quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Conan e a Filosofia

 



Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 Muitas pessoas acham que só existe filosofia nos filmes cult ou em filmes chatos e parados e acho isso um saco. Nunca gostei de filme cult. Mesmo o porquê, os filmes cults te remetem a um mundo que o intelectual entende e não sou um intelectual, sou um filósofo. Não me venham com essa conversa que filósofos gostam de filmes cult, porque sou um filósofo diferenciado, ou seja, tiro filosofia em filmes sangrentos e que a maioria dos “intelectuais”, acham não bons. Filmes de ação fala de sentimentos, sentimento do herói, sentimento que o herói – isso vem desde os gregos – vai vencer para mostrar que não se pode deixar o malvado vencer.

Claro que a jornada do herói é muito mais do que essa dicotomia. Tem a ver com o crescimento e a astucia com que ele lhe lida e se glorifica para sempre – na visão grega. Conan, o bárbaro – de 1982 – é um filme que já ficou no hall dos clássicos e é baseado, assim como os HQs, nos contos de Robert Howard e que virou um livro. A história se passa logo depois que os mares engoliram Atlântida e os filhos de Aria começaram a dominar o mundo conhecido – inclusive, li uma vez (depois não encontrei mais) que Howard jurava que as eras que ele retratava eram verdade por causa de textos que ele tinha comprado de um homem que encontrou em uma gruta, ou coisa parecida – e dominaram os reinos que eram dos atlantes. A Atlântida foi relatada por Platão como um reino prospero e que foi uma civilização que afundou em uma noite – arqueólogos dizem não ter encontrado nada na região descrita – e que estudiosos dizem que o filósofo teria lido no Egito (vale lembrar que estudiosos dizem que a Esfinge é muito mais antiga do que a própria civilização egípcia).

Outra característica do filme é que o mocinho não é tão bonzinho e isso me atrai. Os anti-heróis me atraem bastante e Conan é um deles, mesmo o porquê, Howard transformou o seu personagem em um bárbaro justo, mostrando que os grandes reinos e a civilização corrompem a essência do ser humano. Muitos caíram na armadilha de achar que Howard teria criado um bom selvagem ala Rousseau – existem milhares de textos demonstrando isso – mas não, Conan é completamente nietzschiano. Tanto, que o próprio diretor do filme – que não lembro o nome – percebeu e fez o filme em torno da frase do livre Crepúsculo dos Ídolos de Nietzsche, “o que não me mata me fortalece”. Aliás, essa é uma parte da frase, ela toda é assim: “Da escola de guerra da vida. — O que não me mata me fortalece”.

Ou seja, “da escola de guerra da vida” transforma, completamente, o aforisma, porque mostra a visão de Nietzsche sobre a vida. A vida é uma guerra para afirmar suas escolhas e essas escolhas, se não te matam, te deixam mais fortes. As pessoas hoje em dia, não querem sofrer e só querem a alegria – porque a felicidade não existe em forma plena – então, não podem ser contrariadas ou resolver problemas. Frustrações são normais quando não dá certo, assim como, os problemas existem soluções. Conan foi um menino que viu os pais serem mortes, virou escravo, lutador, depois vagou pelo mundo livre e fez suas escolhas, erradas ou não. Ainda, descobriu o Enigma do Aço que consistia na seguinte pergunta: o que é mais forte, o aço ou a carne? A carne. Pois, sem a vontade humana, não existiria tem o aço ou as coisas que estão ao nosso redor. Mas, mostra a superação de Conan em enfrentar a verdade e ele foi rei pelo seu próprio esforço.

Existe um outro pensamento de Nietzsche que fala que, não saber o que ele é, mas, tem certeza do que ele não queria se tornar. Aquilo que tanto Conan não quis se tornar, ele se tornou. Norte-americanos tem um hábito de fazer filmes binários em mostrar dois lados – que, na maioria das vezes, acabam sempre indo para um lado ideológico – entre o bem e o mal, que filmes como do Conan, ficam confusos e acabam sendo uma péssima educação. Por que se deve existir o bem e o mal? Por que o Conan deve ser o herói? Não é só o filme do Conan, Star Wars segue o mesmo problema, pois, tem a ver com a liberdade e as escolhas que essa liberdade vai te trazer. O existencialismo – na qual, Nietzsche faz parte – coloca o ser humano como seres em construção em todo o momento e chega a dizer, em Sartre, que somos aprisionados a sermos livres.

