sábado, 29 de junho de 2024

MANUAL PARA O NERD REDPILL – O CONCEITO DA FORÇA

 




 

Não há emoção, há paz.

Não há ignorância, há conhecimento.

Não há paixão, há serenidade.

Não há caos, há harmonia.

Não há morte, há a Força.

(O Código Jedi)

 

 

Há uma discussão nos grupos de fãs de Star Wars (eu gosto, mas não me considero fã), onde mudaram o preceito da Força, pois, as bruxas (The Acolyte) dizem que é um fio que liga todas as coisas. Os jedis – filósofos e guardiões da paz e da república – interpretam a força (no livro O Caminho Jedi) como: “...a FORÇA é um campo energético criado por todas as coisas vivas". Ou seja, não há nenhuma diferença dentro do que as bruxas disseram, mas, tem a ver com a linguagem da questão. Porque, segundo o Mestre Bowspritz, as células – através dos midi-chlorians – canalizam (fluem) a energia da Força. Mesmo porque, segundo o mestre, “nós não bebemos a tigela, mas sim a sopa que ela contém”.

Mas, existem dois conceitos básicos dela dentro da história: a Força Viva e a Força Unificadora. Que consistem em:

 

 – “A Força Viva é criada através de todos os seres vivos. Quando seres morrem, um Jedi pode sentir através da Força Viva. Quando muitos morrem de uma só vez, a perda de energia pode chocar ou até mesmo derrubar um Jedi. Todas as habilidades tangíveis da Força - como correr, saltar, aguçar os sentidos, mover objetos ou acalmar emoções alheias - são técnicas pelas quais os Jedi se tornam agentes da Força Viva.”

– “A Força Cósmica é um vasto poder cósmico e transcendente e que determina a vontade da Força. Ao meditar com a Força Cósmica, pode-se vislumbrar o passado e os possíveis futuros, e obter informação sobre o destino.”

 

Como vimos (através da Wikipedia e confirmado aqui no O Caminho Jedi), as bruxas não sentem a Força Viva e sim a Força Unificadora ou Cósmica. Ainda no O Caminho Jedi:

“A Força Unificadora é um vasto poder cósmico. Vocês (os iniciados) ainda não conseguem senti-la, mas, com paciência e reflexão, sentirão. A Força Unificadora são as estrelas e galáxias, a superfície agitada do tempo e do espaço. Ela é a voz que sussurra sobre seus destinos, e podem ter certeza; a Força tem vontade própria. Dialogar com a Força Unificadora é deixar o corpo em caráter temporário, para caminha  pelo passado ou ver o futuro. Alguns ancestrais acreditam ser possível transcender a morte” (Jedi, O Caminho p. 36)

Ou melhor, há uma questão bastante importante quando fazemos uma critica dentro de uma obra literária ou cinematográfica: primeiro, trazer elementos que possam colaborar com que estamos dizendo, segundo, ter em mente que meras opiniões não são conhecimentos e sim, achismos levados ao impulso de responder rápido. Requer estudo e pesquisa. Mesmo com conceitos como esse de ficção cientifica que para entender, temos que saber que seu criador George Lucas gostava ou gosta, de filmes de samurais. Por outro lado, Lucas disse em uma entrevista que:

 

Não acho que “Guerra nas Estrelas” seja profundamente religioso. Acho que a saga juntou todos os aspectos que a religião representa e tentou destilar isso em uma coisa mais moderna e mais acessível em que as pessoas possam se apegar para aceitar o fato de que há um mistério maior lá fora.

Quando eu tinha 10 anos eu perguntei para minha mãe. “Se existe um só Deus, por que há tantas religiões?” E desde então, eu reflito sobre essa questão. A conclusão que eu cheguei é que todas as religiões são verdadeiras… Elas apenas veem a mesma coisa sob diferentes aspectos.

A religião é, basicamente, um repositório para fé. A fé é a “liga” que nos mantém juntos como uma sociedade. Fé na nossa cultura… no nosso mundo… ou qualquer outra coisa em que estamos tentando nos apoiar. É uma parte muito importante, eu acho… que nos permite continuar estáveis, em equilíbrio.

Eu coloquei a Força nos filmes… para despertar um certo tipo de espiritualidade nos jovens. É mais uma crença em Deus do que em qualquer sistema religioso. A verdadeira questão é fazer a pergunta! Porque se você não tem interesse suficiente nos mistérios da vida… Para fazer a pergunta “Existe ou não um Deus?”… Para mim, essa é a pior coisa que pode acontecer. Se perguntar a um jovem se existe um Deus, ele disser que não. Acho que você deve ter uma opinião sobre isso.”. (Blog: Sociedade Jedi)

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – bacharel em filosofia, TI, publicitário e cadeirante



sexta-feira, 28 de junho de 2024

SINDROME DE LINKEDIN - NAS CORPORAÇÕES HÁ INCLUSÃO?

