Lendo “O Mundo Assombrado pelos Demônios” de Carl Sagan vi o
esforço do autor em desmascarar vários fenômenos que nem mesmo a ciência tinha
ou tem a resposta. Sagan era um ótimo divulgador científico – adorava e adoro
ainda hoje assistir a serie Cosmos – mas tinha algumas coisas que me incomodava
e o hoje, com o bacharelado, entendi e tem a ver com o alerta de Nietzsche:
fazer a ciência como se fosse uma religião. A questão não é só a ciência ou a
religião, o ser humano em um modo geral, tem a tendencia de induzir aquilo que
ele acredita dentro das teorias ou hipóteses que acreditam. Na filosofia, assim
como hipóteses cientificas, tinham que ser em um modo cético e racional, mesmo
que isso vá contra suas próprias crenças.
Por exemplo, muitas coisas que eu acredito eu deixo de
acreditar quando eu escrevo – como Kant – porque estou analisando aquilo
racionalmente e não posso ter uma visão pessoal. Parece que muitas coisas ali
no livro de Sagan – que não nego ser muito bom – tem um viés de negar a
filosofia da Nova Era (New Age) e claramente nega a psicanálise. Agora eu vi
onde saíram todas as ideias dos divulgadores da ciência brasileiro, vieram (já
que adoramos imitar os americanos). Aí temos o problema da indução que teve seu
começo com o filosofo britânico David Hume, pois, ele questionava a validade
logica de inferir leis universais a partir de observações particulares. Ou
seja, crenças pessoais. Um exemplo famoso é do cisne branco, porque até acharem
o cisne negro na Australia, se pensava que todos os cisnes eram brancos. Ou melhor, não é porque vimos sempre cisnes
brancos que só existem cisnes dessa cor.
Karl Popper – o filósofo da ciência – chega a concordar com
Hume que “a indução não tem base logica sólida”. Mas, ao invés de justificar
essa indução, ele propõe deixar de usa-la como método científico. No seu lugar
– como método de construir uma hipótese mais concreta – Popper chega a defender
o falseamento e assim, a ciência não avançaria com a confirmação das teorias,
mas tentando refutá-las. Para ele, uma teoria cientifica deve ser construída de
modo que possa ser testada e, se necessário, falsificada por observação ou
experimentos. Mas temos uma pergunta a fazer: isso não seria um modo de
indução? Tanto quando observado vamos olhar com nossas crenças e mesmo
experimentando, vamos observar dentro do que sabemos. Ora, se fomos bastante
rigorosos, vamos tender a manipular o experimento. O que fazer? Será que existe
maneiras de refutar algo sem ter viés?
Claramente, Sagan achava que a filosofia Nova Era (New Age),
seria uma “terra fértil” para charlatanismo e pseudociência que, a meu ver, é
um exagero. A eugenia, por exemplo, foi formulada nos EUA em pleno período de
começo do século 20 com o preconceito racial pós-escravidão. A teoria do
simbolismo – incluindo dos sonhos – tendem a começar muito antes de Freud e
Jung ou outros. Afinal, um filosofo chines Zhuangzi (ou Chuang Tzu), do século
IV a.C. formulou o pensamento: “Certa vez, sonhei que era uma borboleta,
esvoaçando feliz, sem saber que era Zhuangzi. Ao despertar, percebi que era
Zhuangzi. Mas então me perguntei: sou Zhuangzi que sonhou ser uma borboleta, ou
sou uma borboleta sonhando que é Zhuangzi?”. Assim, poderemos dizer que sim,
temos a todo momento questões de indução e Hume tinha razão.
Mas, longe de só ficar nisso, quero ir muito além da
conjuntura cientifica ateia. Quero mostra que nem toda ciência é neutra, nem
toda espiritualidade é irracional. Proponho um “terceiro caminho”, um
pensamento crítico, mas sensível; racional, mas não reducionista; espiritual, mas
não anticientífico. Não precisamos negar nada, e o que temos que fazer, sempre
olhar as coisas com alternativas mais além daquilo que nos condicionaram. E indo
além muito mais do que isso, há muitas ordens espirituais que tem ligação evolucionista,
sendo muito interessante as pessoas ignorarem essas ordens espirituais. A questão
é: será que estamos colocando a ciência como modo seguro de concluir alguns
pontos estranhos da realidade, ou poderemos concluir, que estão botando a
pesquisa cientifica como dogma? Isso você vê em muitos vídeos do YouTube, divulgadores
científicos colocando muitas pesquisas universitárias cientificas – que é muito
usado lá fora – como se a universidade estivesse colaborando com pseudociência.
Aliás, dois termos que me incomodam muito é pseudociência e
pseudofilosofia, até por causa da origem do termo “pseudo”. O termo quer dizer “falso”
e que poderemos perguntar: o que seria “falsa ciência” ou “falsa filosofia”? Quais
os critérios de dizer que uma teoria induzida ou falseada, seja falsa ou não ciência?
Ou, até mesmo, uma filosofia ser mais verdadeira quanto a outra? Isso me parece
uma censura epistemológica. A epistemologia – que tem muito a ver com a ciência
– veio da filosofia e tem a ver com a Teoria do Conhecimento. Como temos nosso
conhecimento? ou, de onde ele vem? E essas dúvidas, poderemos dizer, vem desde Platão
e a origem do termo remonta o grego “episteme” que quer dizer, conhecimento. O
que seria conhecer?
Mas com minha questão do “pseudo”, chegamos em uma prisão epistemológica
em afirmar tudo aquilo que é o conhecimento, e o que não é o conhecimento, que
remontam o iluminismo. Quem disse se células não poderiam ser criadas por “geração
espontânea”? Nada poderá ser dito que não tenha uma refutação, já que pesquisas
mostram que houve um processo de junção de elementos químicos, mas, a pergunta crucial
é: por que há seres vivos e coisas não vivas? Dai poderemos dizer que, ai entra
a filosofia, a arte e a espiritualidade, não como um simples “pseudo”, mas
conhecimentos complementares. Porque a filosofia sabe os níveis de conhecimento
que existem, sempre em construção do conhecimento da verdade. Como diria Nietzsche,
as verdades não são eternas como uma certeza solida, mas, uma construção de
algo além de visões limitadas de uma “verdade” subjetiva. Por isso mesmo, não faz
sentido nenhum dizer que algo seja “pseudo”.
Assim, ampliando a coisa, porque entra na era digital onde
se acredita em qualquer coisa. Ideologias que são só uma cultura da personalização
da imagem do politico, ou em acreditar em qualquer teoria sem embasamento. Isso
poderia ser considerado um “pseudoconhecimento”? Porque, por exemplo, uma acupuntura
tem milhares de anos e está na medicina chinesa desde então. Por que que
universidades não podem pesquisar os efeitos físicos ou mentais? Como dizia uma
música do Cazuza – morto na década de 90 – “mentiras sinceras me interessam” e
isso tem a ver com a má-fé, onde se mente para si mesmo e acham ser verdade. Não
se encontrou nenhuma razão até hoje da natureza da realidade, o porquê ela
existe que torna a coisa bem mais interessante.
Me parece que o livro de Sagan tem a ver de provar – ou tentar,
porque quem acredita vai continuar acreditando – que os relatos de abdução por
extraterrestres tem uma origem terrena. Ora, até concordo com ele, mas parece
que a origem disso ele se perdeu um pouco a mão, porque existem raízes e
relatos de séculos. Mas e se existissem fadas? E se as fadas fossem algo muito
mais profundo, simbolicamente?
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