Mas, o que é a liberdade? Conan não pode escolher não ser escravo, não pode escolher não perder a mulher que ama, mas, escolheu lutar e ser o que era. A liberdade é o que somos. Ainda, por fim, mostrou que o rei bruxo era apenas um homem que dominava pelo discurso. Mostra que poder era humano, os humanos inventam narrativas para dominarem melhor, o medo é um discurso eficaz para dominar. Conan mostra que destruindo esse discurso não acontece nada.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Liberais que não querem pagar impostos

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

  

Desde o Orkut – a primeira rede social de verdade – eu tive contato com o libertarianismo e até eu tive um convite em aderir a um partido libertário, isso era meado de 2007 se não me engano. Dali pra cá, tive dúvidas se realmente esses adolescentes de internet tinham razão ou eu não tinha entendido direito, até começar a ler Manifesto Libertário de Murray Rothbard onde a introdução de Llewellyn H. Rockwell, Jr diz assim:

 

“O contexto histórico ilustra um ponto que frequentemente é ignorado: o libertarianismo moderno não nasceu em reação ao socialismo ou ao esquerdismo—embora ele seguramente seja antiesquerdista (da maneira com que o termo é comumente definido) e antissocialista. Para ser mais exato, o libertarianismo, no contexto histórico americano, surgiu como uma resposta ao estatismo do conservadorismo e sua celebração seletiva de um planejamento central de estilo conservador. Os conservadores americanos podem não adorar o estado de bem-estar social ou as regulamentações econômicas excessivas, porém apreciam o exercício do poder em nome do nacionalismo, do belicismo, de políticas “pró-família” e da invasão da privacidade e da liberdade pessoal. No período pós-LBJ da história americana, os presidentes republicanos, mais que os democratas, foram responsáveis pelas maiores expansões dos poderes executivo e judiciário. E foi para defender uma liberdade pura contra as concessões e corrupções do conservadorismo—iniciando-se com o período de Nixon, porém continuando ao longo das presidências de Reagan e Bush—que inspiraram o nascimento da economia política rothbardiana.

 

Aí eu vi que não era eu o errado dessa história, mas era os adolescentes que segundo minha tese que, a maioria não passa de liberais que não querem pagar impostos. Libertários são muito mais profundos e muitos mais anárquicos – vamos dizer assim – do que conservador, já que o conservadorismo que foi muito mais decisivo na hora da criação no libertarianismo moderno. Mas, o que esperar de um povo que tem a arrogância de ensinar padre a rezar, alemães o que é o nazismo, russos o que foi o comunismo? A questão que o povo daqui sempre teve preguiça de ler e estudar e achar que conhece as coisas, mas, nas discussões de grupo até tenho vergonha alheia. A questão é: por que existe libertário conservador?

Claro, existem ex-libertarios que não entenderam a propostas e hoje acham que é coisa de adolescente – como o Constantino que é um escravo do governo e da ideologia que diz acreditar – mas, por ver essas discussões que não cabem nem em discussões no libertarianismo, como discussões morais. Antes de mais nada – isso é de verdade mesmo – o libertarianismo defende que cada um tem o direito de fazer o que quiser (sem agredir o outro) e nem bancar o “cagador” de regras. Esse hábito brasileiro sempre foi antilbertário. Por outro lado, você pode dizer: como assim, se você está fazendo isso? Não. cada um que faça o que quiser, o grande problema, que estou demonstrando, é que as pessoas não estudam nem aquilo que elas acreditam. Sejam ideologias políticas. Sejam religiões. Seja qualquer coisa e o mundo vai ficando chato.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Yoda e a deficiência

 




“Não há emoção, há paz
Não há ignorância, há conhecimento
Não há paixão, há serenidade
Não há caos, há harmonia
Não há a morte, há a Força!”

(código Jedi)

 

Quem não assistiu a saga Star Wars (Guerra nas Estrelas)? Claro, como tudo na cultura pop – popular – existem aqueles que não gostam e aqueles que gostam. Meu pai odeia ficção cientifica achando que tudo não passa de uma fantasia. Mesmo eu explicando que por trás de toda aquela fantasia tenha uma mensagem real – e tem mesmo – mas, o negócio do “véio” é assistir um bom e velho Rambo (por incrível que pareça, também tem lá sua filosofia e um dia escreverei sobre ele). Mas, desde muito cedo eu assisti e assisto a saga e sei muito bem que existem varias referencias não só das muitas filosofias orientais, como também, existem varias filosofias também ocidentais. E isso vale um paragrafo para explicar a minha própria visão.

