quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Sofocracia – a solução platônica ou uma utopia?

 


 

Platão em à República (politeia: a cidadania em grego) colocou o governo na mão dos sábios chamando de sofocracia (que vem de sophrosine: a virtude da moderação) e dizendo que, as questões do governo seriam melhores vistas. Muitos vem isso como um começo de um governo socialista, já que o filosofo colocou a sociedade em classes sociais definidas em organizações. Outros veem como uma tirania dos mais sábios dizendo que não haveria liberdade e que as pessoas já seriam definidas desde sua concepção para serem ou da defesa, ou artesão etc. O fato é que, por eu estudar filosofia política dentro do bacharelado que estou cursando, muitas coisas me levaram a refletir em torno da liberdade política e a liberdade social.

A questão é: o que se fez com nossa escolarização que não diferenciou aquilo que é real e aquilo que não é real? Pois, se você não incentiva uma juventude a ler literatura ficcional (nem que seja revistas HQs) não há como as crianças diferenciarem aquilo que se é e aquilo que não é, então, Platão seria refutado em não deixar poetas entrarem em sua república. A virtude é muito mais além daquilo que chamam de moralidade hipócrita saída do cristianismo – que nada tem a ver com Jesus – e sim, um sentimento de pertencimento da espécie humana e participante da sociedade onde esta. Nada tem a ver, também, com uma inclusão, já que as minorias não nasceram no meio de uma floresta. Ou seja, a virtude (respeito pela espécie humana) não pode ser aprendida na imoralidade corrupta de uma sociedade que só pensa em uma aparência estética, em uma transada ou apenas nos bens materiais.

Aristóteles – que na Metafisica chama a si mesmo de platônico – diz em sua Ética a Nicomaco, que a ética tem que ser praticada. Mas, em sua Política, diz que a questão do “bem” tem que prevalecer dentro de um parâmetro ético (e diríamos hoje, moral) de saber que cada uma das suas ações vão ser refletidas em uma sociedade inteira. Porém, tanto Platão quanto Aristóteles concordariam com a sofocracia. Acontece que tanto na área ética como na área política, ações nesses dois mil anos políticas, puseram em dúvida essas teorias. Até mesmo o governo teocrático católico e islâmico, começaram a colocar em duvida se o ser humano poderia ser virtuoso o bastante para ter um governo dos sábios.

Com o darwinismo – a teoria da evolução – começamos a entender nosso instinto de seguir líderes e saber que são como tal. Só que tem um problema, somos racionais e podemos indagar certas ordens ou certos líderes. Mesmo assim, somos animais cívicos (políticos) por natureza da própria espécie, mas, temos como compreender nossa realidade diante de problemas que temos que resolver. E como se dará isso? Primeiro, temos a consciência que existimos e que há uma realidade no mundo, a vida e todos os seres que nos rodeiam são partes de um TODO que chamamos de realidade. E como seres que temos aptidão em mudar a realidade e o ambiente – como animais simbólicos – onde vivemos e como bem-estar permanente. Nesse interim – como ser que tem consciência de si – começamos a perceber que não estamos sozinhos e o outro é nosso parâmetro entre nós e o mundo. A subjetividade é uma parte da fé em que aquilo é a verdade universal, mas, tendemos sempre a acreditar naquilo que colaboram com nossas crenças.

Segundo o homem é sua própria essência, construído pelas circunstâncias e pelo que se é, pois, o inconsciente é a priori do consciente. A medida da sua natureza está na circunstância do seu pensar. Ou seja, o ser humano se constrói a partir de cada existência dentro das circunstâncias que lhe foram aderidas. Ou, como disse Gasset, somos as circunstâncias que vivemos dentro daquilo que fomos educados ou que a vida nos trouxe, seja para o bem ou para o mau. A questão é: somos a medida de todas as coisas, como disse Protágoras? Será que os sofistas tinham razão por sermos influenciáveis?

