Fernanda disse que recebeu mensagem da empresa Home Angels e repassou para lista de transmissão — Foto: Fernanda Spadinger/Arquivo pessoal |
“Únicas exigências: Não podem ser negras, gordas e precisam de pelo menos 3 meses de experiência”
Uma cuidadora de idosos do Estado de
Minas Gerais Elisangela Carlos Lopes de 41 anos, fez um boletim de
ocorrências graças a uma mensagem da empresa Home Angels
Centro-Sul, que dizia que as únicas exigências não serem negras e
nem gordas. E terem 3 meses de experiência. Por que não pode ser
negra e nem gorda? Por que tem que ter 3 meses de experiência? Até
mesmo fica uma pergunta: qual a diferença da cuidadora ser negra ou
gorda? Se pensar direito, nem mesmo 3 meses de experiência faz algum
sentido. Parece que nosso empresariado – porque se trata de uma
franquia – é ainda rastaquera e não entendeu que algumas
discussões já são superadas lá no estrangeiro. Porque existem
países que nem ao menos, você coloca dados pessoais dentro de um
currículo.
A estética está muito enraizado ainda
no nosso meio por causa da nossa cultura Latina cristã medieval,
onde aquilo que tem harmonia são as coisas muito mais próxima da
perfeição. Quem tem deficiência como eu – ou outras pessoas –
sabem que é muito comum as pessoas dizerem que ou não tem
acessibilidade para pessoas cadeirantes, ou que não querem pessoas
que não andem, não enxerguem, não ouvem. Ou seja, querem pessoas
que tem uma deficiência bastante leve e que não precisem gastar com
adaptações. Na verdade, todo empresário no Brasil querem ganhar,
mas não querem investir. Por isso muitas empresas vem para o Brasil
e ficam desleixadas, porque aqui não se gosta de planejamento e não
se gosta de investir em melhoria. Ora, a grande lição de um
administrador – porque fiz administração indiretamente – é que
ele tem que investir em criatividade (que chamam hoje de ócio
criativo) e investir em uma infraestrutura para o “colaborador”
(adoram imitar os yankes, mas, fazem uma imitação caricaturada) não
se estressem. Nem todo patrão (leia-se: dono da empresa), aprenderam
isso por achar que sabem, mas não estudam ou não se atualizam.
O maior problema disso tudo é que temos
uma cultura que tem aversão a leitura, aversão de um planejamento
mais apurado para não errar ou errar muito pouco. Na questão
estética – da onde vem o problema do preconceito – nossa cultura
ainda acha que as pessoas têm alguma padronização e não tem,
porque podemos ter pessoas que são éticas ou não em todas as
classes, credos, opções sexuais, tonalidade da pele e até mesmo,
com deficiência. A generalização faz das pessoas algo totalitário,
um pensamento muito mais fácil e que não precisa de uma examinação
mais apurada. Aliás, a origem do
termo ética – que vem do grego ethos – tinha o significado
“moradia dos homens” e queria dizer que eram as casas que os
seres humanos moravam. Então, podemos concluir sem medo de errar,
que a forma ética de agir sempre demonstra uma forma particular de
valores caros para si mesmo. Por isso mesmo, o filósofo alemão do
século dezoito, Immanuel Kant, dizia
que a educação (leia-se, a verdadeira) vinha do berço. Vem da
família.
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