Já faz bastante tempo que estou observando as questões seletivas
do nosso povo, hora porque apoia aquilo que lhe convém, hora porque não tem a
menos vontade de pesquisar. Na verdade – isso eu comprovei na minha aula de história
que a professora ensinava que o “mar” de dentro da Europa (mar báltico) estava
fechado e não tinha como os europeus passar ali – temos uma escolarização de baixa
qualidade (vagabunda?) porque somos uma sociedade, ainda, escravocrata. Não precisa
ser nem da esquerda lulopetista para reconhecer isso, nem mesmo de outra
esquerda, para reconhecer isso. O próprio Adam Smith (o pai do liberalismo utilitarista),
teve que reconhecer que temos um sistema de classes. E por isso mesmo, com esse sistema de classes, os deficientes são
marginalizados como pessoas diferentes que devem ser defendidas por serem
sofredoras.
Esse discurso não é novo e nem recente, pois, quando você vê
alguns países europeus adotarem o sistema de aborto com mães que terão possibilidade
de ter filhos com síndrome de down (porque ainda há um discurso eugênico de perfeição
como felicidade humana), você está vendo varias ideias de milênios que
sobrevivem a isso. Tanto as questões espartanas – que alguns historiadores põem
em divida, pois, não há nenhum indícios dessas mortes (mesmo no monte perto de Esparta)
e a polis espartana teve um rei com deficiência – ate o grande preconceito romano
onde mães chamavam seus filhos com deficiência de monstros. Herdamos em cultura o modo tanto romano
quanto grego, mesmo que outras culturas tenham matado seus deficientes também.
Será que vem da nossa parte pré-histórica? O antropólogo Yuval
Noah Harari disse que ainda somos coletores e caçadores – isso alguns pesquisadores
concordam – que fica mais fácil dizer que o preconceito vem dai. E a tecnologia?
A era da técnica vem muito rápido e esta fazendo mudanças muito rápidas, e
assim, o ser humano não tem como adaptar esse meio. Quando vários seres humanos
não gostam de tecnologias ou tem medo dos LGTQI+, são trejeitos de um instinto
que ainda persistem na maioria dos membros sociais. Ora, falta de cultura e educação,
para sanar esse tipo de coisa, vem cada vez mais definhando. Hora porque temos
ainda uma cultura escravocrata (que pobre não precisa estudar) e a maioria não reflete
porque não tem tempo de refletir. Ainda, sem medo de errar, existem as redes
sociais que todo mundo acha mais fácil falar e ver do que abrir um livro.
O fator do Harari (que não tivemos tempo de evoluir e
adaptar) não pode ser uma desculpa nem para o preconceito (rejeição do
diferente) e nem a falta de educação e escolaridade que faz um povo não ser crítico.
O problema da deficiência é outro, pois, o corpo como sendo uma “maquina biológica”
de produção que faz ter a mão de obra algo importante como base de uma sociedade,
por outro lado, existe o mito que só corpos ditos “normais” podem e devem
produzir e ser felizes. Estereótipos da beleza estética perfeita – não só na deficiência
– vem fazendo meninas muito novas fazendo operações estéticas muito cedo. Buscam
uma perfeição que não existe. Por outro lado, membros do lado marginalizado,
vem se culpando por não ser o que a sociedade quer. Isso não é só culpa do
capitalismo, pois, o capitalismo como sistema herdou várias questões que já existiam
antes mesmo de existir.
Falas de Lula (que pediu desculpas tarde, aliás) e do Bolsonaro
mostra que temos uma escolarização muito pífia e que a questão da deficiência tem
raízes muito assistencialistas graças a nossa herança católica. O catolicismo e
depois medicalismo (que herdou muitas coisas do catolicismo) vai colocar a deficiência
e os transtornos como doenças e não são. Tanto deficiências como transtornos são
condições e não aquilo que as pessoas são como tal. Mas, infelizmente algumas
coisas persistem porque fazem parte do contexto social de uma tradição que não tem
como quebrar a não ser pela escolaridade e, mesmo assim, ainda há muitas coisas
que não tem como tirar de um povo que ainda não respeita plaquinhas. Ética? Moral?
Não há ética e moral sem escolarizar os jovens e isso os romanos e gregos sabiam,
mas, continuamos com uma ideia de um pais medieval que nos colonizou, que
existe senhores de engenho e o resto é o resto. Podemos ver isso na nossa cultura
sulista muito enraizada.
Mas há uma outra característica bastante interessante, se é
uma cultura seletiva. Só vejo, só leio, só faço, aquilo que interessa. Nesse contexto,
os conselhos e movimentos que apoiam o partido e o presidente da república, se
calam diante da fala de Lula. Por que esse silencio dos conselhos (o CONADE é
um deles)? E os youtubers famosinhos que
nem falaram nada contra? Ora, Marco Mion teve que entrar no meio para o Lula pedir
suas desculpas e ainda dar uma desculpa dizendo que esta pronto para “evoluir”.
Sei...
Amauri Nolasco Sanches Junior - 47 anos, filosofo e pessoa com deficiência