Amauri Nolasco Sanches
Júnior
O que
vejo no pessoal da filosofia da pílula vermelha é um alto grau de moralismo alá
boomers, não à toa, são chamados de “novos boomers”. Mas, essa “pílula vermelha”
que pensam estar tomando só é a azul e ficar na Matrix e não sair em uma espiral
de moralidade que deu ao mundo, além de duas guerras mundiais de destruições e
mortes quase infinitas e uma guerra fria, trouxe a humanidade vários problemas.
A geração boomer esta sendo um problema porque a grande maioria da geração X e
a Millenials, estão com traumas por causa da educação errada que essa geração (a
boomer) foi condicionada. Violência doméstica, preconceitos (teve seu cume no nazismo),
ideias separatistas, ditaduras, liberdades cerceadas, o liberalismo e o
libertarianismo demonizado etc., por causa de ideias cômodas e muitas vezes. hipócritas
que só alimentam um discurso de repressão e miséria, tanto moral, quanto social.
Vamos
a história da pílula vermelha. Ela aparece no primeiro filme, quando Morpheus
(simbolizado do deus do sono grego) oferece ao personagem principal, Neo, uma pílula
vermelha e outra azul. A vermelha libertava da ilusão criada pela Matrix, a
azul ele poderia ficar na Matrix (ou na ilusão sonho) e continuar um hacker e
seu corpo servir como bateria para as máquinas. Além de Platão (a alegoria da
caverna) ainda temos outros simbolismos, a consciência e a realidade (fenomenologia),
as máquinas como dominação (o próprio sistema político que o ser humano
produziu), o personagem Neo como sendo uma anacronia de ONE (um em inglês), e o
mais importante, a mudança entre estar em um simulacro de conceito que fazem você
se embrenhar em simulações (subjetividades).
Qual
o problema? As diretoras da franquia - Lana Wachowski e Lilly Wachowski que a Warner
Bros mandaram embora por não fazerem o que eles queriam – em entrevista,
disseram que era sobre mudança (a transição delas por serem transsexuais). E muitas
vezes, essa analogia do da pílula vermelha é distorcida pelo neomachismo e
grupos até mesmo, da extrema direita, dizendo que “acordaram” do sono da
esquerda. Com esse esclarecimento das diretoras, eu acho que ficou muito claro
a questão do filme: além do simbolismo dentro da questão filosófica apresentada.
Então tem uma pegada muito do budismo. A Matrix é tudo aquilo que o ser humano
inventou – segundo Foucault – como conceito graças a escolarização estatal. Ou seja,
não quer dizer que essa realidade é além dessa, mas dissolver os conceitos
moralistas que a sociedade humana construíram. Neo é o protótipo da marginalização
na Matrix: programador que ganha pouco em uma empresa e hacker que vende
programa pirata.
Neo
descobre que não é o senhor Anderson, mas um conceito que o sistema que ele foi
condicionado. Ele é o UM (One), o indivíduo que se vê fora dos conceitos
impostos porque tinha certezas de que defendia, mas não eram a verdade que
estava por trás desse conceito. Foucault diria que a Matrix seria um panóptico (um
observador no centro de uma prisão) digital, um sistema de vigia que define e
condiciona aquilo que seria normal (a normalidade). Neo teria rompido da sua identidade
(Tomás Anderson) quando percebe ser uma construção disciplinar. Já Nietzsche diria
que Neo seria o Ubermensch, ou seja, aquele que cria seus próprios valores (não
moralismos ou postar fotos pelados em grupo), que destrói os ídolos da moral
tradicional. Mas o interessante é o budismo: a Matrix seria não um lugar, mas
um estado de consciência livre dos condicionamentos. Neo não escapa de um mundo,
mas transcende o mundo ilusório.
Veja
que a Matrix não está fora do mundo, mas dentro do mundo criando ilusões. As ilusões
só são conceitos construídos – no filme, são ilusões criadas como um sonho – e não
está em outro mundo, o mundo destruído por seres humanos que quiserem
neutralizar as máquinas. Uma alusão as revoluções ou guerras? Pode ser, mas vai
além do que mera alusão as destruições humanas: consciência e subconsciência. Poderemos
entrar em uma coisa muito mais profunda:
o despertar da consciência através do inconsciente. Sempre tive um
conceito na cabeça que era: o inconsciente é a priori do consciente, ou seja, o
inconsciente existe junto com o consciente e ativa a consciência quando
desperta a verdade. A verdade platônica (como o mundo destruído de Matrix) está
no modo que você lida com os conceitos da nossa cultura.
Chegamos
ao mundo da “machosfera” (redpills aqui nesse texto) que seria o Cypher que
quer voltar para a Matrix. Ou melhor, o nome Cypher (na grafia original, cipher)
é o negativo, aquele código que nega o 1, o que começa a realidade e volta a ilusão.
Poderemos colocar o 0 como um nada, a negação do ser enquanto individuo que
despertar de sentir a si mesmo, para ser mais um entre muitos. Essa seria a
logica binaria usada na programação, mas se refletimos mais além o 1= o ser e o
0 = o não ser. Os redpills é a justa oposição do feminismo radical: no fim tem consonâncias
com o que chamo do “o cataclismo boomer”, onde poderiam ter rompido com
preconceitos e tudo mais, mas se tornam mais do poder e do discurso predominante.