domingo, 9 de abril de 2023

A verdade da Pascoa e a espiritualidade

  





A espiritualidade contemporânea é um produto de mercado para consumidores entediados.

Luiz Felipe Pondé

 

Há coisas que fazem tempo que não escrevo e que me fazem falta. Quem me conhece sabe muito bem que gosto do budismo (muito mais do zen) e o espiritismo (kadercista), onde vejo muito mais logica e muito mais a questão espiritual do que a religiosa. Assim, já deu para perceber, não gosto da parte religiosa que a FEB (Federação Espirita do Brasil) insiste em ditar como obras espiritas, sendo que, não há nenhum rigor que tanto Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail) tanto escreveu em suas obras “canônicas”. Indo além – porque eu li muitas outras obras além do espiritismo e o zen – a minha visão espiritual não é religiosa.

A questão é: há uma diferença entre a espiritualidade e a religião? Em termos, religião tem a ver com uma religação com aquilo que se perdeu com o divino (não gosto do termo “deus” por perder um certo significado), pois, segundo as teologias, perdemos essa ligação por causa do pecado original. A espiritualidade é algo muito mais profundo – aliás, Sócrates usou uma frase espiritual e porque não fazer essa observação, que a filosofia começa com a espiritualidade – porque tem a ver com o ser humano em sua mais intima particularidade em sua essência. Dai temos que nos atentar a máxima existencialista – dita por Sartre – que a existência procede a essência, porque mesmo que tenha refutado Aristóteles diante de uma suposta essência (como se um dom fosse toda a essência do ser humano), a essência vai muito mais do que um mero construir alguma coisa.

Poderíamos começar com a pergunta: por que há coisas inanimadas e coisas animadas? Ser animado é ser autônomo em vontade ou que pode ver o movimento, ou seja, um ser pode ser animado tendo vida. Mas, o que é a vida? Como podemos definir o que é vivo e o que não? Se podemos definir o que é aquilo que esta vivo, podemos dizer que sim, há uma essência. Enquanto vida, há em certos componentes uma animosidade que nos fazem seres vivos que uns colocam como rara, outros pesquisadores, colocam como “normal” na nossa galáxia. A questão é: a alma não existindo, o que será que anima a vida e o que será que nos diferencia de uma pedra, por exemplo?

Mas tem uma outra coisa – que podemos notar facilmente – é que existe vida consciente e uma vida não consciente. Se existe algo e esse algo se constrói conforme as circunstâncias que te envolvem, como disse Ortega y Gasset (dono da frase acima do blog), você tem que perceber essa realidade sempre e perceber a realidade. A meu ver, há uma diferença entre a verdade e a realidade. A verdade (enquanto sua visão) tem a ver com nossa visão subjetiva da realidade, ou seja, a verdade tem a ver com a questão de valores e como lhe damos com um objeto. A realidade independe da nossa consciência. Uma flor será uma flor independente da minha consciência, mas, se eu acho essa flor bonita ou não, será por causa da verdade que vejo através dos valores que estão em mim mesmo. A realidade se impõem por ela mesma.

Quando o grego pensava em um raio, não pensava em Zeus como um “produtor” do raio, ele era o raio. Hoje sabemos que o raio é, na verdade, uma fricção de duas nuvens com o solo com metais e produzem elétrons. Os gregos tinha razão, tudo tem uma ligação e a nuvem tem os mesmos elétrons que tudo que existe. Ou seja, Zeus é a materialização do conceito de ETHOS grego e como o povo grego via a realidade e no fundo, nem ligavam muito para isso. Eram só explicações para certos fenômenos (trazidos ou aperfeiçoados pelos dórios) e essas explicações, no fundo, eram explicações pré-científicas. Por isso, não acho que a verdadeira espiritualidade não pode haver modos científicos.

