A espiritualidade
contemporânea é um produto de mercado para consumidores entediados.
Luiz Felipe Pondé
Há coisas que fazem tempo que não escrevo e que me fazem
falta. Quem me conhece sabe muito bem que gosto do budismo (muito mais do zen)
e o espiritismo (kadercista), onde vejo muito mais logica e muito mais a
questão espiritual do que a religiosa. Assim, já deu para perceber, não gosto
da parte religiosa que a FEB (Federação Espirita do Brasil) insiste em ditar
como obras espiritas, sendo que, não há nenhum rigor que tanto Allan Kardec (Hippolyte
Léon Denizard Rivail) tanto escreveu em suas obras “canônicas”. Indo além –
porque eu li muitas outras obras além do espiritismo e o zen – a minha visão
espiritual não é religiosa.
A questão é: há uma diferença entre a espiritualidade e a
religião? Em termos, religião tem a ver com uma religação com aquilo que se
perdeu com o divino (não gosto do termo “deus” por perder um certo
significado), pois, segundo as teologias, perdemos essa ligação por causa do
pecado original. A espiritualidade é algo muito mais profundo – aliás, Sócrates
usou uma frase espiritual e porque não fazer essa observação, que a filosofia
começa com a espiritualidade – porque tem a ver com o ser humano em sua mais
intima particularidade em sua essência. Dai temos que nos atentar a máxima
existencialista – dita por Sartre – que a existência procede a essência, porque
mesmo que tenha refutado Aristóteles diante de uma suposta essência (como se um
dom fosse toda a essência do ser humano), a essência vai muito mais do que um
mero construir alguma coisa.
Poderíamos começar com a pergunta: por que há coisas
inanimadas e coisas animadas? Ser animado é ser autônomo em vontade ou que pode
ver o movimento, ou seja, um ser pode ser animado tendo vida. Mas, o que é a
vida? Como podemos definir o que é vivo e o que não? Se podemos definir o que é
aquilo que esta vivo, podemos dizer que sim, há uma essência. Enquanto vida, há
em certos componentes uma animosidade que nos fazem seres vivos que uns colocam
como rara, outros pesquisadores, colocam como “normal” na nossa galáxia. A questão
é: a alma não existindo, o que será que anima a vida e o que será que nos
diferencia de uma pedra, por exemplo?
Mas tem uma outra coisa – que podemos notar facilmente – é que
existe vida consciente e uma vida não consciente. Se existe algo e esse algo se
constrói conforme as circunstâncias que te envolvem, como disse Ortega y Gasset
(dono da frase acima do blog), você tem que perceber essa realidade sempre e
perceber a realidade. A meu ver, há uma diferença entre a verdade e a realidade.
A verdade (enquanto sua visão) tem a ver com nossa visão subjetiva da realidade,
ou seja, a verdade tem a ver com a questão de valores e como lhe damos com um
objeto. A realidade independe da nossa consciência. Uma flor será uma flor
independente da minha consciência, mas, se eu acho essa flor bonita ou não, será
por causa da verdade que vejo através dos valores que estão em mim mesmo. A
realidade se impõem por ela mesma.
Quando o grego pensava em um raio, não pensava em Zeus como
um “produtor” do raio, ele era o raio. Hoje sabemos que o raio é, na verdade,
uma fricção de duas nuvens com o solo com metais e produzem elétrons. Os gregos
tinha razão, tudo tem uma ligação e a nuvem tem os mesmos elétrons que tudo que
existe. Ou seja, Zeus é a materialização do conceito de ETHOS grego e como o
povo grego via a realidade e no fundo, nem ligavam muito para isso. Eram só explicações
para certos fenômenos (trazidos ou aperfeiçoados pelos dórios) e essas explicações,
no fundo, eram explicações pré-científicas. Por isso, não acho que a verdadeira
espiritualidade não pode haver modos científicos.
Nosso medievalismo positivista
Há uma grande gama de especialistas que colocam a nossa
cultura em duas origens: uma é a origem medievalista (nesse tempo, Portugal ainda
era uma nação feudal), e com a república, passamos a ter uma educação positivista.
