“Essa mulher fala dezoito línguas, e não pode dizer não em qualquer uma delas.”DOROTHY PARKER
Por Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Um dia eu coloquei no meu Facebook a frase: “MC Pipokinha
pensa mais do que participante de grupo de filosofia”, porque é uma provocação.
Acham mesmo – ninguém percebe mais – a ironia que a filosofia pode ter em lançar
falas para provocar discussões? Umas das coisas importantes para quem gosta de
filosofia é interpretar texto (por isso mesmo existe a hermenêutica) e fazer o exercício
de ser uma pessoa aberta, mesmo com uma cultura bastante passional como a
nossa. A questão é: a MC (Mestra de Cerimonia) Pipokinha (com “k”) fala muito
mais espontaneamente do que um estudante de filosofia que quer ser “pomposo” e
achar que paga de inteligentinho, isso não podemos negar. Mas, algumas considerações
podemos fazer da Pipokinha.
Semanas atras – assim como aconteceu com a Valeska Poposuda
de forma irônica e a imprensa fez parecer sério – vi em um Instagram de filosofia
uma capa da coleção Os Pensadores (que eu tenho) com o nome da Pipokinha, é diz considerações bastante
reais sobre o que eu penso naquele momento no Instagram. Porque a vários anos em um
grupo de filosofia – que acabou por causa da polarização – vieram dizer que a
filosofia estava começando se tornar uma Filosofia Funkeira. O grupo terminou,
mas, essa questão ficou na minha cabeça como uma questão dentro da filosofia,
pois, realmente, assim como a musica se tornou uma música fácil e muito dentro
do sexo e da liberdade desmedida, a filosofia também esta ficando. Agora indo
mais além do que os inteligentinhos (que acham que estão fora da caverna e não estão),
o funk só é a construção da nossa cultura ao longo das últimas décadas após o
militarismo. Houve o começo de tudo dentro das musicas de duplo sentido – a maior
parte promovidas pela Globo – que no começo dos anos 90 começaram a circular
dentro das muitas mídias. Somos uma geração guguziana (derivado do apresentador
Gugu Liberato), onde haviam banheiras com mulheres seminuas, onde iam cantoras
como Gretchen em programas como o Bozo (que sabemos que ela teve um caso com
ele). Mas, antes de tudo, somos a cultura da putaria bem mais antes do que tudo
isso, pois, somos uma cultura sexualizada (um psicanalista como Freud, pode dizer
que pode ser milênios repreendido graças ao cristianismo).
Sem a menor dúvida – sem sermos hipócritas – que periferias
sem a menor educação cantam musiquinhas iguais o funk nas brincadeiras, porque
os pais não querem educar seus filhos sexualmente. Preferem que eles aprendam
sozinhos. E se aprenderem errado? E se outro adulto ensinar o que não deve? Mas,
sem ser hipócrita também, graças a mídia porca que acha que isso é liberdade, é
uma forma de contestação da nossa sociedade hipócrita que na frente prega a
moralidade e por trás, prega a putaria e ate gosta. Meninos e meninas são abusados
e mortos, muitas vezes. As mães dessas pessoas que são assim, receberem mal
tratos do marido e tendem a cantarem essas coisas, para chamar a atenção. Claro,
isso não justifica nada e nem deve.
E ai entra o verdadeiro feminismo que visava não o
aniquilamento dos homens e a supremacia feminina. Igualdade de gêneros não é
mudar termos ou mudar palavras para atrair empatia, as coisas não são tão superficiais
ou simples, existem meios muito mais profundos. As ironias do Felca (já escrevi
um texto sobre seu canal aqui no blog) em dizer que os shows da Mc Pipokinha parecem
acasalamento de primatas, não é mera bobagem e nem tem a ver com classes
sociais (a Pipokinha mesmo disse que ganha 70 mil em um show). O que ele quis
dizer é o mesmo que Aristóteles disse a dois mil anos atras, somos animais
racionais e como animais racionais, temos que raciocinar atos e atos tem suas consequências.
E a forma de se ter um só parceiro fez da nossa espécie manter territórios e
ser mais livres para produzir seu próprio alimento. Isso é fato. Agora, esse
modelo não servir mais, são valores que podem ser debatidos e analisados.
Filosoficamente, o filosofo Michel Foucault (1926-1984) debruçou
muito na questão da sexualidade e chegou na mesma conclusão que cheguei, foi a
era vitoriana hipócrita que levou a isso. Foucault e assim como eu, somos
nietzschianos e sabemos muito bem, que tudo que Nietzsche prognosticou aconteceu
no século vinte. E nossa cultura começa a ser hipócrita a partir da negação do
nosso pertencimento não da cultura europeia e nem a anglo-saxã, mas, a cultura
latina. As américas eram povoadas por indígenas que criavam filhos em conjunto,
não tinham mulheres fixas e nem achavam isso um problema. Os africanos tinham
um modo semelhante. E, na verdade, o europeu sempre achou isso ruim por se
encher de amante e transar escondido. A questão é: é um modo racional ter um parceiro
(onde há segurança) ou vários e você não sabe com quem o outro se relaciona? Você
não pode pegar alguma doença venérea?
São modos e culturas que começam a ser analisados e devem
ser analisados sem ataques, a filosofia sempre fez isso. Será que ser mulher é
se autodominar a “rainha da putaria”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário