sábado, 27 de julho de 2024

EMILIO SURITA E A PAUTA WOKE

 




Gilles Deleuze (1925-1995) disse sobre a filosofia:

 

““Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. (…) Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso.”

 

E Deleuze tem razão, a filosofia não serve para nenhum poder estabelecido. Outro filosofo – que esqueci o nome – dizia que a etimologia já mostra o quanto a filosofia se impõem, pois, a filosofia não é amor ao poder, a filosofia não é o amor a tolice ou ao simples conhecimento, mas, o amor a sabedoria. O saber não é o mesmo do conhecer, o saber é algo natural do ser humano (por isso o ser humano é o único animal de ter consciência de si mesmo). Deleuze também fala sobre quando diz que a filosofia <<faz da tolice algo vergonhoso>>. Por isso mesmo, a meu ver, os filósofos não deveriam ter nem pretensões ideológicas e nem pretensões religiosas. Pois, a filosofia denuncia a tolice do fanatismo e da pretensão de ser um líder, um filosofo nunca é o detector dessa sabedoria.

Deleuze – em uma entrevista postada no YouTube – disse que não existe governo de esquerda, pois, se a esquerda está no poder, ela se transforma em situação e para de denunciar. Ora, não é uma verdade? eu sempre aprendi que a esquerda representava mudança e a direita representava o status quo. Ao que parece, temos conservadores que se casam várias vezes (se não tem amante), e existem de esquerda que defendem uma identidade nacional. No Brasil, pela falta de uma educação de verdade e leitura de bons livros, se confunde esquerda com comunismo e direita conservadora com tradicionalismo. E ainda pior, transformaram conservadores em defensores morais (pautas morais não são discussões politicas) e liberais em meros pensamentos econômicos, que, sem duvida nenhuma, é uma grande tolice.

O caso do Emilio Surita (Pânico) nessa semana tem a ver com uma pauta não socialista – como ele mesmo deu a entender – mas, uma pauta woke de representação. O famoso “politicamente correto”. Mas, como todo movimento, tem sua genealogia e tem a ver com o estruturalismo e pós-estruturalismo. Porque a direita – principalmente a olavista (Olavo de Carvalho) – fica pregando um discurso “Vida Intelectual”, mas, na prática, se agarra em respostas fáceis dentro de problemas muito complexos. Ora, tudo começa com a questão estruturalista, quando o linguista Ferdinand de Saussure disse que haveria um significante e o significado. Daí – com Claude Levy-Strauss – se propôs a investigar os elementos culturais e da sociedade devem ser entendido em relação às estruturas subjacentes que os sustentam. Essas estruturas são vistas como sistemas de relações que dão sentido aos elementos individuais.

Já o pós-estruturalismo surge como uma crítica ao estruturalismo. Muitos nomes da filosofia contemporânea fazem parte desse movimento como Michel Foucault, Jaques Derrida e Gilles Deleuze questionaram a ideia de estruturas fixas e universais. Eles argumentam que o significado é sempre estável e que as estruturas são construções sociais que podem ser desconstruídas para revelar suas contradições e complexidades. Já o desestruturalismo ou desconstrução tem a ver com Jaques Derrida que desenvolve uma análise crítica das estruturas de pensamento e linguagem para mostrar como elas são construídas e como podem ser desconstruídas. Mas essa desconstrução pode revelar várias ambiguidades e as múltiplas interpretações possíveis de qualquer texto ou discurso.

A questão é bem mais complexa do que imaginamos, pois se devemos desconstruir qualquer discurso que tendemos ouvir, então, os discursos do wokes podem ser desconstruídos também. Vejamos: a representação de uma deficiência, por exemplo, tende a ser uma representação daquilo que falta dentro de uma representação daquilo que seria perfeito. A deficiência acaba sendo estigmatizada como inutilidade e improdutividade. O preconceito não é um ato linguístico só de representação, seria um ato de hostilizar ou não uma pessoa diferente. A representação e o nome (termo representativo) só é um nome, para determinar tal coisa. Não tem a ver com inclusão. Inclusão é o respeito que se tem com o outro. O outro representa a realidade.

A discussão sobre a pauta woke (ou politicamente correto), tem a ver com a representação. Uma imitação pode ser considerada como uma representação da persona da pessoa? Ou pode ser considerada como uma caricatura? Do mesmo modo, a representação de drags queens na santa ceia não pode ser ofensivo, porque é uma representação daquilo que pode ter um simbolismo (como a partilha do pão [corpo] e o vinho [sangue] de Jesus o Cristo). Ai nós desconfiamos que essas defesas tem a ver com discursos ideológicos – seja lá que lado você defenda – onde um lado defende o outro como discurso político e não defesas de posições politicas de tradição (qual a tradição brasileira mesmo?) ou contradição.  

 


quarta-feira, 24 de julho de 2024

O SAMURAI DE OLHOS AZUIS E O PROBLEMA DA VERDADE

 

 


Nesses dias assistindo a seria O Samurai de Olhos Azuis (da Netflix) me deparei em uma nova proposta de animação e numa nova maneira de construção de animação. Ora, quem sabe um pouco de gráfico (por eu ser publicitário também) com certeza os gráficos foram feitos por computação gráfica. Mas, a história é muito bem construída e mostra um Japão invadido por europeus gananciosos no século quinze e dezesseis, que não queriam só comercializar suas especiarias, mas, queria também dominar o oriente (como acabaram fazendo com o capitalismo ocidental). Isso também é mostrado na série Shogun (que ainda não vi).

Mizu é um espadachim habilidoso e achava que só isso bastava para ser um samurai. Por ter nascido de olhos azuis em um Japão que não queria ser colonizado – quem quer? – foi sempre hostilizado como uma aberração (como, recentemente, se descobriu que olhos azuis é uma anormalidade do ser humano). Mas, também, era fruto de uma violência contra sua mãe por um europeu britânico e era uma menina, porém, sua mãe a criou como um menino. Sem spoiler (vejam a serie na Netflix), vamos ao foco do texto: a verdade. será que a vingança de Mizu era uma verdade universal ou subjetiva?

No livro O Problema da Verdade de Jacob Bazarian – um livro que estou lendo em e-book no notebook – ele explora a questão da Teoria do Conhecimento. Então, no primeiro capítulo, ele faz a seguinte pergunta: <<Qual o motivo determinante dessa aspiração natural ao conhecimento?>>, pois, segundo ele <<Aristóteles considerava que o desejo do saber, a curiosidade espontânea para o conhecimento é inato do homem, isto é, inerente à natureza humana. Ele afirmava que “ foi a admiração que moveu os primeiros pensadores às especulações filosóficas”>>. Mas, ficaremos na pergunta, pois, faz parte sobre a Mizu e sua vingança sobre seu nascimento. Por que temos a aspiração de conhecer a realidade e curiosidade de conhecer mais?

Mizu por estar numa posição de “diferente” – porque não existia japonês com olhos azuis – ela se sentia menos e tinha que aprender a arte da espada para se sentir grande. Só que um samurai (mesmo Ronin) não era só a katana, mas, também teria que aceitar o preceito da honra que faz parte do bushido. O bushido é literalmente “o caminho do guerreiro” que seria um conjunto de código de condutas e o modo de vida de um samurai (muito parecido com o Código Jedi da saga Star Wars). Muito parecido com o conceito do cavalheirismo (dos cavaleiros medievais), o bushido define alguns parâmetros para os samurais viverem e morrerem com honra. Tem origem de um código moral dos samurais, enfatiza frugalidade, fidelidade, artes marciais, mestria e honra, até mesmo a morte (muitos optavam o suicídio do que ser capturado). O código moral foi influenciado pelo budismo, xintoísmo e confucionismo, o bushido foi um código que moldou toda a casta guerreira japonesa por séculos. Mesmo os ronins (samurais sem clãs ou mestres).

Mizu só descobriu isso após Ringo – o cozinheiro sem as mãos – dizer que ela não era um samurai de verdade, pois, não tinha honra. Só queria uma vingança, mas, Ringo queria ser “grande” e tentou outro mestre (que praticamente, criou Mizu). O “pai das espadas” era cego, mas muitos o procuravam para fazer suas katanas e o fazia como ninguém. Como? O tempo da martelada. Conhecer o som era importante para saber como fazer e moldar a espada, como um limiar de uma vocação. Ringo, sem as mãos, era um cozinheiro habilidoso e fazia macarrões como ninguém. Mas, gostava da ideia de se transformar em um guerreiro, que na visão dele, era ser “grande”. Nesse caso, conhecer é superar dificuldades de que nos encontramos. Por eu andar numa cadeira de rodas, sei como rodar as rodas e tomar o controle. Tem pessoas que se sentam em uma cadeira e não sabem.

O conhecimento tem a ver com a realidade (aquilo que a consciência capta) e então, talvez, possa ter uma realidade objetiva (que existe independente da sua consciência) e uma realidade subjetiva (que existe dependente da sua consciência). Mizu poderia ter relavado os bullyings que sofreu, o que sua dor fez foi moldar seu caráter em vingar e querer matar seu pai biológico. Ora, a dor fez outra coisa, fez com que ela aprendesse a arte da katana, ser um samurai ronin, ser habilidosa em alguma coisa. Como Ringo pode amarrar sua faca no final do braço (no lugar da mão) e cozinhar, como o “pai das espadas” e com o barulho da martelada saber o tempo certo de cada modelagem. A questão que nesse intuito, sempre teremos que aprender a nos adaptar dentro daquilo que nos adaptamos melhor.

Platão no diálogo Teeteto, Sócrates inicia o diálogo com a pergunta: “O que é o conhecimento?”. Será que essa pergunta tem resposta? Nesse diálogo, tudo gira na frase de Protágoras (sofista) que dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Platão pergunta através de Sócrates como um problema: estamos falando do homem como individuo ou como espécie? Mesmo porque, o objetivo de Platão é a alma, pois, em sua crença, o mundo em que o corpo está é um teatro de sombras (como no Mito da Caverna). Porque, enquanto olhamos as coisas e nos enganamos, podemos fechar os olhos e nos voltar para nós mesmos (conhecer a si mesmo), para nossa alma. Onde Platão diz que está a realidade. Ou seja, o filosofo grego nos diz que devemos abandonar a experiencia (o sensível). No platonismo, a alma seria o conhecimento, pois se baseia em aspectos universais, por outro lado, o corpo seria a doxa (o que falam de...).

Não podemos deixar de comparar o platonismo (que veio do lado mais místico do pitagorismo) com preceitos budistas. Mas há uma diferença: para Platão há uma realidade superior e que tudo pode ser ilusão, para Buda a ilusão não é ruim. Ela só é vazia. Por isso o não apego aquilo que não somos nós, porque aquilo não nos pertence e é impermanente. Mizu se iludi que matando seu pai vai trazer paz, mas sem essa ilusão, Mizu era só mais uma mulher usada e hostilizada por ter olhos azuis (uma aberração). Sem a ilusão Ringo era só mais um cozinheiro. Buda, assim como Jesus Cristo (um homem são não precisa do medico), mostra que a ilusão (assim como o sonho) não vai durar para sempre, um dia acaba e voltamos para o real. Platão diz que o corpo é a prisão da alma.

Nesse caso, o conhecimento (episteme) tem a ver com aquilo que queremos saber para ter certezas, ter certeza que somos humanos e não seres aberrantes ou não humanos. Os olhos azuis de Mizu fez ela superar a condição ilusória de tradições milenares que as mulheres não teriam habilidades, não teria meios de guerrear e buscar sua meta. Mesmo que essa meta é a morte do seu pai, que acredita, gerou a sua dor.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

OS SABERES DAS REDES E EPISTEMOLOGIA DO COMENTARIO

 






A primeira regra da internet: não leia os comentários.

WiFi Ralph: Quebrando a Internet

 

Poderemos começar com a nossa investigação com a seguinte pergunta: o que deveria ser um comentário? Um comentário pode ser um conjunto de várias observações que uma pessoa pode fazer sobre um determinado fato, no nosso caso dessa análise, poderemos dizer que um comentário pode ser uma observação sobre algo lido ou visto.  E essas observações podem funcionar como um parecer ou uma análise mais técnica ou crítica que alguém pode fazer sobre certos assuntos em questão. Nesse caso, um comentário pode trazer dados inéditos sobre o assunto posto ou mais indicações relacionadas ao tópico proposto. A comunicação desse comentário pode ser oralmente (no caso de não ser virtual ou uma resposta em vídeo de um outro vídeo), ou escrito e nesse interim, na popularização da internet, os comentários são mais fáceis de se propagar.

Na internet – ou o mundo virtual – houve um crescimento de um novo fenômeno que atribui um novo significado para o comentário: o de tecer críticas abusivas sobre pessoas (e não sobre o assunto). Uma pessoa pode até estar certa em um assunto, mas, dependendo do seu viés religioso ou político, acaba sendo hostilizada por isso e não por causa do assunto discutido. Nesse caso, não mais poderíamos definir como sinônimo de comentário, uma interpretação, escolio, nota, paráfrase etc., pois, o outro passa ser muito mais importante do que o assunto. Porque, o outro atrapalha eu convencer os demais aos valores que me proponho a propagar. O outro, como diria Sartre, é o inferno. Isso implica dizer que, nesse caso, pode parecer um comentário crítico, mas, só passa a ser crítico quando é um comentário argumentativo, onde a pessoa expõe suas observações de modo mais critico sobre dado assunto.

Nesse contexto, a crítica filosófica tende sempre a perguntar: estamos na era do ódio gratuito ou a era critica? Pois, uma coisa é saber criticar argumentando certos assuntos com propriedade, nesse caso, há de se ter conhecimento sobre o assunto proposto, do outro, com a falta de educação tanto dos limites éticos e morais familiares, como aulas de interpretação textual e de gramática na educação escolar; transformam as redes em não troca de saberes, mas, um ringue de luta. Mesmo porque, o discurso de ódio se caracteriza em uma expressão verbal ou escrita que promove hostilidade, preconceito ou intolerância. Ele pode ser usado como uma estratégia de manipulação e desinformação. Nesse caso, muito usado por fanáticos (de todo tipo), a desinformação traz um viés de confirmação da sua própria crença.

No nosso caso – nessa critica filosófica – analisamos e compreendemos questões fundamentais (profundas) das questões do mundo. E por tentar compreender o objeto da análise, podemos dizer, que a critica filosófica pode compreender o discurso de ódio. Ou melhor, ao fazer uma crítica filosófica, não poderemos expressar nossa opinião pessoal (apesar que, temos várias críticas sobre essa visão que não cabe nesse texto) e sim, com argumentos lógicos e racionais.  nesse contexto temos que analisar se um discurso filosófico, pode ser totalmente logico ou racional. Na verdade, a logica (para sermos rigorosos) são pontos simétricos que permeiam dentro da realidade matemática como ponto de convergência. Análises textuais são formas de expressão de um pensamento único e subjetivos, sempre contextualizando algo.

Então o discurso de um comentário tem que ser contextualizado sempre com uma linguagem clara e objetiva, como o exemplo que recebi no vídeo na rede de vídeos curtos Kwai: << quase teve um surto no meu coração ao ver ess>> onde a frase não foi terminada e o contexto foi escrito confusamente. Gramaticalmente, podemos dizer que a questão não tem nem mesmo concordância, pois o “quase teve um surto” não concorda com “no meu coração”. No mais, filosoficamente, a questão da frase de ter um sujeito que pratica a ação e a ação que é o predicado. Ora, voltando ao discurso de ódio (que poderíamos dizer que é um discurso crítico do senso comum), se deve a falta dentro da escolaridade de um senso crítico dos discursos que ouvimos por ai.

Comentário como “deficiente tem o direito de se escrever na AACD” ou “crianças autistas devem estudar em escolas especiais, porque atrapalham a turma”, tem um contexto especifico de singularidade temporal que poderemos chamar de reacionarismo. Isto não é, de modo algum, um modo conservador de pensar. Nesse interim, a crítica filosófica deve ser feita dentro dos parâmetros singulares da cultura brasileira. Nisso, a academia de filosofia vê com muito preconceito esse tipo de manifestação cultural virtual – que muitos usam a teoria critica da Escola de Frankfurt para nomear como algo da cultura pop, como se a cultura pop, não seja também detetora de alguns saberes – e assim, abriram brechas para manifestações filosóficas nocivas como o olavismo.

O olavismo veio do filosofo e escritor Olavo de Carvalho e defende um regresso para algumas sabedorias antigas e a vida intelectual. Por outro lado, seu lado polemico começa a propagar o negacionismo (a negação pura e simples) como se a filosofia fosse um monte de “crianças birrentas”. Indagar é diferente de negar. Negar vacinas não são um meio de indagar qual é o papel farmacêutico dentro da saúde da humanidade, mas, devemos perguntar qual a relação desse mercado com o capitalismo onde tudo é ganho e lucro. Perguntar é indagar. Por outro lado, queiramos ou não em admitir, a humanidade vive hoje muito mais do que vivia a tempos atras e muitas doenças foram quase radicadas. O olavismo traz – importado dos Estados Unidos – teorias que foram jogadas para atrapalhar a concorrência de um laboratório do outro, por outro lado, negar a eficácia de uma vacina não é pressuposto de indagar das coisas mais substanciais: qual o real papel das pesquisas medicas?

Com tudo, isso podemos dizer que o olavismo é uma antifilosofia. Entendemos como antifilosofia, a crença que as coisas eram melhores no passado – também observamos, em maior parte da nossa cultura, um reacionarismo puro onde sempre havia um passado que era melhor que hoje – e que as filosofias medievais (encabeçada pela Igreja Católica) é muito melhor do que a contemporânea. Só que isso sim, não é filosofia. Não que os medievais não tenham importância – como Santo Agostinho ou Tomás de Aquino – mas, o olavismo não rompe a tradição religiosa e coloca um reacionarismo dentro do conservadorismo que não existe. Ou seja, o problema não é o pensamento católico, o problema é não fazer uma critica ao filósofos medievais e pensar como eles.

Outra problemática poderemos apontar com uma questão: por que antifilosofias apareceram, como o olavismo, na internet nos últimos tempos? Será que as filosofias acadêmicas (com seus preconceitos) não facilitaram um modo de escrever e analisar distanciando da maioria, como a ciência acadêmica? São dúvidas pertinentes que tem a ver com o modo que a grande maioria enxerga a filosofia, como algo distante e, na verdade, sempre foi assim. a história da escrava trácia rindo do filosofo Tales de Mileto, ilustra bem isso. O filosofo pensa tanto e está sempre olhando o céu, que não presta atenção no caminho. A filosofia não se atem a realidade. O que você vê pode ou não ser a realidade e nem tudo que vimos é o que parece, poderemos definir a filosofia como uma quebra das correntes ideológicas vigentes. Então, o filosofo está bem mais familiarizado com a realidade.

Mas, dentro da filosofia, a realidade não pode ser definida só como um “buraco” no caminho, como no exemplo de Tales, que poderíamos cair. Há uma fronteira muito sutil entre a realidade enquanto subjetiva e objetiva, que se pode ter entre aquilo que existe e aquilo que imaginamos existir. Como na frase em um grupo de filosofia na rede Facebook: <<Segundo a filosofia tudo que não conheces não existe>>. Nessa frase, podemos nos perguntar: “segundo” qual “filosofia”? porque o “tudo” se torna genérico ao ponto de uma aporia. A questão é: conhecemos tudo? Temos ideia do tudo? E o “que não conheces não existe” tem um tom de afirmação e a filosofia não trabalha com afirmações, ela trabalha com dúvidas e duvidando, chegaremos à verdade (ou não). A séculos atras, se conhecia só cisnes brancos e só pensava que existia cisnes brancos, mas, quando exploraram a Australia, lá tinha cisnes negros. Então, se eu não vejo ou percebo, não existe? Podem dizer “Ah, estamos falando em um modo da linguagem”.  Neste caso, poderemos usar a filosofia da linguagem (ou Teoria dos Jogos) de Wittgenstein.

A famosa frase de Wittgenstein, que devemos ler direto do livro, diz assim: << "O que pode ser dito pode ser dito claramente; e o que não pode falar, deve se calar">>. O modo de expressão é o modo do entendimento, sem se entender o que é dito, não se expressa nada. Nesse caso, quando o sujeito diz <<Segundo a filosofia (aqui faltou a virgula) tudo que não se conheces (outra virgula) não existe>> não expressa nada, porque não esta claro qual a filosofia que diz isso e é uma afirmação (sendo estranho para a filosofia). Segundo o filosofo austríaco-britânico, se não está claro o que se diz diante de uma afirmação, não se diz nada. Portanto, se deve calar diante da sua ignorância.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

A BANALIZAZÃO DAS REDES SOCIAIS E O BOICOTE DA ELIANA

 


Há uma imagem que circula nas redes sociais – principalmente, no X – mostrando uma foto da apresentadora Eliana segurando o logotipo da Rede Globo com a bandeira comunista no lado esquerdo. Esta escrito:

 “BOICOTE TOTAL A ESSA ESQUERDISTA DEBOCHADA, QUE DEPOIS DE ANOS NO SBT,  SAIU ESNOBANDO TODO MUNDO E FOI PRA GLOBO LIXO, ACHANDO QUE TEM PÚBLICO PARA AUMENTAR A AUDIÊNCIA DA TV ESTATAL OFICIAL”.