 





Eu vi isso no LinkedIn do perfil Talento Incluir:

 

“E se alguém dissesse para você que 44% das empresas enfrentam dificuldades na contratação de pessoas com deficiência devido ao despreparo do RH, você acreditaria?’”

 

Sim, podemos dizer que acreditamos e temos prova como as empresas, assim como a sociedade, enxergam as pessoas com deficiência como pessoas infantilizadas e inúteis. Mas, há uma outra visão que a Lei de Cotas (com várias críticas em sua composição) tem que passar socialmente: o profissional com deficiência existe e está muito preparado para assumir seu posto onde foi qualificado (muitas vezes, isso não acontece). Muitas vezes, o profissional de RH (recursos humanos) tende a não ser preparado de lhe dar com o profissional com deficiência, nem na hora de uma entrevista (averiguação da qualificação) nem na hora a lhe dar suporte de adaptações adequadas dentro da empresa.

Hoje, mesmo que alguns conceitos dentro do capitalismo brasileiro seja atrasado, se deve adequar as questões de lei (legislativas) dentro do que chamamos de diversidade. Não, diversidade não é “coisa de comunista”. Nem “coisa da cultura woke”. Aliás, os webcomunistas e os wokes, tem atrapalhado um pouco nossa luta pela inclusão, por acharem que a luta é deles, mas, como a filosofa Djamila Ribeiro disse em um livro, temos lugar de fala. A frase <nada sobre nós, sem nós>, diz muito esse “lugar de fala”. E pelo que vimos nas nossas pesquisas, as feministas no final dos anos 80 tiveram papel importante em cunhar uma filosofia que colocasse a deficiência na discussão, e como ela esta em toda parte da sociedade, as empresas tem que se adequar dentro da sociedade no qual estão inseridas. Daí, em várias críticas; há um conceito que o capitalismo brasileiro é bastante atrasado.

O atraso tem duas origens: uma é os vícios que nossa sociedade tem que são evidentes (como a filosofia “menos esforço, mais lucro”), outro é que por ser diferente, não vai trabalhar como as outras pessoas. Mesmo que o Brasil foi colonizado na modernidade, sua modernização industrial só começa nos anos 30 com o governo Vargas. Por quê? Por causa da nossa elite rastaquera (quando iam para a França, os franceses diziam que a elite brasileira não tinha cultura e, pelo jeito, continua não ter), o Brasil se arrasta em modelos antigos e em uma cultura empobrecida e emburrecida para ter seus próprios interesses (gerando a corrupção). A não fiscalização da Lei de Cotas tem a ver com isso, quando o conceito de medicalização chega em 1926 com o projeto Pestalozzi, se cria um conceito de não utilidade da pessoa com deficiência enquanto ele não for “curado”. Só que há um porém: deficiências não são curadas.

Nem a deficiência é uma situação e sim, uma condição. A nosso ver, não aceitamos a questão da deficiência como um símbolo, porque ela é real. Sendo real, está na sociedade e pode acontecer com qualquer um. As empresas estão contratando para não pagarem a multa, não é uma questão de aceitação da diversidade. E isso começa com a questão da aceitação da realidade: muitos dos conceitos fantasiosos vem da “síndrome de LinkedIn” onde tudo é maravilhoso, cheio de frases motivacionais, mas que não discute a raiz ética do problema. Pois, inclusão não é só uma questão de “conscientização”, é uma questão de mostrar que as pessoas com deficiência são qualificadas. Que apesar da deficiência, temos muito a oferecer como profissionais e isso tem a ver com o profissional do RH.

As empresas tem que se adequar dentro do que se chama de Gestão de diversidade e inclusão, pois, em um mercado cada vez mais composto de investidores e consumidores, a questão da diversidade e inclusão pode ser um diferencial e um avanço. Mas, muitas empresas levam só como uma questão de imagem e não realizam na pratica – já viu um jornalista ou um publicitário cadeirante? – gerando uma desconfiança da própria sociedade. Em uma ida ao shopping, por exemplo, há muito pouco vendedores com deficiência ou atendentes com deficiência. Muito poucas pessoas com deficiência tem cargos de gerencia, ou do próprio RH. E o preparo do profissional para lhe dar com a deficiência como algo concreto, é qualificar esses profissionais desde a entrevista.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – Bacharel em Filosofia, publicitário e técnico de informática

quinta-feira, 27 de junho de 2024

INFLENCIADOR DO CAPACITISMO

 

 




"Eu não imaginava que uma criança que tem 10% do cérebro funcionando fosse tão chata e pudesse me dar tanto problema. A vontade, às vezes, é de largar na porta do orfanato e deixar alguém se virar, alguém tomar conta",

(Pai Capacitista)

 

 

Já faz alguns anos que uma questão é repetida: vale a pena tudo por causa de uma curtida? O influenciador, Igor de Oliveira (24), fazia conteúdos pela internet expondo sua filha com paralisia cerebral, Sofia (2). Acontece que, Igor para ter engajamento e mais dinheiro, apelava para o sarcástico e para pedir doações, teria enganado seu publico. Primeiro, em alguns áudios, teria dito ter comprado um carro e sua ex-mulher teria feito uma operação plástica (hoje chamado de procedimento estético). Depois, em um ato de querer mais engajamento, teria proferido falas desse tipo sobre sua filha propagando a desinformação e desrespeito com deficientes não só pela internet, mas, em todo território nacional. O blog Vencer Limites nos trouxe dias atras, reportagem de uma mulher com surdes, negra e analfabeta, que desde sua infância era mantida como doméstica (em caso de escravidão),

Como é mostrado na frase acima citada pelo G1, a paralisia cerebral (como a deficiência que eu tenho) não usa 10% da capacidade cerebral. É uma deficiência psicomotora que afeta a postura, os movimentos e toda e a fala (bastante lenta). Ou seja, a paralisia cerebral não pode ser tratada como algo do tipo como usar 10% do nosso cérebro e como não tivéssemos consciência, pois, se não tivéssemos consciência, não tínhamos o entendimento e não estaria escrevendo esse texto. O que ocorre – e Foucault já tinha alertado sobre no livro Os Anormais – existe a cultura do monstro que define o que é e o que não é normal. E isso começa no século 18 com o meio jurídico definindo o criminoso como um sujeito com o corpo deforme, o pecaminoso que esta contra as leis sociais e as leis naturais. E Foucault lança ate uma pergunta: “Qual é o grande monstro natural que se oculta detrás de um gatuno?” e ele responde: “O monstro é, paradoxalmente — apesar da posição-limite que ocupa, embora seja ao mesmo tempo o impossível e o proibido —, um princípio de inteligibilidade. No entanto esse princípio de inteligibilidade é propriamente tautológico, pois é precisamente uma propriedade do monstro afirmar-se como monstro, explicar em si mesmo todos os desvios que podem derivar dele, mas ser em si mesmo ininteligível.” (Foucault, pag 44 PDF, 2024).

Ou seja, Foucault lança algo bastante emblemático dentro das premissas estruturais do corpo, pois, o corpo em si é um comunicador também que precisa ser compreendido. Se alguém não corresponde nessa comunicação (simplista, por natureza), tende sempre a fazer uma leitura de rejeitar esse corpo e dizer que aquilo não pode ser humano. Não pode corresponder a capacidade humana de conter consciência. se cria o “monstro humano” como algo subjetivo de uma leitura rasa e sem proposito (como esta, por exemplo, na obra O Corcunda de Notre-Dame de Victor Hugo). O “monstro humano” começa em Roma quanto a lei pater fazia do chefe da família um juiz, um executor e quem poderia ou não ser normal. O deficiente é um “monstro humano” por não se adequar aquilo que se acha ser natural.

Em uma critica bastante rigorosa, poderemos dar razão ao rapaz quando ele diz: <"O engajamento não vem com a verdade. A verdade não engaja e a verdade não vende">.  A “verdade” não agrada porque temos uma sociedade que se alimenta das ilusões e acha que aquilo é verdade por causa de uma imagem, mas, nem sempre uma imagem é verdadeira. Outra coisa importante é que, fomos educados em que as telas são só entretenimento e não se pode ter um momento de aprendizado.  A verdade não agrada. A verdade matou Sócrates e Jesus. A verdade não pode nos dar ilusões e sim, a verdade nos mostra como fomos enganados com ilusões. Como disse Nelson Rodrigues: “mintam por misericórdia”.

Mesmo porque, se olharmos com bastante atenção o porque ele atingiu esse nível de doações, tem a ver com a visão assistencialista que ainda persiste com a questão da deficiência. isso tem a ver – no fundo – com as instituições que sempre cuidaram das pessoas com deficiência e a alimentação da ideia que ela é uma doença, e essas instituições, curavam. No caso de deficiências permanentes como paralisia cerebral, as instituições só podem amenizar as limitações que elas causam dentro da falta de oxigenação cerebral, porem, não há nenhuma cura. Mesmo que possamos ter engenharias genéticas – como controle de nascimentos por vitro – vai haver combinações aleatórias, contingências.  A determinação do que é perfeito ou não, tem a ver com a condição humana de não lhe dar com a incerteza do universo.

Amauri Nolasco Sanches Junior

– Bacharel em Filosofia, publicitário e técnico de informática