Se somos, uma ética infalível (como a de Aristóteles ou de Kant) seria impossível, pois, somos influenciados a sermos o que o ambiente nos traz (nossa política nos mostra isso). Se não, há uma esperança em desenvolver na juventude as virtudes necessárias em uma educação verdadeira sem uma moral demagoga. Daí entra o homem ser a própria essência, tem a ver com a potencialidade de Aristóteles. Pois, para Aristóteles “, o homem é um animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos” porque “A natureza, que nada faz em vão, concedeu apenas a ele o dom da palavra, que não devemos confundir com os sons da voz. Estes são apenas a expressão de sensações agradáveis ou desagradáveis, de que os outros animais são, como nós, capazes”. O homem (ou ser humano) seria racional por ter o poder da fala (comunicação por símbolos verbais por som), sendo modificador de comportamentos. Se uma criança, por exemplo, ouvi um Vivaldi desde pequeno, tendera a gostar de Vivaldi. O hábito de chamar uma maçã de maçã fez a fruta virar o que conhecemos como maçã.

Muitos dirão que o hábito são – na sua maioria – fruto de uma influência externa, que, pelo menos a meu ver, não tem o menor cabimento. O hábito em si mesmo é uma experimentação que você gosta ou não, e se gostou, se torna um hábito. Vícios são outra coisa que nos apegamos graças ao vazio de algum hábito anterior, pois, ansiedade ou algo parecido, pode causar vícios. Mas, sem dúvida, a questão do hábito tem a ver com a questão da escolha. Por isso mesmo eu disse – com toda clareza – que o ser humano é sua própria essência, porque ele é capaz de se moldar conforme suas necessidades junto com as circunstâncias. A corrupção é errada, todo mundo sabe, mas, a questão ética só funciona se ela se transformar em um hábito. Ou seja, se temos um povo que rouba carga em caminhão acidentado, se temos homens tirando a roupa em quadras universitárias, se existem estupros e assédios, isso foi em algum momento reforçado lá atras. E assim, a sofocracia é considerada uma utopia por acharmos que o “normal” é tudo isso. Mas, tudo isso, são hábitos reforçados de sempre seguir uma turma – que são reforçados com uma “desculpa” que somos primatas – e que reforça a tese do “gado”.

Como todo mundo sabe – concordando com Nietzsche – que a grande maioria, sem o espectro politico ou religioso, tem um aspecto de “espirito de rebanho”. Por que que as pessoas preferem ficarem no “espirito de rebanho”? existe uma linguagem do senso comum que reforça as pessoas a agirem dessa forma? Marx diria que o modo capitalista é o modo de se ter uma linguagem apropriada para alienar (como forma de esconder a realidade que vimos muito em filmes, novelas e afins na mídia), onde reforça a ideia da liberdade e a ideia da igualdade. Coisa que não existe. A existência de uma igualdade e liberdade são ideias burguesas graças a uma ruptura com a revolução burguesa na França. Nem mesmo as famílias são tradicionais na forma como eram – você que acredita que essa é uma família tradicional, caiu na falácia moderna – apenas são ideias burguesas para dominação da classe pobre.

Governos modernos, na verdade, tiveram sempre a premissa de alienar a grande massa – quando já serviram as suas revoluções – a serem mão-de-obra para a produção. O socialismo soviético foi a prova patética que esse tipo de questão é muito mais profunda do que meras conotações econômicas, porque tem a ver com a vontade humana. Nem todo mundo gosta de sorvete de pistache, pois, pode ter a propaganda mais bonita do mundo e ainda sim, não conquistar todo mundo. Há sim uma conotação na linguagem, mas, como Kant, acho que algumas coisas dependem muito da acomodação e medo de sair daquilo que estão acostumados. Entre as utopias o socialismo e o liberalismo são formas praticas que não deram certo, e assim, as questões da felicidade humana não deram certo.

Como diria no seriado do Chapolin: quem poderá nos salvar?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Jr