sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

ROMANTIZAÇÃO DA CRIMINALIDADE

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharelado em filosofia)

 

"Eu acho que aqueles dois bandidos na moto e todos os outros bandidos têm que morrer. Não temos que ter vergonha de falar isso".

Renan Santos

Um filosofo deve (ou deveria) olhar as coisas de um modo muito além do olhar ideológico binário que estamos presos hoje em dia. Mesmo porque, não se sabe o que é direita e esquerda aqui no Brasil, por causa da nossa cultura imediatista dentro de pautas que dizem ter que ser combatidas. A direita no Brasil – com o conservadorismo de costumes (tradicionalismo olavista) e o liberalismo (com a vertente libertaria que insiste em se posicionar a direita) – tem que olhar a história do Brasil e ver que na visão tradicionalista dentro que poderíamos chamar de tradição, o Brasil se construiu com uma base católica e uma política liberal.  Não tem muito que discutir quanto a isso, pois, quem leu e estudou a historia do Brasil, sabe.

A esquerda brasileira tem um histórico trabalhista, comunista e um pouco de anarquismo sindicalista. Depois da tomada do poder de Getúlio Vargas, a esquerda passa a ser comunista por Vargas ser trabalhista e a grande oposição é a forma de um fascismo caboclo que tivemos durante o Estado Novo. Com o apoio integralista (movimento fascista brasileiro). E nessa tradição – não no achismo abrasileirado que tanto nos irrita nas discussões não pesquisadas – deveríamos focar nas analises sobre o que se tornou nossa cultura nesses tempos onde o crime se romantiza dentro de um anarquismo americanizado dos filmes que começam nos anos 80 do cara que cabula aula mentindo para a mãe que esta doente (O Curtindo a Vida Adoidado é o puro exemplo como o jovem deve se descolar da cultura para ser livre levando a namorada e o amigo, fazendo esse roubar o carro do pai), e outros exemplos da época.

Mas de onde veio a romantização do crime e da pobreza? Há duas fontes: a de filmes do faroeste americano, onde há uma romantização do criminoso como “herói” que mesmo fazendo crimes (também matando indígenas) estão fazendo o bem para a humanidade (isso poderemos ver em filmes e series ate hoje). E a classe média brasileira que coloca a pobreza como meio de superação e redenção daquilo que não tem. Como trocar o nome de “favela” para “comunidade” para ficar mais palatável, mas ninguém gosta (isso quem mora na periferia sabe) de morar numa favela com criminosos trocando tiro todos os dias e perigo de ser assaltado. Ai vamos em um outro nível da análise e nos perguntar: o melhor modo de mudar isso é romper com a cultura que esta ai?

Renan Santos (MBL) disse em dado momento, que se deveria romper com a cultura que está ai. Como dois criminosos em uma moto atirar contra um ciclista na frente do parque no Itaim Bibi, ou três caras (um deles é um pastor) matar uma jovem por causa de um carro e varias formas de música incentivando o crime. O que nos diz a teoria da intencionalidade kantiana? Kant tinha uma base muito solida dentro da moralidade e dizia que deveríamos agir no qual nossas ações deveriam ser seguida, ou seja, "Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal.". Será que o criminoso atirar para matar um ciclista por causa de um celular queria que fosse uma “lei universal”?

Claro que a motivação dos criminosos é uma motivação egoísta (não positiva). Tirar um bem só por causa que os seus ancestrais fizeram as escolhas erradas – aqui temos que expor a verdade dos fatos – não parece uma intenção de autorreflexão da ação que conotou em morte do outro, privando dele usufruir da vida (tirando uma coisa privada). Mas, acima de tudo, a questão passa novamente em um âmbito mais além daquilo que a realidade dos dois criminosos vivem. Ignorância? Pouco provável. A romantização do crime lhe faz como um anti-herói que acha meios de tirar da “elite” para dar ao pobre, uma atitude mesquinha que pode conotar como algo cultural. Dai a questão da fala de romper a cultura.

A mesquinhez e a vantagem sempre foram uma espécie de regra no Brasil. Poderemos ver, ao longo da historia humana, a mesquinhez (como foco de interesses pessoas pequemos ou egoístas) e  a busca da vantagem (buscar benefícios sempre na custa dos outros) tem sido comuns, especialmente em contextos de pobreza, competição ou instabilidade pública e econômica. Como somos uma cultura medieval moderna (sendo que se gosta da tecnologia, mas existem regras morais e religiosas medievais), poderemos pegar exemplo da era medieval. A maioria dos nobres, por exemplo, frequentemente agia com mesquinhez para manter poder e privilégio, enquanto o clientelismo e o favoritismo eram práticas comuns em impérios como os romanos. E poderemos ver muito a influência medieval dentro da nossa cultura.

No Brasil, a questão da mesquinhez e a busca da vantagem podem ter razões da estrutura colonial, onde a colonização e a exploração de recursos humanos (como escravos) e naturais foi incentivada para benefício em uma elite pequena. Isso fez criar uma mentalidade de “cada um por si” ser reforçada por séculos de desigualdade, corrupção e falta de instituições fortes. Dai entramos dentro da politica brasileira, onde historicamente foi marcada com o clientelismo (troca de alguns favores por votos ou lealdade, que dura até hoje) perpetuou a ideia de que vantagens pessoais e grupais mais importantes do que o bem comum. Isso gerou uma cultura onde a mesquinhez – no sentido de priorizar interesses imediatos e pequenos – é vista como se fosse uma estratégia de sobrevivência ou sucesso.

Ainda tem a cultura do “jeitinho”, pois, o famoso “jeitinho brasileiro” nasce de uma necessidade criativa de se “dar bem”. Em outro modo – mesmo que alguns acadêmicos achem criatividade ou adaptações – na verdade, é para obter vantagens inúmeras em nome do seu próprio interesse. E isso tem a ver muito com a questão de passar por cima das questões éticas e da lei, ou que reforça a percepção de mesquinhez como cultura. isso culmina em religiões materialistas (neopentecostais), musicas fáceis e sem um poder de reflexão e conjuntura temática, e uma cultura que o pessoal não sabe ler e não sabe escrever. Por que pobre vai estudar? Um pensamento escravagista.

#bbb25 #filosofia

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