domingo, 24 de agosto de 2025

SOBRE A FILOSOFIA DA PILULA VERMELHA

 



Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

O que vejo no pessoal da filosofia da pílula vermelha é um alto grau de moralismo alá boomers, não à toa, são chamados de “novos boomers”. Mas, essa “pílula vermelha” que pensam estar tomando só é a azul e ficar na Matrix e não sair em uma espiral de moralidade que deu ao mundo, além de duas guerras mundiais de destruições e mortes quase infinitas e uma guerra fria, trouxe a humanidade vários problemas. A geração boomer esta sendo um problema porque a grande maioria da geração X e a Millenials, estão com traumas por causa da educação errada que essa geração (a boomer) foi condicionada. Violência doméstica, preconceitos (teve seu cume no nazismo), ideias separatistas, ditaduras, liberdades cerceadas, o liberalismo e o libertarianismo demonizado etc., por causa de ideias cômodas e muitas vezes. hipócritas que só alimentam um discurso de repressão e miséria, tanto moral, quanto social.

Vamos a história da pílula vermelha. Ela aparece no primeiro filme, quando Morpheus (simbolizado do deus do sono grego) oferece ao personagem principal, Neo, uma pílula vermelha e outra azul. A vermelha libertava da ilusão criada pela Matrix, a azul ele poderia ficar na Matrix (ou na ilusão sonho) e continuar um hacker e seu corpo servir como bateria para as máquinas. Além de Platão (a alegoria da caverna) ainda temos outros simbolismos, a consciência e a realidade (fenomenologia), as máquinas como dominação (o próprio sistema político que o ser humano produziu), o personagem Neo como sendo uma anacronia de ONE (um em inglês), e o mais importante, a mudança entre estar em um simulacro de conceito que fazem você se embrenhar em simulações (subjetividades).

Qual o problema? As diretoras da franquia - Lana Wachowski e Lilly Wachowski que a Warner Bros mandaram embora por não fazerem o que eles queriam – em entrevista, disseram que era sobre mudança (a transição delas por serem transsexuais). E muitas vezes, essa analogia do da pílula vermelha é distorcida pelo neomachismo e grupos até mesmo, da extrema direita, dizendo que “acordaram” do sono da esquerda. Com esse esclarecimento das diretoras, eu acho que ficou muito claro a questão do filme: além do simbolismo dentro da questão filosófica apresentada. Então tem uma pegada muito do budismo. A Matrix é tudo aquilo que o ser humano inventou – segundo Foucault – como conceito graças a escolarização estatal. Ou seja, não quer dizer que essa realidade é além dessa, mas dissolver os conceitos moralistas que a sociedade humana construíram. Neo é o protótipo da marginalização na Matrix: programador que ganha pouco em uma empresa e hacker que vende programa pirata.

Neo descobre que não é o senhor Anderson, mas um conceito que o sistema que ele foi condicionado. Ele é o UM (One), o indivíduo que se vê fora dos conceitos impostos porque tinha certezas de que defendia, mas não eram a verdade que estava por trás desse conceito. Foucault diria que a Matrix seria um panóptico (um observador no centro de uma prisão) digital, um sistema de vigia que define e condiciona aquilo que seria normal (a normalidade). Neo teria rompido da sua identidade (Tomás Anderson) quando percebe ser uma construção disciplinar. Já Nietzsche diria que Neo seria o Ubermensch, ou seja, aquele que cria seus próprios valores (não moralismos ou postar fotos pelados em grupo), que destrói os ídolos da moral tradicional. Mas o interessante é o budismo: a Matrix seria não um lugar, mas um estado de consciência livre dos condicionamentos. Neo não escapa de um mundo, mas transcende o mundo ilusório.

Veja que a Matrix não está fora do mundo, mas dentro do mundo criando ilusões. As ilusões só são conceitos construídos – no filme, são ilusões criadas como um sonho – e não está em outro mundo, o mundo destruído por seres humanos que quiserem neutralizar as máquinas. Uma alusão as revoluções ou guerras? Pode ser, mas vai além do que mera alusão as destruições humanas: consciência e subconsciência. Poderemos entrar em uma coisa muito mais profunda:  o despertar da consciência através do inconsciente. Sempre tive um conceito na cabeça que era: o inconsciente é a priori do consciente, ou seja, o inconsciente existe junto com o consciente e ativa a consciência quando desperta a verdade. A verdade platônica (como o mundo destruído de Matrix) está no modo que você lida com os conceitos da nossa cultura.

