Amauri Nolasco Sanches Júnior
- Bacharel em filosofia
Aquele que botar as mãos sobre mim, para me governar, é
um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.
Pierre-Joseph
Proudhon
Proudhon, segundo Woodcock (escritor anarquista), disse essa
frase graças a Napoleão. Pode ser que a frase seja uma inspiração da época –
onde a França é tomada por Napoleão III – e que mostra o anarquismo proudhoniano
na sua essência mais intima. Mas, o que o filosofo anarquista queria mostrar na
frase? Ora, ela reflete seu espírito libertário em e oposição à autoridade
imposta. Considerando um dos pioneiros do anarquismo, Proudhon defendia a
liberdade individual acima de tudo e via o governo como uma forma de opressão. Ao contrario de Bakunin, Proudhon defendia o
individualismo e a liberdade irrestrita dos camponeses e trabalhadores como indivíduos.
A pergunta que fica é: quem pode dizer que um libertário não
pode ser um anarquista? Uma das coisas que sempre ouço sobre o anarquismo proudhoniano
e o libertarianismo (esqueçam Paulo Kogos e essa turminha) é que seria uma
utopia e não pode ser implantado. Até mesmo, o filosofo Luiz Felipe Pondé,
sempre diz que por ele ser anarquista quando era “moleque”, isso é coisa de
moleque. Na história do movimento anarquista, temos nomes como o escritor russo
Liev Tolstói que era um anarquista cristão onde desenvolve sua filosofia
baseada nos ensinamentos de Jesus, especialmente no que diz respeito ao Sermão
da Montanha. Ou seja, a não-violência. E ao que parece, não era um “moleque”.
Mas, sabemos muito bem que a implantação desse tipo de
ideologia requer uma base muito mais profunda da critica e ceticismo (com o
conhecimento). Portanto, quem acredita em um anarquismo sem ou com o
capitalismo – que, a meu ver, seriam escravos do poder (Powerslave) como todo
mundo que está sobre a tutela do ESTADO – e acredita na liberdade e na soberania
das suas próprias escolhas e na paz do mundo. Ao contrário o que prega Kogos –
parece que ele desistiu do libertarianismo – a filosofia libertaria é contra as
guerras por entender que guerras são imposições de ESTADOS para ESTADOS. Na minha
visão, além da brutalidade desnecessária, ainda as guerras custam muito.
E ai, lendo o livro “Historia das deias e Movimentos Anarquistas”
de George Woodcock, lembrei de um trabalho que eu tive que fazer para o meu
bacharelado no final de 2022. Naquele tempo, o povo bolsonarista estava só na
porta dos quarteis e lancei uma resposta a pergunta: há um anarquismo
bolsonarista reacionário e militar? A ideia de um “anarquismo bolsonarista reacionário
e militar” parece absurda quando olhamos na essência anarquista de progressismo
(sim, o anarquismo é progressista) e não pode ser um nem reacionário (como
vertentes marxistas acusam) e nem militar. Mas, academicamente, a análise tem a
ver com a “Desobediência Civil” de David Thoreau, pois, concordamos ou não,
isso foi uma desobediência dentro de uma certa ordem de aceitar o imposto.
No livro, Thoreau escreveu essa obra preso porque não quis
pagar imposto em protesto por causa de uma guerra entre os EUA e o México. Mas,
em sua essência, ele aborda a responsabilidade moral do individuo diante a injustiça
cometida pelo governo. Por outro lado, o autor mostra no texto, que a ideia que
existe uma consciência moral que deve prevalecer sobre a obediência civil. Nesse
caso – com o discurso populista de Bolsonaro sobre a corrupção – a injustiça e
a consciência moral fica comprometida em ver corruptos serem soltos e subirem
ao poder. Erros? Acharem que as forças armadas são policiais e não são.
Thoreau defendeu uma resistência pacífica dentro de uma
forma de oposição às praticas governamentais erradas. Coisa que o 8 de janeiro
de 2023 não teve, pois, entraram (se deixaram ou não, é uma outra conversa) e
quebraram vários utensílios de ordem publica e até onde eu sei, isso é crime. Aí
chegamos a submissão quase cega de figuras públicas políticas, figuras que usam
a grande massa para perpetuar o poder (Bolsonaro é burro demais para isso).
E ai temos que revisitar a noção política de Aristóteles –
que muitos esqueceram – que o ser um humano é um ser politico (social) porque é
racional. Em Ética a Nicõmaco, o filosofo ainda diz que a ética não é uma teoria
apenas, mas só existe se for praticada. Ora, muitos vão acusar Aristóteles (também
Platão) de ter uma filosofia muito aristocrática e que não faz jus o que temos
hoje em dia. Um deles foi Luc Ferry, filosofo francês ainda vivo. Mas, Ferry não
se deteve dentro da questão cronológica e que poderíamos cometer anacronismo,
por outro lado, a filosofia aristotélica pode ser usada dentro do contexto
hoje. Principalmente, quando falamos de ética (aqui no Brasil precisamos tanto).
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