sábado, 16 de novembro de 2019

Na Home Angels pessoas gordas e negras não podem ser cuidadoras



Fernanda disse que recebeu mensagem da empresa Home Angels e repassou para lista de transmissão — Foto: Fernanda Spadinger/Arquivo pessoal




Únicas exigências: Não podem ser negras, gordas e precisam de pelo menos 3 meses de experiência”


Uma cuidadora de idosos do Estado de Minas Gerais Elisangela Carlos Lopes de 41 anos, fez um boletim de ocorrências graças a uma mensagem da empresa Home Angels Centro-Sul, que dizia que as únicas exigências não serem negras e nem gordas. E terem 3 meses de experiência. Por que não pode ser negra e nem gorda? Por que tem que ter 3 meses de experiência? Até mesmo fica uma pergunta: qual a diferença da cuidadora ser negra ou gorda? Se pensar direito, nem mesmo 3 meses de experiência faz algum sentido. Parece que nosso empresariado – porque se trata de uma franquia – é ainda rastaquera e não entendeu que algumas discussões já são superadas lá no estrangeiro. Porque existem países que nem ao menos, você coloca dados pessoais dentro de um currículo.
A estética está muito enraizado ainda no nosso meio por causa da nossa cultura Latina cristã medieval, onde aquilo que tem harmonia são as coisas muito mais próxima da perfeição. Quem tem deficiência como eu – ou outras pessoas – sabem que é muito comum as pessoas dizerem que ou não tem acessibilidade para pessoas cadeirantes, ou que não querem pessoas que não andem, não enxerguem, não ouvem. Ou seja, querem pessoas que tem uma deficiência bastante leve e que não precisem gastar com adaptações. Na verdade, todo empresário no Brasil querem ganhar, mas não querem investir. Por isso muitas empresas vem para o Brasil e ficam desleixadas, porque aqui não se gosta de planejamento e não se gosta de investir em melhoria. Ora, a grande lição de um administrador – porque fiz administração indiretamente – é que ele tem que investir em criatividade (que chamam hoje de ócio criativo) e investir em uma infraestrutura para o “colaborador” (adoram imitar os yankes, mas, fazem uma imitação caricaturada) não se estressem. Nem todo patrão (leia-se: dono da empresa), aprenderam isso por achar que sabem, mas não estudam ou não se atualizam.
O maior problema disso tudo é que temos uma cultura que tem aversão a leitura, aversão de um planejamento mais apurado para não errar ou errar muito pouco. Na questão estética – da onde vem o problema do preconceito – nossa cultura ainda acha que as pessoas têm alguma padronização e não tem, porque podemos ter pessoas que são éticas ou não em todas as classes, credos, opções sexuais, tonalidade da pele e até mesmo, com deficiência. A generalização faz das pessoas algo totalitário, um pensamento muito mais fácil e que não precisa de uma examinação mais apurada. Aliás, a origem do termo ética – que vem do grego ethos – tinha o significado “moradia dos homens” e queria dizer que eram as casas que os seres humanos moravam. Então, podemos concluir sem medo de errar, que a forma ética de agir sempre demonstra uma forma particular de valores caros para si mesmo. Por isso mesmo, o filósofo alemão do século dezoito, Immanuel Kant, dizia que a educação (leia-se, a verdadeira) vinha do berço. Vem da família.


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