Chegamos ao mundo da “machosfera” (redpills aqui nesse texto) que seria o Cypher que quer voltar para a Matrix. Ou melhor, o nome Cypher (na grafia original, cipher) é o negativo, aquele código que nega o 1, o que começa a realidade e volta a ilusão. Poderemos colocar o 0 como um nada, a negação do ser enquanto individuo que despertar de sentir a si mesmo, para ser mais um entre muitos. Essa seria a logica binaria usada na programação, mas se refletimos mais além o 1= o ser e o 0 = o não ser. Os redpills é a justa oposição do feminismo radical: no fim tem consonâncias com o que chamo do “o cataclismo boomer”, onde poderiam ter rompido com preconceitos e tudo mais, mas se tornam mais do poder e do discurso predominante.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A SOCIEDADE EMBURRECIDA? (ENTRE O IDEALISMO E A EPISTEMOLOGIA RADICAL)



Amauri Nolasco Sanches Júnior

  

Quando eu estudava nas classes especiais da AACD, havia colegas que aprendiam rápido (eu era um deles) e outros que eram mais lentos para aprender e sempre me intrigava essas coisas como se não houvesse outros fatores. Logico, muitos médicos e educadores – por causa de uma romantização das classes especiais, nem sempre eram especializados – diziam que eram parte da deficiência e isso era normal. Como estamos em um país colonizados por jesuítas, a elite utilitarista e duas filosofias predominam de forma obscura (o positivismo e o marxismo soft), a especialização tinha razão e todo mundo achava aquilo muito normalizado. Só que a normalização do discurso atrapalha a discussão, e mesmo fora da instituição, o problema persiste.

Sempre olhei de “rabo de olho” na famosa frase de Aristóteles quando fala que “todos os homens têm necessidade de saber”, pois, o que vejo no dia a dia, são músicas sem o menor sentido, culturas falidas e uma enorme gama de universitários que não mudam seus gostos e não tem posturas de universitários. Por outro lado, poderemos dizer que, há uma questão muito mais profunda do que isso e é um tema que me interessa bastante. O conhecimento sempre me colocou em ressonância a certas linhas de pensamento onde eu comecei a questionar certos saberes e o porquê, se todo ser humano tem esse desejo de sabe. Isso recai muito na questão entre o discurso de poder de Foucault e bases mais geneticistas de setores que puseram esse tipo de discussão em tabu para não alimentar preconceitos. Mas, temos que basear essa “igualdade” em alguma coisa, além da ciência empírica, não conheço nenhum método.

Em uma página dentro do Facebook (raciocínio aberto) o autor escreve:

Mesmo entre aqueles que aceitam a existência de diferenças cognitivas inatas entre sexos e raças, prevalece a ideia de que isso não deve ser discutido. O problema é que a sociedade busca respostas. Se for tabu abordar as diferenças inatas, continuaremos debatendo apenas as diferenças ambientais. Como estas não são suficientes para explicar certas desigualdades, torna-se necessário postular causas ambientais cada vez mais complexas e intangíveis, como os epiciclos ptolomaicos.

 

Brutal e verdadeiro, pois, sempre achei – como mostrei lá acima – que existiam algumas camadas que não teriam algum poder cognitivo para certos conhecimentos. Platão sabia disso, mesmo o porquê, em seu celebre livro, República (Politéia), ele propõe uma sociedade dividida em três classes: os produtores, os guardiões e os governantes. Cada um dessas classes teriam uma função especifica, baseada em sua natureza racional, emocional ou apetitiva. Nem todos teriam a mesma capacidade de alcançar o mundo das ideias (conhecimento?), haveria um filosofo-rei que transcenderia as aparências e compreender a verdade, algo que exigiria uma alma “bem ordenada”. Essa visão pode ser considerada brutal – muitos chamam essa teoria platônica de proto-fascista – mas também muito influente. Ou seja, Platão achava que saberes mais profundos não eram acessíveis para todos, e que tentar democratizá-los poderia ser perigoso (será que estamos vendo isso nas redes sociais?).

