“No mundo há mais ídolos do que realidades.”
(Nietzsche)
Desde que me conheço como gente, eu fico vendo que dentro da
nossa cultura há uma idolatria muito forte. Quando estávamos no regime militar
– que o povo era muito mais alienado do que hoje é – se idolatrava o futebol.
Primeiro, porque se você confrontasse, o exército era bem mais forte e o
ESTADO, como um todo, tinha o monopólio da violência, você seria morto rapidamente. Segundo, porque há milênios essa é a melhor fonte de se governar
(que os romanos fizeram com maestria), em dar ao povo alegrias breves e não
realidades solidas, a verdade sobre as coisas. Um povo estudado e muito bem
educado, não é tão fácil enganar como mostra outros países. E outra coisa, a
questão do futebol é dá a si mesmo, uma importância que não dão tendo uma vida
vazia de um emprego que você nem queria estar ali.
Hoje é a pauta política.
Lembro, pois sempre a politica me rodeava de certa forma, meu avô – que lutou
na guerra no lado do exército de Mussolini por ser italiano e não por acreditar
no fascismo – dizia que o brasileiro é um povo passivo, mas, que quando ele se
revoltar, ele será cruel com quem enganou e ele, meu avô, não iria ver isso.
Ele faleceu muito antes do que os protestos de 2013, que me fizeram lembrar
dessas palavras do meu avô, porém, me enganei redondamente. Porque de alguma
maneira, nossa cultura e a maioria dos brasileiros, tem a terrível mania de
idolatrar tudo. Se idolatra político. Se idolatra religiosos. Se idolatra a
família. Se idolatra animais. Se idolatra tudo e esse é o problema, a questão
da idolatria sempre é uma questão de não critica. Quando eu digo crítica, eu
digo num modo filosófico que é uma análise mais profunda. Talvez, isso tenha
duas origens. Primeiro, da igreja romana em sempre pregar que o rei (que na
república passou na figura do presidente) era uma figura enviada por Deus e por
isso, isento de qualquer erro e isso se estende pelo lado religioso (leia-se:
cristão). Segundo o sebastianismo português que ainda espero Dom Sebastião
voltar nas cruzadas.
Dom Sebastião morreu a séculos e as maiorias das monarquias
europeias morreram para dar lugar as repúblicas democráticas. Na questão
política, os europeus sabem muito bem, que a idolatria sempre acaba em
ditadura. Seja as ditaduras de esquerda ou de direita. Pois, um governo que se
mostra unanime é um governo fadado ao fracasso, porque não se é apontado os
erros mais sombrios dentro da sua própria estrutura. Por outro lado, o que
gerou toda essa comoção foi esperar demais do Lula, que acabou sendo uma
decepção. Budistas, céticos e estoicos sabem muito bem, que você não deve
esperar nada o que você não pode mudar. Porque enquanto tivermos essa educação
vagabunda – não estou só dizendo a escola – fantasiada de conservadora cristã
ou não, pois tem o “lado negro da força” no nosso modo cultural, vamos sempre
criar “Lulas” ou populistas que querem likes do que dizem ou da bunda que
postam. Gente sabe muito bem, que o cara se enche de filho para dizer que é
“macho” (pode ter menos e não pegar nem a pensão direito) e depois, a sociedade
fica com a culpa. Ou, nas melhores das hipóteses, cria sem condições nenhuma e
nem se esforçam, no mínimo, para melhorarem e dar aos filhos dignidades.
Ora, não sou um teórico acadêmico que olha as comunidades e
os morros cariocas como se olha um zoológico, eu vi de perto as periferias.
