terça-feira, 8 de julho de 2025

CONTRA OS ACADEMICOS


“Se nada pode ser conhecido, nem sequer isso pode ser conhecido: que nada pode ser conhecido.” (AGOSTINHO, Santo, Contra os Acadêmicos)

 

Santo Agostinho de Hipona (354-430), escreveu a obra “Contra os Acadêmicos” para responder os céticos acadêmicos e que transformaram a Academia de Platão em algo muito contrário o que ele teorizou. O bispo de Hipona – com sua erudição e inteligência – cunhou esse pensamento porque os acadêmicos achavam que nem tudo poderia ser conhecido. Ou seja, Agostinho faria o que Rene Descartes fez séculos mais tarde, já que a realidade não pode ser conhecida, então, ate a afirmação que a realidade poderia ser conhecida, pode ser conhecida. Assim, no modo muito parecido com a filosofia da ciência (com as devidas proporções), Agostinho refutou um pensamento.

Hoje as questões acadêmicas são outras e se concentram em formar profissionais para o mercado de trabalho (mesmo que estudantes de filosofia serem vistos com muito preconceito), porem, na sua essência tradição, ainda se tem uma coisa que Platão sempre pregou (deveríamos olhar): o conhecimento liberta. Mas como liberta? O conhecimento liberta como um desvelamento das coisas que que querem nos esconder, por isso mesmo, em sua alegoria da caverna, Platão nos mostra como causa dor sair da caverna e olhar para a luz do Sol e seus olhos e também, volta para a mesma caverna. O conhecimento (a luz do Sol) liberta como clarear o caminho (metodós) a seguir. Hoje, os caminhos estão escurecidos por ideologias sem fundamento e coisas do tipo. Por quê? As ideologias confirmam as crenças que existem.

Mas, o que seria o conhecimento? Um diploma ou ser um professor? Essa pergunta tem a ver com a epistemologia e tem a ver com que temos de conhecimento e como conhecemos, pois, voltando a Santo Agostinho, se não podemos conhecer a realidade, então, nem isso poderíamos conhecer. E ai que esta, pois, isso tem a ver com a questão de estar liberto ou não. Isso me veio, depois de um professor universitário fez um comentário – Platão iria dizer um doxa (opinião) – que a filha do Roberto Justus deveria ser guilhotinada igual a nobreza francesa na revolução em 1789. Mas que desembocou em uma ditadura de Robespierre e logo depois, Napoleão Bonaparte toma o poder. Mesmo assim, o dito professor disse ser uma metáfora e não queria a morte da menina. O que nos interessa aqui é: se ele é um professor universitário, deveria ou não ter uma inteligência emocional?

Pensamos um pouco, se você diz algo porque você conhece e sabe que aquilo é feito para matar alguém, isso é uma opinião (doxa) ou um conhecimento (episteme)? Porque, Platão diria, que você dar uma opinião (doxa) não seria um conhecimento verdadeiro porque não tem a ver com a forma (idea), que seria a desarmonia do conhecimento. Ou seja, a doxa teria que se ligar a epistema para se transformar em idea, ou indo a fundo, transmitir um real acontecimento. Você dizer que “só a guilhotina...” é uma questão de dizer o que você pensa, afinal, dizer ser uma metáfora é um ato de má-fé. O conhecimento se faz dentro do limite daquilo que posso dizer, aquilo que não posso dizer, ou seja, a sabedoria bíblica nos diz que “a boca diz o que o coração está cheio”.

Me pergunto: por que um brasileiro médio estuda e vira universitário, se vai continuar escravo de ideologias políticas (ou políticos populistas) ou coisa do tipo? A meu ver. – uma frase que sempre trago comigo – se é para pensar ou dar opiniões como todo mundo, pode ter certeza de que, não faria nem o ensino médio. Ora, uma pessoa que estuda é uma pessoa que quer ir além de uma massificação tosca, ou um emburrecimento coletivo de ideologias escravagistas. Eu estudei – muitas outras coisas como publicidade e informática – porque a filosofia me deu ferramentas para ir além daquilo que vai me escravizar. Me chame de academista (da tradição platônica) e não acadêmico (da tradição industrial), ´pois, a Academia sob a tradição platônica foi destruída por uma ideia errada de dar uma profissão e não o conhecimento em si para pensar e ficou refém de ideologias políticas escravagistas. Hoje, não se tem mais uma postura universitária do porte de se ter um conhecimento superior, seja um intuito de se ter inteligência emocional e entender o conhecimento que se tem.

No Brasil – que é um país crédulo – o principal problema é a incapacidade de olhar as coisas com certo ceticismo sem nenhuma paixão e ceticismo que falo, tem a ver com o ceticismo político. Olavo de Carvalho – de um modo que acho meio demagogo, mas tudo bem – em um vídeo, disse que quem tem espírito de turminha é um fraco, que tudo que ele fez puseram defeito ou disseram que não iria dar certo. A meu ver, a mesquinhez que a maioria alimenta com discursos de ódio ou disfarçados de discursos de claro (vamos escrever sobre isso em um texto futuro). E isso tem a ver com a incapacidade de pensar consigo mesmo (sempre querendo se apoiar no outro) e não sair do “espírito de rebanho”.

Mas o que seria esse “espírito de rebanho”? A critica de Nietzsche era muito “acida” e tinha a ver com o que ele chamava de “espírito de rebanho”, ou, mais precisamente, à moral de rebanho. O filosofo tinha muito claro que, a moral de rebanho aparece sempre em quem deixam de pensar por si mesmo e passam a seguir figuras políticas (personalização ao individuo) e valores morais impostas a essas instituições políticas e as religiões (que chamo de materialistas). O Estado ou uma outra cultura dominante, sem nenhum questionamento ou reflexão crítica. Não é isso que temos nas redes sociais? Defesas intermináveis de figuras políticas que só querem degraus para subir ao poder e nada pensam ou sentem por aqueles que enganam.


@amaurinolascos.ju #filosofia #heavymetal #inclusão #bachareladodefilosofia #pessoacomdeficiencia ♬ som original - Amauri Nolasco Sanches Junior

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