A muitos anos venho desenvolvendo
uma filosofia – que envolve a educação inclusão escolar – dentro da filosofia
da deficiência: Teoria Crítica da Deficiência. Baseada no criticismo kantiano
(numa análise mais profunda) e a teoria crítica da Escola de Frankfurt onde
temos que se aprofundar com o tema deficiência e o meios para incluir, seja por
meio escolar, quanto o meio do trabalho. Pois, por milênios, o corpo divergente
foi tratado como corpo estigmatizado por não ter a normalidade que um ser
humano que conceitua sua realidade, constrói como “normal”.
Sabemos que a cultura brasileira – que
começa com a chegada de uma sociedade medievalista tardia – se compõem em um
pensamento elitista (o importante é o dinheiro), um pensamento escravocrata
(por que pobre tem que estudar? Assim perguntam) e um pensamento mesquinho
dentro daquilo que é “meu” ou só se pensa no “eu”. Enquanto em sociedades norte-americanas,
por exemplo, há um pensamento muito mais coletivo, a sociedade brasileira vê só
a si mesmo (muito de vez em quando, a família ou os amigos) e seus próprios
interesses. Por quê? Quando exploradores (bandeirantes) e colonizadores
(senhores de engenho) chegaram, se pensava que iria enriquecer e ir embora e
muitos deles morriam aqui. A nação se criou, mas o pensamento ficou e o desamor
pelo Brasil vem desse pensamento histórico.
Aí chegamos aonde há a construção
daquilo que é publico (sociedade) e aquilo que é privado (pessoal). No âmbito público,
as questões de escolaridade tem que ser vistas como uma solução dentro da
sociedade, e diferente do que se fala, não tem a ver com sua visão subjetiva. Daí
entra a resolução do fechamento das classes especializadas, onde o intuito disso
é o redirecionamento das crianças com deficiência para uma integração social,
sem exclusão ou segregamento. Muitos neurologistas de Instagram – chamo de
profetas do apocalipse do autismo – vem assustando mães e familiares dizendo
que as crianças com autismo tem sofrido violência e se tem que rever a lei de
diretrizes da educação inclusiva. Ora, a questão é o problema da sociedade
mesquinha, como apontamos, e a sociedade do cômodo, onde muitas mães preferem
deixar seus filhos em escolas desse tipo.
Existem dois problemas aí: primeiro
que vários movimentos que apoiam o governo não se posicionam por acharem
irrelevantes algumas criticas pontuais dentro da inclusão e acessibilidade.
Segundo, há um espaço vago desses movimentos que estão sendo tomados por esses
médicos e a visão medico-positivismo (ainda forte por aqui) vem ganhando força novamente
e tomando esse espaço vago em sim, querer incluir por uma questão de incluir as
pessoas deficiente no debate pública e, além do mais, a inclusão é um ato político.
Ora, minha teoria critica da
deficiência – difundida muito na filosofia feminista da deficiência nos EUA – vem
ao encontro do ato politico dentro de um olhar a deficiência como uma condição
do corpo, não sua essência. Poderemos chamar ate mesmo, de uma ontologia da
deficiência. Mas, não uso o método marxista – não marxiano – com o objetivo de
mapear problemas históricos para classificar problemas da modernidade e a
inclusão é muito recente. Com o modelo
medico que colocava a deficiência como uma doença a ser curada, o modo
positivista colocava a ciência como salvadora e não é. A questão dos corpos
divergentes como ruptura da normalidade, vem com a questão do estereotipo como imagem
do corpo perfeito. Ou seja, a biomedicina olha o corpo como uma maquina a ser
consertada e a ser amenizada com o seu “defeito”. O ser humano é um ser que
transforma a realidade em conceitos, ou melhor, um chipanzé, por exemplo até
onde sabemos, tem a capacidade de olhar uma pedra e ver uma coisa em seu
caminho (mesmo que alguns primatas a usem como ferramenta) o ser humano não.
A questão é: o que seria aprender? Aristóteles
escreveu na Metafisica “Todos os homens têm, por natureza, o desejo de
conhecer.” ( Πάντες ἄνθρωποι τοῦ εἰδέναι ὀρέγονται φύσει.), ou melhor, conhecer
tem a ver de entender aquilo como um conceito (já nomeado) e fazer desse
conceito algo real, aquilo que se entende que existe. O ponto de Aristóteles
era provar que o ser humano é um animal racional – que hoje em dia, o ser
humano é um ser consciente e senciente que sente e pode comunicar a sua
realidade aos outros – e que entende o quanto é importante distinguir. Mas
temos que transcender aquilo que Aristóteles disse, pois, Aristóteles viveu em
uma outra época. O que poderemos, sem duvida é, pensar sobre o conhecimento.
E muito pensei desde quando eu
escrevi o “Clube das Rodas de Aço – Tratado sobre o Capcitismo” que, hoje com
muito mais bagagem intelectual, que o capacistismo tem a ver com a
epistemologia. Por ter a ver com a conceito do corpo aceito (normal) e o corpo não
aceito (anormal) onde não há como viver na realidade normativa dentro de uma
sociedade normativa sem estigmatização do “corpo doente” que deve ser curado
(ou como uma maquina a ser consertada). Ai
entra o “monstro” foucaultiano que deve sumir da sociedade como um lembrete da
identidade do discurso dominante e único de achar meios de trancafiar ele. O medico famosinho do Instagram demonstra que
esse discurso ainda existe do “deficiente grave”, do corpo tão estigmatizado
pela deficiência deve ser tutorado e ficar ali no cantinho sem atrapalhar. O “monstro”
que no curta “Cordas”, onde o menino cadeirante conhece a menina que brinca com
ele até a sua morte, o pais escondem em um orfanato para ninguém mais lhe ver. A deficiência
paralisia cerebral, é a mais estigmatizada.