quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

A DIREITA SOCIALISTA E A VERDADEIRA IDEOLOGIA LIBERTARIA

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharel em filosofia)

 

Uns dos maiores erros do brasileiro médio é não pesquisar e se informar, ter certeza do que acredita e do que é certo. Não importa do que se opomos – eu, por exemplo, sou a favor daquilo que é bom e belo e acima de tudo, a verdade – temos que saber a essência daquilo que opomos além de filosofias fáceis como o olavismo, sempre expandindo aquilo que devemos e queremos fazer uma critica. A politica é a arte da retorica e se você não tiver uma carga de conhecimento, vai ser enganado. Mesmo porque, o Brasil é bastante estranho, a direita com ssua rebelião boomer, se transformou em um movimento anarcossocialista e a esquerda se transformou em nacionalista-varguista.

Lendo um texto do Instituto Rothbard sobre a direita bolsonarista intitulado “O grande triunfo da esquerda: uma direita socialista”, fazendo uma critica severa sobre o que representou o governo Bolsonaro (que chamaram de direita socialista), vi alguns erros muito enviesados de olavismo (Olavo de Carvalho) e ao mesmo tempo, ignorância histórica. Como filosofo – sim, me dou o direito de me chamar de filosofo libertário – temos que fazer alguns esclarecimentos que, primeiro, nem toda a esquerda é socialista e nem toda a ideia (seja direita ou esquerda) são erradas. E nem toda a direita é fascista. Mesmo sendo libertário e acreditando em uma base ideológica libertaria, não deveríamos chegar ao ponto de dizer (quem leu Rothbard sabe disso) que deveríamos ser menos idealistas. Mesmo porque, não estamos em um mundo libertário. Em uma analise bem mais profunda, as criticas ao governo lulopetista tendem sempre colocar o petismo como uma ideologia comunista (ou socialista).

Escrevi no final de 2022 – para a matéria de escrita de textos acadêmicos – um trabalho (paper simples) onde eu respondia a pergunta: “HÁ UM ANARQUISMO BOLSONARISTA REACIONÁRIO E MILITAR?”. Esse artigo, na época, analisava o movimento que se rebelou contra as eleições e se instalaram nas portas dos quarteis e que culminou no fáctico 8 de janeiro (onde pessoas iludidas foram presas por quebrar os prédios dos três poderes). Na época, tive a ideia de analisar esse movimento com o livro “A Desobediência Civir” de Henry David Thoreau, por ter a ver um pouco com o tema e por uma questão de prática (já que estava atrasado quanto a entrega). isso tinha a ver com uma análise entre o contexto que esses protestos aconteceram e sua origem, mas, no conjunto do processo dessa análise, também tive a oportunidade de uma análise de sua motivação. Junto com um processo de desenvolvimento do movimento e a casa da origem desse movimento, depois cheguei à conclusão que se tratava de uma “rebelião boomer”.

No texto do site o autor coloca:

Bolsonaro afirmou no discurso que este dia era “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”. Ao final do pronunciamento ele levantou uma bandeira do Brasil e repetiu a frase que foi um dos seus motes durante a campanha e todo o seu governo: “Nossa bandeira jamais será vermelha”.

Na verdade, esse movimento teve origem dentro de um sentimento de “traição” do PT e suas origens dentro do movimento trabalhista em concorrência com o varguista Leonel Brizola e seu PDT. Com as acusações de corrupção, com o movimento de sempre sermos governados pelas mesmas oligarquias, surge uma esperança. Em 2013, se tem o movimento dos 20 centavos e depois, a questão dos muitos movimentos que surgiram dai (como o próprio MBL). Em uma análise madura politica histórica, devemos definir o que estamos usando como adjetivos. Olavo como um intelectual, tinha muito conhecimento e não podemos negar isso, mas como filosofo era incompleto na definição histórica e de desprezar a filosofia moderna, já que o Brasil nasce na modernidade.