Primeiro, que sempre vivi na zona leste de São Paulo e sempre vi isso e
segundo, essa questão passou da hora de ser encarada com uma dose de realidade
sem fantasiar na Disneylândia ideológica, onde há vítimas, pois não há. Existem
aqueles que saem disso mesmo sendo assim, com estudos e um pouco de sorte,
outros que se acomodam porque viu o pai sempre se acomodando em sua poltrona
confortável com sua bundona no sofá se enchendo de cerveja vagabunda. Não são
todos, claro, existem aqueles que frequentam a zona do baixo meretriz depois de
um dia de trabalho. Enfim, você dá esse tipo de realidade para seu filho e ele
vai achar que isso tudo acontece porque a sociedade não o deixa ser gente. Só
que a sociedade não tem culpa de o pai ser um fracassado. Daí se entra na
idolatria familiar.
Fui criado para não idolatrar ninguém. Nem sacerdotes
religiosos – que para meu pai, a religião era ou é uma das engrenagens da política
e para minha mãe, não tinha razão nenhuma. Alias, ela sempre dizia que se Deus
existe, ele estaria em nosso coração – nem artistas, nem políticos (principalmente)
e muito menos, eles mesmos. Duas frases e ensinamentos me marcaram dos meus
pais: primeiro, foi quando era mais jovem e minha mãe viva, perguntei a importância
de pedir benção. Ela me respondeu que nenhuma e não fez questão nenhuma de
ensinar eu e meus irmãos a pedirem a ela, pois, não adianta pedir benção e não respeitar
a mãe. Ela preferia o respeito. E a pouco tempo, eu e meu pai, estávamos conversando
sobre a família e ele disse que eu e meus irmãos fomos criados com amor, mas, que
a maioria não tinha esse amor. Na verdade, minha família não tinha convenção nenhuma
e meus pais ficaram casados por 38 anos, com três filhos educados e respeitosos
(modesta parte, todo mundo se dá com a gente). Claro, existe um abismo enorme
de ser educado e levar humilhação, porque nós, não levamos para casa (isso
herdamos do nosso pai. Nenhum chefe folgava com ele).
O que quero dizer, que a ideia de que a família é uma instituição
sagrada, para mim, beira ao absurdo. Porque, para mim, pelo menos, cada membro
é um indivíduo autônomo e que são ligados pelo amor e não, pela subserviência. Lembro
muito bem, que meu pai brincava com a gente, fazia a gente dar risada e
conversava com a gente, assim, mantendo o laço do respeito pelo amor. Amor não é
levar os filhos para a igreja, ensinar a pedir benção ou coisa parecida, amor é
você ensinar para seu filho o certo ou o errado, o que se pode fazer ou não. Minha
mãe sempre repetia que os filhos não eram dela e sim, do mundo. O certo ou o
errado pode ser analisado depois, mas naquele momento, o importante é mostrar
para o filho que, goste ele ou não, ele está inserido dentro de uma sociedade. Se
ele matar, vai sofrer as consequências. Se ele engravidar, ele vai sofrer as consequências.
Se ele sair com o carro como um porra louca, vai sofrer as consequências. Porque
o mundo e o universo, na realidade, esta cagando o que você acha; é ação e reação,
é bate volta. Pois, o próprio filosofo francês Descartes (o do “penso, logo
existo”), dizia que toda a causa tem um efeito. Na física isso é notório. Se você
estiver apostando um racha e passar o farol vermelho, se tiver muita sorte
passar, mas, se não, pode bater em um outro carro e matar ou uma família, ou um
pai ou uma mãe de família. Ou você se mata batendo em um ônibus, poste ou num caminhão,
se no caso do ônibus, não matar gente inocente. Afinal, dois corpos num só
lugar não cabem.
Portanto, essa coisa que mãe é tudo e que pai é herói, é
tudo balela. No final das contas, todo mundo não passa de primatas que acham
que sabem alguma coisa da vida, pois, não sabem. Sócrates viu isso. Assim, como
outras pessoas também viram isso. Como o próprio Nietzsche disse, não existem
verdades absolutas e nem mesmo, fatos eternos.
Amauri Nolasco Sanches
Junior