quarta-feira, 18 de junho de 2025

GENEALOGIA DO CAPACITISMO

 

 

 

Em um podcast (no YouTube), minha amiga – que é uma pessoa com deficiência – demonstrou ser muito raro ter a oportunidade de se conectar com pessoas na área de negócios, e também, estar na área de liderança em um projeto do Estado (Projeto Guri). Com 18 milhões de pessoas com deficiência (segundo o IBGE de 2022), temos ainda a ideia que um país com tantas pessoas com deficiência e muito poucas que conseguem estudar. Acessibilidade não é só rampas ou facilidades arquitetônicas, mas devem ser muito mais do que isso, devem ser a conscientização e predominância dentro da sua área. Por que um deficiente deve ter um cargo de “verificador de fichas” se ele é qualificado em RH, por exemplo? Por que um deficiente formado em administração, deve ser “organizador de papeis”?

Isso seria capacitismo? há uma genealogia do capacitismo que remontam milênios de sociedades que poderiam abranger cuidados com pessoas com corpos divergentes, ou sociedades que poderiam não cuidar de pessoas com alguma deficiência. Mesmo sendo racionais, nossa consciência pode remontar uma realidade que só existe graças as nossas crenças e chamamos de subjetividade. Ora, a maioria dos preconceitos – mesmo os de milênios afora – foram construídos graças a subjetividade de achar que o “diferente” não seria humano. Lendas, muitos provavelmente, eram interpretações de corpos não normalizados dentro de uma crença muito além da realidade.

Um corpo não completo. A completude de uma realidade depende da conjuntura que essa realidade se encontra na nossa base subjetiva, pois, se a capacidade de ir além da massividade das ideias – a atitude de rebanho – não haverá uma ruptura no preconceito. Isso se dará sempre com o medo. Se você não tiver nenhuma instrução em um país no meio da selva – como o Brasil era nos séculos passados – se você vê um garoto negro com uma perna só e pulando, vai remontar a um ser místico. Ou, que assobia antes de fazer quaisquer travessuras. Assim, tivemos duas fazes capacitistas dentro do nosso país. Um de esconder e internar, pois seria muito “desagradável” ter uma pessoa com deficiência na família (prova disso eram artistas com deficiência tentando esconder a deficiência para não ser evidente, como o Roberto Carlos) e nos anos 80, onde estudávamos em colégios comuns e mesmo assim, separados (poucos puderam romper isso).

Há um capacitismo estrutural? A meu ver, não existe. Na antiguidade, a questão era a falta de conhecimento científico e falta de uma consciência que corpos divergentes eram humanos em condições diferentes. Mesmo assim, existem pesquisas arqueológicas que dizem que havia comunidades que cuidavam de pessoas com deficiência, outras não. Mas, como um bom filosofo que sou, por que temos sociedades que matavam ou predem pessoas com deficiência? Será que com a escassez da idade média com a ignorância popular – mesmo assim, havia casas de caridade ou pessoas que recolhiam crianças nessas condições para esmolarem – achavam que eram criaturas demoníacas? O fato que a modernidade, com seu cientificismo, não amenizou para os deficientes até então.

O Brasil é herdeiro dos jesuítas e sua religiosidade (caridade), do cientificismo positivista (temos que ter especialistas) e a sociologia marxista (burguesia e proletariado). Quando lemos que há ainda uma cultura cientificista que você só ouve especialistas (medicalismo), com visões muito mais místicas do que cientificas, já que eles insistem em prever o futuro, as empresas não sabem ou não querem saber se deficientes sabem ou não falar e ter opiniões. Os próprios funcionários do SUS perguntam se sabemos ler e escrever. A modernidade com sua noção da ciência, não causou nenhum ou quase nenhum impacto sobre o ato de incluir pessoas com corpos divergentes pelo simples fato de ser diferente. A modernidade e a pós-modernidade só construiu preconceitos (chamo de pós-conceitos) piores em desembocar na eugenia silenciosa ou o projeto T-4 dos nazistas, eliminando todas as pessoas deficientes. Não é isso que fazem abortando crianças com síndrome de down – ou havendo probabilidade de serem – ainda no útero da mãe?

Empresas só são meios para vender seu serviço e você vende conforme sua capacidade, ou seja, se você é formado em computação, por exemplo, tenho que vender meu serviço nessa área. Empresas não são nossas “amigas”. Nem mesmo os governantes são nossos amigos. Para as empresas e governo, somos um símbolo dentro de um número muito grande de cidadãos ou possíveis trabalhadores. Eles não contratam pessoas com deficiência, porque tratam o corpo do trabalhador de uma máquina e não como um humano, com deus desejos e pensamentos e nem, sua qualificação. Ou seja, a maioria das vezes, são “tampa buracos” do número de deficientes que precisam para não pagarem a multa e só. Assim, a luta pela inclusão não pode ficar só em espaços físicos, em construção de conceitos estruturalistas (isso não acabou e não vai acabar com o capacitismo), mas, transcender o mundo e as coisas e dizer que somos humanos.

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