Se não tivemos isso bastante claro, não vamos conseguir entender a diferença de socialismo e coletivismo. Nós libertários e anarcocapitalistas, segundo Murray Rothbard, acreditamos no individualismo como algo legitimo que começa destacando o individuo como soberano de si. Por isso mesmo, somos contra qualquer interferência do Estado na vida individual do ser humano enquanto individuo dono de si mesmo (em corpo e em consciência). Por isso somos contra violências, guerras e qualquer tipo de armas que podem ferir ou matar um individuo por se tratar de um meio de coerção. Paulo Kogos, por exemplo, vai contra os princípios básicos até mesmo dos ANCAPs.

Jair Bolsonaro nunca foi de um lado e sim, sempre foi um deputado do PP (Partido Progressista do icônico Paulo Maluf) inexpressivo e antes de aparecer em programas de TV, não era um “destaque” dentro da mídia ou da política. A meu ver, ganhou destaque em dizer coisas que o afegão médio gostaria de dizer e se identificaram com ele como adolescentes com seu ídolo. A política aparece como forma de assunto com a operação Lava Jato e em alguns setores, que começaram a ver que a politica poderia ser pauta novamente no Brasil. Mas, existe um problema: não se teve uma educação politica e nem uma educação que fizesse o afegão médio pesquisasse e lesse, pois, somos um povo que não se gosta de ler e pesquisar. Quando se escreve, isso é muito mais sobre suas crenças do que de fato são.

Por isso mesmo, as falas de Bolsonaro são bastante problemática, pois, Olavo botou a culpa em um socialismo no ato de corrupção que foge da verdade. Quando o ex-presidente dizia que “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo” ou o slogan mais conhecido “Nossa bandeira jamais será vermelha” um macartismo tardio do tempo da guerra fria entre EUA e URSS (que levou muitos erros do regime militar). O Brasil tem uma tradição de governos liberais e com a redemocratização, os governos se passaram a ser social-democratas. Por isso mesmo, dizer que a constituição é um documento “socialista” é um exagero próprio de olavistas que reduzem tudo a partir de suas próprias crenças.

O texto ainda diz:

Isto, per se, poderia não significar nada, uma vez que o juramento constitucional é uma formalidade obrigatória que até mesmo um candidato anarcocapitalista teria que cumprir para assumir o cargo. Porém, Bolsonaro jamais fez qualquer menção sobre alterar o caráter socialista da constituição – muito pelo contrário, ele sempre fez questão de elogiá-la. Na verdade, no mesmo discurso de posse que ele se colocava como o salvador da pátria contra o socialismo, ele afirmava sua fé no fetiche socialista da educação, dizendo que teríamos “que nos espelhar em nações que por meio da educação encontraram o caminho da prosperidade”.

Bolsonaro não pode mudar a constituição – quem se propõem a discutir politica tem que entender o mínimo de politica brasileira w entender que temos um governo de colisão, concordando ou não – sendo ele de qualquer tipo, pois, ele não é imperador do Brasil. Depois, com uma influencia clara do olavismo, chama algo social-democrata de socialista. Que, a meu ver, é bastante problemático e reducionista. Vamos a separação como entendimento do que estamos falando:

1 - Coletivismo é um conceito mais amplo que se refere a uma filosofia ou prática social onde a prioridade é dada ao grupo ou à comunidade sobre o indivíduo. No coletivismo sua ênfase está em valores como a cooperação, a solidariedade e o bem-estar coletivo. Pode se manifestar em diferentes formas, desde culturas comunitárias até políticas econômicas que favorecem a propriedade coletiva dos meios de produção. Em economia, pode incluir cooperativas; em sociedades, culturas que valorizam a harmonia e o consenso acima das ambições individuais.

2 - Socialismo é uma ideologia econômica e política que busca a organização da produção e distribuição dos bens de acordo com os princípios de justiça social e igualdade. Defende a propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção, em oposição à propriedade privada capitalista. Redução ou eliminação das desigualdades de classe, garantindo que os frutos do trabalho sejam distribuídos de forma mais equitativa. Países que adotaram ou adotam formas de socialismo incluem a União Soviética (histórica), Cuba, e, em certa medida, a China atual.