Dentro daquilo que eu estudei – li muito a história da filosofia e joguei muito Age of Empires – houve uma troca comercial muito considerável entre os gregos (que começaram como Mecenas) e o povo oriental. Claro, não temos nenhum elemento mais embasado (pelo menos não divulgado) que isso teve influência entre gregos e orientais (como chineses e persas). O fato é que existem muitas semelhanças entre os orientais – como o povo indianos que tinham o budismo e o hinduísmo – fica evidente no orfismo (derivado dos egípcios), as falas de Heráclito que são muito parecidas com a de Buda Sakiamuni e o taoísmo e o equilíbrio de Aristóteles. Então, achar que as coisas são tão simples como filosofia ocidental e filosofia oriental, seja só uma separação cartesiana, não faz muito sentido. Agora, o termo “philosophia” é sim grego e não se deve ter dúvida nenhuma.

Continuando, a questão do Star Wars é uma questão muito complexa para se resumir – como eu vi em um meme – que se trata de uma saga sobre ditadura. Já pensaram que pode ser sobre o medo e esse medo gera ditaduras? Podemos ver ao longo da história, que as tiranias sempre começam com o medo de dar errado. Ai um mestre jedi pode perguntar: o que poderia ser um erro e um acerto? Por que pensar que aquilo é errado ou certo, se a Força é uma só? Mestre Yoda dizia que a força é uma só e se poderia mudar a polaridade dela. Acho que podemos aprender – isso é muito sério – que tudo faz parte de uma só realidade e não importa muito se aquilo é no conceito humano certo ou errado. Aliás, num modo geral, tanto a saga como as filosofias antigas mostram que a realidade, em sua essência, é uma só e não importa muito o que você pensa. E me fez ver, mesmo os jedis sejam guardiões da república, eles não gostavam muito de políticos. Isso fica evidente, mas, não eram estupidos com as pessoas (depois faço um texto sobre).

Umas das coisas que me fizeram refletir sobre a deficiência é um pensamento do mestre Yoda – muito mais tarde, porque quando criança eu não entendia quase nada – quando Luke, filho de Anakin (Darth Vader) e Padme, foi treinar com ele (a pedido de Kinobi no lado espiritual) e Luke desistiu em levantar a nave, Yoda disse:

 

“O tamanho não importa. Olhe para mim, julga-me pelo meu tamanho? E não deve mesmo. Minha aliada é a Força, e poderosa aliada ela é. Ela é a energia que nos cerca e nos conecta. Seres luminosos nós somos, não essa matéria rude. Você precisa sentir a Força a sua volta; aqui, entre você, eu, a árvore, a pedra, todos lugares. Sim, até mesmo entre a terra e a nave.”

Isso resinificou a deficiência para mim, porque não importa o que queiramos, nossa vontade e nossa “força” sempre estará ali para dizer “vai em frente”. Na verdade, tive uma educação de não ter nenhuma religião a não ser aquela que eu escolher, não tenho nenhuma ideologia política a não ser aquela que eu escolher, porque o importante não é impor uma religião. Mesmo o porquê, se você precisa de uma religião para se viver com ética e bondade, há dentro de você algo bastante errado. Como disse Nelson Rodrigues: “atrás de todo paladino da moral, vive um canalha”. O que Nietzsche vai chamar de ressentidos, aqueles que não conseguiram ser nobres. A nobreza, talvez, não tinha a ver com riquezas, mas ser nobre vai muito além.  E ideologias políticas só são ideologias políticas e não importa qual, todas querem o poder. Ou seja, não é a toa que os jedis são avessos a política. Políticos querem o poder pelo poder.

Mas a fala do mestre Yoda são para dizer que as pessoas olham para realidades que não existem, e na maioria das vezes, são simples narrativas. Luke viu o peso da nave e o quanto a realidade lhe limitava em tirar sua nave da lama – não acreditou na sua vontade potencialidade na Força – que entra na metafisica, onde há, o estudo do ser como ele é. Longe do ser é a realidade. Mas, arrisco dizer, que a primeira frase existencialista foi “conheça-te a ti mesmo” que Sócrates pegou do oraculo de Delfos e cunhou uma vida não examinada, não vale ser vivida. A fala do mestre Yoda é bem clara: se o Luke – ou qualquer padawan (discípulos jedis) – quiser erguer aquela nave, não importa o quanto ela é pesada, ele tem que examinar a si mesmo e interagir com a realidade. Você bebê água porque você interage com a realidade, você vive num mundo porque você interage com a realidade. Você vive na realidade e na mesma cena, quando Luke diz para Yoda que ele iria tentar, Yoda diz que tentar não existir, ou você faz ou você não faz.

Que acaba dizendo para todos nós, que as pessoas não têm que tentaram, mas achar meios de interagir mesmo com alguma deficiência.




domingo, 19 de dezembro de 2021

Por que escolhi ser filósofo?

 

Sócrates é um dos principais nomes da Filosofia




A vida não examinada não vale a pena ser vivida.

Sócrates

Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.

René Descartes

Muitas pessoas podem me perguntar: por que você escolheu fazer filosofia? Já que eu tenho curso de publicidade e técnico de informática e um outro curso de filosofia de especialização da filosofia da educação – todos técnicos – eu poderia fazer um curso especializado nesses três cursos. Mas, esses cursos foram tentativas de estrar no mercado de trabalho, por outro lado, temos uma sociedade capacitista (discriminam pessoas com deficiência) que acham que não somos capazes de arrumar redes ou computadores, ou montarem peças publicitarias dentro de uma agência. Aliás, dentro do mercado de publicidade e marketing, podemos dizer que existe muita vaidade estética e não fica bem tem pessoas com deficiência ou pessoas – com outro estilo de roupas ou com estilos diferentes de comportamento – dentro de um uma agência de publicidade. Como cultura – que a elite nem sabe o que é isso – somos atrelados ainda ao século 19 e tudo roda numa elite parada no tempo (que não deseja modernizar o Brasil).

Por muito tempo, achei que filosofia e deficiência fossem algo separados, mas, não são e são até compatíveis em contrapor algumas ideias da filosofia. Esteticamente, como disse anteriormente, somos rejeitados como pessoas “anormais” e que não servem para um serviço. Na publicidade, por exemplo, é toda construída em imagens romantizadas da estética perfeita, porque a essência da ideia publicitário – se é que podemos dizer assim – é feita de modo a sintetizar aquilo que convence. Muitas poucas agências de publicidade, fazem propaganda de cadeira de rodas ou de outras aparelhagens para pessoas com deficiência dentro dessa imagem perfeita. Porque um publicitário vive na mentira. Vive numa estética construída de um glamour que não existe. Talvez, eu seria um publicitário no modo de construir imagens bem, mas não me sentiria fazendo uma propaganda de cigarro vendo pessoas morrendo de embolia pulmonar. Ou fazer propaganda de bebida e vendo pessoas tendo cirrose. A mentira por questões financeiras – não haveria nenhum problema, se fossem empresas que usassem a propaganda como meio de divulgação mesmo – é uma questão ética, de Aristóteles, até Kant.

A filosofia vai além, diz que a pior mentira é aquela que contam para si mesmo. Convencer não é só uma arte de divulgar coisas – como se fosse algo necessário hoje em dia – para serem compradas, mas, pode ser ideias e um bom debate pode ser um bom divulgador. Os norte-americanos – porque americanos somos todos nós – inventaram a publicidade, pelo menos a profissional, para ser um meio de divulgar produtos. A coisa chegou até na política. A questão é: por que a publicidade tem esse glamour se a muito tempo se perdeu ele? Por que existem padrões de se vestir ou estéticos? A meu ver, a imagem do publicitário é muito romantizada e muito elitizada. Do mesmo modo do filósofo, que nada tem de diferente do publicitário. Aliás, tinha uma amiga portuguesa, que dizia que a publicidade tinha nada a ver com a filosofia. Hoje em dia, descordo.

Propaganda é um modo dialético. A peça publicitaria é a tese, você demonstra a tese que pode ser que se você beber uma certa marca de cerveja, você vai atrair mais mulheres e vai ser o fodão. A antítese vai dizer que tudo aquilo é uma mentira – e o é – e dizer que se você beber muita cerveja, você vai morrer de cirrose. Mas, além da dialética tem também a figura de linguagem, onde se exagera a realidade para convencer. Hoje em dia alguém acredita nisso? Não. Se acredita ou é muito ingênuo, ou simplesmente, tem uma deficiência mental. O fato é que existe um hiato se existe mesmo a realidade, ou são apenas ilusões da minha mente. O que é verdade ou o que é mentira? A peça publicitaria pode estar te dizendo que aquilo pode se realizar como pode, mas, pode não realizar e esse não realizar vai determinar a síntese. Ou seja, você pode concluir ou que você gosta dessa marca e consome (e isso acaba sendo um entretimento apenas), ou pode dizer que é uma grande mentira e beber um suco. Na verdade, a publicidade superestima a vontade humana.

A meu ver, a realidade é muito mais complexa do que pensamos, mesmo o porquê, a questão da publicidade me fizeram ver o mundo de ilusões da mídia onde um produto (que tem a ver com o gosto de cada um) pode virar uma necessidade. Mas, a técnica de informática (TI), me fez bem a logica, até mesmo, na minha escrita. Se você não programar direito, o computador não vai ler o código fonte do software e não vai funcionar, não vai entender a linguagem da programação. Por prestar atenção de cada detalhe da linha algorítmica – sim, o algoritmo é a linha da programação que o computador entende e aquele programa funciona – comecei a prestar atenção na minha leitura (leio livros melhor) e a escrita (escrevo melhor).

