Amauri Nolasco Sanches Júnior – PCD filosofo libertário
Na minha volta ao Filosofia sobre rodas – que, quando
começou se chamava Resistencia – me deparo com uma realidade assustadora:
existem universidades sem nenhuma revista de humanas e nem de filosofia. Nós,
que fazemos filosofia – bacharelado e licenciatura EAD (Ensino a Distância) –
na Universidade Cruzeiro do Sul. Nos quatro anos que fizemos o curso – em
grupos de WhatsApp – sempre comentávamos que a universidade tanto em um âmbito acadêmico
(não teve TCC) como em um âmbito de periódicos (revista), deixou a
desejar. Por que uma universidade de
renome muito grande, só tenha uma revista de ensino de matemática, como se o
mundo acadêmico, fosse só exatas?
Essa atitude da universidade me parece uma atitude bastante
dentro do positivismo comtiano. De um modo geral, o positivismo de Comte,
enfatiza a importância das ciências exatas e naturais e tende, muitas vezes,
prioriza as metodologias cientificas rigorosas e empíricas. Nesse enfoque pode
relegar as ciências humanas em um segundo plano, considerando-as em uma matéria
menor e de menos “objetiva” ou “cientificas”. Por outro lado, sendo bastante
sincero, essa valorização excessiva desse tipo de matéria (exatas) – como vimos
o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, enfatizar mais português e
matemática – nas instituições acadêmicas pode ser vista como uma extensão dessa
mentalidade positivista (tecnológica).
Reconhecer que toda a área do conhecimento acadêmico,
incluindo a área de humanas, possuem métodos rigorosos e construções que tendem
a uma contrição significativas para a compreensão integral da realidade. Não
deveríamos em si, diferencias áreas importantes ou não dentro da academia, até
porque, a história nos diz que Platão idealizou um lugar onde possamos guardar
o conhecimento produzido. Ou seja, deveríamos buscar um equilíbrio que
reconheça e valorize uma diversidade maior entre as metodologias. As ciências
humanas e sociais oferecem retorno bem profundos sobre a condição humana,
questões éticas e culturais.
Mas, o que seria a filosofia? Não interessa a mim a agenda
woke, portanto, a filosofia é grega e pode ter componentes egípcios (africanos)
que podem ter despertado um modo além do mito. Os gregos que filosofaram –
porque nem todos gostavam de filosofia – se perguntaram “o que é isto?” como
modo de encontrar um modo mais racional de entender a realidade. Tales de
Mileto – cidade litorânea onde hoje é a Turquia – se perguntou de os corpos
serem húmidos (portanto, virem da água) ou o porquê as pedras magnetizadas
atraíam metais (cheias de deuses). E sempre a questão era o modo que ser humano
tendia a ver as coisas e entender essas coisas como modo de encontrar suas
origens, encontrar o motivo de um universo tão vasto, ter um planeta com
diversidades de coisas diferentes.
Martin Heidegger se perguntou “O que é isto – A Filosofia?”
e escreveu um excelente texto que nos faz refletir, pois, começa como uma coisa
não definida. Definir a filosofia é definir o mundo, a racionalidade, o ser
enquanto existência. A meu ver – acho que isso se encontra da fenomenologia – a
existência passa pela consciência que faz uma leitura do objeto e seu contorno.
A frase “ter uma ideia do objeto”, faz sentido quando vimos o objeto e vimos
sua forma associando hora em uma análise concreta (substantivo concreto), hora na
qualidade daquilo que se parece (adjetivo). Wittgenstein vai colocar como
sujeito (ser) e o predicado (adjetivo), graças ao exemplo das maçãs vermelhas,
pois, quando entregamos um papel ao vendedor escrito “caixote com 20 maçãs
vermelhas”, ele saberá tanto o fruto ou objeto concreto, como a qualidade do
adjetivo subjetivo.
Portanto, como dizia Deleuze e Guattari, o filosofo é um
formador de conceitos. Então, quem estuda demais ou repete conceitos dos
outros, não pode ser chamado de filosofo e, na minha interpretação, também não
há como ser professor. Daí concordo com Kant, não se ensina filosofia, se
ensina a filosofar. E como vamos filosofar sem, dentro de uma universidade, uma
revista? Mais ainda, como não produzir filosofia, se alunos não tem como
debater dentro daquilo que aprenderam ou em artigos? Em outras países o debate é
comum e muito incentivado dentro das universidades e não raro, debates entre
artigos de revistas da própria universidade.