Muito me preocupa uma ética baseada em um programa de TV. Fico com a
sensação – isso de forma clara – que a TV me chama de ingenuo o
tempo todo e não é difícil de saber o porque. Valentina participa
do programa MasterChef Junior – que é uma modalidade para crianças
– onde os concorrentes são levados a cozinhar. Acontece que houve
comentários de “moleques” – homens, ao meu ver, não chamaria
qualquer mulher de “vagabunda” e muito menos, uma menina de 12
anos – que não tem o que fazer, não deve mesmo, que apareceram no
twitter. Sabemos que estamos num pais machista, ignorante, hipócrita
que até mesmo irmãos – como já aconteceram – não podem
passear abraçados sem ao menos, ser linchados. Como não vou ser
hipócrita e não apontar muito homossexual chato que não pode ler
opiniões contrarias do que a sua, e fica achando que é “homofobia”.
O mesmo direito que o homem tem a mulher deve ter e isso é claro,
não é porque o homem pode sair com os amigos para beber cerveja,
que a mulher não pode sair também.
No meu conceito de lei – para mim a lei deveria ser igual para
todos – ela foi feita para não haver conflitos sociais com alguma
invasão que um ser humano possa invadir o outro (porque para mim,
nosso corpo é uma propriedade nossa e podemos sim, garantir a
integridade da nossa família), com alguma atitude. Se você estupra
uma menina, deve ser punido, se você passa a mão em uma mulher como
ato de assedio sexual, deve ser punido. Aqui existe uma lei que
proíbe qualquer criança de trabalhar e de exercer qualquer tarefa
remunerada – que nunca funcionou – sendo que, se uma mãe assinar
um termo para seu filho trabalhar em uma fazenda, não pode e essa
mãe vai presa, mas aparecer na TV pode. A discussão nem é menino e
menina não, a discussão é como as leis são feitas e posta em
pratica com dois pesos e duas medidas. Você expor crianças com
deficiência, crianças com doenças, crianças que tem sonho de
virar cantor sertanejo – como se essa breguice toda, fosse
sertanejo – pode e deve ser incentivado, mas trabalhar (muitas
vezes) para ajudar os pais, não pode. Funkeiro nem vou entrar no
mérito, porque é um texto só desse tema, porque menor não pode
cantar, mas ir no baile funk e escutar, pode. Programas de TV tocam
e muitas crianças estão assistindo. Que moral se tem para julgar
outras pessoas que fazem o mesmo? Que moral a TV pode chegar numa
fazenda de trabalho infantil e achar no direito de colocar o dedo na
cara do fazendeiro? Do pedófilo?
Há
questões morais e éticas que temos que repensar, porque se nossa
atitude não mudar, o Brasil vai afundar na lama muito mais. Não
estou dizendo de uma forma moralista – como se a “moral e bons
costumes” fossem a solução de um problema muito mais profundo e
enraizado dentro da nossa cultura – mas de uma forma humanizada da
moral e da ética, como a propagação de um conhecimento ainda
dentro dos parâmetros, que antigamente se fazia, o conhecimento é
só para a elite. Veja, não estou dizendo ter diploma, tem médicos
que tem especialização e não entende varias deficiências. Existem
instituições graduadas e são ignorantes, por exemplo, que um
centro de reabilitação tem que ter um genecologista. Nosso
pensamento – como cultura vigente – ainda tem um conservadorismo
que não deixa nosso país, como nação cultural e tecnológico,
avançar e progredir e não à toa, que existe corrupção. Corrupção
é pagar para o filho tirar a carteira de motorista. Corrupção é
achar do direito de enganar as pessoas, para conseguir dinheiro no
semáforo. Corrupção é enganar o publico para ver um programa ou
comprar um produto, que na maioria dos casos, não vai trazer nenhum
beneficio para aquele que compra. Quer coisa mais corrupta do que
reality show? Engana quem assiste, engana para a pessoa ligar e
eliminar a pessoa, enganam as pessoas em ficar torcendo que é uma
coisa já decidida. Como o futebol, como a F1, como qualquer esporte.
Então, quando vejo um jornalista dizer baboseira que é antiético
uma menina de 12 anos ser chamada de “vagabunda” ou o cara ter um
certo desejo pela menina, talvez esse mesmo jornalista, deveria ver a
coisa de muitos outros ângulos. Por que existe mais estupros em
países menos desenvolvidos? Por que existem tamanha falta de
respeito com as mulheres dentro da nossa cultura? Por que um Mr Catra
pode encher a casa de esposa, mas se uma mulher encher a casa de
marido, ela é chamada de “vagabunda”? O tal jornalista pensou
nisso? Claro que não. O Mr Catra pode ter muitas esposas – mesmo
contra a lei – e se o funkeiro pode fazer o Zé da Esquina que não
tem estudo nenhum, também pode. Mas e a Mariazinha que quer encher o
“barraco” de “bofe”, também pode? Não me surpreende que a
pequena Valentina, com apenas 12 anos, tenha sido chamada ou de
“vagabunda” ou de “gostosa” (sim, vi comentários dentro da
reportagem chamando de “gostosa”). O Mr Catra pode, uma Anitta
não.
