sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

SOU UM BOLSONARISTA DO LULA



Amauri Nolasco Sanches Júnior

(Bacharel em Filosofia)

 

Uma das melhores coisas que já fiz na minha vida foi contratar um psicoterapeuta. E isso tem ajudado a entender certas nuances do comportamento humano – através do meu e das pessoas em minha volta – e uma das coisas que fico bastante perplexo é a capacidade do brasileiro médio tem de se auto enganar que existe uma verdade. Não existe “verdade” no sentido de uma realidade universal moral, mas existem varias percepções daquilo que é certo ou aquilo que é errado. Matar alguém é errado em muitas ideologias morais (e religiosas), pois, você tira a vida do outro que é uma propriedade dele e só ele pode decidir (até, se fomos bastante rigorosos, a falência do corpo é uma decisão celular nossa) se deve ou não morrer. Assim como o estupro, você viola o corpo do outro como propriedade privadas.

Somos contingentes porque somos criaturas sempre em mudanças e tudo no universo é assim. Hoje o sol existe em todo seu esplendor, mas amanhã pode não existir mais por razões adversas e isso não esta ao nosso controle. Os estoicos sabiam disso quando dizia que, tem coisas que não estão no nosso controle e mesmo com os avanços da ciência, isso não pode ser esquecido. Poderemos, mais ou menos, fazer os cegos enxergarem com óculos especiais, mas não é uma visão nítida e natural. Poderá, porventura, ser um sombreamento dos objetos dentro da realidade percebida. A meu ver – porque sou muito crítico nessas patifarias entre cibernética e deficiência – que isso só é uma eugenia tecnológica para forçar todo mundo a ser e a parecer padrão. A sabedoria cristã – que está longe de pastor picareta – diz que não existe duas folhas iguais.

O conhecimento não poderia ser usado para manobrar pessoas sem esse mesmo conhecimento. Conhecer é aprender, ter consciência (saber que aquilo existe) daquilo que não se pode negar como existente. Se vejo uma árvore, por exemplo, estou vendo uma historia que começa com a semente eclodindo em brotinho e se cria camadas de casca e nascimento e morte de folhas que alimentam sua estrutura (e animais herbívoros). Mas, isso é só uma verdade objetiva, pois verdades objetivas são reais conosco aqui na terra e sem nós aqui na Terra. Então, estamos dizendo que existem verdades subjetivas e verdades objetivas? Sim, estou. Verdades objetivas é um mundo que não poderemos controlar e está além da nossa compreensão, mas esta lá independente daquilo ser percebido por nós ou não (aquilo que não muda). E tem nossa verdade subjetiva que são o julgamento psicoperceptível (que podem mudar ao longo da vida), que são construídos por conceitos que são entre valores que recebemos na educação familiar, como também, visões predominantes da moral social.

Política tem a ver com o bem comum dentro da questão administrativa da nação ou distritos (Estados ou municípios). Ate mesmo porque, tem a ver com a etimologia do termo que remonta a Grécia antiga. Quando Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) disse que somos “zoo politikon”, esse “politikon” queria dizer gregário ou social, muito mais do que politico do modo moderno e pós-moderno. Ou seja, para o filosofo (como o chamavam os filósofos árabes na idade média), somos animais sociais por sermos racionais e poderemos fazer e agir conforme nossas escolhas. Associou as abelhas e as formigas – que hoje sabemos, são gregárias por conta  de reações químicas e genéticas muito mais do que racionalidade – e remontou uma ideia que durou muitos séculos. Mas, política não é moralidade.

Como vimos nos parágrafos anteriores, a moralidade tem a ver com a questão da subjetividade dentro das crenças e valores que um povo ou comunidade, trazem. Não matar, por exemplo, é uma coisa que é universal: não podemos achar que podemos privar o outro da vida que lhe pertence. Poderemos até indagar de onde a vida veio – já que existem coisas que são vivas e coisas que não são vivas – mas, não podemos privar do direito a dignidade daqueles que não fizeram nada para pedirem isso. Matar, violentar, trair etc., fica na questão moral porque tem a ver com convivências sociais dentro do convívio social. Mesmo assim, trair alguém tem muito a ver muito mais com modos subjetivos, do que com questões objetivas. Porque tem a ver com o privado.

