sábado, 9 de novembro de 2024

A ACADEMIA ANTIPLATONICA: PROBLEMAS DE UMA ESCOLA POSITIVISTA

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior – PCD filosofo libertário

Na minha volta ao Filosofia sobre rodas – que, quando começou se chamava Resistencia – me deparo com uma realidade assustadora: existem universidades sem nenhuma revista de humanas e nem de filosofia. Nós, que fazemos filosofia – bacharelado e licenciatura EAD (Ensino a Distância) – na Universidade Cruzeiro do Sul. Nos quatro anos que fizemos o curso – em grupos de WhatsApp – sempre comentávamos que a universidade tanto em um âmbito acadêmico (não teve TCC) como em um âmbito de periódicos (revista), deixou a desejar.  Por que uma universidade de renome muito grande, só tenha uma revista de ensino de matemática, como se o mundo acadêmico, fosse só exatas?

Essa atitude da universidade me parece uma atitude bastante dentro do positivismo comtiano. De um modo geral, o positivismo de Comte, enfatiza a importância das ciências exatas e naturais e tende, muitas vezes, prioriza as metodologias cientificas rigorosas e empíricas. Nesse enfoque pode relegar as ciências humanas em um segundo plano, considerando-as em uma matéria menor e de menos “objetiva” ou “cientificas”. Por outro lado, sendo bastante sincero, essa valorização excessiva desse tipo de matéria (exatas) – como vimos o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, enfatizar mais português e matemática – nas instituições acadêmicas pode ser vista como uma extensão dessa mentalidade positivista (tecnológica).

Reconhecer que toda a área do conhecimento acadêmico, incluindo a área de humanas, possuem métodos rigorosos e construções que tendem a uma contrição significativas para a compreensão integral da realidade. Não deveríamos em si, diferencias áreas importantes ou não dentro da academia, até porque, a história nos diz que Platão idealizou um lugar onde possamos guardar o conhecimento produzido. Ou seja, deveríamos buscar um equilíbrio que reconheça e valorize uma diversidade maior entre as metodologias. As ciências humanas e sociais oferecem retorno bem profundos sobre a condição humana, questões éticas e culturais.

Mas, o que seria a filosofia? Não interessa a mim a agenda woke, portanto, a filosofia é grega e pode ter componentes egípcios (africanos) que podem ter despertado um modo além do mito. Os gregos que filosofaram – porque nem todos gostavam de filosofia – se perguntaram “o que é isto?” como modo de encontrar um modo mais racional de entender a realidade. Tales de Mileto – cidade litorânea onde hoje é a Turquia – se perguntou de os corpos serem húmidos (portanto, virem da água) ou o porquê as pedras magnetizadas atraíam metais (cheias de deuses). E sempre a questão era o modo que ser humano tendia a ver as coisas e entender essas coisas como modo de encontrar suas origens, encontrar o motivo de um universo tão vasto, ter um planeta com diversidades de coisas diferentes.

Martin Heidegger se perguntou “O que é isto – A Filosofia?” e escreveu um excelente texto que nos faz refletir, pois, começa como uma coisa não definida. Definir a filosofia é definir o mundo, a racionalidade, o ser enquanto existência. A meu ver – acho que isso se encontra da fenomenologia – a existência passa pela consciência que faz uma leitura do objeto e seu contorno. A frase “ter uma ideia do objeto”, faz sentido quando vimos o objeto e vimos sua forma associando hora em uma análise concreta (substantivo concreto), hora na qualidade daquilo que se parece (adjetivo). Wittgenstein vai colocar como sujeito (ser) e o predicado (adjetivo), graças ao exemplo das maçãs vermelhas, pois, quando entregamos um papel ao vendedor escrito “caixote com 20 maçãs vermelhas”, ele saberá tanto o fruto ou objeto concreto, como a qualidade do adjetivo subjetivo.

Portanto, como dizia Deleuze e Guattari, o filosofo é um formador de conceitos. Então, quem estuda demais ou repete conceitos dos outros, não pode ser chamado de filosofo e, na minha interpretação, também não há como ser professor. Daí concordo com Kant, não se ensina filosofia, se ensina a filosofar. E como vamos filosofar sem, dentro de uma universidade, uma revista? Mais ainda, como não produzir filosofia, se alunos não tem como debater dentro daquilo que aprenderam ou em artigos? Em outras países o debate é comum e muito incentivado dentro das universidades e não raro, debates entre artigos de revistas da própria universidade.