Por Amauri Nolasco
Sanches Júnior
Muitas pessoas acham
que só existe filosofia nos filmes cult ou em filmes chatos e parados e acho
isso um saco. Nunca gostei de filme cult. Mesmo o porquê, os filmes cults te
remetem a um mundo que o intelectual entende e não sou um intelectual, sou um filósofo.
Não me venham com essa conversa que filósofos gostam de filmes cult, porque sou
um filósofo diferenciado, ou seja, tiro filosofia em filmes sangrentos e que a
maioria dos “intelectuais”, acham não bons. Filmes de ação fala de sentimentos,
sentimento do herói, sentimento que o herói – isso vem desde os gregos – vai vencer
para mostrar que não se pode deixar o malvado vencer.
Claro que a jornada do herói é muito mais do que essa
dicotomia. Tem a ver com o crescimento e a astucia com que ele lhe lida e se
glorifica para sempre – na visão grega. Conan, o bárbaro – de 1982 – é um filme
que já ficou no hall dos clássicos e é baseado, assim como os HQs, nos contos
de Robert Howard e que virou um livro. A história se passa logo depois que os
mares engoliram Atlântida e os filhos de Aria começaram a dominar o mundo
conhecido – inclusive, li uma vez (depois não encontrei mais) que Howard jurava
que as eras que ele retratava eram verdade por causa de textos que ele tinha
comprado de um homem que encontrou em uma gruta, ou coisa parecida – e dominaram
os reinos que eram dos atlantes. A Atlântida foi relatada por Platão como um
reino prospero e que foi uma civilização que afundou em uma noite – arqueólogos
dizem não ter encontrado nada na região descrita – e que estudiosos dizem que o
filósofo teria lido no Egito (vale lembrar que estudiosos dizem que a Esfinge é
muito mais antiga do que a própria civilização egípcia).
Outra característica do filme é que o mocinho não é tão bonzinho
e isso me atrai. Os anti-heróis me atraem bastante e Conan é um deles, mesmo o porquê,
Howard transformou o seu personagem em um bárbaro justo, mostrando que os grandes
reinos e a civilização corrompem a essência do ser humano. Muitos caíram na
armadilha de achar que Howard teria criado um bom selvagem ala Rousseau –
existem milhares de textos demonstrando isso – mas não, Conan é completamente
nietzschiano. Tanto, que o próprio diretor do filme – que não lembro o nome –
percebeu e fez o filme em torno da frase do livre Crepúsculo dos Ídolos de Nietzsche,
“o que não me mata me fortalece”. Aliás, essa é uma parte da frase, ela toda é
assim: “Da escola de guerra da vida. — O que não me mata me fortalece”.
Ou seja, “da escola de guerra da vida” transforma,
completamente, o aforisma, porque mostra a visão de Nietzsche sobre a vida. A vida
é uma guerra para afirmar suas escolhas e essas escolhas, se não te matam, te
deixam mais fortes. As pessoas hoje em dia, não querem sofrer e só querem a
alegria – porque a felicidade não existe em forma plena – então, não podem ser
contrariadas ou resolver problemas. Frustrações são normais quando não dá certo,
assim como, os problemas existem soluções. Conan foi um menino que viu os pais
serem mortes, virou escravo, lutador, depois vagou pelo mundo livre e fez suas
escolhas, erradas ou não. Ainda, descobriu o Enigma do Aço que consistia na
seguinte pergunta: o que é mais forte, o aço ou a carne? A carne. Pois, sem a vontade
humana, não existiria tem o aço ou as coisas que estão ao nosso redor. Mas,
mostra a superação de Conan em enfrentar a verdade e ele foi rei pelo seu próprio
esforço.
Existe um outro pensamento de Nietzsche que fala que, não saber
o que ele é, mas, tem certeza do que ele não queria se tornar. Aquilo que tanto
Conan não quis se tornar, ele se tornou. Norte-americanos tem um hábito de
fazer filmes binários em mostrar dois lados – que, na maioria das vezes, acabam
sempre indo para um lado ideológico – entre o bem e o mal, que filmes como do Conan,
ficam confusos e acabam sendo uma péssima educação. Por que se deve existir o
bem e o mal? Por que o Conan deve ser o herói? Não é só o filme do Conan, Star
Wars segue o mesmo problema, pois, tem a ver com a liberdade e as escolhas que
essa liberdade vai te trazer. O existencialismo – na qual, Nietzsche faz parte –
coloca o ser humano como seres em construção em todo o momento e chega a dizer,
em Sartre, que somos aprisionados a sermos livres.
Mas, o que é a liberdade? Conan não pode escolher não ser
escravo, não pode escolher não perder a mulher que ama, mas, escolheu lutar e
ser o que era. A liberdade é o que somos. Ainda, por fim, mostrou que o rei
bruxo era apenas um homem que dominava pelo discurso. Mostra que poder era
humano, os humanos inventam narrativas para dominarem melhor, o medo é um
discurso eficaz para dominar. Conan mostra que destruindo esse discurso não acontece
nada.