Ai que esta o ponto: por que tanta confusão entre aquilo que é privado e aquilo que é publico no Brasil? A vida sexual e privada das pessoas são das pessoas – que elas são ou escolhem – e até a religião, é uma coisa privada e de foro íntimo (mesmo que essas religiões materialistas herdeiras de Roma e da Judeia, são mais aberrações do que a busca da espiritualidade verdadeira). Do modo público é a obediência de leis que infringem incomodar e privar o outro, respeitar o ir e vir das pessoas e não causar acidentes (que podem ser um tipo de violência).


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

ROMANTIZAÇÃO DA CRIMINALIDADE

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharelado em filosofia)

 

"Eu acho que aqueles dois bandidos na moto e todos os outros bandidos têm que morrer. Não temos que ter vergonha de falar isso".

Renan Santos

Um filosofo deve (ou deveria) olhar as coisas de um modo muito além do olhar ideológico binário que estamos presos hoje em dia. Mesmo porque, não se sabe o que é direita e esquerda aqui no Brasil, por causa da nossa cultura imediatista dentro de pautas que dizem ter que ser combatidas. A direita no Brasil – com o conservadorismo de costumes (tradicionalismo olavista) e o liberalismo (com a vertente libertaria que insiste em se posicionar a direita) – tem que olhar a história do Brasil e ver que na visão tradicionalista dentro que poderíamos chamar de tradição, o Brasil se construiu com uma base católica e uma política liberal.  Não tem muito que discutir quanto a isso, pois, quem leu e estudou a historia do Brasil, sabe.

A esquerda brasileira tem um histórico trabalhista, comunista e um pouco de anarquismo sindicalista. Depois da tomada do poder de Getúlio Vargas, a esquerda passa a ser comunista por Vargas ser trabalhista e a grande oposição é a forma de um fascismo caboclo que tivemos durante o Estado Novo. Com o apoio integralista (movimento fascista brasileiro). E nessa tradição – não no achismo abrasileirado que tanto nos irrita nas discussões não pesquisadas – deveríamos focar nas analises sobre o que se tornou nossa cultura nesses tempos onde o crime se romantiza dentro de um anarquismo americanizado dos filmes que começam nos anos 80 do cara que cabula aula mentindo para a mãe que esta doente (O Curtindo a Vida Adoidado é o puro exemplo como o jovem deve se descolar da cultura para ser livre levando a namorada e o amigo, fazendo esse roubar o carro do pai), e outros exemplos da época.

Mas de onde veio a romantização do crime e da pobreza? Há duas fontes: a de filmes do faroeste americano, onde há uma romantização do criminoso como “herói” que mesmo fazendo crimes (também matando indígenas) estão fazendo o bem para a humanidade (isso poderemos ver em filmes e series ate hoje). E a classe média brasileira que coloca a pobreza como meio de superação e redenção daquilo que não tem. Como trocar o nome de “favela” para “comunidade” para ficar mais palatável, mas ninguém gosta (isso quem mora na periferia sabe) de morar numa favela com criminosos trocando tiro todos os dias e perigo de ser assaltado. Ai vamos em um outro nível da análise e nos perguntar: o melhor modo de mudar isso é romper com a cultura que esta ai?

Renan Santos (MBL) disse em dado momento, que se deveria romper com a cultura que está ai. Como dois criminosos em uma moto atirar contra um ciclista na frente do parque no Itaim Bibi, ou três caras (um deles é um pastor) matar uma jovem por causa de um carro e varias formas de música incentivando o crime. O que nos diz a teoria da intencionalidade kantiana? Kant tinha uma base muito solida dentro da moralidade e dizia que deveríamos agir no qual nossas ações deveriam ser seguida, ou seja, "Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal.". Será que o criminoso atirar para matar um ciclista por causa de um celular queria que fosse uma “lei universal”?

Claro que a motivação dos criminosos é uma motivação egoísta (não positiva). Tirar um bem só por causa que os seus ancestrais fizeram as escolhas erradas – aqui temos que expor a verdade dos fatos – não parece uma intenção de autorreflexão da ação que conotou em morte do outro, privando dele usufruir da vida (tirando uma coisa privada). Mas, acima de tudo, a questão passa novamente em um âmbito mais além daquilo que a realidade dos dois criminosos vivem. Ignorância? Pouco provável. A romantização do crime lhe faz como um anti-herói que acha meios de tirar da “elite” para dar ao pobre, uma atitude mesquinha que pode conotar como algo cultural. Dai a questão da fala de romper a cultura.

