sábado, 23 de novembro de 2024

OS ANCAPS BOLSONARISTAS

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior 

– bacharel em filosofia, publicidade e propaganda e TI

 

 

No seu livro “O Pobre de Direita”, onde o sociólogo de esquerda Jesse Souza tenta entender o porquê existe pobre de direita (porque para eles tinha que ser todos de esquerda), escreve:

 

"Sua mensagem chega aos ouvidos especialmente receptivos dos herdeiros das indústrias sujas e poluentes, como fabricantes de armas, produtos químicos, mineração e petróleo. Esses setores, que terão lucros crescentes a partir de estão devido a cortes de impostos e a suspensão das pesadas multas por agressão ao meio ambiente, serão os principais financiadores da "revolução reacionária" que passou a se chamar, como sempre de forma cinica, de "libertarianismo."

Há uma questão interessante na crítica de Souza que reflete bem a visão da esquerda dentro do universo libertário. Segundo o sociólogo, o libertarianismo nasce de filhos de industriais, que ele coloca como “herdeiros”, nas indústrias bélicas e poluentes. Mesmo se isso fosse verdade, não sei se era verdade, existe uma ética libertaria. Se uma empresa polui, por exemplo, segundo a filosofia libertaria, ela deve pagar pela limpeza da poluição assumindo sua responsabilidade. Parece que a crítica dele – como um bom brasileiro médio – não tem um aprofundamento das obras libertarias e um estudo mais aprofundado. A visão dele é de um Paulo Kogos fosse um representante “master”.

Voltando ao não aprofundamento das coisas, vi isso lendo o livro de Mario de Andrade, pois me perguntei: por que o brasileiro gosta tanto de poesia? Em um primeiro momento, podemos até fazer ligação com o modo que fomos colonizados (com a elite mais fraca de Portugal) e como a cultura cabocla se fez junto com as modas de viola que vem dos trovadores. Claro, que em algum momento, houve uma migração de trovadores. Por outro lado, com o lema “menos esforço, mais lucro”, a poesia não precisa muito de aprofundamento e a tendencia do brasileiro médio de fazer piada com tudo. O escarnio era uma marca muito bem-vista junto com os travadores.

O libertarianismo não é uma “revolução reacionária”, pois, é contrarrevoluções e violência por causa do Princípio da Não Agressão (PNA); ou seja, somos contra prejudicar outras pessoas. isso me faz refletir a critica que o economista e filosofo Murray Rothbard sempre recebeu por organizar e idealizar o libertarianismo norte-americano. Mesmo o porquê, mesmo a crítica do libertarianismo com a esquerda e principalmente, o comunismo socialista, também não via de bons olhos o conservadorismo norte-americano. Muito embora, Rothbard teve que “abraçar” pontos dentro do conservadorismo para colocar uma certa ordem ao movimento libertário de lá (que só tinha usuário de maconha que não fazia nada).

Se fossem financiados por essas empresas poluentes iriam ter esse tipo de filosofia? Muito difícil. A questão é, a grande maioria desses donos de empresas são muitos mais conservadores de uma América que ganhou dinheiro explorando recursos naturais, explorando petróleo, caçando animais de lá e da África, dando entender que não iriam parar. O fato de ter libertários ou ANCAPs reacionários – tem um monte – não quer dizer que a essência do movimento também. Assim como há ancaps bolsonaristas, há anarquistas bolsonaristas. E nem todos são fascistas, todos só acreditaram em uma suposta mudança que não aconteceu. Como a esquerda/Lula, também não mudou nada a vida do brasileiro médio.

