Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Recebi um meme no meu grupo que dizia assim: “no dia 11 de novembro o STF votará a ADI 5668, que se for aprovada, irá obrigar todas as escolas do Brasil a ensinarem a teoria de gênero”.
Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Recebi um meme no meu grupo que dizia assim: “no dia 11 de novembro o STF votará a ADI 5668, que se for aprovada, irá obrigar todas as escolas do Brasil a ensinarem a teoria de gênero”.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Amauri Nolasco Sanches Jr (@amaurijuninho44) em
Por Amauri Nolasco Sanches jr
Paulo Ghiraldelli Jr disse sobre o dono da Amazon, Jeff Bezos e sua ex-esposa: “Mulher do homem mais rico do mundo junto com o homem mais rico do mundo. Ele com o olho maior que o outro e ela com um pescoço de girafa e cara de bolacha regaçada. Mas que gente sovina, podiam bem ir a uma clinica de plástica ne?”
Para começarmos nossa analise temos que responder a uma única e básica pergunta: o que é a filosofia? Ora, quando entramos na questão, questionamos “o que é” e não “para que serve” e assim, investigamos a filosofia como daquilo que ele é (sua natureza) enquanto descobridora da verdade. Mas, a maioria, pergunta “para que serve a filosofia?”, dai esta o erro, porque damos uma utilidade definida para ela. Como diria Hegel, a filosofia é completa no sentido de investigação e indagação de si mesma se for preciso. Ela mesma se completa. Porque não existe nenhum campo que ela não atue, não tenha relevância.
Claro, podemos analisar corpos como podemos analisar obras de arte – na estética – onde as formas tornam uma analise mais profunda desses corpos. Paulo Ghiraldelli Jr – que é pós-doutorado e mestrado em filosofia – tem na sua filosofia, o slogan “desbanalização do banal”. Daí vem a questão: o que é o banal? Banal é algo trivial, sem nenhuma originalidade, aquilo que é comum ou ordinário, como uma conversa banal. Também se dizia aquilo que pertencia ao senhor feudal, porém poderia ser usado pelos seus vassalos desde pagassem o foro. Ora, se banal é algo trivial (algo vulgar ou corriqueiro), e o professor Ghiraldelli quer “desbanalizar o banal”, por que ele disse: “Ele com o olho maior que o outro e ela com um pescoço de girafa e cara de bolacha regaçada”?
O problema central ali do professor não é Bezos ter um olho maior que o outro ou a ex-mulher dele – no qual, Ghiraldelli nem se deu o trabalho de pesquisar e acha ser “a mulher do homem mais rico” – MacKenzie Scott ter um pescoço parecido com uma girafa e rosto de “bolacha regalada”, mas sim, sua linguagem. Ai temos que investigar a linguagem filosófica que chega ao escarnio, no caso da analise estética do caro professor. A primeira questão é: o que ele quis dizer com isso? Num primeiro momento podemos responder, que Ghiraldelli estava querendo dizer que nem sempre quem é o mais rico é o mais belo. Mas, a questão é outra, porque conhecemos suas estratégias.
Há muitos anos, quase no começo da internet, os livros eram vendidos por propaganda de e-mail. Ele e o Olavo de Carvalho usaram esse artificio e os sites e blogs, para venderem seus livros. Só que nas redes sociais – que não são direcionadas – tem que ser desenvolvida outras estratégias. Ter um publico cativo. Ghiraldelli sempre foi mais infeliz do que Olavo, porque mesmo o Olavo não tendo nenhum diploma – ele diz que tem, mas não fala da onde – ele tem mais visibilidade e anos de mídia. Ainda mais, os chamados “filósofos midiáticos”, sempre incomodaram o “filosofo de São Paulo”.
Sendo assim, a nossa analise pode levantar tal questão: será que Ghiraldelli é um ressentido, ao moldes nietzschiano? Pois, seria fácil construir uma face psicológica que mesmo todo seu esforço de ter seu trabalho reconhecido, não teve o reconhecimento que ele achava que tem. E podemos dizer que sim, há um professor que ensinou muitos conceitos da filosofia, mas, que se perdeu na sua própria vaidade de achar que só ele merecia tal credito. Caem no conceito orkutiano e dos muitos grupos do Yahoo, de atacar para não responder questões. E não é só ele, Olavo de Carvalho dentre outros, caem no mesmo vicio. E agora, mais do que nunca, Ghiraldelli vê no buraco que se formou na esquerda – onde os intelectuais lulopetistas tentam a todo custo defender o partido de um golpe que nunca houve – uma chance de destaque.
