sexta-feira, 6 de junho de 2025

LIBERDADE E DEFICIÊNCIA – ENTRE PAGU E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

 





"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre." — Patrícia Galvão (Pagu)

Eu – autor desse blog – sou um amante da liberdade sem um viés definido de autores para isso. Mas, acima de tudo, tenho minha alma anárquica e divergente da moral castradora dentro do coitadismo que se acumula dentro do chamado “movimento de minorias”. Por isso mesmo, minha filosofia foi chamada de “transgressismo filosófico”, ou seja, a transgressão daquilo que é comum e ser divergente (opinião contraria).

A frase da escritora e jornalista, Patrícia Galvão (Pagu), cabe em um momento de censura que estamos vivendo. Se não estamos alinhados em uma opinião de massa (que a maioria acredita), estamos sendo taxados de criminosos e esse crime sagrado é, exatamente, ser um divergente no meio da subjugação massificadora de algumas ideias. Primeiro, até onde eu sei, somos ainda animais racionais e como disse Aristóteles, por sermos racionais somos “animais políticos”. Mas, nesse exato momento, quero invocar o modo grego do termo “politikon” que era diferente dentro do que conhecemos. Onde “politikon” era todo homem livre (literalmente), que participava da vida social dentro da àgora e decidia o que se deveria ou não ser feito em Atenas (onde havia a democracia). Por outro lado, quem era apolítico era chamado de “idiotike”, e vivia isolado dentro do seu egoísmo de não querer saber da polis.

Como disse em um dos artigos que escrevi na rede LinkedIn (aqui), a inclusão tem que ser um ato político. Mas esse “ato” não tem só a ver com ação e sim, pode ser colocado como um fenômeno dentro de uma certa realidade que pode ou não acontecer. A inclusão não só aparece, mas ela é por si mesmo. Por isso, um ato social não pode ser refém de um discurso ou um pronome – como chamar um deficiente de deficiente, ou, uma piada sem graça – e sim, se mostrar em um ser humano que tem suas vontades e suas satisfações. Ou as pessoas acham que não somos humanos com desejos e sentimentos? E assim, dentro da questão mirabolante de achar que somos pessoas que não sabemos o que nos atinge ou não (alguns não sabem por causa da subproteção familiar e institucional). Dai as classes especiais são um erro, pois, trancam as crianças com deficiência e fazem essas crianças verem um mundo de “mentiras”, subprotegidas que deveriam ver o mundo de verdade e mais, APAEs e outras entidades com inclusão não se combinam.

Alguns anos eu e minha noiva escrevemos o livro “Liberdade e Deficiência” onde colocamos vários textos nossos, denunciando a nossa falta de liberdade por causa da deficiência. Mas, eram denuncias concretas de acontecimentos de verdade dentro de uma visão nosso mesmo, não uma visão representativa dentro de uma outra coisa não concreta. Afinal, “nada sobre nós sem nós”, como forma de uma visão crítica da nossa vivência como um corpo-deficiente e ao mesmo tempo, ter a consciência de ser um humano ignorado e sem uma perspectiva institucional e levada ao meio tutorado. Ou seja, não há o porquê pessoas não deficientes dizerem por nós o que seria melhor, o que deveríamos gostar, o que deveríamos ter como vida e onde deveríamos estudar.

Por isso, dei o nome de “liberdade e deficiência”, onde a liberdade pode ser vista além da deficiência no sentido de um corpo não igual – um corpo é um meio para a consciência se manifestar – e viver na realidade objetiva. Por que somos hostilizados? Por que as pessoas não querem que seus filhos tenham contato com outras crianças deficientes? O discurso de classificação entre as minorias. O discurso de representatividade. Quando pensávamos que a inclusão deveria ser objetiva – a linguagem só seria um meio – a questão era debatida dentro da deficiência e não uma representação dela. Deixamos de dizer “por” e se passou a dizer “sobre”. Por uma inclusão e não sobre uma inclusão. Por isso não acredito que há um mundo inclusivo, o que há são estruturas inclusivas para dar um ar de “bom moço”, mas mulheres com deficiência são operadas para não terem filhos, fetos com síndrome de down são abortados e por aí vai.

Cairmos no problema da polidez no Pequeno Tratado das Grande Virtudes de André Comte-Sponville, onde escreve que os nazistas eram polidos, tinham alto grau de cultura, porém, poderiam mandar arrancar a pele de um judeu para fazer abajur (realmente, aconteceu). Na verdade, a meu ver, os nazistas dentro de algumas questões ainda assombram a cultura eurocentrista, como abortar fetos que tem alto grau de chance de serem Down em alguns países da Europa (que tem forte tendencia Escandinávia), ou em alguns Estados americanos, as famílias têm permissão de operarem mulheres com deficiência para não engravidarem. A polidez europeia guarda a crueldade de matar fetos por serem geneticamente modificados pela natureza. Daí a pergunta de ouro:  isso não seria o modo eugenista disfarçado de humanista? As autistas também vai ser detectadas e vão ser abortadas? Dai entramos em uma discussão muito pós-moderna, onde há estruturas discursivas que dominam a narrativa do senso comum e isso – em hipótese – geraria o preconceito dentro de uma minoria marginalizada.

O que levou os nazistas a terem todo esse preconceito e construírem toda a moral nazifascista dentro dessas classes? Toda uma gama de fatores históricos dentro de um preconceito que deveria – até onde eu sei não se estudou ainda – ser estudado sob a ótica antropológica, culminou no fenômeno de preconceito radicalizados que foram usados como “bode expiatório” na crise que estava instaurada na Alemanha na época. Ou seja, não há nenhuma “desculpa” de se ter a eugenia 2.0 nos dias de hoje, a não ser a questão financeira que alguns países adotem como prioridade e ainda sim, não passa de puro extermínio e uma eugenia silenciosa e muito mais perigosa do que a nazista.

Dai entramos na ceara da piada do comediante Léo Lins e nos perguntamos: diante da falta de acessibilidade, campanhas para nos colocar em APAEs, abortos de fetos que tem possibilidade de Síndrome de Down etc, o problema é a piada?

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