Há uma imagem que circula nas redes sociais – principalmente,
no X – mostrando uma foto da apresentadora Eliana segurando o logotipo da Rede
Globo com a bandeira comunista no lado esquerdo. Esta escrito:
“BOICOTE TOTAL A ESSA ESQUERDISTA DEBOCHADA, QUE DEPOIS DE ANOS NO SBT, SAIU ESNOBANDO TODO MUNDO E FOI PRA GLOBO LIXO, ACHANDO QUE TEM PÚBLICO PARA AUMENTAR A AUDIÊNCIA DA TV ESTATAL OFICIAL”.
Em uma empresa que você acha que ganha menos que você acha
que deve ganhar, se troca de empresa. A questão desse escrito é ideológica politica,
porque todo mundo faz isso e ninguém diz nada. Pior, pergunte para quem compartilhou
a imagem o que seria comunismo e vamos ficar sem nenhuma resposta, pois, o povo
sempre escutou o galo cantar e nunca se soube onde ele estava cantando. E o
termo “esquerdista”, até onde eu sei, foi usado por Lenin para chamar algumas
alas que chamou de “infantis” do próprio marxismo que não se encaixavam em sua idealização
da revolução bolchevique. Ou seja, a maioria dos brasileiros não pesquisam e
acabam usando termos comunistas. Por outro lado, existe o termo “Globo lixo” –
assim como existe o termo PIG (Partido da Imprensa Golpista) criado pelo jornalista
Paulo Henrique Amorim, que a maioria dos lulopetistas usam – como destratar
algumas mídias que não se encaixam na sua ideologia politica ou religiosa.
Ora, a pessoa acha que com essa imagem o povo vai deixar de
assistir a apresentadora? Há uma diferença bastante significativa onde há um
fato (a apresentadora ir para a Rede Globo) e o que se criou como fato (ela ser
esquerdista debochada e a Globo ser estatal). São pautas bolsonaristas, assim
como, há pautas lulopetistas. E a discussão se aprofunda mais quando pensamos
em um simulacro e a simulação, pegando essa questão que tem a ver com a consciência
e o mundo que formamos através das crenças formadas pelo discurso.
A ideia (forma) se desenvolveu segundo o filosofo Jean
Baudrillard e tem a ver com a realidade onde estamos. Dizem as “lendas” do
mundo cinematográfico, que todo mundo que trabalhou no filme Matrix, tiveram de
ler esse livro (como há várias referências dele no filme) para entender a ideia
central do filme; o livro se chama Simulacro e Simulação. A ideia é simples: um
simulacro é uma cópia ou representação de algo que não possui uma realidade
original. São como imagens, símbolos ou objetos que representam elementos que
nunca existiram ou que não têm mais equivalência com a realidade. Por exemplo,
uma pintura de uma sereia ou um ícone religioso é um simulacro, pois não
representam algo concreto no mundo real. Já a simulação é a criação de algo que
não existe na realidade, mas é apresentado como se fosse real. É como uma
imitação ou encenação de um processo ou evento. Por exemplo, um filme ou um
videogame é uma simulação, pois cria um mundo fictício com suas próprias regras
e personagens.
Mas há um terceiro termo: a hiper-realidade. O filosofo
criou o termo para designar quando uma apresentação (simulacro) se torna mais
importante do que a própria realidade. no exemplo do boicote, o simulacro esta
na representação de um ato que a pessoa acha que esta fazendo pela sua causa –
a libertação do Brasil do suposto comunismo – onde a realidade se confunde com
a hiper-realidade. Nas redes sociais, as
imagens e representações – entre a “coisa” e a “representação” – que são criadas
pelos usuários pode distorcer a percepção da vida real, gerando uma busca desenfreada
pela aprovação e validação. Ou seja, todas as postagens visam reforçar as crenças
de tanto quem posta, quanto quem curti a postagem. Por que a imprensa ou
pessoas das mídias causam polemicas?
Todo reacionário é um revolucionário medroso. Ele, no fundo,
tem medo das mudanças do mundo e não se conforma com essas mudanças, por outro
lado, um revolucionário precisa de forças internas e externas para derrubar o
status quo. Ou seja, dois lados de uma mesma moeda. O reacionário tem medo das mudanças
e o revolucionário culpa o outro daquilo que não consegue mudar. E as redes
sociais – não só as redes, mas toda a internet – reforça essas crenças para
manter o funcionamento delas e ganhar com isto. Nas redes, você é o produto.
Amauri Nolasco Sanches Júnior – bacharel em filosofia, TI,
publicitário e cadeirante
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