A programação e a computação me deram além da lógica – comecei a entender filmes como Matrix e Exterminador do Futuro – as questões metafisicas ficaram bastante claras. Já pensaram que nossa realidade, na verdade, são códigos e informações? A consciência – que, a meu ver, é o modo racional afetivo de ver e interpretar o mundo – seria o software que faz com que o cérebro tivesse um relapso temporal dentro da margem da realidade. Eu sei que o que esta nos meus ouvidos são fones, mas, também sei que a minha consciência esta me dizendo que esta me enviando a musica nos meus ouvidos é um instrumento chamado fones. Ouço música porque gosto, o meu gosto é o que satisfaz minha crença que eu tenho autonomia em ouvir o que eu quero. Mas, as pessoas colocam o som alto, os pastores gritam num culto, a moto faz barulho quando passa na minha rua. Onde está a minha autonomia em dizer que temos liberdade? A programação me mostrou isso. Além da linguagem e a codificação da realidade – pois, tudo não passa de codificação – também mostrou que tudo faz um conjunto, se as partes não operam juntas e cada uma fazer sua parte, será uma catástrofe.

Talvez, eu escolhi ser filósofo – ainda vou fazer mestrado – porque eu li Sócrates na primeira (só depois eu li os comentadores). E isso me deu uma base bastante solida do que eu queria ser e explorar. Será que existe uma verdade ou todo o universo é um grande mistério? Não sei.

 Amauri Nolasco Sanches Júnior




quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Tenho orgulho de ser cadeirante?

 






“Pois o homem é feito de banalidade, e nomeia o hábito a sua ama.”

FRIEDRICH SCHILLER



Amauri Nolasco Sanches Júnior 



Eu vi uma imagem com a frase: “orgulho de ser cadeirante” e fiquei refletindo sobre a banalização da inclusão de pessoas com deficiência. Mas, primeiramente, vamos refletir sobre o orgulho, que é uma coisa que podemos escolher. Podemos ter orgulho de sermos quem somos ou aquilo que conquistamos – no meu caso, bacharel em filosofia – mas não podemos ser orgulhosos daquilo que não escolhemos em ser. Algumas doutrinas espiritualistas – como o budismo e o espiritismo – diz que escolhemos condições para enfrentar e evoluir espiritualmente, aprender com as dificuldades. Se for assim, poderíamos escolher algo melhor como ser cadeirante para aprender o que aprendi? Se for assim e se for verdade, o orgulho é valido, se não é verdade, então, não podemos ter orgulho daquilo que não sabemos se escolhemos ou não. mesmo assim, tem a ver com as escolhas que fazemos. 

Mas, como ter orgulho daquilo – aparentemente – não escolhemos? Como fazer as pessoas aceitarem a deficiência sem ser orgulhoso? Talvez, dentro de cada um e seus valores, poderíamos olhar a deficiência como uma condição e não aquilo que somos. Não somos a nossa deficiência. Como eu disse no meu livro – Tratado sobre o Capacitismo (2016) – a questão de sermos deficientes depende do que se entende como imagem de uma pessoa que tem deficiência. Assim, começo meu livro dizendo que não se nasce com deficiência, mas a imagem da deficiência vai sendo construída ao longo do processo social de construção de valores. Isso gera o fenômeno do capacitismo. Por quê? Todo preconceito e discriminação, vem do fato de conceitos que estão na sociedade mundial a muito tempo e com o tempo, foi se tornando uma coisa muito “normal”.  O capacitismo tem uma característica interessante, ao contrário de outras discriminações, ela começa com um processo de piedade. Porque, biologicamente, somos seres indefesos e que precisamos de defesa. Acontece, que no princípio da humanidade – assim como outros animais – éramos largados no caminho porque não éramos vantagem nem para o clã e nem para a natureza. Com a modernidade – mais ou menos, no fim da era medieval – que novas tecnologias estavam chegando. Mesmo assim, só em meados do fim do século 20, que ganhamos status de pessoas. E olhe lá. 

Mas, como é o processo de se ver o normal e o anormal dentro de uma sociedade? Será que isso tem a ver com nossa biologia? Platão diria que não existe a maldade e sim, existia a ignorância. Seu aluno, Aristóteles, dizia que o ser humano tinha o desejo de saber. Isso porque, somos animais conscientes e podemos distinguir um objeto do outro. A meu ver, sem esse aprendizado e sem essa vontade de saber, somos levados mais ao instinto e tem uma outra coisa. Pesquisas mostram que o ser humano não toma sua decisão só por causa da sua racionalidade, mas ele toma sua decisão por causa do afeto daquilo, pois, você tem que sentir empatia por causa daquilo. Não temos vontade só por causa da racionalidade, temos vontade porque sentimos afeto. Por isso mesmo, esse objetificação das pessoas e não se apegar a objetos ou pessoas, tem um lado perigoso de criarmos gerações de apáticos e antissociais. 

Acessibilizar uma cidade ou um bairro, tem a ver com a empatia que você sente por pessoas com deficiência. O capacitismo, num modo geral, tem um lado biológico (que o ser humano rejeita o diferente ao ponto de sentir asco) e ao mesmo tempo, temos uma imagem social que sente piedade. Ai que o bicho pega, porque para a sociedade deveríamos estar em nossas casas e não “atrapalhar”. As pessoas com deficiência são sofredoras – lembra da biologia? – porque não podem exercer sua liberdade. Aí podemos até analisar o que seria liberdade? Poderíamos dizer, como a maioria “acha”, que liberdade é fazer o que quiser. Mas, será que fazemos o que queremos? Será que não somos condicionados em acreditar nisso? Se fazemos o que queremos, então, temos a liberdade do suicídio e se matar. Camus disse que, existe um problema de verdade dentro da filosofia que é o suicídio. Ali o individuo avalia se sua vida vale a pena ou não, mas, existe uma consequência, de fazemos uma escolha errada. Daí o nome do livro que ele fala isso: O Mito de Sísifo. 

Sísifo era um rei bastante poderoso, mas, ele queria ser comparado como um deus e Zeus não gostou nada disso. Resumindo bastante a história, Zeus e todos os outros deuses, condenaram Sísifo a carregar a pedra até o cume da montanha e depois ele assiste a pedra rolar até lá embaixo de novo. E Camus, faz uma reflexão dizendo – daí cabe a condição de cadeirante – que, talvez, Sísifo amenizou a questão pondo uma certa conformidade dentro daquilo tudo. Ele vivia em paz, porque viu que ele não se conformando, a tarefa era mais árdua e difícil. Então, talvez, “ser um cadeirante” é ser como Sísifo em carregar a pedra até o alto da montanha, mas que ela não para lá no cume da montanha. Ou seja, a deficiência é uma realidade. Mas, podemos nos perguntar: Sísifo tinha orgulho de carregar eternamente a pedra? Não, ele tinha orgulho de ser rei. 

Qual o critério de ter mérito ou demérito dentro de “ser cadeirante”? Mérito é aquilo – que muitos dizem – se conquista e não se conquista “ser cadeirante”, se é. Aliás, esse “ser” é muito estranho, porque somos cadeirantes como condição, mas “ser um” é uma condição inata. Não é. A cadeira de rodas é um objeto do uso, mas não é o que somos, é um instrumento virtual (no sentido de ser um potencial instrumento de locomoção). Ter orgulho de usar um instrumento – como essencial para a locomoção – não faz sentido. Eu, por exemplo, posso ter orgulho de estar fazendo bacharelado de filosofia, mas é uma escolha estudar filosofia e poder ostentar isso aos outros. O “ser cadeirante” é, talvez, uma condição que nos acostumamos e fazemos dela (como adaptação) algo para ser feliz. Não amo minha deficiência, eu apenas, faço dela um aprendizado todo dia. É um instrumento como a cadeira de rodas. 




sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Os Correios e a ética

 

 





A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.

Blaise Pascal

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Eu venho reclamando a vários anos da empresa estatal Correios de não entregarem no meu CEP, já que na minha região não é uma região de risco. Mesmo que fosse, vários entregadores entregaram – até mesmo tarde da noite – nunca foram assaltados ou que alguém tomou a mercadoria. E não vem do governo do Estado atual, com o governador João Doria Jr (PSDB) ou do governo atual do presidente Jair Bolsonaro (PL), isso vem de muitos anos e vem se arrastando ate mesmo nos governos de esquerda, na qual, tudo começou. Aliás, uma questão bastante interessante é: por que nos governos de esquerda a criminalidade aumenta? Porque o problema começa, exatamente, com o governo petista onde em várias regiões de São Paulo começaram a aumentar a criminalidade.