 

 

Nosso medievalismo positivista

 

 

Há uma grande gama de especialistas que colocam a nossa cultura em duas origens: uma é a origem medievalista (nesse tempo, Portugal ainda era uma nação feudal), e com a república, passamos a ter uma educação positivista. Os jesuítas que vieram para cá eram da cartilha medievalista de São Tomás  da Aquino e isso só vai mudar, quando o Marques de Pombal (iluminista) vai querer fazer a reforma. Os jesuítas sai de cena, mas, mesmos que eles saíssem de cena nossa cultura é marcada. Veio a república – um golpe do exercito contra o imperador incentivada pela elite e tendo os liberais como “boi de piranha” (são bois que se usa para atravessar rios que tenham piranhas) – e veio positivismo que deu uma cientificada na nossa cultura e a ideia que só haverá progresso se houver ordem. Mas, que tipo de ordem? Augusto Comte – não consigo ler ele, porque é muito chato – dizia que só o mudo científico poderia salvar a humanidade. Mas, será mesmo?

Adorno em uma das suas aulas de sociologia (que deu em 1968), vai dizer que o positivismo logo depois, se tornou um neopositivismo até se tornar um cientificismo (e a cientologia, religião do Tom Cruise), norte-americano. Com o capitalismo adorando esse positivismo – a elite brasileira que sempre foi rastaquera, nem sabia ou sabe a essência do positivismo – gostou e fez tudo se profissionalizar, inclusive, jornalismo, publicidade e filosofia. Se um escritor podia, antigamente, fazer um artigo de jornal ou um poeta ou ilustrador poderia fazer uma imagem para uma publicidade. Filósofos poderiam ser de outra profissão ou se autodeclarar filósofos. A meu ver, é muito estranho uma esquerda apoiar modos capitalistas de se adequar aos novos tempos e diplomas para trabalhar em empresas.

A questão é: que o positivismo nos trouxe um novo paradigma, um paradigma de ciência e salvação. Por outro lado, se tirarmos a metafisica da filosofia, o que nos resta? Nada. Todos os pensamentos filosóficos precisaram usar a metafisica para cimentar suas bases e porque não, achar meios e métodos (como caminhos) para criar seus conceitos e formar suas bases. Não faz nenhum sentido – e isso vale para a ciência também – ter uma doutrinação ao ponto que só tem diploma ou quem se destaca no meio (que muitas vezes, é desqualificado pela esquerda “fofinha” por não ter diploma). A desqualificação do pensamento acontece em nome de um conceito errado e nem acho que quem não tem diploma não seja filosofo.

Juntando tudo isso se criou um cristianismo materialista que não olha para o espiritual, as religiões ficaram impregnadas com conceitos que o Eterno, vai dar coisas materiais. Ele não te dará nada e nem vai te enriquecer, isso é uma construção religiosa-burguesa para te fazer trabalha e ter esperança de ser rico. Pega na ganância das pessoas.

 

 

Jesus e a espiritualidade

 

 

Jesus – segundo historiadores – era rabino ou José, mesmo sendo carpinteiro, era rabino. Jesus (Yashua) não poderia entrar no templo sendo um misero fiel como entrou, a questão, ele deu várias lições morais dentro das suas falas. Como amar seu inimigo (ser pacifista) ou trazer a espada mostrando ter uma postura espiritualizada e que deveria ter uma postura de enfrentamento diante das críticas. A questão é, que Jesus sempre foi um espírito evoluído que veio a Terra dar algumas lições do verdadeiro proposito moral e ético humano. O poder, como sempre, deturpou isso e transformou em um ponto de alienação e pacificação.

Na sua essência – até mesmo a morte de Jesus e a ressurreição – tem um simbolismo muito forte dentro da espiritualidade. Por quê? Porque nem sempre as pessoas entendem certos simbolismos. Por exemplo, quem já leu um dicionário bíblico (que nenhum crente leu) vai se deparar com o significado de cruz que é árvore ou vida. Ora, Jesus morrendo numa cruz (vida) não teria a ver com a vida e a morte como sacrifício? A ressurreição não tem a ver com o espírito vencendo a carne? Pontos para refletimos.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – filosofo, blogueiro e escritor 

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