Mas, por outro lado – sendo o advogado do diabo – existem muito anarcocapitalistas que “mancham” o movimento e isso inclui o filosofo vivo Hoppe. Aluno de Rothbard – a pouco expulsou do movimento libertário norte-americano um outro filosofo que se posicionou a favor de Israel – não entendeu nada que seu professor escreveu em seus livros. Atitudes como esta, reforçam a certa critica igual do Souza como se ele construiu um arcabouço narrativo por causa do reacionarismo de alguns.

sábado, 16 de novembro de 2024

ESPIRITUALIDADE E BOLSONARISMO







Amauri Nolasco Sanches Júnior

Bacharel em Filosofia | Publicitário | Profissional de TI


Em uma investigação bastante rigorosa – quase acadêmica – poderemos concluir que o movimento bolsonarista (que começa com a extensa campanha de Bolsonaro a presidência da republica) tem duas bases:

(1) Tem a ver com o movimento político-militar onde existe uma áurea em torno das Forças Armadas como agentes da “ordem” da ética (que o brasileiro médio, por ser religioso, tendem a confundir com moralismo barato). 

(2) Um medo quase irracional de um suposto comunismo que no Brasil, como tudo por aqui, nunca conseguiu se organizar. E os caras de direita mais afoitos, o Partido da Causa Operaria (PCO), não tem força política e o PT (Partido dos Trabalhadores), que teria força política, se rendeu ao capital político. 


A invasão de 8 de janeiro de 2023 (com a negação dos generais e o próprio Bolsonaro) e o ato suicida do “Tiu França” na Praça dos Três Poderes nesse ano de 2024, no coloca uma questão muito profunda da nossa cultura: o brasileiro médio é fácil se fanatizar por causa da ignorância política. Porque, em essência, a política é  uma ciência e não pode ser tratada como “achismo” sem nexo nenhum. Não podemos fazer uma teoria sem uma base solida de onde eu vou tirar aquilo, se existiu ou não, qual o avanço tecnológico da época etc. E como eu gosto da teoria da práxis de von Mises – onde a economia se baseia na vontade humana – tendemos a ir onde achamos ser a verdade e acabamos sendo decepcionados. Por que será?

Antes do movimento de 8 de janeiro, havia escrito um trabalho para uma matéria no meu bacharelado em filosofia, em que comparo o movimento militar bolsonarista a uma “Desobediência Civil” do filosofo estadunidense Henry David Thoraeu com o titulo/pergunta: <<HÁ UM ANARQUISMO BOLSONARISTA REACIONÁRIO E MILITAR?>>. E essa “desobediência civil” seria bastante estranha, pois, os movimentos mais conservadores do golpe de 64, eram contra movimentos comuna-anarquistas (sendo que Israel começou com tais fazendas comunitárias). E no próprio texto, concluir que ali tinham elementos muito mais enraizados do que mera desobediência civil ou inconformismo eleitoral. 

Vejamos a parte espiritual: o cristianismo. Essa visão eu tive respondendo um corte de um podcast com a Espectro Cinza (Glenda Varotto), onde ela fala que a religião é o “conforto” das pessoas. Ora na minha resposta, eu disse que tinha entendido o que ela tinha dito e concordo em parte (mesmo sendo espírita). Mas deveríamos deixar bem claro a diferença muito importante entre a religiosidade (estamos no mundo e devemos se religar com o Eterno) e a espiritualidade (o ser-no-mundo vivenciando uma experiência). E isso vai muito mais do que analises superficiais dentro de uma visão espiritualista da coisa, porque tem a ver quem você é e o que acredita. 

Quando temos (ou seguimos) uma religião, estamos ritualizando a religação com o Eterno, isso pode ter um “conforto” como disse a Glenda, por razões comunitárias. Sempre digo que muitas pessoas seguem essas religiões da maioria, porque vizinhos ou familiares seguem. Já a espiritualidade tem algo muito mais profundo e como está na tradição hindu (Vedas e o Yoga) e de alguma forma, também no budismo, é o encontro com o seu “eu” verdadeiro dentro de um “falso eu”, que são personagens sociais que usamos, que pode desembocar no mal ou em uma “persona” que não somos. Em essência, o Vedas (conhecimento) e o Yoga (integração) já tem a resposta, pois, um é o conhecimento para chegarmos a integração da divinização. O budismo é a síntese da espiritualidade. O EU dentro do corpo importando só o agora. 