Voltando ao problema central do texto, é só uma forma de destaque de um intelectual que quer desbanalizar a filosofia e ao mesmo tempo, banalizar a estética. Ghiraldelli não é um filosofo. Ele não sabe = deveria saber – que esteticamente, que cada um pode estar satisfeito consigo mesmo. Afinal, estética vem do grego “aisthetiké” que significa sensação, ou seja, quando a filosofia (ou o filosofo) se dedica em estudar o belo, a beleza sensível, é a sensação que esse belo traz. Bezos pode não ser belo na aparência, mas, sua postura é nobre, austera como um homem que venceu a pobreza e se tornou o homem mais ricos do mundo. Destaque que o professor nunca conseguiu. Por que? Não percebeu que a filosofia não analisa pessoas e sim, fatos.
Eu, por exemplo, não me interesso com a vida do caro professor, com quem ele casa ou deixa de casar, mas, o que ele escreve e comenta (que diz ele, ser filosofia). Nesse caso, de uma forma provocativa, chamou atenção do Bezos ter ou não um olho maior que o outro, que eu nem reparei (na verdade, nem me interessou os olhos dele). Dai termina com a pergunta: “Mas que gente sovina, podiam bem ir a uma clinica de plástica ne?”. Essa não é uma pergunta provocando uma reflexão, porque a pergunta já começa com “gente sovina” de um modo irônico.
Sempre destaco que a ironia não é para qualquer um, pois fazer ironia – como os filósofos gregos faziam – tem uma forma e uma linguagem apropriada. Quando ele coloca “gente sovina” – pessoa avarenta – é pelo julgamento do que ele acha que Bezos junto com Scott, deveriam fazer. Mas, e a liberdade de escolha? A questão entra no ser ele mesmo. Por exemplo, eu posso ter o dinheiro de Bezos e não querer uma cadeira ultimo tipo. Porque a minha cadeira me faz feliz e vou onde quiser. É uma ilusão achar que ricos gastam dinheiro a toa, não gastam. Daí entra numa outra questão: o corpo é uma propriedade sua.
Dai vamos voltar a pergunta
inicial: o que é filosofia? O que podemos dizer que a filosofia nos remete a reflexão
muito mais profunda do objeto estudado – seja um objeto abstrato (como a beleza)
ou um objeto concreto (como os corpos) – ou seja, temos que informar o caro
professor, que defende o pragmatismo (filosofia americana), onde só é importante
a pratica. Porem, o que ele fez foi só banalizar a filosofia.
Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
nesses dias eu assisti ao filme “Remédio Amargo” (El Practicante), que é um triller espanhol, contando a história de um paramédico chamado Angel, que em dado momento do filme, sofre um acidente no trabalho e fica cadeirante. Dai vem o que venho repetindo a muito tempo: a deficiência não é métrica de caráter. Por quê? Ao longo do filme, você nota que não há uma mudança significativa do Angel antes do acidente e depois do acidente. Então, a questão desemboca na ética, onde vários livros especializados em psicopatias, dizem que essas pessoas não tem nenhuma. Ora, a origem do termo ética é o termo grego “ethos” que Jeager diz que era o lado espiritual do mundo grego (do lado do aretê). Vimos que o machismo embutido em Angel é bem evidente em dois momentos.
No primeiro momento vemos Angel já com uma tendência de ser uma pessoa ciumenta por causa do não poder engravidar sua namorada Vanessa, pois, se acha indigno de ser homem e não poder ter filho. Temos uma cultura que diz, homem que é homem tem muitos filhos ou um, pelo menos, porque se trata da virilidade da questão masculina. Uma coisa é você ser homem, outra coisa você ser o macho da espécie. Se pode perguntar: qual a diferença? Um macho animal é movido pelo instinto de comer (talvez, para manter o equilíbrio da fauna e flora) para crescer e reproduzir (perpetuando a espécie), pois não tem a menos consciência do que está fazendo. O ser humano sabe muito bem o que está fazendo e deveria prestar mais atenção nos afetos e seus efeitos, porque tem consciência daquilo que está fazendo. Portanto, nossa reprodução consiste em muito mais do que copularmos como os animais, mas convencer o outro que estando do seu lado, os filhos serão mais cuidados e mais saudáveis. Mas, não é só isso, parece que a evolução humana – eu arriscaria não só a biológica e sim, a espiritual também – nos deu o amor e o apego as pessoas que estão no nosso lado. Assim, entramos num outro problema que é o machismo e feminismo do mundo contemporâneo.
Somos todos seres humanos da espécie homo sapiens, isso não há dúvidas. Mas, a condição humana entre os dois polos (feminino e masculino) teve interferências socioculturais muito evidentes que no filme mostram muito bem e que entram de seculos de dominação do discurso do macho da espécie. Ser homem consiste em ser masculino e não ser macho – principalmente, alfa – porque temos consciência daquilo que somos e aquilo que nos afetam dentro de um modo geral. Voltamos a afetividade. Porque, durante seculos, se disse que o homem não pode demonstrar afetividade – por isso mesmo, se diz que homem não chora – e muitos homens desenvolveram uma visão de ser um homem-macho e não um homem masculino. A meu ver, másculo demonstra força diante de uma consciência daquilo que somos (racionais), pois, o macho não existe essa racionalidade. O macho é o lado animal (pois, é o nosso instinto reptiliano), o nosso lado biológico escondido em camadas que foram desenvolvendo durante a evolução simio-humana. Ser masculino é ser racio-afetivo sem perder a força, sem perder o poder de procriar.
Mas esse erro histórico que veio com povos indo-europeus, nasceu no século dezenove e vinte um movimento de reação com o mesmo erro. As mulheres subjugadas por seculos de opressão em vez de contrapor com o feminino, o lado racio-afetivo, reagiram com o feminismo da fêmea, o lado animal e ressentido. Dois contrapontos que se conflitam com a ideia da humanidade como seres conscientes do ambiente onde vivem, o que sentem e o que são. O penso logo existo cartesiano de se encontrar consigo. Dai sim vem a parte interessante, porque a sociedade moderna ela se colocou no meio do nada, porque tudo perdeu o sentido diante do humano, do capaz de sentir e perceber na plenitude do ser. As pessoas não assistem futebol porque gostam, mas porque os outros assistem e não querem ficar de fora. A nossa sociedade mergulhou no nada para ter um valor artificial, onde o ter é melhor do que ser. Ai sim Nietzsche tem razão, não amamos o ser desejado, mas só os momentos agradáveis. No filme se vê muito isso, pois, Angel não ama Vanessa, ele tem uma dependência e o controle de um macho com sua fêmea. Por outro lado, Vanessa não deixa ele, tem o lado de impor e de não aceitar que ele a espione, bem próprio de alguém que esconde algo. A liquides de Baumam está no controle e de querer ter razão da própria condição de ser mais um entre a multidão.
O filme é escuro por causa desse conflito entre aquilo que era belo (o amor) e aquilo que é feio (a dominação), o perseguidor, aquilo que chamamos do nada. Quando você se torna o que todo mundo é, você se torna mais um número, não tem nenhuma essência. Se você ouve o que todo mundo ouve, se você tem as mesmas crenças, os mesmos pensamentos, você só é escravo do sistema. Daí entra a minha filosofia do não. As pessoas só vão respeitar quem você é, quando você disse não, mostrar que tem vontades e sentimentos. Nietzsche diz, que de tanto olharmos para o abismo, o abismo olha para você. O abismo é o espelho, o que você mais odeia você se torna e assim, a roda da vida gira. Angel não queria aceitar que o erro foi dele, mas Vanessa queria ser o que todo mundo é, o que as pessoas são e não ser ela mesma. Claro, determinado ponto do filme ele se torna aquilo que chamamos de psicopata, mas, a questão tem a ver com o ego.
Não se trata de quem somos, mas um eu falso. O ego (self) que tanto os budistas falam não é quem somos, mas o eu falso, aquele que eu disse que é o nada porque só é mais um no meio social. Ou seja, para sairmos da ilusão, devemos negar tudo que nos impõem. Angel ficou obcecado por causa do filho que não pode ter, porque era uma exigência social. Por que deve casar e ter filhos? Por que eu deve ser homem como os outros? Daí a solidão é inevitável, a liquides do relacionamento é o nada que somos, porque colocamos sempre entraves para viver. Sempre condições morais, condições religiosas, condições familiares. Até mesmo a massa – que não sabe nem resolver seus problemas – quer moldar a vida do outro como se a sua “formula mágica” fosse a solução de todo os problemas da humanidade. Esse é o falso ego. Achar que alguém ter que viver igual ao que se acha certo e não é diferente de um psicopata. Só o psicopata tem esse sentimento até a última consequência.
No mais, é um filme bom e traz um diferencial: um psicopata cadeirante. Mostrando que a deficiência não é medida de caráter.
Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Há um grande estigma dentro da nossa sociedade que é: pessoas com deficiência são incapazes. Ora, na Alemanha nazista, o líder Adolf Hitler assinou uma lei autorizando o massacre de milhões de pessoas com deficiência (de todo tipo) por serem consideradas pessoas incapazes e sofredoras. Mas um fato curioso aconteceu, Hitler assinou essa lei chorando. Como um ditador que matou mais de seis milhões de judeus e outras etnias, tenha chorado quando teve que matar pessoas com deficiência? Talvez, a visão que se tem das pessoas com deficiência, tenha origem da procura da perfeição grega (como uma forma perfeita, esteticamente) e também, o medo que a humanidade sente por nós sermos enigmáticos. Muitas pessoas cegas eram oráculos, assim, muitas deficiências eram tidas como sinais dos deuses. Os hebreus antigos não deixavam os “defeituosos” chegarem perto do altar, assim, adorar a Deus.
