sábado, 27 de julho de 2024

EMILIO SURITA E A PAUTA WOKE

 




Gilles Deleuze (1925-1995) disse sobre a filosofia:

 

““Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. (…) Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso.”

 

E Deleuze tem razão, a filosofia não serve para nenhum poder estabelecido. Outro filosofo – que esqueci o nome – dizia que a etimologia já mostra o quanto a filosofia se impõem, pois, a filosofia não é amor ao poder, a filosofia não é o amor a tolice ou ao simples conhecimento, mas, o amor a sabedoria. O saber não é o mesmo do conhecer, o saber é algo natural do ser humano (por isso o ser humano é o único animal de ter consciência de si mesmo). Deleuze também fala sobre quando diz que a filosofia <<faz da tolice algo vergonhoso>>. Por isso mesmo, a meu ver, os filósofos não deveriam ter nem pretensões ideológicas e nem pretensões religiosas. Pois, a filosofia denuncia a tolice do fanatismo e da pretensão de ser um líder, um filosofo nunca é o detector dessa sabedoria.

Deleuze – em uma entrevista postada no YouTube – disse que não existe governo de esquerda, pois, se a esquerda está no poder, ela se transforma em situação e para de denunciar. Ora, não é uma verdade? eu sempre aprendi que a esquerda representava mudança e a direita representava o status quo. Ao que parece, temos conservadores que se casam várias vezes (se não tem amante), e existem de esquerda que defendem uma identidade nacional. No Brasil, pela falta de uma educação de verdade e leitura de bons livros, se confunde esquerda com comunismo e direita conservadora com tradicionalismo. E ainda pior, transformaram conservadores em defensores morais (pautas morais não são discussões politicas) e liberais em meros pensamentos econômicos, que, sem duvida nenhuma, é uma grande tolice.

O caso do Emilio Surita (Pânico) nessa semana tem a ver com uma pauta não socialista – como ele mesmo deu a entender – mas, uma pauta woke de representação. O famoso “politicamente correto”. Mas, como todo movimento, tem sua genealogia e tem a ver com o estruturalismo e pós-estruturalismo. Porque a direita – principalmente a olavista (Olavo de Carvalho) – fica pregando um discurso “Vida Intelectual”, mas, na prática, se agarra em respostas fáceis dentro de problemas muito complexos. Ora, tudo começa com a questão estruturalista, quando o linguista Ferdinand de Saussure disse que haveria um significante e o significado. Daí – com Claude Levy-Strauss – se propôs a investigar os elementos culturais e da sociedade devem ser entendido em relação às estruturas subjacentes que os sustentam. Essas estruturas são vistas como sistemas de relações que dão sentido aos elementos individuais.

Já o pós-estruturalismo surge como uma crítica ao estruturalismo. Muitos nomes da filosofia contemporânea fazem parte desse movimento como Michel Foucault, Jaques Derrida e Gilles Deleuze questionaram a ideia de estruturas fixas e universais. Eles argumentam que o significado é sempre estável e que as estruturas são construções sociais que podem ser desconstruídas para revelar suas contradições e complexidades. Já o desestruturalismo ou desconstrução tem a ver com Jaques Derrida que desenvolve uma análise crítica das estruturas de pensamento e linguagem para mostrar como elas são construídas e como podem ser desconstruídas. Mas essa desconstrução pode revelar várias ambiguidades e as múltiplas interpretações possíveis de qualquer texto ou discurso.

A questão é bem mais complexa do que imaginamos, pois se devemos desconstruir qualquer discurso que tendemos ouvir, então, os discursos do wokes podem ser desconstruídos também. Vejamos: a representação de uma deficiência, por exemplo, tende a ser uma representação daquilo que falta dentro de uma representação daquilo que seria perfeito. A deficiência acaba sendo estigmatizada como inutilidade e improdutividade. O preconceito não é um ato linguístico só de representação, seria um ato de hostilizar ou não uma pessoa diferente. A representação e o nome (termo representativo) só é um nome, para determinar tal coisa. Não tem a ver com inclusão. Inclusão é o respeito que se tem com o outro. O outro representa a realidade.

A discussão sobre a pauta woke (ou politicamente correto), tem a ver com a representação. Uma imitação pode ser considerada como uma representação da persona da pessoa? Ou pode ser considerada como uma caricatura? Do mesmo modo, a representação de drags queens na santa ceia não pode ser ofensivo, porque é uma representação daquilo que pode ter um simbolismo (como a partilha do pão [corpo] e o vinho [sangue] de Jesus o Cristo). Ai nós desconfiamos que essas defesas tem a ver com discursos ideológicos – seja lá que lado você defenda – onde um lado defende o outro como discurso político e não defesas de posições politicas de tradição (qual a tradição brasileira mesmo?) ou contradição.  

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário