sexta-feira, 13 de março de 2020

A idolatria cultural



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“No mundo há mais ídolos do que realidades.”
(Nietzsche)

Desde que me conheço como gente, eu fico vendo que dentro da nossa cultura há uma idolatria muito forte. Quando estávamos no regime militar – que o povo era muito mais alienado do que hoje é – se idolatrava o futebol. Primeiro, porque se você confrontasse, o exército era bem mais forte e o ESTADO, como um todo, tinha o monopólio da violência, você seria morto rapidamente. Segundo, porque há milênios essa é a melhor fonte de se governar (que os romanos fizeram com maestria), em dar ao povo alegrias breves e não realidades solidas, a verdade sobre as coisas. Um povo estudado e muito bem educado, não é tão fácil enganar como mostra outros países. E outra coisa, a questão do futebol é dá a si mesmo, uma importância que não dão tendo uma vida vazia de um emprego que você nem queria estar ali.

 Hoje é a pauta política. Lembro, pois sempre a politica me rodeava de certa forma, meu avô – que lutou na guerra no lado do exército de Mussolini por ser italiano e não por acreditar no fascismo – dizia que o brasileiro é um povo passivo, mas, que quando ele se revoltar, ele será cruel com quem enganou e ele, meu avô, não iria ver isso. Ele faleceu muito antes do que os protestos de 2013, que me fizeram lembrar dessas palavras do meu avô, porém, me enganei redondamente. Porque de alguma maneira, nossa cultura e a maioria dos brasileiros, tem a terrível mania de idolatrar tudo. Se idolatra político. Se idolatra religiosos. Se idolatra a família. Se idolatra animais. Se idolatra tudo e esse é o problema, a questão da idolatria sempre é uma questão de não critica. Quando eu digo crítica, eu digo num modo filosófico que é uma análise mais profunda. Talvez, isso tenha duas origens. Primeiro, da igreja romana em sempre pregar que o rei (que na república passou na figura do presidente) era uma figura enviada por Deus e por isso, isento de qualquer erro e isso se estende pelo lado religioso (leia-se: cristão). Segundo o sebastianismo português que ainda espero Dom Sebastião voltar nas cruzadas.

Dom Sebastião morreu a séculos e as maiorias das monarquias europeias morreram para dar lugar as repúblicas democráticas. Na questão política, os europeus sabem muito bem, que a idolatria sempre acaba em ditadura. Seja as ditaduras de esquerda ou de direita. Pois, um governo que se mostra unanime é um governo fadado ao fracasso, porque não se é apontado os erros mais sombrios dentro da sua própria estrutura. Por outro lado, o que gerou toda essa comoção foi esperar demais do Lula, que acabou sendo uma decepção. Budistas, céticos e estoicos sabem muito bem, que você não deve esperar nada o que você não pode mudar. Porque enquanto tivermos essa educação vagabunda – não estou só dizendo a escola – fantasiada de conservadora cristã ou não, pois tem o “lado negro da força” no nosso modo cultural, vamos sempre criar “Lulas” ou populistas que querem likes do que dizem ou da bunda que postam. Gente sabe muito bem, que o cara se enche de filho para dizer que é “macho” (pode ter menos e não pegar nem a pensão direito) e depois, a sociedade fica com a culpa. Ou, nas melhores das hipóteses, cria sem condições nenhuma e nem se esforçam, no mínimo, para melhorarem e dar aos filhos dignidades.

Ora, não sou um teórico acadêmico que olha as comunidades e os morros cariocas como se olha um zoológico, eu vi de perto as periferias. Primeiro, que sempre vivi na zona leste de São Paulo e sempre vi isso e segundo, essa questão passou da hora de ser encarada com uma dose de realidade sem fantasiar na Disneylândia ideológica, onde há vítimas, pois não há. Existem aqueles que saem disso mesmo sendo assim, com estudos e um pouco de sorte, outros que se acomodam porque viu o pai sempre se acomodando em sua poltrona confortável com sua bundona no sofá se enchendo de cerveja vagabunda. Não são todos, claro, existem aqueles que frequentam a zona do baixo meretriz depois de um dia de trabalho. Enfim, você dá esse tipo de realidade para seu filho e ele vai achar que isso tudo acontece porque a sociedade não o deixa ser gente. Só que a sociedade não tem culpa de o pai ser um fracassado. Daí se entra na idolatria familiar.

Fui criado para não idolatrar ninguém. Nem sacerdotes religiosos – que para meu pai, a religião era ou é uma das engrenagens da política e para minha mãe, não tinha razão nenhuma. Alias, ela sempre dizia que se Deus existe, ele estaria em nosso coração – nem artistas, nem políticos (principalmente) e muito menos, eles mesmos. Duas frases e ensinamentos me marcaram dos meus pais: primeiro, foi quando era mais jovem e minha mãe viva, perguntei a importância de pedir benção. Ela me respondeu que nenhuma e não fez questão nenhuma de ensinar eu e meus irmãos a pedirem a ela, pois, não adianta pedir benção e não respeitar a mãe. Ela preferia o respeito. E a pouco tempo, eu e meu pai, estávamos conversando sobre a família e ele disse que eu e meus irmãos fomos criados com amor, mas, que a maioria não tinha esse amor. Na verdade, minha família não tinha convenção nenhuma e meus pais ficaram casados por 38 anos, com três filhos educados e respeitosos (modesta parte, todo mundo se dá com a gente). Claro, existe um abismo enorme de ser educado e levar humilhação, porque nós, não levamos para casa (isso herdamos do nosso pai. Nenhum chefe folgava com ele).

O que quero dizer, que a ideia de que a família é uma instituição sagrada, para mim, beira ao absurdo. Porque, para mim, pelo menos, cada membro é um indivíduo autônomo e que são ligados pelo amor e não, pela subserviência. Lembro muito bem, que meu pai brincava com a gente, fazia a gente dar risada e conversava com a gente, assim, mantendo o laço do respeito pelo amor. Amor não é levar os filhos para a igreja, ensinar a pedir benção ou coisa parecida, amor é você ensinar para seu filho o certo ou o errado, o que se pode fazer ou não. Minha mãe sempre repetia que os filhos não eram dela e sim, do mundo. O certo ou o errado pode ser analisado depois, mas naquele momento, o importante é mostrar para o filho que, goste ele ou não, ele está inserido dentro de uma sociedade. Se ele matar, vai sofrer as consequências. Se ele engravidar, ele vai sofrer as consequências. Se ele sair com o carro como um porra louca, vai sofrer as consequências. Porque o mundo e o universo, na realidade, esta cagando o que você acha; é ação e reação, é bate volta. Pois, o próprio filosofo francês Descartes (o do “penso, logo existo”), dizia que toda a causa tem um efeito. Na física isso é notório. Se você estiver apostando um racha e passar o farol vermelho, se tiver muita sorte passar, mas, se não, pode bater em um outro carro e matar ou uma família, ou um pai ou uma mãe de família. Ou você se mata batendo em um ônibus, poste ou num caminhão, se no caso do ônibus, não matar gente inocente. Afinal, dois corpos num só lugar não cabem.

Portanto, essa coisa que mãe é tudo e que pai é herói, é tudo balela. No final das contas, todo mundo não passa de primatas que acham que sabem alguma coisa da vida, pois, não sabem. Sócrates viu isso. Assim, como outras pessoas também viram isso. Como o próprio Nietzsche disse, não existem verdades absolutas e nem mesmo, fatos eternos.

Amauri Nolasco Sanches Junior

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