A mesquinhez e a vantagem sempre foram uma espécie de regra no Brasil. Poderemos ver, ao longo da historia humana, a mesquinhez (como foco de interesses pessoas pequemos ou egoístas) e  a busca da vantagem (buscar benefícios sempre na custa dos outros) tem sido comuns, especialmente em contextos de pobreza, competição ou instabilidade pública e econômica. Como somos uma cultura medieval moderna (sendo que se gosta da tecnologia, mas existem regras morais e religiosas medievais), poderemos pegar exemplo da era medieval. A maioria dos nobres, por exemplo, frequentemente agia com mesquinhez para manter poder e privilégio, enquanto o clientelismo e o favoritismo eram práticas comuns em impérios como os romanos. E poderemos ver muito a influência medieval dentro da nossa cultura.

No Brasil, a questão da mesquinhez e a busca da vantagem podem ter razões da estrutura colonial, onde a colonização e a exploração de recursos humanos (como escravos) e naturais foi incentivada para benefício em uma elite pequena. Isso fez criar uma mentalidade de “cada um por si” ser reforçada por séculos de desigualdade, corrupção e falta de instituições fortes. Dai entramos dentro da politica brasileira, onde historicamente foi marcada com o clientelismo (troca de alguns favores por votos ou lealdade, que dura até hoje) perpetuou a ideia de que vantagens pessoais e grupais mais importantes do que o bem comum. Isso gerou uma cultura onde a mesquinhez – no sentido de priorizar interesses imediatos e pequenos – é vista como se fosse uma estratégia de sobrevivência ou sucesso.

Ainda tem a cultura do “jeitinho”, pois, o famoso “jeitinho brasileiro” nasce de uma necessidade criativa de se “dar bem”. Em outro modo – mesmo que alguns acadêmicos achem criatividade ou adaptações – na verdade, é para obter vantagens inúmeras em nome do seu próprio interesse. E isso tem a ver muito com a questão de passar por cima das questões éticas e da lei, ou que reforça a percepção de mesquinhez como cultura. isso culmina em religiões materialistas (neopentecostais), musicas fáceis e sem um poder de reflexão e conjuntura temática, e uma cultura que o pessoal não sabe ler e não sabe escrever. Por que pobre vai estudar? Um pensamento escravagista.

#bbb25 #filosofia

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

A LEI DA FICHA LIMPA

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

(Bacharelado de Filosofia)

 

Saindo do shopping no domingo, um casal quase atropela um carro e atravessa o estacionamento como se ali fosse a entrada do estabelecimento. O motorista da van do ATENDE diz: “O Brasil é o país mais mal-educado do mundo”.  Poderemos ate entender por causa da nossa percepção do nosso convívio dentro das muitas situações que vivemos dentro da sociedade, que a falta de educação nos deixou com essa impressão. Claro, a questão ronda dentro da ética, dentro da mesquinhez e dentro da moralidade. O brasileiro não precisa de uma cartilha vagabunda de Educação Cívica, precisa respeitar o outro como pessoa e como convive da comunidade onde esta inserido. A corrupção, por exemplo, tem a ver com a mesquinhez e a vantagem.

Na antiguidade, o filosofo Aristóteles dizia que a ética (ethika) não era uma pratica só teórica, pois, dentro de um modo politico (cidadão), tinha que ser praticada. Para entender ele, temos que entender que ética na antiguidade grega tem suas origens no termo ETHOS que derivou ETHIKÓS. Se o épsilon for curto (em grego) isso quer dizer os costumes coletivos e se o épsilon é longo quer dizer caráter de cada pessoa. Aristóteles vai investigar tanto a ética de um modo de costume, e a etiqueta (que é muito mais do que se portar na mesa). Mas, ETHOS para o grego naquele tempo num primeiro momento – provavelmente, o grego primitivo dos aqueus – ETHOS era como chamamos de casa (ou moradia dos homens). Logo depois, ETHOS vira tanto costume como caráter. Por outro lado, o filosofo Werner Jaeger dizia que ETHOS era o espírito grego.

