quarta-feira, 8 de março de 2023

Feminismo funkeiro só é ‘putaria’, feminismo não é isso

 



“Essa mulher fala dezoito línguas, e não pode dizer não em qualquer uma delas.”
DOROTHY PARKER


Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Um dia eu coloquei no meu Facebook a frase: “MC Pipokinha pensa mais do que participante de grupo de filosofia”, porque é uma provocação. Acham mesmo – ninguém percebe mais – a ironia que a filosofia pode ter em lançar falas para provocar discussões? Umas das coisas importantes para quem gosta de filosofia é interpretar texto (por isso mesmo existe a hermenêutica) e fazer o exercício de ser uma pessoa aberta, mesmo com uma cultura bastante passional como a nossa. A questão é: a MC (Mestra de Cerimonia) Pipokinha (com “k”) fala muito mais espontaneamente do que um estudante de filosofia que quer ser “pomposo” e achar que paga de inteligentinho, isso não podemos negar. Mas, algumas considerações podemos fazer da Pipokinha.

Semanas atras – assim como aconteceu com a Valeska Poposuda de forma irônica e a imprensa fez parecer sério – vi em um Instagram de filosofia uma capa da coleção Os Pensadores (que eu tenho) com  o nome da Pipokinha, é diz considerações bastante reais sobre o que eu penso naquele momento no Instagram. Porque a vários anos em um grupo de filosofia – que acabou por causa da polarização – vieram dizer que a filosofia estava começando se tornar uma Filosofia Funkeira. O grupo terminou, mas, essa questão ficou na minha cabeça como uma questão dentro da filosofia, pois, realmente, assim como a musica se tornou uma música fácil e muito dentro do sexo e da liberdade desmedida, a filosofia também esta ficando. Agora indo mais além do que os inteligentinhos (que acham que estão fora da caverna e não estão), o funk só é a construção da nossa cultura ao longo das últimas décadas após o militarismo. Houve o começo de tudo dentro das musicas de duplo sentido – a maior parte promovidas pela Globo – que no começo dos anos 90 começaram a circular dentro das muitas mídias. Somos uma geração guguziana (derivado do apresentador Gugu Liberato), onde haviam banheiras com mulheres seminuas, onde iam cantoras como Gretchen em programas como o Bozo (que sabemos que ela teve um caso com ele). Mas, antes de tudo, somos a cultura da putaria bem mais antes do que tudo isso, pois, somos uma cultura sexualizada (um psicanalista como Freud, pode dizer que pode ser milênios repreendido graças ao cristianismo).

Sem a menor dúvida – sem sermos hipócritas – que periferias sem a menor educação cantam musiquinhas iguais o funk nas brincadeiras, porque os pais não querem educar seus filhos sexualmente. Preferem que eles aprendam sozinhos. E se aprenderem errado? E se outro adulto ensinar o que não deve? Mas, sem ser hipócrita também, graças a mídia porca que acha que isso é liberdade, é uma forma de contestação da nossa sociedade hipócrita que na frente prega a moralidade e por trás, prega a putaria e ate gosta. Meninos e meninas são abusados e mortos, muitas vezes. As mães dessas pessoas que são assim, receberem mal tratos do marido e tendem a cantarem essas coisas, para chamar a atenção. Claro, isso não justifica nada e nem deve.

E ai entra o verdadeiro feminismo que visava não o aniquilamento dos homens e a supremacia feminina. Igualdade de gêneros não é mudar termos ou mudar palavras para atrair empatia, as coisas não são tão superficiais ou simples, existem meios muito mais profundos. As ironias do Felca (já escrevi um texto sobre seu canal aqui no blog) em dizer que os shows da Mc Pipokinha parecem acasalamento de primatas, não é mera bobagem e nem tem a ver com classes sociais (a Pipokinha mesmo disse que ganha 70 mil em um show). O que ele quis dizer é o mesmo que Aristóteles disse a dois mil anos atras, somos animais racionais e como animais racionais, temos que raciocinar atos e atos tem suas consequências. E a forma de se ter um só parceiro fez da nossa espécie manter territórios e ser mais livres para produzir seu próprio alimento. Isso é fato. Agora, esse modelo não servir mais, são valores que podem ser debatidos e analisados.

Filosoficamente, o filosofo Michel Foucault (1926-1984) debruçou muito na questão da sexualidade e chegou na mesma conclusão que cheguei, foi a era vitoriana hipócrita que levou a isso. Foucault e assim como eu, somos nietzschianos e sabemos muito bem, que tudo que Nietzsche prognosticou aconteceu no século vinte. E nossa cultura começa a ser hipócrita a partir da negação do nosso pertencimento não da cultura europeia e nem a anglo-saxã, mas, a cultura latina. As américas eram povoadas por indígenas que criavam filhos em conjunto, não tinham mulheres fixas e nem achavam isso um problema. Os africanos tinham um modo semelhante. E, na verdade, o europeu sempre achou isso ruim por se encher de amante e transar escondido. A questão é: é um modo racional ter um parceiro (onde há segurança) ou vários e você não sabe com quem o outro se relaciona? Você não pode pegar alguma doença venérea?

São modos e culturas que começam a ser analisados e devem ser analisados sem ataques, a filosofia sempre fez isso. Será que ser mulher é se autodominar a “rainha da putaria”? 



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