Não estou colocando como um texto analisando o contra a pedofilia, a
pedofilia é uma patologia e não um cara “moleque” que chama as
mulheres ou meninas ou de gostosas ou de vagabundas, não são, são
homens criados dentro da cultura machista. Se elas dão “bola”,
para esses homens, elas se transformam em “gostosas” e quem não
dão “bola”, se transforma de “vagabunda”. Como se deu isso?
Como podemos construir um “porquê” a mesma pode ser uma
“gostosa” e depois, transformar em uma “vagabunda”? Na
verdade os homens daqui tem ódio de ser um ser que não é e ir
contra a sua vontade, ou seja, contra da vontade de casar com quem
quiser. Para ele (como para qualquer homem criado dentro da religião
cristã), todas as mulheres são “Evas” em potencial e querem
livrar “Adão” da decisão de comer a fruta do pecado. As
mulheres são “perversas” e querem arruinar os homens, já os
homens são as vitimas sempre e devem ser tratados como “reizinhos
fofos da mamãe”. Mulheres são detestáveis, os homens são
vitimas. A síndrome do Adão vitima, que não comeu a fruta porque
quis, sempre foi a chatice da nossa sociedade, homens daqui, detestam
as mulheres. Dai o jornalista ou a jornalista, não enxerga isso, ela
enxerga aquilo que querem que ela enxergue e ponto.
Não existe ética naquilo que o senso comum comanda com seu dinheiro
e sua audiência onde os patrocinadores reagem conforme o publico.
Ética quer dizer caráter, o “ethos” grego é o caráter do
grego, a essência de um homem social, um ser que deve ter caráter
para existir. Você acha que existe caráter num cara que escreve no
twitter: “Valentina cozinha igual uma vagabunda”? Não. Está
longe, também de ser pedofilia é sem-vergonhice mesmo. Porém, a
mídia é aquele que quebra suas pernas e dá a muleta, por um lado
que eles incentivam tocar funk em programas infantis, colocam
crianças muito novas para trabalhar na mídia, colocam uma novela
Malhação para promover a liberdade total e restrita para depois
dizer que há
uma cultura do estupro. Mesmo que seja uma denuncia – como qualquer
diretorzinho alega – é uma propaganda daquilo que não pode
acontecer, você está ensinando e incentivando. Um garoto não
assumir uma namorada gravida e é chamada de “vagabunda” – como
aconteceu no twitter o cara chamar uma menina de 12 anos que “cozinha
como uma vagabunda” – foi mostrada milhares de vezes na Malhação,
foi mostrado milhares de vezes nas novelas, foi mostrado milhares de
vezes na mídia. Então, quando a mídia mostra não é “cultura do
estupro”? Foucault iria ler Carta Capital e dizer “le magazine
décadente” com aquele sotaque empáfio (que acho o máximo), iria
se aborrecer e com razão, a ética é muito mais que denunciar e ter
denuncias vazias é saber a origem do que denuncia. Uma Carta Capital
faz essa genealogia do problema? Claro que não, o problema sempre é
a educação, mas o que adianta o educador (seja os pais ou os
professores) educarem e a mídia deseducar?
O problema mais uma vez é a não definição da escola (como um
trazedor de conhecimento e não de educação) como ponto de partida
para se começar a discutir. A ética vem da escola (como base
social), a moral vem no núcleo familiar (como base de fazer o certo
ou errado) e tudo que nós fazemos, nós temos exemplos em casa,
porque a escola não tem esse papel. Se existe uma “cultura do
estupro” – se tiver, porque sempre houve casos de abusos – essa
“cultura” é como exemplo na sua casa, no mesmo modo que o cara
bebe, que o casal trai um ao outro, no mesmo modo que fala e agride e
até assalta – na maioria das vezes, são crianças que podem fazer
o que quiser – tudo é aprendido na sua casa, até chamar uma
menina de 12 anos de “vagabunda”. Simplesmente, a pequena
Valentina, foi vitima da hipocrisia social e agredida pela mídia sem
saber, usaram sua imagem, usaram sua infância, estamos vivendo
dentro das redes social, um Jogos Vorazes.
Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, publicitário, TI, filósofo
anarquista.
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