Em um podcast (no YouTube), minha amiga – que é uma pessoa
com deficiência – demonstrou ser muito raro ter a oportunidade de se conectar
com pessoas na área de negócios, e também, estar na área de liderança em um
projeto do Estado (Projeto Guri). Com 18 milhões de pessoas com deficiência
(segundo o IBGE de 2022), temos ainda a ideia que um país com tantas pessoas
com deficiência e muito poucas que conseguem estudar. Acessibilidade não é só
rampas ou facilidades arquitetônicas, mas devem ser muito mais do que isso,
devem ser a conscientização e predominância dentro da sua área. Por que um
deficiente deve ter um cargo de “verificador de fichas” se ele é qualificado em
RH, por exemplo? Por que um deficiente formado em administração, deve ser
“organizador de papeis”?
Isso seria capacitismo? há uma genealogia do capacitismo que
remontam milênios de sociedades que poderiam abranger cuidados com pessoas com
corpos divergentes, ou sociedades que poderiam não cuidar de pessoas com alguma
deficiência. Mesmo sendo racionais, nossa consciência pode remontar uma
realidade que só existe graças as nossas crenças e chamamos de subjetividade.
Ora, a maioria dos preconceitos – mesmo os de milênios afora – foram
construídos graças a subjetividade de achar que o “diferente” não seria humano.
Lendas, muitos provavelmente, eram interpretações de corpos não normalizados
dentro de uma crença muito além da realidade.
Um corpo não completo. A completude de uma realidade depende
da conjuntura que essa realidade se encontra na nossa base subjetiva, pois, se
a capacidade de ir além da massividade das ideias – a atitude de rebanho – não
haverá uma ruptura no preconceito. Isso se dará sempre com o medo. Se você não
tiver nenhuma instrução em um país no meio da selva – como o Brasil era nos
séculos passados – se você vê um garoto negro com uma perna só e pulando, vai
remontar a um ser místico. Ou, que assobia antes de fazer quaisquer travessuras.
Assim, tivemos duas fazes capacitistas dentro do nosso país. Um de esconder e
internar, pois seria muito “desagradável” ter uma pessoa com deficiência na
família (prova disso eram artistas com deficiência tentando esconder a
deficiência para não ser evidente, como o Roberto Carlos) e nos anos 80, onde
estudávamos em colégios comuns e mesmo assim, separados (poucos puderam romper
isso).
Há um capacitismo estrutural? A meu ver, não existe. Na
antiguidade, a questão era a falta de conhecimento científico e falta de uma
consciência que corpos divergentes eram humanos em condições diferentes. Mesmo
assim, existem pesquisas arqueológicas que dizem que havia comunidades que
cuidavam de pessoas com deficiência, outras não. Mas, como um bom filosofo que
sou, por que temos sociedades que matavam ou predem pessoas com deficiência?
Será que com a escassez da idade média com a ignorância popular – mesmo assim, havia
casas de caridade ou pessoas que recolhiam crianças nessas condições para
esmolarem – achavam que eram criaturas demoníacas? O fato que a modernidade,
com seu cientificismo, não amenizou para os deficientes até então.
O Brasil é herdeiro dos jesuítas e sua religiosidade
(caridade), do cientificismo positivista (temos que ter especialistas) e a
sociologia marxista (burguesia e proletariado). Quando lemos que há ainda uma
cultura cientificista que você só ouve especialistas (medicalismo), com visões
muito mais místicas do que cientificas, já que eles insistem em prever o
futuro, as empresas não sabem ou não querem saber se deficientes sabem ou não
falar e ter opiniões. Os próprios funcionários do SUS perguntam se sabemos ler
e escrever. A modernidade com sua noção da ciência, não causou nenhum ou quase
nenhum impacto sobre o ato de incluir pessoas com corpos divergentes pelo
simples fato de ser diferente. A modernidade e a pós-modernidade só construiu preconceitos
(chamo de pós-conceitos) piores em desembocar na eugenia silenciosa ou o
projeto T-4 dos nazistas, eliminando todas as pessoas deficientes. Não é isso
que fazem abortando crianças com síndrome de down – ou havendo probabilidade de
serem – ainda no útero da mãe?
Empresas só são meios para vender seu serviço e você vende
conforme sua capacidade, ou seja, se você é formado em computação, por exemplo,
tenho que vender meu serviço nessa área. Empresas não são nossas “amigas”. Nem
mesmo os governantes são nossos amigos. Para as empresas e governo, somos um símbolo
dentro de um número muito grande de cidadãos ou possíveis trabalhadores. Eles
não contratam pessoas com deficiência, porque tratam o corpo do trabalhador de
uma máquina e não como um humano, com deus desejos e pensamentos e nem, sua
qualificação. Ou seja, a maioria das vezes, são “tampa buracos” do número de deficientes
que precisam para não pagarem a multa e só. Assim, a luta pela inclusão não
pode ficar só em espaços físicos, em construção de conceitos estruturalistas
(isso não acabou e não vai acabar com o capacitismo), mas, transcender o mundo
e as coisas e dizer que somos humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário