"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente,
nós o cometeremos sempre." — Patrícia Galvão (Pagu)
Eu – autor desse blog – sou um amante da liberdade sem um
viés definido de autores para isso. Mas, acima de tudo, tenho minha alma
anárquica e divergente da moral castradora dentro do coitadismo que se acumula dentro
do chamado “movimento de minorias”. Por isso mesmo, minha filosofia foi chamada
de “transgressismo filosófico”, ou seja, a transgressão daquilo que é comum e
ser divergente (opinião contraria).
A frase da escritora e jornalista, Patrícia Galvão (Pagu), cabe
em um momento de censura que estamos vivendo. Se não estamos alinhados em uma
opinião de massa (que a maioria acredita), estamos sendo taxados de criminosos e
esse crime sagrado é, exatamente, ser um divergente no meio da subjugação
massificadora de algumas ideias. Primeiro, até onde eu sei, somos ainda animais
racionais e como disse Aristóteles, por sermos racionais somos “animais
políticos”. Mas, nesse exato momento, quero invocar o modo grego do termo
“politikon” que era diferente dentro do que conhecemos. Onde “politikon” era
todo homem livre (literalmente), que participava da vida social dentro da àgora
e decidia o que se deveria ou não ser feito em Atenas (onde havia a
democracia). Por outro lado, quem era apolítico era chamado de “idiotike”, e
vivia isolado dentro do seu egoísmo de não querer saber da polis.
Como disse em um dos artigos que escrevi na rede LinkedIn
(aqui), a inclusão tem que ser um ato político. Mas esse “ato” não tem só a ver
com ação e sim, pode ser colocado como um fenômeno dentro de uma certa
realidade que pode ou não acontecer. A inclusão não só aparece, mas ela é por
si mesmo. Por isso, um ato social não pode ser refém de um discurso ou um
pronome – como chamar um deficiente de deficiente, ou, uma piada sem graça – e
sim, se mostrar em um ser humano que tem suas vontades e suas satisfações. Ou as
pessoas acham que não somos humanos com desejos e sentimentos? E assim, dentro
da questão mirabolante de achar que somos pessoas que não sabemos o que nos
atinge ou não (alguns não sabem por causa da subproteção familiar e
institucional). Dai as classes especiais são um erro, pois, trancam as crianças
com deficiência e fazem essas crianças verem um mundo de “mentiras”, subprotegidas
que deveriam ver o mundo de verdade e mais, APAEs e outras entidades com
inclusão não se combinam.
Alguns anos eu e minha noiva escrevemos o livro “Liberdade e Deficiência” onde colocamos vários textos nossos, denunciando a nossa falta de
liberdade por causa da deficiência. Mas, eram denuncias concretas de
acontecimentos de verdade dentro de uma visão nosso mesmo, não uma visão representativa
dentro de uma outra coisa não concreta. Afinal, “nada sobre nós sem nós”, como
forma de uma visão crítica da nossa vivência como um corpo-deficiente e ao
mesmo tempo, ter a consciência de ser um humano ignorado e sem uma perspectiva
institucional e levada ao meio tutorado. Ou seja, não há o porquê pessoas não
deficientes dizerem por nós o que seria melhor, o que deveríamos gostar, o que
deveríamos ter como vida e onde deveríamos estudar.
Por isso, dei o nome de “liberdade e deficiência”, onde a
liberdade pode ser vista além da deficiência no sentido de um corpo não igual –
um corpo é um meio para a consciência se manifestar – e viver na realidade
objetiva. Por que somos hostilizados? Por que as pessoas não querem que seus
filhos tenham contato com outras crianças deficientes? O discurso de
classificação entre as minorias. O discurso de representatividade. Quando
pensávamos que a inclusão deveria ser objetiva – a linguagem só seria um meio –
a questão era debatida dentro da deficiência e não uma representação dela. Deixamos
de dizer “por” e se passou a dizer “sobre”. Por uma inclusão e não sobre uma
inclusão. Por isso não acredito que há um mundo inclusivo, o que há são
estruturas inclusivas para dar um ar de “bom moço”, mas mulheres com
deficiência são operadas para não terem filhos, fetos com síndrome de down são
abortados e por aí vai.
Cairmos no problema da polidez no Pequeno Tratado das Grande
Virtudes de André Comte-Sponville, onde escreve que os nazistas eram polidos,
tinham alto grau de cultura, porém, poderiam mandar arrancar a pele de um judeu
para fazer abajur (realmente, aconteceu). Na verdade, a meu ver, os nazistas
dentro de algumas questões ainda assombram a cultura eurocentrista, como
abortar fetos que tem alto grau de chance de serem Down em alguns países da
Europa (que tem forte tendencia Escandinávia), ou em alguns Estados americanos,
as famílias têm permissão de operarem mulheres com deficiência para não
engravidarem. A polidez europeia guarda a crueldade de matar fetos por serem
geneticamente modificados pela natureza. Daí a pergunta de ouro: isso não seria o modo eugenista disfarçado de
humanista? As autistas também vai ser detectadas e vão ser abortadas? Dai entramos
em uma discussão muito pós-moderna, onde há estruturas discursivas que dominam a
narrativa do senso comum e isso – em hipótese – geraria o preconceito dentro de
uma minoria marginalizada.
O que levou os nazistas a terem todo esse preconceito e
construírem toda a moral nazifascista dentro dessas classes? Toda uma gama de
fatores históricos dentro de um preconceito que deveria – até onde eu sei não
se estudou ainda – ser estudado sob a ótica antropológica, culminou no fenômeno
de preconceito radicalizados que foram usados como “bode expiatório” na crise
que estava instaurada na Alemanha na época. Ou seja, não há nenhuma “desculpa”
de se ter a eugenia 2.0 nos dias de hoje, a não ser a questão financeira que
alguns países adotem como prioridade e ainda sim, não passa de puro extermínio
e uma eugenia silenciosa e muito mais perigosa do que a nazista.
Dai entramos na ceara da piada do comediante Léo Lins e nos
perguntamos: diante da falta de acessibilidade, campanhas para nos colocar em APAEs,
abortos de fetos que tem possibilidade de Síndrome de Down etc, o problema é a piada?
Nenhum comentário:
Postar um comentário