Fonte: Deficiência em Foco |
“Se você tem um filho são, ao contrário os que estão aqui, faça sua doação”Luciano Hang (conhecido como véio da Havan)
Como sou adepto da filosofia
nietzschiana, onde ele diz que o que não te mata, te fortalece,
então, acho que a deficiência me fortaleceu. Já no outro texto que
escrevi sobre eu não doar nada para o Teleton (aqui), já disse que
a deficiência nunca foi uma preocupação importante. Não que eu
nego ela ou eu acho que não tenho nenhuma limitação, eu sei que
tenho, mas, ao longo da minha vida a questão da deficiência sempre
foi ficando muito reservada de lutar por uma inclusão, porém, não
faço drama. Não gosto muito de ficar em grupos que só contem
conteúdo
para deficientes, desde os austeros tempos dos grupos do Yahoo. Era
mais sobre filosofia. Minha luta sempre foi mais focada no deficiente
ter um tratamento descente, ter um estudo (até ler livros e entender
sua deficiência) e trabalhar. Para mim, a Lei de Cotas para pessoas
com deficiência – não vou explicar de novo – sempre foi uma
farsa, ou seja, não emprega ninguém de fato. Pior, muitos
empresários não cumprem as leis de cotas e não cumprem a lei de
acessibilidade.
Essa fala do Luciano Hang – o dono das
lojas Havan – não me surpreende, porque ainda se tem as pessoas
com deficiência como doentes. Uma das origens desse pensamento é a
igreja católica – que somos herdeiros culturais, pois, Portugal é
católico em sua maioria – que sua teologia foi montada dentro de
três pilares. A cultura hebraica que veio com Jesus de Nazaré.
Depois, a filosofia patrística (com a cristianização de Platão
por Santo Agostinho), e também, a filosofia escolástica (com a
cristianização de Aristóteles por São Tomas de Aquino). A cultura
hebraica – podemos constatar no velho testamento – pessoas com
alguma deficiência e mulheres menstruadas, não podia louvar o
Senhor no templo e subir o altar. Está no evangelho. Por acharem que
essas pessoas não eram purificadas e não poderiam fazer suas
ofertas. Até hoje, se um deficiente quiser ser padre, tem que mandar
uma autorização ao papa para ter essa permissão e são muito
poucos pastores com alguma deficiência dentro do protestantismo. No
caso do filósofo Platão, achava que pessoas com algum “defeito”
deveriam ser eliminadas, assim como, seu aluno Aristóteles,
concordavam com isso. Claro, entre dois a mil anos atrás, não tinha
tecnologia para lhe dar com pessoas como nós. Mas, hoje em dia,
temos.
Mas, a deficiência não é uma doença,
porque uma doença se porta e não se porta, a deficiência é uma
limitação que não se porta. O termo deficiente veio do latim
(língua falada na região de lácio onde ficava Roma que virou um
império), deficiente que tem a declinação deficiens, do mesmo
étimo do verbo deficere, que quer dizer, faltar, falhar. Acontece,
que há uma predominância – que no livro “O que é Deficiência”
de Débora Diniz ela explica que o termo deficiente foi um acordo
mundial – com o politicamente correto, foram criados vários
eufemismo que mudaram aleijado, deficiente, cego, surdo, mudo para
pessoa com deficiência tal: física,
visual, mental, etc, como pessoa com deficiência. Mas, pessoas com
deficiência também está errado, porque uma pessoa que tem sequela
de paralisia cerebral (uma lesão na parte do cérebro),
por exemplo, é uma personalidade única que tem uma deficiência. Ou
seja, ele é deficiente (uma falta) de características específicas
que não deixam ele andar ou fazer outra coisa. Então, ele é um
deficiente.
Hoje com avanços tecnológicos, não
somos pessoas que ficamos trancados em nossas casas ou somos
esquecidos em florestas para morrer (ainda que há povos que matam
seus deficientes). Temos uma vida normal e lutamos pela inclusão.
Mas, no Brasil onde temos uma elite rastaquera (onde nossa elite se
acha estudada, mas, não é), muitas empresas ainda acham que não
podem contratar pessoas com deficiência. Como podemos acreditar na
Lei de Quotas – que faz 28 anos – se um empresário pensa que
deficiência é doença? Pense nisso.