Depois disso – como disse, uma parte do bolsonarismo é cristão e partem da teologia cristã evangélica (protestante) – as religiões ditas cristãs, que nada ensinam sobre a verdadeira doutrina de Jesus Cristo, tendem a serem religiões materialistas. A Igreja de Roma vem da tradição romana do estoicismo junto com uma religião materialista, onde se adoravam deuses em estatuas e tinham na figura do imperador, um “deus-homem”. Com a estranha conversão de Constantino I – sendo que matou a mulher e a sogra – o cristianismo se torna religião formal, daí por diante, perde sua essência espiritualista e se torna uma religião política. Ao passar do tempo, passou a ter uma teologia socrático-platônica (Santo Agostinho) e, aristotélica (Santo Tomás de Aquino). 

O protestantismo – por causa que Lutero era monge agostiniano – com fortes raízes da teologia agostiniana. Lutero, como monge agostiniano, foi profundamente influenciado por Santo Agostinho e suas ideias, especialmente, na ideia da graça e a depravação moral (que o santo sabia muito bem e está em suas Confissões). 

(1) A doutrina da graça onde Lutero foi influenciado pela ênfase de Agostinho como um presente gratuito do Eterno, necessária para sua salvação. Porque Agostinho teria a crença que a humanidade seria inerente ao pecado e incapaz de alcançar a salvação sem nenhuma intervenção divina. 

(2) Uma das suas ideias, Lutero defendia a justificação pela fé, que foi em grande parte inspirada em Santo Agostinho em sua teologia. Lutero tinha a convicção que a fé em Jesus Cristo é o único caminho para se salvar, não as obras. 

(3) Lutero também tinha uma visão crítica (contida em Agostinho) aos abusos e práticas da igreja romana. Ele se opôs veementemente as vendas de indulgencias e outras práticas que considerava corruptas e antiéticas (que sua igreja, com o passar dos séculos, ficou bem parecida). 

(4) Igual Agostinho, Lutero deu grande ênfase a Bíblia como uma autoridade suprema em questões de fé e prática, o que levou traduzirem o livro sagrado para a língua local, levando mais acessibilidade aos textos a todo mundo. 


Com o tempo e com práticas capitalistas – não que sou contra – e se aproximando do judaísmo, o protestantismo não vê nenhum problema (pelo menos no neopentecostalismo) em prosperar e criaram a teologia da prosperidade. Se por um lado, no seu começo, o protestantismo foi visto criticando a postura do catolicismo por causa do seu materialismo. Em outros momentos, o protestantismo, faz críticas quanto a adoração de imagem. Mas, ao decorrer dos séculos, o movimento evangélico começou a ser o que eles não gostavam e se tornaram. 

Com todo esse histórico que eu mostrei dentro da historia – não inventada – das duas matrizes cristão medievais e modernas, mostram como foi moldadas a serem religiões materialistas. Então, um suicídio (como do Tiu França) tem uma essência de não esperança em um futuro que nada nos aguarda. O futuro só existe após a morte, após se deixar o corpo corruptível e virarmos a alma incorruptível. Mas, e o encontro de si mesmo? por que não uma espiritualidade mais em si mesmo? 

Apesar de concordar com a Espectro Cinza na questão do “conforto”, acho que a questão religiosa tem a ver com uma questão muito mais profunda. Não tem a ver com religiões – aqui se criou o conceito de que quem não tem nenhuma é ateu, mas não é bem assim – tem a ver com o encontro de quem somos e saber dirigir nossas vida de forma ética e moral. O que o bolsonarismo é, assim como qualquer fanatismo, é uma seita, só isso. 


sábado, 9 de novembro de 2024

A ACADEMIA ANTIPLATONICA: PROBLEMAS DE UMA ESCOLA POSITIVISTA

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior – PCD filosofo libertário

Na minha volta ao Filosofia sobre rodas – que, quando começou se chamava Resistencia – me deparo com uma realidade assustadora: existem universidades sem nenhuma revista de humanas e nem de filosofia. Nós, que fazemos filosofia – bacharelado e licenciatura EAD (Ensino a Distância) – na Universidade Cruzeiro do Sul. Nos quatro anos que fizemos o curso – em grupos de WhatsApp – sempre comentávamos que a universidade tanto em um âmbito acadêmico (não teve TCC) como em um âmbito de periódicos (revista), deixou a desejar.  Por que uma universidade de renome muito grande, só tenha uma revista de ensino de matemática, como se o mundo acadêmico, fosse só exatas?