Claro, seria muito melhor com o estado que temos – com gastos das deficiências sociais, que o próprio estado cria para se autoafirmar e dominar pela ignorância – ter empresas estatais que dessem lucros e que mantivessem os inúmeros programas sociais que temos. Mas, não podemos esquecer, que quando você contrata um serviço – e pagamos frete, não é de graça – queremos que a empresa funcione e faça a entrega que você encomendou na sua casa. Ainda mais eu sendo cadeirante e tendo de comprar só em lojas que não fazem entrega nos Correios, porque o meu produto não vai chegar. Então, como fica? Imagina como eu fiquei na pandemia, isolado e sem comprar coisas porque as lojas só entregavam pelo Correios. Não está na hora de se pensar em privatizar essa empresa para melhor ingerir as cartas e as encomendas?

Muitas pessoas dizem que existem regiões que ainda escrevem cartas – que não tem condições financeiras, exatamente, pela incompetência de um estado que não provem educação, saúde e segurança (além de abrir para a indústria e gerar emprego) – e que, ficaria muito caro essas cartas serem mandadas. Primeiro, se uma empresa for publica, na lógica de qualquer governo, esse tipo de serviço seria de graça, pois você paga com o imposto que vem e tudo que você compra. Se é para pagar, você compra da iniciativa privada. Além do mais, existe a competência do funcionário que ou trabalha com eficiência – dando ao cliente o que deseja – ou abre vaga para quem trabalha direito e as empresas estatais são um antro de cabide de emprego. Muitas pessoas trabalham dentro dos governos e das empresas estatais por indicações e não porque fizeram concurso público. Muito poucos passam em um concurso público. Agora – como todo texto meu – tem a parte que não aprendemos na escola, porque tem a ver com a ética.

Podemos dizer dentro daquilo que eu estudo – mesmo o porque, sou um filósofo – que a ética são estudos no campo moral. Ou seja, é um estudo bastante aprofundado daquilo do comportamento e do caráter. Assim, a ética no modo filosófico procura descobrir o que motiva cada individuo de agir em determinado jeito, diferencia também o que significa o bom e o mau, e o mal e o bem. A meu ver, há ética mede o caráter que é construído a partir do ponto da ação de um indivíduo, ou seja, uma harmonização dentro do corpo social. Por mais que eu seja contra o estado e suas resoluções – que são péssimas para pessoas como eu, com deficiência – a questão do corpo social é uma realidade e a ética é um meio de medição daquilo que cada um mede e sabe que vai ou não fazer.  Isso, mais ou menos, se constrói na infância da pessoa.

Sim eu sei, esse tipo de ética foi construído dentro da filosofia antiga e que visava uma harmonia muito melhor dentro do escopo social. Há diferenças gritantes dentro da antiguidade e dentro da contemporaneidade – pelo menos, na maioria dos países – onde o cidadão hoje, tem liberdade – bem relativa – de se expressar e de fazer o que deseja. Ora, só que a liberdade pressupõe responsabilidade e empatia com o outro que compartilha do convívio social e muitas vezes, não se tem essa empatia. E se o carteiro – que anda ou não tem nenhuma deficiência ou ninguém com deficiência da sua família – não quer entregar uma encomenda ou uma carta, com quem devemos reclamar? E a ética do carteiro que não quer fazer o serviço? São questões, que muitas vezes, não fazem parte do ensino nas escolas e muitas vezes, a ética não faz parte da grade universitária de qualquer curso. Porque tem a ver com escolhas e as escolhas podem prejudicar o outro, podem ferir o outro ou pode, não ser ético como forma moral daquilo se universalizar (como idealizou Kant). Universalizar um ato é ensinar as próximas gerações e é isso que é o ato de educar, o ato de colocar para as próximas gerações, o respeito. A maioria dos brasileiros, são muito mal-educados, não tem nenhuma empatia.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Capacitismo – entre a certeza e a verdade

 







Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Hegel dizia que existia, na história do pensamento, um hiato entre a certeza e a verdade. Isso é certo, pois, desde os gregos os seres humanos tem experimentado uma realidade mais racionalizada e não a toa – porque correntes espiritualistas dizem que tem a ver com reencarnações – a modernidade recuperou essa racionalidade tirando um pouco do misticismo teológico. Não que é certo ou errado, mas, aquilo que deve ser pensado como formas de equilibro entre a fé e a razão, que construíram todo o pensamento de Santo Agostinho. Segundo o pensamento moderno, aquilo que se faz na certeza é o senso comum, porque a certeza tem a ver com uma subjetividade de cada um como individuo que faz toda uma trajetória de construção de valores e assim, enxerga o mundo na ótica desses valores. Como se fosse uma lente onde se ela for azul, vai enxergar um mundo azul, se for de outra cor vai enxergar um mundo dessa cor.