Os jesuítas que vieram para cá eram da cartilha medievalista de São Tomás da Aquino e isso só vai mudar, quando o
Marques de Pombal (iluminista) vai querer fazer a reforma. Os jesuítas sai de
cena, mas, mesmos que eles saíssem de cena nossa cultura é marcada. Veio a república
– um golpe do exercito contra o imperador incentivada pela elite e tendo os
liberais como “boi de piranha” (são bois que se usa para atravessar rios que
tenham piranhas) – e veio positivismo que deu uma cientificada na nossa cultura
e a ideia que só haverá progresso se houver ordem. Mas, que tipo de ordem? Augusto
Comte – não consigo ler ele, porque é muito chato – dizia que só o mudo científico
poderia salvar a humanidade. Mas, será mesmo?
Adorno em uma das suas aulas de sociologia (que deu em 1968),
vai dizer que o positivismo logo depois, se tornou um neopositivismo até se
tornar um cientificismo (e a cientologia, religião do Tom Cruise), norte-americano.
Com o capitalismo adorando esse positivismo – a elite brasileira que sempre foi
rastaquera, nem sabia ou sabe a essência do positivismo – gostou e fez tudo se
profissionalizar, inclusive, jornalismo, publicidade e filosofia. Se um
escritor podia, antigamente, fazer um artigo de jornal ou um poeta ou
ilustrador poderia fazer uma imagem para uma publicidade. Filósofos poderiam
ser de outra profissão ou se autodeclarar filósofos. A meu ver, é muito
estranho uma esquerda apoiar modos capitalistas de se adequar aos novos tempos
e diplomas para trabalhar em empresas.
A questão é: que o positivismo nos trouxe um novo paradigma,
um paradigma de ciência e salvação. Por outro lado, se tirarmos a metafisica da
filosofia, o que nos resta? Nada. Todos os pensamentos filosóficos precisaram
usar a metafisica para cimentar suas bases e porque não, achar meios e métodos (como
caminhos) para criar seus conceitos e formar suas bases. Não faz nenhum sentido
– e isso vale para a ciência também – ter uma doutrinação ao ponto que só tem
diploma ou quem se destaca no meio (que muitas vezes, é desqualificado pela
esquerda “fofinha” por não ter diploma). A desqualificação do pensamento acontece
em nome de um conceito errado e nem acho que quem não tem diploma não seja
filosofo.
Juntando tudo isso se criou um cristianismo materialista que
não olha para o espiritual, as religiões ficaram impregnadas com conceitos que
o Eterno, vai dar coisas materiais. Ele não te dará nada e nem vai te
enriquecer, isso é uma construção religiosa-burguesa para te fazer trabalha e
ter esperança de ser rico. Pega na ganância das pessoas.
Jesus e a espiritualidade
Jesus – segundo historiadores – era rabino ou José, mesmo
sendo carpinteiro, era rabino. Jesus (Yashua) não poderia entrar no templo sendo
um misero fiel como entrou, a questão, ele deu várias lições morais dentro das
suas falas. Como amar seu inimigo (ser pacifista) ou trazer a espada mostrando
ter uma postura espiritualizada e que deveria ter uma postura de enfrentamento
diante das críticas. A questão é, que Jesus sempre foi um espírito evoluído que
veio a Terra dar algumas lições do verdadeiro proposito moral e ético humano. O
poder, como sempre, deturpou isso e transformou em um ponto de alienação e pacificação.
Na sua essência – até mesmo a morte de Jesus e a ressurreição
– tem um simbolismo muito forte dentro da espiritualidade. Por quê? Porque nem
sempre as pessoas entendem certos simbolismos. Por exemplo, quem já leu um dicionário
bíblico (que nenhum crente leu) vai se deparar com o significado de cruz que é árvore
ou vida. Ora, Jesus morrendo numa cruz (vida) não teria a ver com a vida e a
morte como sacrifício? A ressurreição não tem a ver com o espírito vencendo a
carne? Pontos para refletimos.
Amauri Nolasco Sanches Júnior – filosofo, blogueiro e
escritor
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