Aristóteles queria investigar as formas de conduta para se chegar a felicidade (Eudaimonia). Mas, embora alguns achem que ética e moral são sinônimos, ética nada tem a ver com moral. Se ética tem a ver hoje com o caráter, a moral tem a ver com as condutas sociais graças a nossa herança romana do MOS ou no plural, MORES. Pois, os romanos não acharam importante o caráter e sim, os costumes romanos de louvar Roma e sua cultura imperialista. Na filosofia contemporânea, ética se torna o que fazemos como moral, ou seja, um tipo de “ferramenta” para medir um tipo de conduta moral. Já há também uma diferença entre moral, moralidade e moralismo, pois, moral é aquilo que valorizamos como sociedade, moralidade é aquilo que é moral e moralismo é uma imposição da moralidade religiosa ou ideológica (inclusive, de esquerda também).

Com a defesa do fim da Lei da Ficha limpa pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), poderemos especular tudo que possamos ter de teoria. Uma das hipóteses é que o inquérito do filho dele, o senador Flavio Bolsonaro, seja verdade e ele tenha feito de tudo para defender seu filho. Outra hipótese é que quer o fim da Lei da Ficha Limpa para se livrar das acusações e diminuir sua pena para se candidatar nas próximas eleições, sendo que, vai ser difícil passar. Mas sempre tem a ver com que eles fazem.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

A DIREITA SOCIALISTA E A VERDADEIRA IDEOLOGIA LIBERTARIA

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharel em filosofia)

 

Uns dos maiores erros do brasileiro médio é não pesquisar e se informar, ter certeza do que acredita e do que é certo. Não importa do que se opomos – eu, por exemplo, sou a favor daquilo que é bom e belo e acima de tudo, a verdade – temos que saber a essência daquilo que opomos além de filosofias fáceis como o olavismo, sempre expandindo aquilo que devemos e queremos fazer uma critica. A politica é a arte da retorica e se você não tiver uma carga de conhecimento, vai ser enganado. Mesmo porque, o Brasil é bastante estranho, a direita com ssua rebelião boomer, se transformou em um movimento anarcossocialista e a esquerda se transformou em nacionalista-varguista.

Lendo um texto do Instituto Rothbard sobre a direita bolsonarista intitulado “O grande triunfo da esquerda: uma direita socialista”, fazendo uma critica severa sobre o que representou o governo Bolsonaro (que chamaram de direita socialista), vi alguns erros muito enviesados de olavismo (Olavo de Carvalho) e ao mesmo tempo, ignorância histórica. Como filosofo – sim, me dou o direito de me chamar de filosofo libertário – temos que fazer alguns esclarecimentos que, primeiro, nem toda a esquerda é socialista e nem toda a ideia (seja direita ou esquerda) são erradas. E nem toda a direita é fascista. Mesmo sendo libertário e acreditando em uma base ideológica libertaria, não deveríamos chegar ao ponto de dizer (quem leu Rothbard sabe disso) que deveríamos ser menos idealistas. Mesmo porque, não estamos em um mundo libertário. Em uma analise bem mais profunda, as criticas ao governo lulopetista tendem sempre colocar o petismo como uma ideologia comunista (ou socialista).

Escrevi no final de 2022 – para a matéria de escrita de textos acadêmicos – um trabalho (paper simples) onde eu respondia a pergunta: “HÁ UM ANARQUISMO BOLSONARISTA REACIONÁRIO E MILITAR?”. Esse artigo, na época, analisava o movimento que se rebelou contra as eleições e se instalaram nas portas dos quarteis e que culminou no fáctico 8 de janeiro (onde pessoas iludidas foram presas por quebrar os prédios dos três poderes). Na época, tive a ideia de analisar esse movimento com o livro “A Desobediência Civir” de Henry David Thoreau, por ter a ver um pouco com o tema e por uma questão de prática (já que estava atrasado quanto a entrega). isso tinha a ver com uma análise entre o contexto que esses protestos aconteceram e sua origem, mas, no conjunto do processo dessa análise, também tive a oportunidade de uma análise de sua motivação. Junto com um processo de desenvolvimento do movimento e a casa da origem desse movimento, depois cheguei à conclusão que se tratava de uma “rebelião boomer”.

No texto do site o autor coloca:

Bolsonaro afirmou no discurso que este dia era “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”. Ao final do pronunciamento ele levantou uma bandeira do Brasil e repetiu a frase que foi um dos seus motes durante a campanha e todo o seu governo: “Nossa bandeira jamais será vermelha”.

Na verdade, esse movimento teve origem dentro de um sentimento de “traição” do PT e suas origens dentro do movimento trabalhista em concorrência com o varguista Leonel Brizola e seu PDT. Com as acusações de corrupção, com o movimento de sempre sermos governados pelas mesmas oligarquias, surge uma esperança. Em 2013, se tem o movimento dos 20 centavos e depois, a questão dos muitos movimentos que surgiram dai (como o próprio MBL). Em uma análise madura politica histórica, devemos definir o que estamos usando como adjetivos. Olavo como um intelectual, tinha muito conhecimento e não podemos negar isso, mas como filosofo era incompleto na definição histórica e de desprezar a filosofia moderna, já que o Brasil nasce na modernidade.

Se não tivemos isso bastante claro, não vamos conseguir entender a diferença de socialismo e coletivismo. Nós libertários e anarcocapitalistas, segundo Murray Rothbard, acreditamos no individualismo como algo legitimo que começa destacando o individuo como soberano de si. Por isso mesmo, somos contra qualquer interferência do Estado na vida individual do ser humano enquanto individuo dono de si mesmo (em corpo e em consciência). Por isso somos contra violências, guerras e qualquer tipo de armas que podem ferir ou matar um individuo por se tratar de um meio de coerção. Paulo Kogos, por exemplo, vai contra os princípios básicos até mesmo dos ANCAPs.

Jair Bolsonaro nunca foi de um lado e sim, sempre foi um deputado do PP (Partido Progressista do icônico Paulo Maluf) inexpressivo e antes de aparecer em programas de TV, não era um “destaque” dentro da mídia ou da política. A meu ver, ganhou destaque em dizer coisas que o afegão médio gostaria de dizer e se identificaram com ele como adolescentes com seu ídolo. A política aparece como forma de assunto com a operação Lava Jato e em alguns setores, que começaram a ver que a politica poderia ser pauta novamente no Brasil. Mas, existe um problema: não se teve uma educação politica e nem uma educação que fizesse o afegão médio pesquisasse e lesse, pois, somos um povo que não se gosta de ler e pesquisar. Quando se escreve, isso é muito mais sobre suas crenças do que de fato são.

Por isso mesmo, as falas de Bolsonaro são bastante problemática, pois, Olavo botou a culpa em um socialismo no ato de corrupção que foge da verdade. Quando o ex-presidente dizia que “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo” ou o slogan mais conhecido “Nossa bandeira jamais será vermelha” um macartismo tardio do tempo da guerra fria entre EUA e URSS (que levou muitos erros do regime militar). O Brasil tem uma tradição de governos liberais e com a redemocratização, os governos se passaram a ser social-democratas. Por isso mesmo, dizer que a constituição é um documento “socialista” é um exagero próprio de olavistas que reduzem tudo a partir de suas próprias crenças.

O texto ainda diz:

Isto, per se, poderia não significar nada, uma vez que o juramento constitucional é uma formalidade obrigatória que até mesmo um candidato anarcocapitalista teria que cumprir para assumir o cargo. Porém, Bolsonaro jamais fez qualquer menção sobre alterar o caráter socialista da constituição – muito pelo contrário, ele sempre fez questão de elogiá-la. Na verdade, no mesmo discurso de posse que ele se colocava como o salvador da pátria contra o socialismo, ele afirmava sua fé no fetiche socialista da educação, dizendo que teríamos “que nos espelhar em nações que por meio da educação encontraram o caminho da prosperidade”.

