Por Amauri Nolasco Sanches Junior
O maior erro na questão do pensamento moderno e, consequentemente, no pensamento contemporâneo é ter tirado a metafísica do pensamento. Por quê? Porque não se pode pensar certos assuntos e não ir além do que o raciocinalismo nos limita, pois, quando você pensa em um assunto preconceito, por exemplo, você começa ir muito além da ceara racional. No mais – indo numa análise mais profunda – o preconceito tem a ver com o ser e com o que fazemos como um pré-conceito de tudo aquilo que nos é diferente, porque aquilo nos parece o que é errado. Mas, o que seria certo ou errado? O que seria justo ou injusto? E isso tem a ver com a liberdade.
Será que podemos ser o que queremos ou tudo é uma construção social? Eu sou uma pessoa com deficiência cadeirante e como cadeirante sou considerado uma pessoa diferente, não cabe num padrão estético normativo. Nasci com uma deficiência – na verdade, foi uma situação logo depois do parto – que me levou a usar andador num primeiro momento, depois ser cadeirante por não aguentar ficar de pé por muito tempo e essa deficiência chama paralisia cerebral. Uma questão é importante: há escolha de não ter uma deficiência? Não. Eu nasci com essa deficiência e por toda a minha vida eu tenho que conviver com ela. Mas posso aceitar ela e isso é uma escolha. Se eu aceitar ela – como diria os estoicos – não vou ter a ansiedade de ser o que não sou e mais, não posso mudar aquilo que está fora do meu alcance. No mais, mesmo com a minha deficiência, estou escrevendo esse texto e posso expressar as minhas ideias. Isso tem a ver com duas ideias centrais: escolher se vou ser igual ou não todo mundo e me prejudicar em uma ansiedade sem nenhum sentido, ou aceitar e viver mais feliz a minha deficiência.
Do mesmo modo aceitar uma homossexualidade ou que é de outra cor ou etnia, o aceitar já é um pressuposto para quebrar paradigma do “normal” e sua narrativa de imagem do diferente. Claro, não sejamos demagogos e achar que não temos pré-conceito, mas ele se perde quando vivemos esse preconceito de perto e achamos que temos o direito de impor a nossa visão de mundo. E se queremos liberdade para nós, temos que ter liberdade com os outros. A representação do pai e nem a família vai mudar por mudanças de paradigmas, como aconteceu na polêmica da empresa de cosméticos Natura – graças a polemica faturou milhões – que convidou (contratou na verdade) o Thammy Mranda para os anúncios para o Dia dos Pais. Ele casou e teve um filho graças a aceitação da sua homossexualidade e acho, pelo menos nas fotos, ele bastante feliz.
O diferente nunca pode ser visto como algo errado e sim, algo que todo mundo pode ser diante de tantas liberdades que podem acontecer. Assim como podemos escolher tomar um sorvete de chocolate, podemos ser felizes (ou ter um momento de alegria) chupando uma simples balinha de morango. Tendo um momento a só com um bom livro ou até mesmo, rir de uma coisa boba na internet. A questão da pessoa enquanto ser soberano da escolha que faz vem da concepção cristã – isso mesmo – cristã da fé pessoal e uma visão universalista e não cosmopolita, como via os gregos e os romanos. Tanto é, que você pode ler na Epístola de Galatas (cartas as igrejas de Paulo de Tarso): “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.”. Ou seja, o que Paulo está dizendo, que a virtude não esta naquilo que você faz de melhor ou é a sua essência, porque para Cristo, isso não importa e sim, o que você faz dessa virtude em ajudar ou não. Não importa se você é um judeu ou um grego, um escravo ou um ser humano livre, mas o que importa é a virtude que você faz. Onde isso deve ter se perdido? Aonde o ser humano largou essa virtude para achar que todo mundo tem que acreditar naquilo?
Se esqueceu da liberdade. Do mesmo modo eu não posso mudar de ser uma pessoa com deficiência (e na medida do possível, ser feliz assim), o Thammy e muitos outro, não podem mudar sua natureza homossexual e ser feliz assim. Na verdade, em sua essência, esse resgate a liberdade foi feito graças a reforma protestante, quando Martinho Lutero “peitou” a igreja católica e colocou outras questões além daquilo que eles impunham. Infelizmente, a igreja protestante – com tantos ramos como a católica – se esqueceu de tudo isso de Lutero e ficou quase igual à igreja católica. Mas, seu legado abriu portas para o iluminismo e assim, a liberdade de ser e de dizer o que queira, mesmo que muitos neguem isso. O que aconteceu é que, como tudo que quer o poder, se fanatizou porque as pessoas sofridas querem sempre se vingar daquilo que lhe oprimem. Ai cairmos na criticas de Nietzsche no século dezenove, pois o cristianismo vai perdendo a essência por causa dos anos de uso da instituição religiosa (porque não, teologia) para interferências politicas.
A moral impositora fazia dessa liberdade uma questão de hipocrisia, pois, os cristãos esqueceram dos reais valores e esses reais valores se perderam quando Jesus morreu numa cruz. Por quê? Porque toda a sua vida ele viveu com os que a religião vigente excluía, para mostrar que Deus não tinha distinção de classe e muito menos, distinção de pessoas.
TEXTO MUITO CLARO E OPORTUNO, EM QUE PESE A COMPLEXIDADE DO TEMA. APENAS PENSO, QUE, SER DIFERENTE ESCOLHENDO UM MODO DE VIDA É UMA COISA E VIVER UM MODO DE VIDA DE QUE NÃO SE TEM ESCOLHAS, É OUTRA COISA.
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