sexta-feira, 4 de julho de 2025

AH MONARK ...



Amauri Nolasco Sanches Júnior – filosofo, publicitário e TI

 

O filosofo britânico (conservador), Roger Scruton (1944-2020) tinha uma frase:  “Nós, conservadores, somos chatos. Mas também estamos certos”, então, eu adaptei para o que sou: “nós que gostamos de estudar e pesquisar, somos chatos. Mas também estamos certos”. Em um mundo que deixou sua liberdade para ter segurança e em nome de crenças políticas, não pesquisam uma informação porque colaboram com suas crenças e massageia o seu ego, somos um contrapeso intelectual e isso começa com Sócrates. Os academistas (acadêmicos são outra coisa hoje) da tradição mais pura de Sócrates, Platão e Aristóteles, não podemos nos render ao fenômeno massificador contemporâneo. No mais – remontando Descartes – temos que sempre colocar tudo que lemos em um método metódico dentro de uma espécie de prédio, que você começa com o alicerce.

Mas, qual o alicerce do conhecimento? Desde Platão, o conhecimento (episteme) tem nos feitos refletir o motivo dele e o porquê esse conhecimento nos é tão importante. Só conhecer não é importante, pois, poderemos conhecer que a lua pode ser feita de queijo (como no século dezenove se acreditava) ou, a teoria de hoje, a lua foi feita para extraterrestres espionar os terráqueos. A pergunta é: será que isso é verdade? Será que algumas famílias mandam e desmandam no mundo a séculos e são 13? Claro que não, a logica nos obriga a pensar que se houvesse, haveria um movimento de governos para eliminar essas famílias, ou veríamos a lua derreter por causa da radiação do Sol ou ainda, a lua (com a missão Apollo) iria ter portas onde se poderia entrar nela. Assim, demonstrei conhecimentos que não se sustentam – porque são crenças macartistas – de uma guerra fria que nem existe mais e nem como justificativa que tudo é comunismo.

Aí desembocamos em Kant no seu “sapere aude” (ouse saber), onde o conhecer parte não só de um método (Descartes), mas, de um saber crítico no sentido, de analisar a fundo aquilo que devemos ou temos de saber. Talvez, Kant em suas críticas, volta ao grande dilema aristotélico onde o homem (ser humano) teria sede de saber. Será mesmo? Porque, ao longo da história humana, tem sentido que o ser humano tem sede de crença, mas, como estamos em um texto de filosofia e raciocinando Kant (que é muito difícil), o conhecer tem etapas bastantes importante para a meu ver, debater o real conhecimento.

Primeiro, “o que posso saber?”, pois, o que eu sei é aquilo que eu tive a capacidade de conhecer com os meus sentidos. Eu “posso conhecer” o frio porque meu corpo sente o ambiente frio, assim como sente o calor (que estão sim ao extremo). Mas, não conseguimos perceber bactérias, que a Terra é redonda (na verdade, obliqua) e que o mar aumenta alguns milímetros graças ao aquecimento e isso instrumentos fazem. O que “posso saber” tem que ser confiado pela ciência e pode ser comprovado por ela. Tem coisa que poderemos indagar? Claro. A existência de tecnologias secretas, existem em todas as governanças do mundo, até por causa, de segredo militar. E o limite daquilo que eu “posso saber”? Será que tudo que eu leio na internet tem a ver com a verdade? Sempre lembrando que, nossa sociedade ocidental, foi construída com três verdades: aletheia, veritas e emurah.

Do grego veio a filosofia (ateniense) e a ciência (jônica), mas também, nos deu a “aletheia” como uma verdade desvelada, ou seja, como se revelar aquilo que seja oculto. Do romano veio o modo moral e o estoicismo (mesmo sendo grego, se fortaleceu em Roma), mas também, nos deu a “veritas” como a verdade da exatidão ou precisão dos fatos narrados. A verdade daquilo que aconteceu realmente. Do hebraico veio o monoteísmo de um “Deus” único além disso, deu o “emunah” que seria a verdade da fidelidade e confiança. Ou seja, o cumprimento de uma promessa. Então, a verdade galgada dentro da tradição ocidental tem a ver não só o que se descobre, mas aquilo que se pode provar além disso, aquilo que se honra. Os gregos queriam o universo harmonizado (cosmos) e então, disseram que existiriam coisas a serem desveladas (descobertas), os romanos nos deram a noção jurídica e o pragmatismo e eram um povo que tinham que provar o fato e os hebreus, tinham que honrar a palavra.