 

 

Em uma empresa que você acha que ganha menos que você acha que deve ganhar, se troca de empresa. A questão desse escrito é ideológica politica, porque todo mundo faz isso e ninguém diz nada. Pior, pergunte para quem compartilhou a imagem o que seria comunismo e vamos ficar sem nenhuma resposta, pois, o povo sempre escutou o galo cantar e nunca se soube onde ele estava cantando. E o termo “esquerdista”, até onde eu sei, foi usado por Lenin para chamar algumas alas que chamou de “infantis” do próprio marxismo que não se encaixavam em sua idealização da revolução bolchevique. Ou seja, a maioria dos brasileiros não pesquisam e acabam usando termos comunistas. Por outro lado, existe o termo “Globo lixo” – assim como existe o termo PIG (Partido da Imprensa Golpista) criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, que a maioria dos lulopetistas usam – como destratar algumas mídias que não se encaixam na sua ideologia politica ou religiosa.

Ora, a pessoa acha que com essa imagem o povo vai deixar de assistir a apresentadora? Há uma diferença bastante significativa onde há um fato (a apresentadora ir para a Rede Globo) e o que se criou como fato (ela ser esquerdista debochada e a Globo ser estatal). São pautas bolsonaristas, assim como, há pautas lulopetistas. E a discussão se aprofunda mais quando pensamos em um simulacro e a simulação, pegando essa questão que tem a ver com a consciência e o mundo que formamos através das crenças formadas pelo discurso.

A ideia (forma) se desenvolveu segundo o filosofo Jean Baudrillard e tem a ver com a realidade onde estamos. Dizem as “lendas” do mundo cinematográfico, que todo mundo que trabalhou no filme Matrix, tiveram de ler esse livro (como há várias referências dele no filme) para entender a ideia central do filme; o livro se chama Simulacro e Simulação. A ideia é simples: um simulacro é uma cópia ou representação de algo que não possui uma realidade original. São como imagens, símbolos ou objetos que representam elementos que nunca existiram ou que não têm mais equivalência com a realidade. Por exemplo, uma pintura de uma sereia ou um ícone religioso é um simulacro, pois não representam algo concreto no mundo real. Já a simulação é a criação de algo que não existe na realidade, mas é apresentado como se fosse real. É como uma imitação ou encenação de um processo ou evento. Por exemplo, um filme ou um videogame é uma simulação, pois cria um mundo fictício com suas próprias regras e personagens.

Mas há um terceiro termo: a hiper-realidade. O filosofo criou o termo para designar quando uma apresentação (simulacro) se torna mais importante do que a própria realidade. no exemplo do boicote, o simulacro esta na representação de um ato que a pessoa acha que esta fazendo pela sua causa – a libertação do Brasil do suposto comunismo – onde a realidade se confunde com a hiper-realidade.  Nas redes sociais, as imagens e representações – entre a “coisa” e a “representação” – que são criadas pelos usuários pode distorcer a percepção da vida real, gerando uma busca desenfreada pela aprovação e validação. Ou seja, todas as postagens visam reforçar as crenças de tanto quem posta, quanto quem curti a postagem. Por que a imprensa ou pessoas das mídias causam polemicas?

Todo reacionário é um revolucionário medroso. Ele, no fundo, tem medo das mudanças do mundo e não se conforma com essas mudanças, por outro lado, um revolucionário precisa de forças internas e externas para derrubar o status quo. Ou seja, dois lados de uma mesma moeda. O reacionário tem medo das mudanças e o revolucionário culpa o outro daquilo que não consegue mudar. E as redes sociais – não só as redes, mas toda a internet – reforça essas crenças para manter o funcionamento delas e ganhar com isto. Nas redes, você é o produto.

Amauri Nolasco Sanches Júnior – bacharel em filosofia, TI, publicitário e cadeirante