Bolsonaro não pode mudar a constituição – quem se propõem a discutir politica tem que entender o mínimo de politica brasileira w entender que temos um governo de colisão, concordando ou não – sendo ele de qualquer tipo, pois, ele não é imperador do Brasil. Depois, com uma influencia clara do olavismo, chama algo social-democrata de socialista. Que, a meu ver, é bastante problemático e reducionista. Vamos a separação como entendimento do que estamos falando:

1 - Coletivismo é um conceito mais amplo que se refere a uma filosofia ou prática social onde a prioridade é dada ao grupo ou à comunidade sobre o indivíduo. No coletivismo sua ênfase está em valores como a cooperação, a solidariedade e o bem-estar coletivo. Pode se manifestar em diferentes formas, desde culturas comunitárias até políticas econômicas que favorecem a propriedade coletiva dos meios de produção. Em economia, pode incluir cooperativas; em sociedades, culturas que valorizam a harmonia e o consenso acima das ambições individuais.

2 - Socialismo é uma ideologia econômica e política que busca a organização da produção e distribuição dos bens de acordo com os princípios de justiça social e igualdade. Defende a propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção, em oposição à propriedade privada capitalista. Redução ou eliminação das desigualdades de classe, garantindo que os frutos do trabalho sejam distribuídos de forma mais equitativa. Países que adotaram ou adotam formas de socialismo incluem a União Soviética (histórica), Cuba, e, em certa medida, a China atual.

3 - Social-democracia, por outro lado, é uma abordagem que busca conciliar elementos do socialismo com a democracia liberal, sem necessariamente abolir a propriedade privada.  Promovendo uma economia mista onde tanto o mercado quanto o estado têm papéis importantes. O estado regula, mas não necessariamente controla, os meios de produção. Implementação de políticas de bem-estar social, como saúde universal, educação gratuita, e uma rede de segurança social forte, financiada por impostos progressivos. Mantém-se firmemente comprometida com a democracia representativa e os direitos individuais, diferenciando-se do socialismo autoritário. Por exemplo, os países nórdicos como Suécia, Noruega, e Dinamarca são frequentemente citados como exemplos de social-democracia, embora cada um tenha suas nuances.

Dai começamos a mostrar que há diferenças bastantes tênues dentro desses problemas que sim, quem se propõem em escrever textos políticos, tem que estudar. Ai a diferença entre o coletivismo e o socialismo, tende a ideia mais vasta que pode incluir o socialismo, mas não é exclusivamente socialista. Porque o socialismo é uma ideologia especifica dentro do aspecto coletivista que propõe a propriedade coletiva dos meios de produção. Além disso, se analisamos de uma forma bastante ampla, o nazismo (terceira via) e o fascismo (direita reacionária italiana) também eram coletivistas. Como a democracia liberal também.

Já a diferença entre a social-democracia e o socialismo se dará enquanto o socialismo tradicional pode buscar a abolição da propriedade privada dos meios de produção, a social-democracia procura reformar o capitalismo para tornar ele mais justo e equitativo, mantendo uma economia de mercado regulado. O socialismo tende a focar mais na transformação estrutural da economia e da sociedade, enquanto a social-democracia se concentra em reformas dentro do sistema capitalista para alcançar objetivos socialistas.

Temos ainda de nos ater a questão da tese do texto, temos uma escola socialista:

Então, no caso da educação, temos uma direita que aceita sincera e totalmente a premissa da educação socializada controlada pelo estado, enquanto discute fervorosamente se as escolas devem adotar a educação sexual LGBT ou estudos bíblicos. Isso faz a direita concentrar seus esforços em iniciativas como o Escola Sem Partido, que visa dar os seus próprios pitacos de como deve ser a doutrinação no sistema socialista de educação – sem jamais colocá-lo em discussão. Assim temos, por exemplo, o direitista Nikolas Ferreira, que sem nunca questionar o nosso sistema educacional socialista, combate somente a adoção da “linguagem neutra” em suas escolas.

A meu ver, a educação brasileira não é socialista – mesmo porque, eu estive na escola – mas uma educação positivista com alguns traços marxistas. Por quê? O marxismo em si, consiste em educar as crianças a não desejarem coisas supérfluas, já nossa educação é técnica. Você estuda português porque precisa, você estuda matemática para usar no trabalho etc.  Na historia brasileira política e cultural – tivemos rainhas francesas também – nossa educação é muito mais iluminista no sentido da base de Rousseau (e aqui não me interessa o que se acha o que é iluminista) do que uma educação socialista no modo de se pensar como um coletivismo. Dai vem a confusão: os Estados Unidos tem uma tradição de homeschool (algo como “escola em casa”) porque são cultos e desde sua colonização tem universidades. Estamos em outra realidade. Os portugueses não tratavam o Brasil como uma extensão, tivemos ema educação jesuíta, depois uma educação iluminista e só bastante recentemente, se teve uma tentativa de democratização da educação.