A verdade tem que ser descoberta, provada e honrada como verdade. E a outra pergunta kantiana é: “o que devo fazer?”. Porque se a verdade deve ser descoberta, provada e honrada como uma realidade, temos que saber – como ação daquilo que “ousamos saber”, em ter discernimento daquilo que seria a verdade de fato. Tanto a filosofia (racionalização), a ciência (desvelamento) e a religião (promessa), tem que libertar o ser humano da sua prisão (ignorância) e da sua incapacidade de sair da caverna. O “que fazer” é a capacidade de pegar o conhecimento e se libertar daquilo que, realmente, importa. As narrativas escravizadoras. Sejam da esquerda que nada sabem do desvelamento e da promessa, seja da direita que não sabem da racionalização e do desvelamento. O esvaziamento intelectual de hoje se deu por causa da relativização da verdade e a essência do homem como ser racional, ser sentimental e que não pode ser outra coisa, do que humano. Entre a liberdade e ética (que é filha da verdade, está a única ação possível: ser aquilo que tu és.

O conhecimento, como disse Sócrates obedecendo o deus Apolo (deus da luz e da verdade), começava com conhecer a si mesmo e assim, conheceríamos os deuses e o universo. Talvez, os deuses seriam os aspectos que eles representavam (simbolicamente) e o universo como o cosmos (harmonia). Se ser o que eu sou e me conhecer com todos os aspectos e descobrir a harmonia, talvez, como perguntaria Kant, “o que posso esperar?” como uma esperança, como a religião (o religamento da promessa) e a teleologia (finalidade). Muitos me acusam – pelo que eu escrevo no Instagram – que eu vejo o aspecto metafisico e ontológico e não vejo o aspecto pratico de “encher a barriga”. Ora, “encher a barriga” é deixar de ser escravo de conceitos e preconceitos dos “senhores de narrativas” e ir além, pensar e seguir aquilo que somos em essência. A finalidade do homem como humano (sua essência) é a liberdade e a felicidade, não virtual, mas a analógica se ser e de pensar como quiser. Ter a promessa cumprida em uma espiritualidade pura, ter a racionalidade plena, ter o desvelamento como realidade. Jesus mesmo disse que “nem só de pão vive o filho do homem”.

Aí vem a pergunta kantiana “o que é o homem?”. Na sua essência, a pergunta sintetiza as três anteriores, ou seja, é uma pergunta da antropologia filosófica. Quando Kant responde o que seria o homem, ele responde o que deveríamos ver o ser humano como uma consciência que percebe. Mesmo porque, biologicamente, desenvolvemos o modo de imaginar coisas e conceituar para domar a natureza ao nosso bem-estar, e assim, moldar racionalmente a realidade e inventar tecnologias. Ou melhor, o ser humano é ao mesmo tempo sujeito ao conhecimento e um agente moral em ser esperançoso. Ele criar símbolos, cria culturas e transforma tudo em um grande modelo de esperança. Mas devemos fazer isso?

Além de sermos, biologicamente, primatas da família dos chimpanzés – mais para o lado dos bonobos – somos mamíferos que temos consciência tanto da realidade dos objetos, quanto a si mesmo. Além disso, temos a capacidade de criar utopias (animal utópicos) e brigar por essas utopias imaginadas como vimos em Kant, para reforçar nossas esperanças. Mas além disso – como vimos no filme Matrix como foram criadas as matrizes dos sonhos – como o ser humano é um animal simbólico – que simboliza a realidade – temos a capacidade de achar essas utopias realidade. Por exemplo, formas de governo, valorização do dinheiro etc. E essa é a “armadilha”, a imaginação cria crenças que podem ser alienantes e pode cegar a consciência de uma pessoa crente que aquilo é uma realidade. A realidade é objetiva.