Amauri Nolasco Sanches Júnior
(Bacharel em Filosofia)
Uma das melhores coisas que já fiz na minha vida foi
contratar um psicoterapeuta. E isso tem ajudado a entender certas nuances do
comportamento humano – através do meu e das pessoas em minha volta – e uma das
coisas que fico bastante perplexo é a capacidade do brasileiro médio tem de se
auto enganar que existe uma verdade. Não existe “verdade” no sentido de uma
realidade universal moral, mas existem varias percepções daquilo que é certo ou
aquilo que é errado. Matar alguém é errado em muitas ideologias morais (e
religiosas), pois, você tira a vida do outro que é uma propriedade dele e só
ele pode decidir (até, se fomos bastante rigorosos, a falência do corpo é uma
decisão celular nossa) se deve ou não morrer. Assim como o estupro, você viola
o corpo do outro como propriedade privadas.
Somos contingentes porque somos criaturas sempre em mudanças
e tudo no universo é assim. Hoje o sol existe em todo seu esplendor, mas amanhã
pode não existir mais por razões adversas e isso não esta ao nosso controle. Os
estoicos sabiam disso quando dizia que, tem coisas que não estão no nosso
controle e mesmo com os avanços da ciência, isso não pode ser esquecido.
Poderemos, mais ou menos, fazer os cegos enxergarem com óculos especiais, mas
não é uma visão nítida e natural. Poderá, porventura, ser um sombreamento dos
objetos dentro da realidade percebida. A meu ver – porque sou muito crítico
nessas patifarias entre cibernética e deficiência – que isso só é uma eugenia
tecnológica para forçar todo mundo a ser e a parecer padrão. A sabedoria cristã
– que está longe de pastor picareta – diz que não existe duas folhas iguais.
O conhecimento não poderia ser usado para manobrar pessoas
sem esse mesmo conhecimento. Conhecer é aprender, ter consciência (saber que
aquilo existe) daquilo que não se pode negar como existente. Se vejo uma
árvore, por exemplo, estou vendo uma historia que começa com a semente
eclodindo em brotinho e se cria camadas de casca e nascimento e morte de folhas
que alimentam sua estrutura (e animais herbívoros). Mas, isso é só uma verdade
objetiva, pois verdades objetivas são reais conosco aqui na terra e sem nós
aqui na Terra. Então, estamos dizendo que existem verdades subjetivas e
verdades objetivas? Sim, estou. Verdades objetivas é um mundo que não poderemos
controlar e está além da nossa compreensão, mas esta lá independente daquilo ser
percebido por nós ou não (aquilo que não muda). E tem nossa verdade subjetiva
que são o julgamento psicoperceptível (que podem mudar ao longo da vida), que são
construídos por conceitos que são entre valores que recebemos na educação familiar,
como também, visões predominantes da moral social.
Política tem a ver com o bem comum dentro da questão administrativa
da nação ou distritos (Estados ou municípios). Ate mesmo porque, tem a ver com
a etimologia do termo que remonta a Grécia antiga. Quando Aristóteles (384 a.C.
– 322 a.C.) disse que somos “zoo politikon”, esse “politikon” queria dizer gregário
ou social, muito mais do que politico do modo moderno e pós-moderno. Ou seja,
para o filosofo (como o chamavam os filósofos árabes na idade média), somos
animais sociais por sermos racionais e poderemos fazer e agir conforme nossas
escolhas. Associou as abelhas e as formigas – que hoje sabemos, são gregárias por
conta de reações químicas e genéticas muito
mais do que racionalidade – e remontou uma ideia que durou muitos séculos. Mas,
política não é moralidade.
Como vimos nos parágrafos anteriores, a moralidade tem a ver
com a questão da subjetividade dentro das crenças e valores que um povo ou
comunidade, trazem. Não matar, por exemplo, é uma coisa que é universal: não podemos
achar que podemos privar o outro da vida que lhe pertence. Poderemos até
indagar de onde a vida veio – já que existem coisas que são vivas e coisas que não
são vivas – mas, não podemos privar do direito a dignidade daqueles que não fizeram
nada para pedirem isso. Matar, violentar, trair etc., fica na questão moral
porque tem a ver com convivências sociais dentro do convívio social. Mesmo assim,
trair alguém tem muito a ver muito mais com modos subjetivos, do que com questões
objetivas. Porque tem a ver com o privado.
Ai que esta o ponto: por que tanta confusão entre aquilo que
é privado e aquilo que é publico no Brasil? A vida sexual e privada das pessoas
são das pessoas – que elas são ou escolhem – e até a religião, é uma coisa privada
e de foro íntimo (mesmo que essas religiões materialistas herdeiras de Roma e
da Judeia, são mais aberrações do que a busca da espiritualidade verdadeira). Do
modo público é a obediência de leis que infringem incomodar e privar o outro, respeitar
o ir e vir das pessoas e não causar acidentes (que podem ser um tipo de violência).
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