Sócrates de Atenas, levou isso a última consequência graças a descrição dos portões do Oraculo de Delfos, pois, “conheça-te a ti mesmo” é um convite para se auto examinar. Na verdade, o “conheça-te a ti mesmo” é uma parte da afirmação dos portões do oraculo, ainda tem o assim conheceras o universo e os deuses. Ou seja, a realidade como o ser universal e a potencialidade racional e afetiva humana de se auto afirmar e ser dominante das suas próprias escolhas. Mas é muito difícil você se auto afirmar dentro da realidade e não colocar todas as suas decisões da sua vida em outros seres humanos, em sábios que descobriram esse segredo. Foram 100 mil anos de tutela do estado onde se construiu uma infantilidade e uma dependência cômoda em defesa, em educação e em saúde, como se essas três coisas não fossem problema de uma sociedade também. Todo ser humano deveria se olhar e dizer se se conhece de verdade, ou isso tudo é uma grande ilusão da parte de um discurso predominante.

Daí, entendendo a posição de Sócrates, seu maior discípulo, Platão, onde se construiu o mito da caverna onde tudo não passa de sombras. A releitura moderna contemporânea é obras como Matrix, que além de levar essa teoria das formas em última consequência, ainda emenda com a teoria do conhecimento e muitas outras. Mas, o ponto chave era o mundo das maravilhas de Alice, onde Alice cai num buraco por curiosidade e começa a ver um mundo onde se quebra com qualquer certeza. As certezas se diluem como gelo que derrete graças ao calor. Mas ainda assim, o ser humano insiste em afirmar, que há certezas e essas certezas têm que predominar. Paul Ricoeur disse em um dos seus livros – de um estudioso de Platão que não vou me lembrar – que Platão pegou o termo “idea” do senso comum que queria dizer o contorno de uma forma. Ora, então, quando você tem uma ideia, você tem uma forma de solucionar aquilo com racionalidade e com conhecimento seu, pois, cada um tem uma forma de ver o mundo, mas, existem verdades que não se pode questionar sem o conhecimento.

Uma semente cai na terra e vira uma arvore. Uma folha se transforma em uma flor em um botão (para fecundar outras flores). O Sol ilumina e a noite escurece. Isso são verdades a priori (que não precisa de experiência para acontecer ou ser comprovada). Mas, essas verdades são ligadas com a realidade que se confundem com as certezas, porque uma semente tem tendência de virar uma arvore, por exemplo, porque já se viu uma semente virar uma arvore. Assim como já se viu o Sol iluminar o dia. Mas, certezas não são nenhuma garantia de verdade, como se aquele termo é ofensivo ou não, logo, temos que examinar a intensão de quem disse o termo. Ai que entra o capacitismo – formas de discriminar uma pessoa com uma deficiência – onde existem certezas (formas subjetivas de entendimento) e a verdade (forma universal de ver a realidade).

Um preconceito pode ser por discurso ou pode ser por gestos, que podem caracterizar como violentos ou não. Ter certeza nem sempre é ver a verdade, porque a certeza não passa de visões subjetivas de algo que não aceitamos ou que não gostamos, ai vira como algo seja de discriminação e as vezes, não é. O novo filme do comediante Leandro Hassum é um filme sobre um cardiologista, viúvo, que acha um celular de uma advogada e devolve, começando um relacionamento. O que pegou no filme e as críticas vieram, que o cardiologista é um anão (pessoa com nanismo) e que fez muitas pessoas dizerem que não deveriam fazer comedia com anão, que há muitas ofensas e estereótipos que permeiam na humanidade desde muitos milênios. Do mesmo modo que uma pessoa com deficiência. não poderia ser diferente, pois, o médico deveria superar o seu orgulho de pedir ajuda e se aceitar. Aceitar que tem nanismo. Aceitar que não é igual ninguém. Aceitar ser único e que não pode e não tem o porquê ser igual a ninguém. Aliás, nunca entendi esse papo de inclusão, eu não quero participar de uma sociedade maluca, neurótica e que não tenha discernimento o que é a verdade e suas certezas dogmáticas.

O filme não discrimina ninguém, não gera desconforto de quem assiste e fala exatamente o que acontece – que as pessoas não gostam de ver a verdade – que quem se sente discriminado são as pessoas mau resolvidas, pessoas que não se aceitam ou aceitam suas origens. Aceitar suas origens sempre é um convite para gerar autoestima e fazer o que Sócrates fazia, conhecer a si mesmo, conhecer seus limites e viver com eles. Por isso existe a certeza, pois, na internet esta cheio de pessoas que tem a certeza de saberem aquilo que não sabem e existe a verdade, que é aquilo de fato, aquilo que vai te machucar num primeiro momento, mas no outro vai te mostrar a realidade e você ficara muito mais forte.