Gilles Deleuze (1925-1995) disse sobre a filosofia:
““Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. (…) Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso.”
E Deleuze tem razão, a filosofia não serve para nenhum poder
estabelecido. Outro filosofo – que esqueci o nome – dizia que a etimologia já mostra
o quanto a filosofia se impõem, pois, a filosofia não é amor ao poder, a
filosofia não é o amor a tolice ou ao simples conhecimento, mas, o amor a
sabedoria. O saber não é o mesmo do conhecer, o saber é algo natural do ser
humano (por isso o ser humano é o único animal de ter consciência de si mesmo).
Deleuze também fala sobre quando diz que a filosofia <<faz da tolice algo
vergonhoso>>. Por isso mesmo, a meu ver, os filósofos não deveriam ter
nem pretensões ideológicas e nem pretensões religiosas. Pois, a filosofia
denuncia a tolice do fanatismo e da pretensão de ser um líder, um filosofo
nunca é o detector dessa sabedoria.
Deleuze – em uma entrevista postada no YouTube – disse que não
existe governo de esquerda, pois, se a esquerda está no poder, ela se
transforma em situação e para de denunciar. Ora, não é uma verdade? eu sempre
aprendi que a esquerda representava mudança e a direita representava o status
quo. Ao que parece, temos conservadores que se casam várias vezes (se não tem
amante), e existem de esquerda que defendem uma identidade nacional. No Brasil,
pela falta de uma educação de verdade e leitura de bons livros, se confunde
esquerda com comunismo e direita conservadora com tradicionalismo. E ainda pior,
transformaram conservadores em defensores morais (pautas morais não são discussões
politicas) e liberais em meros pensamentos econômicos, que, sem duvida nenhuma,
é uma grande tolice.
O caso do Emilio Surita (Pânico) nessa semana tem a ver com
uma pauta não socialista – como ele mesmo deu a entender – mas, uma pauta woke
de representação. O famoso “politicamente correto”. Mas, como todo movimento, tem
sua genealogia e tem a ver com o estruturalismo e pós-estruturalismo. Porque a
direita – principalmente a olavista (Olavo de Carvalho) – fica pregando um discurso
“Vida Intelectual”, mas, na prática, se agarra em respostas fáceis dentro de
problemas muito complexos. Ora, tudo começa com a questão estruturalista,
quando o linguista Ferdinand de Saussure disse que haveria um significante e o
significado. Daí – com Claude Levy-Strauss – se propôs a investigar os
elementos culturais e da sociedade devem ser entendido em relação às estruturas
subjacentes que os sustentam. Essas estruturas são vistas como sistemas de
relações que dão sentido aos elementos individuais.
Já o pós-estruturalismo surge como uma crítica ao
estruturalismo. Muitos nomes da filosofia contemporânea fazem parte desse
movimento como Michel Foucault, Jaques Derrida e Gilles Deleuze questionaram a
ideia de estruturas fixas e universais. Eles argumentam que o significado é
sempre estável e que as estruturas são construções sociais que podem ser desconstruídas
para revelar suas contradições e complexidades. Já o desestruturalismo ou desconstrução
tem a ver com Jaques Derrida que desenvolve uma análise crítica das estruturas
de pensamento e linguagem para mostrar como elas são construídas e como podem
ser desconstruídas. Mas essa desconstrução pode revelar várias ambiguidades e
as múltiplas interpretações possíveis de qualquer texto ou discurso.
A questão é bem mais complexa do que imaginamos, pois se
devemos desconstruir qualquer discurso que tendemos ouvir, então, os discursos
do wokes podem ser desconstruídos também. Vejamos: a representação de uma deficiência,
por exemplo, tende a ser uma representação daquilo que falta dentro de uma representação
daquilo que seria perfeito. A deficiência acaba sendo estigmatizada como
inutilidade e improdutividade. O preconceito não é um ato linguístico só de representação,
seria um ato de hostilizar ou não uma pessoa diferente. A representação e o
nome (termo representativo) só é um nome, para determinar tal coisa. Não tem a
ver com inclusão. Inclusão é o respeito que se tem com o outro. O outro
representa a realidade.
A discussão sobre a pauta woke (ou politicamente correto),
tem a ver com a representação. Uma imitação pode ser considerada como uma representação
da persona da pessoa? Ou pode ser considerada como uma caricatura? Do mesmo
modo, a representação de drags queens na santa ceia não pode ser ofensivo,
porque é uma representação daquilo que pode ter um simbolismo (como a partilha
do pão [corpo] e o vinho [sangue] de Jesus o Cristo). Ai nós desconfiamos que essas
defesas tem a ver com discursos ideológicos – seja lá que lado você defenda –
onde um lado defende o outro como discurso político e não defesas de posições politicas
de tradição (qual a tradição brasileira mesmo?) ou contradição.