3 - Social-democracia, por outro lado, é uma abordagem que busca conciliar elementos do socialismo com a democracia liberal, sem necessariamente abolir a propriedade privada.  Promovendo uma economia mista onde tanto o mercado quanto o estado têm papéis importantes. O estado regula, mas não necessariamente controla, os meios de produção. Implementação de políticas de bem-estar social, como saúde universal, educação gratuita, e uma rede de segurança social forte, financiada por impostos progressivos. Mantém-se firmemente comprometida com a democracia representativa e os direitos individuais, diferenciando-se do socialismo autoritário. Por exemplo, os países nórdicos como Suécia, Noruega, e Dinamarca são frequentemente citados como exemplos de social-democracia, embora cada um tenha suas nuances.

Dai começamos a mostrar que há diferenças bastantes tênues dentro desses problemas que sim, quem se propõem em escrever textos políticos, tem que estudar. Ai a diferença entre o coletivismo e o socialismo, tende a ideia mais vasta que pode incluir o socialismo, mas não é exclusivamente socialista. Porque o socialismo é uma ideologia especifica dentro do aspecto coletivista que propõe a propriedade coletiva dos meios de produção. Além disso, se analisamos de uma forma bastante ampla, o nazismo (terceira via) e o fascismo (direita reacionária italiana) também eram coletivistas. Como a democracia liberal também.

Já a diferença entre a social-democracia e o socialismo se dará enquanto o socialismo tradicional pode buscar a abolição da propriedade privada dos meios de produção, a social-democracia procura reformar o capitalismo para tornar ele mais justo e equitativo, mantendo uma economia de mercado regulado. O socialismo tende a focar mais na transformação estrutural da economia e da sociedade, enquanto a social-democracia se concentra em reformas dentro do sistema capitalista para alcançar objetivos socialistas.

Temos ainda de nos ater a questão da tese do texto, temos uma escola socialista:

Então, no caso da educação, temos uma direita que aceita sincera e totalmente a premissa da educação socializada controlada pelo estado, enquanto discute fervorosamente se as escolas devem adotar a educação sexual LGBT ou estudos bíblicos. Isso faz a direita concentrar seus esforços em iniciativas como o Escola Sem Partido, que visa dar os seus próprios pitacos de como deve ser a doutrinação no sistema socialista de educação – sem jamais colocá-lo em discussão. Assim temos, por exemplo, o direitista Nikolas Ferreira, que sem nunca questionar o nosso sistema educacional socialista, combate somente a adoção da “linguagem neutra” em suas escolas.

A meu ver, a educação brasileira não é socialista – mesmo porque, eu estive na escola – mas uma educação positivista com alguns traços marxistas. Por quê? O marxismo em si, consiste em educar as crianças a não desejarem coisas supérfluas, já nossa educação é técnica. Você estuda português porque precisa, você estuda matemática para usar no trabalho etc.  Na historia brasileira política e cultural – tivemos rainhas francesas também – nossa educação é muito mais iluminista no sentido da base de Rousseau (e aqui não me interessa o que se acha o que é iluminista) do que uma educação socialista no modo de se pensar como um coletivismo. Dai vem a confusão: os Estados Unidos tem uma tradição de homeschool (algo como “escola em casa”) porque são cultos e desde sua colonização tem universidades. Estamos em outra realidade. Os portugueses não tratavam o Brasil como uma extensão, tivemos ema educação jesuíta, depois uma educação iluminista e só bastante recentemente, se teve uma tentativa de democratização da educação.

Quem estuda filosofia a fundo, tende a estudar o processo da escolarização (escola vem de escolástica que vem de scholé do grego) dentro da modernidade que podemos sempre saber o caminho único da coisa. O que seria aprender ou o que seria alcançar nosso aprendizado por conhecimentos vindos dos nossos antepassados? Essa é a pergunta.

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