quinta-feira, 11 de julho de 2024

OS SABERES DAS REDES E EPISTEMOLOGIA DO COMENTARIO

 






A primeira regra da internet: não leia os comentários.

WiFi Ralph: Quebrando a Internet

 

Poderemos começar com a nossa investigação com a seguinte pergunta: o que deveria ser um comentário? Um comentário pode ser um conjunto de várias observações que uma pessoa pode fazer sobre um determinado fato, no nosso caso dessa análise, poderemos dizer que um comentário pode ser uma observação sobre algo lido ou visto.  E essas observações podem funcionar como um parecer ou uma análise mais técnica ou crítica que alguém pode fazer sobre certos assuntos em questão. Nesse caso, um comentário pode trazer dados inéditos sobre o assunto posto ou mais indicações relacionadas ao tópico proposto. A comunicação desse comentário pode ser oralmente (no caso de não ser virtual ou uma resposta em vídeo de um outro vídeo), ou escrito e nesse interim, na popularização da internet, os comentários são mais fáceis de se propagar.

Na internet – ou o mundo virtual – houve um crescimento de um novo fenômeno que atribui um novo significado para o comentário: o de tecer críticas abusivas sobre pessoas (e não sobre o assunto). Uma pessoa pode até estar certa em um assunto, mas, dependendo do seu viés religioso ou político, acaba sendo hostilizada por isso e não por causa do assunto discutido. Nesse caso, não mais poderíamos definir como sinônimo de comentário, uma interpretação, escolio, nota, paráfrase etc., pois, o outro passa ser muito mais importante do que o assunto. Porque, o outro atrapalha eu convencer os demais aos valores que me proponho a propagar. O outro, como diria Sartre, é o inferno. Isso implica dizer que, nesse caso, pode parecer um comentário crítico, mas, só passa a ser crítico quando é um comentário argumentativo, onde a pessoa expõe suas observações de modo mais critico sobre dado assunto.

Nesse contexto, a crítica filosófica tende sempre a perguntar: estamos na era do ódio gratuito ou a era critica? Pois, uma coisa é saber criticar argumentando certos assuntos com propriedade, nesse caso, há de se ter conhecimento sobre o assunto proposto, do outro, com a falta de educação tanto dos limites éticos e morais familiares, como aulas de interpretação textual e de gramática na educação escolar; transformam as redes em não troca de saberes, mas, um ringue de luta. Mesmo porque, o discurso de ódio se caracteriza em uma expressão verbal ou escrita que promove hostilidade, preconceito ou intolerância. Ele pode ser usado como uma estratégia de manipulação e desinformação. Nesse caso, muito usado por fanáticos (de todo tipo), a desinformação traz um viés de confirmação da sua própria crença.

No nosso caso – nessa critica filosófica – analisamos e compreendemos questões fundamentais (profundas) das questões do mundo. E por tentar compreender o objeto da análise, podemos dizer, que a critica filosófica pode compreender o discurso de ódio. Ou melhor, ao fazer uma crítica filosófica, não poderemos expressar nossa opinião pessoal (apesar que, temos várias críticas sobre essa visão que não cabe nesse texto) e sim, com argumentos lógicos e racionais.  nesse contexto temos que analisar se um discurso filosófico, pode ser totalmente logico ou racional. Na verdade, a logica (para sermos rigorosos) são pontos simétricos que permeiam dentro da realidade matemática como ponto de convergência. Análises textuais são formas de expressão de um pensamento único e subjetivos, sempre contextualizando algo.

Então o discurso de um comentário tem que ser contextualizado sempre com uma linguagem clara e objetiva, como o exemplo que recebi no vídeo na rede de vídeos curtos Kwai: << quase teve um surto no meu coração ao ver ess>> onde a frase não foi terminada e o contexto foi escrito confusamente. Gramaticalmente, podemos dizer que a questão não tem nem mesmo concordância, pois o “quase teve um surto” não concorda com “no meu coração”. No mais, filosoficamente, a questão da frase de ter um sujeito que pratica a ação e a ação que é o predicado. Ora, voltando ao discurso de ódio (que poderíamos dizer que é um discurso crítico do senso comum), se deve a falta dentro da escolaridade de um senso crítico dos discursos que ouvimos por ai.

Comentário como “deficiente tem o direito de se escrever na AACD” ou “crianças autistas devem estudar em escolas especiais, porque atrapalham a turma”, tem um contexto especifico de singularidade temporal que poderemos chamar de reacionarismo. Isto não é, de modo algum, um modo conservador de pensar. Nesse interim, a crítica filosófica deve ser feita dentro dos parâmetros singulares da cultura brasileira. Nisso, a academia de filosofia vê com muito preconceito esse tipo de manifestação cultural virtual – que muitos usam a teoria critica da Escola de Frankfurt para nomear como algo da cultura pop, como se a cultura pop, não seja também detetora de alguns saberes – e assim, abriram brechas para manifestações filosóficas nocivas como o olavismo.

