Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Hegel dizia que existia, na história do pensamento, um hiato
entre a certeza e a verdade. Isso é certo, pois, desde os gregos os seres
humanos tem experimentado uma realidade mais racionalizada e não a toa – porque
correntes espiritualistas dizem que tem a ver com reencarnações – a modernidade
recuperou essa racionalidade tirando um pouco do misticismo teológico. Não que
é certo ou errado, mas, aquilo que deve ser pensado como formas de equilibro
entre a fé e a razão, que construíram todo o pensamento de Santo Agostinho. Segundo
o pensamento moderno, aquilo que se faz na certeza é o senso comum, porque a
certeza tem a ver com uma subjetividade de cada um como individuo que faz toda
uma trajetória de construção de valores e assim, enxerga o mundo na ótica desses
valores. Como se fosse uma lente onde se ela for azul, vai enxergar um mundo azul,
se for de outra cor vai enxergar um mundo dessa cor.
Sócrates de Atenas, levou isso a última consequência graças a
descrição dos portões do Oraculo de Delfos, pois, “conheça-te a ti mesmo” é um
convite para se auto examinar. Na verdade, o “conheça-te a ti mesmo” é uma parte
da afirmação dos portões do oraculo, ainda tem o assim conheceras o universo e
os deuses. Ou seja, a realidade como o ser universal e a potencialidade
racional e afetiva humana de se auto afirmar e ser dominante das suas próprias escolhas.
Mas é muito difícil você se auto afirmar dentro da realidade e não colocar todas
as suas decisões da sua vida em outros seres humanos, em sábios que descobriram
esse segredo. Foram 100 mil anos de tutela do estado onde se construiu uma
infantilidade e uma dependência cômoda em defesa, em educação e em saúde, como
se essas três coisas não fossem problema de uma sociedade também. Todo ser
humano deveria se olhar e dizer se se conhece de verdade, ou isso tudo é uma
grande ilusão da parte de um discurso predominante.
Daí, entendendo a posição de Sócrates, seu maior discípulo, Platão,
onde se construiu o mito da caverna onde tudo não passa de sombras. A releitura
moderna contemporânea é obras como Matrix, que além de levar essa teoria das
formas em última consequência, ainda emenda com a teoria do conhecimento e
muitas outras. Mas, o ponto chave era o mundo das maravilhas de Alice, onde Alice
cai num buraco por curiosidade e começa a ver um mundo onde se quebra com
qualquer certeza. As certezas se diluem como gelo que derrete graças ao calor. Mas
ainda assim, o ser humano insiste em afirmar, que há certezas e essas certezas têm
que predominar. Paul Ricoeur disse em um dos seus livros – de um estudioso de Platão
que não vou me lembrar – que Platão pegou o termo “idea” do senso comum que
queria dizer o contorno de uma forma. Ora, então, quando você tem uma ideia, você
tem uma forma de solucionar aquilo com racionalidade e com conhecimento seu,
pois, cada um tem uma forma de ver o mundo, mas, existem verdades que não se
pode questionar sem o conhecimento.
Uma semente cai na terra e vira uma arvore. Uma folha se
transforma em uma flor em um botão (para fecundar outras flores). O Sol ilumina
e a noite escurece. Isso são verdades a priori (que não precisa de experiência
para acontecer ou ser comprovada). Mas, essas verdades são ligadas com a
realidade que se confundem com as certezas, porque uma semente tem tendência de
virar uma arvore, por exemplo, porque já se viu uma semente virar uma arvore. Assim
como já se viu o Sol iluminar o dia. Mas, certezas não são nenhuma garantia de
verdade, como se aquele termo é ofensivo ou não, logo, temos que examinar a intensão
de quem disse o termo. Ai que entra o capacitismo – formas de discriminar uma
pessoa com uma deficiência – onde existem certezas (formas subjetivas de
entendimento) e a verdade (forma universal de ver a realidade).
Um preconceito pode ser por discurso ou pode ser por gestos,
que podem caracterizar como violentos ou não. Ter certeza nem sempre é ver a
verdade, porque a certeza não passa de visões subjetivas de algo que não aceitamos
ou que não gostamos, ai vira como algo seja de discriminação e as vezes, não é.
O novo filme do comediante Leandro Hassum é um filme sobre um cardiologista, viúvo,
que acha um celular de uma advogada e devolve, começando um relacionamento. O
que pegou no filme e as críticas vieram, que o cardiologista é um anão (pessoa
com nanismo) e que fez muitas pessoas dizerem que não deveriam fazer comedia
com anão, que há muitas ofensas e estereótipos que permeiam na humanidade desde
muitos milênios. Do mesmo modo que uma pessoa com deficiência. não poderia ser diferente,
pois, o médico deveria superar o seu orgulho de pedir ajuda e se aceitar. Aceitar
que tem nanismo. Aceitar que não é igual ninguém. Aceitar ser único e que não pode
e não tem o porquê ser igual a ninguém. Aliás, nunca entendi esse papo de inclusão,
eu não quero participar de uma sociedade maluca, neurótica e que não tenha discernimento
o que é a verdade e suas certezas dogmáticas.
O filme não discrimina ninguém, não gera desconforto de quem
assiste e fala exatamente o que acontece – que as pessoas não gostam de ver a
verdade – que quem se sente discriminado são as pessoas mau resolvidas, pessoas
que não se aceitam ou aceitam suas origens. Aceitar suas origens sempre é um
convite para gerar autoestima e fazer o que Sócrates fazia, conhecer a si mesmo,
conhecer seus limites e viver com eles. Por isso existe a certeza, pois, na
internet esta cheio de pessoas que tem a certeza de saberem aquilo que não sabem
e existe a verdade, que é aquilo de fato, aquilo que vai te machucar num
primeiro momento, mas no outro vai te mostrar a realidade e você ficara muito
mais forte.
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