Você pode estar dizendo ao ler a primeira parte: tudo culpa da religião. Uma parte sim, mas, a ciência também fez sua parte em aumentar o preconceito. O nazismo é fruto de um cientificismo que achou que resolveria todos os sofrimentos do mundo, apenas, fazendo uma seleção dos mais fortes. Dos seres humanos aptos para viverem na face da Terra e herdar uma sociedade sem nenhuma diferença, ou seja, a ideia da seleção natural de Darwin foi, completamente, distorcida. Darwin nunca disse que o mais forte sobrevive e se reproduz, mas o mais adaptado dentro de um ambiente. E se criou a ideia da eugenia – hoje, considerada como uma pseudociência – e se teve a ideia de selecionar só seres humanos perfeitos e aptos a viverem felizes. A questão é: com o avanço científico dentro da área da genética, será que a ideia da eugenia morreu mesmo? Ou a ideia da eugenia só tem uma capa bonitinha para não parecer o monstro que é de verdade?
Vou muito mais longe. Eticamente – dentro de um pensamento humanista – você escolher entre ter um filho com deficiência e sem deficiência, seria errado porque nos dois casos, se trata de uma pessoa. Alguns acham que as pessoas devem escolher – talvez, através do aborto – e outros acham que se deve amar do mesmo modo. Acontece, que no fundo da questão, está a vaidade de ter um filho saudável (dentro de uma sociedade normativa) e mostrar para todo mundo, sem dar maiores explicações. O problema sempre foi essas “maiores explicações”. Por não saber e por isso, achar que se trata de uma doença. Por outro lado, além de uma visão religiosa que Deus teria mandado um filho com deficiência como prova de fé, como um carma, como um pecado e etc, ainda, tem a visão da medicalização que faz do médico, uma espécie de oráculo. E muitas vezes, o médico cai na besteira de se sentir um oráculo e ir até contra a ciência, pois, não dá para dizer se uma pessoa vai ou não depender da família, sem uma prova empírica (provável).
Daí se voltamos no olhar ético. Seria ético fechar pessoas com deficiência num confinamento por causa de uma visão do médico sem questionamento? Será mesmo que uma pessoa com uma deficiência severa não pode aprender com o convívio? Mesmo o porquê, a essência do ensino – educação só pode vir na questão familiar – é criar meio de aprendizado em ambientes adversos, respeitando sua individualidade. Numa escola temos que criar meios de socializar aquelas que não podem ser socializados e isso não vem de hoje, os gregos educavam através dos poetas e dos filósofos (também os sofistas), e assim, educavam com o ócio. É uma outra realidade, mas não é outra mentalidade. Paradoxalmente, os gregos que tinham uma sociedade escravocrata, se preocupavam com a liberdade. Hoje, depois de dois mil anos, diante de tantos avanços, não temos liberdade.
Talvez, a eugenia tenha pegado a questão da evolução – o mais apto – e tenha transformado esse ato de escolha do individuo, colocando em voga a questão grega clássica de perfeição e de felicidade. Mas, quem começou a distorcer essa imagem grega de perfeição através da harmonia? A igreja romana. Quando você lê um livro como Paideia, de Wener Jeager, você acaba descobrindo coisas bastante interessantes sobre a educação. Primeiro, que sim, a educação começou com Homero e assim, houve toda uma construção dentro da cultura grega, no qual, somos herdeiros. O que podemos dizer que a história de harmonia e perfeição tem muito mais a ver com o modo espiritual – portanto, bastante abstrato – do que num modo concreto. Daí vimos que a história que pessoas com o corpo imperfeito, e nem tenha a moral cristã europeia, sejam seres que não tinham alma. Só ver o filme baseado no livro homônimo do filósofo Umberto Eco, O Nome da Rosa, ou o livro do romancista Victor Hugo, O Corcunda de Notre Dame. Num caso, o rapaz “deformado” fica nas catacumbas do mosteiro pagando para transar e o outro, o corcunda não fica com a cigana.
Como temos uma cultura, completamente, católica, herdamos essa imagem que as pessoas com deficiência sejam pessoas sem almas. Será que no Brasil essa cultura de ficar trancafiando pessoas com deficiência em catacumbas vai vingar?