O olavismo veio do filosofo e escritor Olavo de Carvalho e defende um regresso para algumas sabedorias antigas e a vida intelectual. Por outro lado, seu lado polemico começa a propagar o negacionismo (a negação pura e simples) como se a filosofia fosse um monte de “crianças birrentas”. Indagar é diferente de negar. Negar vacinas não são um meio de indagar qual é o papel farmacêutico dentro da saúde da humanidade, mas, devemos perguntar qual a relação desse mercado com o capitalismo onde tudo é ganho e lucro. Perguntar é indagar. Por outro lado, queiramos ou não em admitir, a humanidade vive hoje muito mais do que vivia a tempos atras e muitas doenças foram quase radicadas. O olavismo traz – importado dos Estados Unidos – teorias que foram jogadas para atrapalhar a concorrência de um laboratório do outro, por outro lado, negar a eficácia de uma vacina não é pressuposto de indagar das coisas mais substanciais: qual o real papel das pesquisas medicas?

Com tudo, isso podemos dizer que o olavismo é uma antifilosofia. Entendemos como antifilosofia, a crença que as coisas eram melhores no passado – também observamos, em maior parte da nossa cultura, um reacionarismo puro onde sempre havia um passado que era melhor que hoje – e que as filosofias medievais (encabeçada pela Igreja Católica) é muito melhor do que a contemporânea. Só que isso sim, não é filosofia. Não que os medievais não tenham importância – como Santo Agostinho ou Tomás de Aquino – mas, o olavismo não rompe a tradição religiosa e coloca um reacionarismo dentro do conservadorismo que não existe. Ou seja, o problema não é o pensamento católico, o problema é não fazer uma critica ao filósofos medievais e pensar como eles.

Outra problemática poderemos apontar com uma questão: por que antifilosofias apareceram, como o olavismo, na internet nos últimos tempos? Será que as filosofias acadêmicas (com seus preconceitos) não facilitaram um modo de escrever e analisar distanciando da maioria, como a ciência acadêmica? São dúvidas pertinentes que tem a ver com o modo que a grande maioria enxerga a filosofia, como algo distante e, na verdade, sempre foi assim. a história da escrava trácia rindo do filosofo Tales de Mileto, ilustra bem isso. O filosofo pensa tanto e está sempre olhando o céu, que não presta atenção no caminho. A filosofia não se atem a realidade. O que você vê pode ou não ser a realidade e nem tudo que vimos é o que parece, poderemos definir a filosofia como uma quebra das correntes ideológicas vigentes. Então, o filosofo está bem mais familiarizado com a realidade.

Mas, dentro da filosofia, a realidade não pode ser definida só como um “buraco” no caminho, como no exemplo de Tales, que poderíamos cair. Há uma fronteira muito sutil entre a realidade enquanto subjetiva e objetiva, que se pode ter entre aquilo que existe e aquilo que imaginamos existir. Como na frase em um grupo de filosofia na rede Facebook: <<Segundo a filosofia tudo que não conheces não existe>>. Nessa frase, podemos nos perguntar: “segundo” qual “filosofia”? porque o “tudo” se torna genérico ao ponto de uma aporia. A questão é: conhecemos tudo? Temos ideia do tudo? E o “que não conheces não existe” tem um tom de afirmação e a filosofia não trabalha com afirmações, ela trabalha com dúvidas e duvidando, chegaremos à verdade (ou não). A séculos atras, se conhecia só cisnes brancos e só pensava que existia cisnes brancos, mas, quando exploraram a Australia, lá tinha cisnes negros. Então, se eu não vejo ou percebo, não existe? Podem dizer “Ah, estamos falando em um modo da linguagem”.  Neste caso, poderemos usar a filosofia da linguagem (ou Teoria dos Jogos) de Wittgenstein.

A famosa frase de Wittgenstein, que devemos ler direto do livro, diz assim: << "O que pode ser dito pode ser dito claramente; e o que não pode falar, deve se calar">>. O modo de expressão é o modo do entendimento, sem se entender o que é dito, não se expressa nada. Nesse caso, quando o sujeito diz <<Segundo a filosofia (aqui faltou a virgula) tudo que não se conheces (outra virgula) não existe>> não expressa nada, porque não esta claro qual a filosofia que diz isso e é uma afirmação (sendo estranho para a filosofia). Segundo o filosofo austríaco-britânico, se não está claro o que se diz diante de uma afirmação, não se diz nada. Portanto, se deve calar diante da sua ignorância.

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