Essa atitude da universidade me parece uma atitude bastante dentro do positivismo comtiano. De um modo geral, o positivismo de Comte, enfatiza a importância das ciências exatas e naturais e tende, muitas vezes, prioriza as metodologias cientificas rigorosas e empíricas. Nesse enfoque pode relegar as ciências humanas em um segundo plano, considerando-as em uma matéria menor e de menos “objetiva” ou “cientificas”. Por outro lado, sendo bastante sincero, essa valorização excessiva desse tipo de matéria (exatas) – como vimos o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, enfatizar mais português e matemática – nas instituições acadêmicas pode ser vista como uma extensão dessa mentalidade positivista (tecnológica).

Reconhecer que toda a área do conhecimento acadêmico, incluindo a área de humanas, possuem métodos rigorosos e construções que tendem a uma contrição significativas para a compreensão integral da realidade. Não deveríamos em si, diferencias áreas importantes ou não dentro da academia, até porque, a história nos diz que Platão idealizou um lugar onde possamos guardar o conhecimento produzido. Ou seja, deveríamos buscar um equilíbrio que reconheça e valorize uma diversidade maior entre as metodologias. As ciências humanas e sociais oferecem retorno bem profundos sobre a condição humana, questões éticas e culturais.

Mas, o que seria a filosofia? Não interessa a mim a agenda woke, portanto, a filosofia é grega e pode ter componentes egípcios (africanos) que podem ter despertado um modo além do mito. Os gregos que filosofaram – porque nem todos gostavam de filosofia – se perguntaram “o que é isto?” como modo de encontrar um modo mais racional de entender a realidade. Tales de Mileto – cidade litorânea onde hoje é a Turquia – se perguntou de os corpos serem húmidos (portanto, virem da água) ou o porquê as pedras magnetizadas atraíam metais (cheias de deuses). E sempre a questão era o modo que ser humano tendia a ver as coisas e entender essas coisas como modo de encontrar suas origens, encontrar o motivo de um universo tão vasto, ter um planeta com diversidades de coisas diferentes.

Martin Heidegger se perguntou “O que é isto – A Filosofia?” e escreveu um excelente texto que nos faz refletir, pois, começa como uma coisa não definida. Definir a filosofia é definir o mundo, a racionalidade, o ser enquanto existência. A meu ver – acho que isso se encontra da fenomenologia – a existência passa pela consciência que faz uma leitura do objeto e seu contorno. A frase “ter uma ideia do objeto”, faz sentido quando vimos o objeto e vimos sua forma associando hora em uma análise concreta (substantivo concreto), hora na qualidade daquilo que se parece (adjetivo). Wittgenstein vai colocar como sujeito (ser) e o predicado (adjetivo), graças ao exemplo das maçãs vermelhas, pois, quando entregamos um papel ao vendedor escrito “caixote com 20 maçãs vermelhas”, ele saberá tanto o fruto ou objeto concreto, como a qualidade do adjetivo subjetivo.

Portanto, como dizia Deleuze e Guattari, o filosofo é um formador de conceitos. Então, quem estuda demais ou repete conceitos dos outros, não pode ser chamado de filosofo e, na minha interpretação, também não há como ser professor. Daí concordo com Kant, não se ensina filosofia, se ensina a filosofar. E como vamos filosofar sem, dentro de uma universidade, uma revista? Mais ainda, como não produzir filosofia, se alunos não tem como debater dentro daquilo que aprenderam ou em artigos? Em outras países o debate é comum e muito incentivado dentro das universidades e não raro, debates entre artigos de revistas da própria universidade.