Amauri Nolasco Sanches Júnior – filosofo, publicitário
e TI
O filosofo britânico (conservador), Roger Scruton (1944-2020)
tinha uma frase: “Nós, conservadores,
somos chatos. Mas também estamos certos”, então, eu adaptei para o que sou:
“nós que gostamos de estudar e pesquisar, somos chatos. Mas também estamos
certos”. Em um mundo que deixou sua liberdade para ter segurança e em nome de
crenças políticas, não pesquisam uma informação porque colaboram com suas
crenças e massageia o seu ego, somos um contrapeso intelectual e isso começa
com Sócrates. Os academistas (acadêmicos são outra coisa hoje) da tradição mais
pura de Sócrates, Platão e Aristóteles, não podemos nos render ao fenômeno
massificador contemporâneo. No mais – remontando Descartes – temos que sempre
colocar tudo que lemos em um método metódico dentro de uma espécie de prédio,
que você começa com o alicerce.
Mas, qual o alicerce do conhecimento? Desde Platão, o
conhecimento (episteme) tem nos feitos refletir o motivo dele e o porquê esse
conhecimento nos é tão importante. Só conhecer não é importante, pois,
poderemos conhecer que a lua pode ser feita de queijo (como no século dezenove
se acreditava) ou, a teoria de hoje, a lua foi feita para extraterrestres
espionar os terráqueos. A pergunta é: será que isso é verdade? Será que algumas
famílias mandam e desmandam no mundo a séculos e são 13? Claro que não, a logica
nos obriga a pensar que se houvesse, haveria um movimento de governos para
eliminar essas famílias, ou veríamos a lua derreter por causa da radiação do
Sol ou ainda, a lua (com a missão Apollo) iria ter portas onde se poderia entrar
nela. Assim, demonstrei conhecimentos que não se sustentam – porque são crenças
macartistas – de uma guerra fria que nem existe mais e nem como justificativa
que tudo é comunismo.
Aí desembocamos em Kant no seu “sapere aude” (ouse saber),
onde o conhecer parte não só de um método (Descartes), mas, de um saber crítico
no sentido, de analisar a fundo aquilo que devemos ou temos de saber. Talvez,
Kant em suas críticas, volta ao grande dilema aristotélico onde o homem (ser
humano) teria sede de saber. Será mesmo? Porque, ao longo da história humana,
tem sentido que o ser humano tem sede de crença, mas, como estamos em um texto
de filosofia e raciocinando Kant (que é muito difícil), o conhecer tem etapas
bastantes importante para a meu ver, debater o real conhecimento.
Primeiro, “o que posso saber?”, pois, o que eu sei é aquilo
que eu tive a capacidade de conhecer com os meus sentidos. Eu “posso conhecer”
o frio porque meu corpo sente o ambiente frio, assim como sente o calor (que
estão sim ao extremo). Mas, não conseguimos perceber bactérias, que a Terra é
redonda (na verdade, obliqua) e que o mar aumenta alguns milímetros graças ao
aquecimento e isso instrumentos fazem. O que “posso saber” tem que ser confiado
pela ciência e pode ser comprovado por ela. Tem coisa que poderemos indagar?
Claro. A existência de tecnologias secretas, existem em todas as governanças do
mundo, até por causa, de segredo militar. E o limite daquilo que eu “posso
saber”? Será que tudo que eu leio na internet tem a ver com a verdade? Sempre
lembrando que, nossa sociedade ocidental, foi construída com três verdades:
aletheia, veritas e emurah.
Do grego veio a filosofia (ateniense) e a ciência (jônica), mas
também, nos deu a “aletheia” como uma verdade desvelada, ou seja, como se
revelar aquilo que seja oculto. Do romano veio o modo moral e o estoicismo
(mesmo sendo grego, se fortaleceu em Roma), mas também, nos deu a “veritas” como
a verdade da exatidão ou precisão dos fatos narrados. A verdade daquilo que
aconteceu realmente. Do hebraico veio o monoteísmo de um “Deus” único além
disso, deu o “emunah” que seria a verdade da fidelidade e confiança. Ou seja, o
cumprimento de uma promessa. Então, a verdade galgada dentro da tradição
ocidental tem a ver não só o que se descobre, mas aquilo que se pode provar além
disso, aquilo que se honra. Os gregos queriam o universo harmonizado (cosmos) e
então, disseram que existiriam coisas a serem desveladas (descobertas), os
romanos nos deram a noção jurídica e o pragmatismo e eram um povo que tinham
que provar o fato e os hebreus, tinham que honrar a palavra.
