Amauri Nolasco Sanches Júnior
Bacharel em Filosofia | Publicitário | Profissional de TI
Em uma investigação bastante rigorosa – quase acadêmica – poderemos concluir que o movimento bolsonarista (que começa com a extensa campanha de Bolsonaro a presidência da republica) tem duas bases:
(1) Tem a ver com o movimento político-militar onde existe uma áurea em torno das Forças Armadas como agentes da “ordem” da ética (que o brasileiro médio, por ser religioso, tendem a confundir com moralismo barato).
(2) Um medo quase irracional de um suposto comunismo que no Brasil, como tudo por aqui, nunca conseguiu se organizar. E os caras de direita mais afoitos, o Partido da Causa Operaria (PCO), não tem força política e o PT (Partido dos Trabalhadores), que teria força política, se rendeu ao capital político.
A invasão de 8 de janeiro de 2023 (com a negação dos generais e o próprio Bolsonaro) e o ato suicida do “Tiu França” na Praça dos Três Poderes nesse ano de 2024, no coloca uma questão muito profunda da nossa cultura: o brasileiro médio é fácil se fanatizar por causa da ignorância política. Porque, em essência, a política é uma ciência e não pode ser tratada como “achismo” sem nexo nenhum. Não podemos fazer uma teoria sem uma base solida de onde eu vou tirar aquilo, se existiu ou não, qual o avanço tecnológico da época etc. E como eu gosto da teoria da práxis de von Mises – onde a economia se baseia na vontade humana – tendemos a ir onde achamos ser a verdade e acabamos sendo decepcionados. Por que será?
Antes do movimento de 8 de janeiro, havia escrito um trabalho para uma matéria no meu bacharelado em filosofia, em que comparo o movimento militar bolsonarista a uma “Desobediência Civil” do filosofo estadunidense Henry David Thoraeu com o titulo/pergunta: <<HÁ UM ANARQUISMO BOLSONARISTA REACIONÁRIO E MILITAR?>>. E essa “desobediência civil” seria bastante estranha, pois, os movimentos mais conservadores do golpe de 64, eram contra movimentos comuna-anarquistas (sendo que Israel começou com tais fazendas comunitárias). E no próprio texto, concluir que ali tinham elementos muito mais enraizados do que mera desobediência civil ou inconformismo eleitoral.
Vejamos a parte espiritual: o cristianismo. Essa visão eu tive respondendo um corte de um podcast com a Espectro Cinza (Glenda Varotto), onde ela fala que a religião é o “conforto” das pessoas. Ora na minha resposta, eu disse que tinha entendido o que ela tinha dito e concordo em parte (mesmo sendo espírita). Mas deveríamos deixar bem claro a diferença muito importante entre a religiosidade (estamos no mundo e devemos se religar com o Eterno) e a espiritualidade (o ser-no-mundo vivenciando uma experiência). E isso vai muito mais do que analises superficiais dentro de uma visão espiritualista da coisa, porque tem a ver quem você é e o que acredita.
Quando temos (ou seguimos) uma religião, estamos ritualizando a religação com o Eterno, isso pode ter um “conforto” como disse a Glenda, por razões comunitárias. Sempre digo que muitas pessoas seguem essas religiões da maioria, porque vizinhos ou familiares seguem. Já a espiritualidade tem algo muito mais profundo e como está na tradição hindu (Vedas e o Yoga) e de alguma forma, também no budismo, é o encontro com o seu “eu” verdadeiro dentro de um “falso eu”, que são personagens sociais que usamos, que pode desembocar no mal ou em uma “persona” que não somos. Em essência, o Vedas (conhecimento) e o Yoga (integração) já tem a resposta, pois, um é o conhecimento para chegarmos a integração da divinização. O budismo é a síntese da espiritualidade. O EU dentro do corpo importando só o agora.
Depois disso – como disse, uma parte do bolsonarismo é cristão e partem da teologia cristã evangélica (protestante) – as religiões ditas cristãs, que nada ensinam sobre a verdadeira doutrina de Jesus Cristo, tendem a serem religiões materialistas. A Igreja de Roma vem da tradição romana do estoicismo junto com uma religião materialista, onde se adoravam deuses em estatuas e tinham na figura do imperador, um “deus-homem”. Com a estranha conversão de Constantino I – sendo que matou a mulher e a sogra – o cristianismo se torna religião formal, daí por diante, perde sua essência espiritualista e se torna uma religião política. Ao passar do tempo, passou a ter uma teologia socrático-platônica (Santo Agostinho) e, aristotélica (Santo Tomás de Aquino).
O protestantismo – por causa que Lutero era monge agostiniano – com fortes raízes da teologia agostiniana. Lutero, como monge agostiniano, foi profundamente influenciado por Santo Agostinho e suas ideias, especialmente, na ideia da graça e a depravação moral (que o santo sabia muito bem e está em suas Confissões).
(1) A doutrina da graça onde Lutero foi influenciado pela ênfase de Agostinho como um presente gratuito do Eterno, necessária para sua salvação. Porque Agostinho teria a crença que a humanidade seria inerente ao pecado e incapaz de alcançar a salvação sem nenhuma intervenção divina.
(2) Uma das suas ideias, Lutero defendia a justificação pela fé, que foi em grande parte inspirada em Santo Agostinho em sua teologia. Lutero tinha a convicção que a fé em Jesus Cristo é o único caminho para se salvar, não as obras.
(3) Lutero também tinha uma visão crítica (contida em Agostinho) aos abusos e práticas da igreja romana. Ele se opôs veementemente as vendas de indulgencias e outras práticas que considerava corruptas e antiéticas (que sua igreja, com o passar dos séculos, ficou bem parecida).
(4) Igual Agostinho, Lutero deu grande ênfase a Bíblia como uma autoridade suprema em questões de fé e prática, o que levou traduzirem o livro sagrado para a língua local, levando mais acessibilidade aos textos a todo mundo.
Com o tempo e com práticas capitalistas – não que sou contra – e se aproximando do judaísmo, o protestantismo não vê nenhum problema (pelo menos no neopentecostalismo) em prosperar e criaram a teologia da prosperidade. Se por um lado, no seu começo, o protestantismo foi visto criticando a postura do catolicismo por causa do seu materialismo. Em outros momentos, o protestantismo, faz críticas quanto a adoração de imagem. Mas, ao decorrer dos séculos, o movimento evangélico começou a ser o que eles não gostavam e se tornaram.
Com todo esse histórico que eu mostrei dentro da historia – não inventada – das duas matrizes cristão medievais e modernas, mostram como foi moldadas a serem religiões materialistas. Então, um suicídio (como do Tiu França) tem uma essência de não esperança em um futuro que nada nos aguarda. O futuro só existe após a morte, após se deixar o corpo corruptível e virarmos a alma incorruptível. Mas, e o encontro de si mesmo? por que não uma espiritualidade mais em si mesmo?
Apesar de concordar com a Espectro Cinza na questão do “conforto”, acho que a questão religiosa tem a ver com uma questão muito mais profunda. Não tem a ver com religiões – aqui se criou o conceito de que quem não tem nenhuma é ateu, mas não é bem assim – tem a ver com o encontro de quem somos e saber dirigir nossas vida de forma ética e moral. O que o bolsonarismo é, assim como qualquer fanatismo, é uma seita, só isso.
RELIGIÃO - CONFORTO NECESSÁRIO?
— ALIEN espectro cinza ⚔️ (@espectrocinza) November 15, 2024
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