Quem estuda filosofia a fundo, tende a estudar o processo da escolarização (escola vem de escolástica que vem de scholé do grego) dentro da modernidade que podemos sempre saber o caminho único da coisa. O que seria aprender ou o que seria alcançar nosso aprendizado por conhecimentos vindos dos nossos antepassados? Essa é a pergunta.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

DA LIBERDADE

 



Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharelado em filosofia)

O que é liberdade pra você? No sentido mais amplo e profundo da palavra?   (Luna/X)

Minha amiga escreveu esse post a um dois dias e fiquei refletindo sobre o que seria liberdade, mesmo porque, é e sempre foi, objeto do meu estudo. Dentro da filosofia – seja qual for – a liberdade sempre foi uma questão de estudo e muita reflexão dentro de um pensamento logico. Isso porque a liberdade tem a ver com escolhas e responsabilidade, pois, a dinâmica social tende a ser entre aquilo que eu quero (vontade) e aquilo que posso fazer (ato). Em suma, poderemos dizer que o ser humano age por vontade, por racionalidade e por sentimentos dentro dos seus valores. E ai que esta  o paradoxo da filosofia antiga, medieval e moderna.

A antiga via a liberdade como algo que é dinâmico, os gregos na antiguidade, viam a liberdade como o poder se movimentar. Apesar de tudo, para Sócrates (o pai da filosofia ocidental), a liberdade é se autoconhecer, examinar a vida e ver se ela vale a pena ser vivida. Ou seja, a liberdade de pensamento é a liberdade de se filosofar, de olhar para o mundo e para os seus atos como se conhecesse de onde veio sua vontade. Na verdade, a meu ver, seja antiga, medieval ou moderna, a filosofia sempre colocou a liberdade como algo acontecido na vontade.

Daria mil exemplo dessa liberdade – já que passei a vida com deficiência física – de eu ficar em uma entidade beneficente, que não aceitava que tivéssemos autonomia. Em uma ocasião, meu amigo iria se casar e frequentávamos uma oficina abrigada (mesmo ele tendo outras atividades de ganhar dinheiro) e por ser deficiente a coordenadora disse que não poderia ter filho. Claro, um homem que vende bala no farol não tem tanto dinheiro para sustentar um filho, mas e tantos outros que tiveram e conseguiram? Mas, meu amigo fez a vasectomia e não teve filho. Daí temos uma questão: você deixaria sua vontade prevalecer ou só por causa da deficiência acataria um conselho de uma pessoa estranha?

Nesse caso, a renda pode não ser o único fator de temos ou não vontades e desejos. Schopenhauer dizia que a vida está entre a dor e o tedio, se meu amigo se arrependeu – porque ele nunca disse nada sobre isso – ele tem a dor de não ter realizado isso, mas se ele não ligou, ai vem o tedio, pois, ele conseguiu se esvair de responsabilidades. Aí vamos na minoridade humana kantiana de querer sempre um tutor para regular nossas ações. Lembramos que, a vontade é ação ou a consciência do objeto desejado, como, por exemplo, um sorvete de chocolate. Você pode não ter dinheiro para tomar o sorvete (dor), mas se tiver, tomara até encher (tedio). A meu ver, a liberdade do existencialismo (principalmente, da de Sartre), bem interessante.

Sartre dizia que “somos condenados a sermos livres”, ou seja, sempre estamos escolhendo um caminho como Alice ao perguntar para o Gato de Cheshire qual caminho seguir, ela diz não saber, e o gato diz que qualquer caminho serve. Ou seja, uma hora Alice terá que tomar a decisão de um caminho seguir, mas ela terá que tomar essa decisão sozinha e com a vontade de ter (ação) com o ato de potenciar essa vontade. Ter ou não filhos, tomar ou não um sorvete de chocolate tem a ver com a capacidade de se ter escolhas a seguir.