão em
mudar a realidade e o ambiente – como animais simbólicos – onde vivemos e como
bem-estar permanente. Nesse interim – como ser que tem consciência de si –
começamos a perceber que não estamos sozinhos e o outro é nosso parâmetro entre
nós e o mundo. A subjetividade é uma parte da fé em que aquilo é a verdade
universal, mas, tendemos sempre a acreditar naquilo que colaboram com nossas
crenças.
Segundo o homem é sua própria essência, construído pelas
circunstâncias e pelo que se é, pois, o inconsciente é a priori do consciente.
A medida da sua natureza está na circunstância do seu pensar. Ou seja, o ser
humano se constrói a partir de cada existência dentro das circunstâncias que
lhe foram aderidas. Ou, como disse Gasset, somos as circunstâncias que vivemos
dentro daquilo que fomos educados ou que a vida nos trouxe, seja para o bem ou
para o mau. A questão é: somos a medida de todas as coisas, como disse
Protágoras? Será que os sofistas tinham razão por sermos influenciáveis?
Se somos, uma ética infalível (como a de Aristóteles ou de
Kant) seria impossível, pois, somos influenciados a sermos o que o ambiente nos
traz (nossa política nos mostra isso). Se não, há uma esperança em desenvolver
na juventude as virtudes necessárias em uma educação verdadeira sem uma moral
demagoga. Daí entra o homem ser a própria essência, tem a ver com a
potencialidade de Aristóteles. Pois, para Aristóteles “, o homem é um animal
cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos”
porque “A natureza, que nada faz em vão, concedeu apenas a ele o dom da
palavra, que não devemos confundir com os sons da voz. Estes são apenas a
expressão de sensações agradáveis ou desagradáveis, de que os outros animais
são, como nós, capazes”. O homem (ou ser humano) seria racional por ter o poder
da fala (comunicação por símbolos verbais por som), sendo modificador de
comportamentos. Se uma criança, por exemplo, ouvi um Vivaldi desde pequeno,
tendera a gostar de Vivaldi. O hábito de chamar uma maçã de maçã fez a fruta
virar o que conhecemos como maçã.
Muitos dirão que o hábito são – na sua maioria – fruto de
uma influência externa, que, pelo menos a meu ver, não tem o menor cabimento. O
hábito em si mesmo é uma experimentação que você gosta ou não, e se gostou, se
torna um hábito. Vícios são outra coisa que nos apegamos graças ao vazio de
algum hábito anterior, pois, ansiedade ou algo parecido, pode causar vícios.
Mas, sem dúvida, a questão do hábito tem a ver com a questão da escolha. Por
isso mesmo eu disse – com toda clareza – que o ser humano é sua própria
essência, porque ele é capaz de se moldar conforme suas necessidades junto com
as circunstâncias. A corrupção é errada, todo mundo sabe, mas, a questão ética
só funciona se ela se transformar em um hábito. Ou seja, se temos um povo que
rouba carga em caminhão acidentado, se temos homens tirando a roupa em quadras
universitárias, se existem estupros e assédios, isso foi em algum momento
reforçado lá atras. E assim, a sofocracia é considerada uma utopia por acharmos
que o “normal” é tudo isso. Mas, tudo isso, são hábitos reforçados de sempre
seguir uma turma – que são reforçados com uma “desculpa” que somos primatas – e
que reforça a tese do “gado”.
Como todo mundo sabe – concordando com Nietzsche – que a
grande maioria, sem o espectro politico ou religioso, tem um aspecto de “espirito
de rebanho”. Por que que as pessoas preferem ficarem no “espirito de rebanho”?
existe uma linguagem do senso comum que reforça as pessoas a agirem dessa forma?
Marx diria que o modo capitalista é o modo de se ter uma linguagem apropriada
para alienar (como forma de esconder a realidade que vimos muito em filmes,
novelas e afins na mídia), onde reforça a ideia da liberdade e a ideia da
igualdade. Coisa que não existe. A existência de uma igualdade e liberdade são ideias
burguesas graças a uma ruptura com a revolução burguesa na França. Nem mesmo as
famílias são tradicionais na forma como eram – você que acredita que essa é uma
família tradicional, caiu na falácia moderna – apenas são ideias burguesas para
dominação da classe pobre.
Governos modernos, na verdade, tiveram sempre a premissa de
alienar a grande massa – quando já serviram as suas revoluções – a serem mão-de-obra
para a produção. O socialismo soviético foi a prova patética que esse tipo de questão
é muito mais profunda do que meras conotações econômicas, porque tem a ver com
a vontade humana. Nem todo mundo gosta de sorvete de pistache, pois, pode ter a
propaganda mais bonita do mundo e ainda sim, não conquistar todo mundo. Há sim
uma conotação na linguagem, mas, como Kant, acho que algumas coisas dependem
muito da acomodação e medo de sair daquilo que estão acostumados. Entre as utopias
o socialismo e o liberalismo são formas praticas que não deram certo, e assim,
as questões da felicidade humana não deram certo.
Como diria no seriado do Chapolin: quem poderá nos salvar?
Amauri Nolasco Sanches
Jr