A verdade tem que ser descoberta, provada e honrada como
verdade. E a outra pergunta kantiana é: “o que devo fazer?”. Porque se a
verdade deve ser descoberta, provada e honrada como uma realidade, temos que
saber – como ação daquilo que “ousamos saber”, em ter discernimento daquilo que
seria a verdade de fato. Tanto a filosofia (racionalização), a ciência (desvelamento)
e a religião (promessa), tem que libertar o ser humano da sua prisão
(ignorância) e da sua incapacidade de sair da caverna. O “que fazer” é a
capacidade de pegar o conhecimento e se libertar daquilo que, realmente,
importa. As narrativas escravizadoras. Sejam da esquerda que nada sabem do
desvelamento e da promessa, seja da direita que não sabem da racionalização e
do desvelamento. O esvaziamento intelectual de hoje se deu por causa da
relativização da verdade e a essência do homem como ser racional, ser sentimental
e que não pode ser outra coisa, do que humano. Entre a liberdade e ética (que é
filha da verdade, está a única ação possível: ser aquilo que tu és.
O conhecimento, como disse Sócrates obedecendo o deus Apolo
(deus da luz e da verdade), começava com conhecer a si mesmo e assim,
conheceríamos os deuses e o universo. Talvez, os deuses seriam os aspectos que
eles representavam (simbolicamente) e o universo como o cosmos (harmonia). Se ser
o que eu sou e me conhecer com todos os aspectos e descobrir a harmonia,
talvez, como perguntaria Kant, “o que posso esperar?” como uma esperança, como
a religião (o religamento da promessa) e a teleologia (finalidade). Muitos me
acusam – pelo que eu escrevo no Instagram – que eu vejo o aspecto metafisico e
ontológico e não vejo o aspecto pratico de “encher a barriga”. Ora, “encher a
barriga” é deixar de ser escravo de conceitos e preconceitos dos “senhores de
narrativas” e ir além, pensar e seguir aquilo que somos em essência. A
finalidade do homem como humano (sua essência) é a liberdade e a felicidade,
não virtual, mas a analógica se ser e de pensar como quiser. Ter a promessa
cumprida em uma espiritualidade pura, ter a racionalidade plena, ter o
desvelamento como realidade. Jesus mesmo disse que “nem só de pão vive o filho
do homem”.
Aí vem a pergunta kantiana “o que é o homem?”. Na sua
essência, a pergunta sintetiza as três anteriores, ou seja, é uma pergunta da
antropologia filosófica. Quando Kant responde o que seria o homem, ele responde
o que deveríamos ver o ser humano como uma consciência que percebe. Mesmo porque,
biologicamente, desenvolvemos o modo de imaginar coisas e conceituar para domar
a natureza ao nosso bem-estar, e assim, moldar racionalmente a realidade e
inventar tecnologias. Ou melhor, o ser humano é ao mesmo tempo sujeito ao
conhecimento e um agente moral em ser esperançoso. Ele criar símbolos, cria culturas
e transforma tudo em um grande modelo de esperança. Mas devemos fazer isso?
Além de sermos, biologicamente, primatas da família dos chimpanzés
– mais para o lado dos bonobos – somos mamíferos que temos consciência tanto da
realidade dos objetos, quanto a si mesmo. Além disso, temos a capacidade de
criar utopias (animal utópicos) e brigar por essas utopias imaginadas como
vimos em Kant, para reforçar nossas esperanças. Mas além disso – como vimos no
filme Matrix como foram criadas as matrizes dos sonhos – como o ser humano é um
animal simbólico – que simboliza a realidade – temos a capacidade de achar
essas utopias realidade. Por exemplo, formas de governo, valorização do
dinheiro etc. E essa é a “armadilha”, a imaginação cria crenças que podem ser
alienantes e pode cegar a consciência de uma pessoa crente que aquilo é uma
realidade. A realidade é objetiva.