Tirando a questão de raça e sexo – que o autor disse – há uma questão que sempre me intrigou que seria: por que existem pessoas que aprendem rápido e outras que demoram para aprender? Daí chegamos a uma epistemologia radical sem todo esse idealismo que todo mundo gosta de repetir. A questão começa dentro do idealismo moderno – de Descartes até Kant – que chega a sustentar a tese de que a razão é universal, igualmente distribuída e acessível a todos. Daí a educação iluminista herdou esse postulado, e defendendo isso, bastaria remover barreiras externas para que todos alcançassem o mesmo patamar do saber. Ora, esse tipo de pressuposto se torna dogma: negar as diferenças de capacidade cognitiva passou quase a se tornar quase um imperativo moral.

Como disse no começo do texto eu demonstrei que a experiencia cotidiana desmente esse universalismo. Ora, quantas pessoas sofrem bullying das pessoas que não conseguem, chamando estas de “nerds” (de uma forma desdenhosa)? Mesmo porque, haverá sempre aqueles que, diante do mesmo conteúdo avançam com clareza, enquanto outros tropeçam e se perdem. Quando eu entendia com clareza, muitos colegas demoravam a entender (só era muito ruim em matemática até entender a tabuada do 9). Mas, outros eram mais habituados em assuntos fúteis ou achavam chato coisas mais complexas, pois, uns possuem incitação para abstração, outros apenas para repetição mecânica. E isso eu vi claramente.

Daí chegamos a Nietzsche, onde faz uma denúncia sobre essa ilusão igualitária ao afirmar que a maioria não busca a verdade, mas o consolo. Não é isso que vimos nas redes sociais? Porque, segundo ele, tem força para enfrentar a instabilidade do pensamento e a ausência de garantias. Coisas fáceis para simplificar coisas complexas. Além dos meus colegas que nem completaram o ensino médio – afinal, para quê teriam que ter esse ensino e ter todo esse esforço? – outros sem deficiência, não foram além disso. Não só isso, você ouvi músicas sem sentido, músicas para dizer que você ou é um fracassado, ou é um Zé ninguém. Pesquisas cientificas são atadas por interesses e não por discursos, requer mexer com ideologias que já quase massacraram a humanidade (como a eugenia e o nazismo) que mesmo com o humanismo, muitos países adotam a filosofia do aborto por causa da deficiência.

Nessa perspectiva exigira uma epistemologia radical: uma que não tenha que partir a partir do idealismo de que são igualmente aptos, mas que reconheça certa diferença construtiva da capacidade de conhecer. Não defendemos – como filosofo – uma afirmação a favor de uma aristocracia do espírito em termos morais, mas de admitir que no campo humano do saber é desigual em potência e em resultado.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

A CONSCIÊNCIA E A MATERIA

 

Hegel Cyberpunk Dystopic 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Faz muito tempo que não falo sobre o tema espiritualidade – mesmo porque, eu tenho a concepção de pensamento humano como filosofia, ciência e religião como uma coisa bem mais ampla – e lendo um texto do colega de muitos anos, Luís A. W. Salvi, eu queria falar sobre minha concepção espiritualista a partir de alguns pontos do texto dele. Salvi disse no texto:

 

A consciência representa um dos maiores enigmas do Universo, e a Ciência não sabe nem por onde começar a pesquisar, temerosa de terminar encontrando coisas que ela sempre negou. Entre outros fatores, a consciência humana está constituída por uma complexa rede de energias às quais tem acesso através das faculdades sutis desenvolvidas por nossa espécie, mediante dons como a telepatia, a intuição e a mediunidade; apenas para mencionar as mais comuns. E naturalmente evolui através da cultura e da educação.

Hegel, na “Fenomenologia do espírito”, vai dizer que a consciência é um modo sensível e não é algo fixo. Você ter a consciência de algo é você perceber esse objeto como verdadeiro, que constrói por sua vez, conceitos desse objeto. Mas, para o filosofo, essa certeza se desfaz em algumas vezes, por exemplo, quando você escreve em um papel “agora é noite” registrando que naquele momento “temos a certeza” de que é noite. No dia seguinte, essa certeza se desfaz por captarmos que a realidade se transforma em dia. Ou seja, para Hegel existe a certeza (uma determinação subjetiva) e existe a verdade (uma determinação objetiva) que forma a dialética hegeliana.

Só que Hegel – como todo protestante – tinha um problema e não é a toa, que dialogava com Kant (outro protestante), não há como avançar em uma discussão sobre consciência sem dar um passo adiante. O problema do protestantismo e do catolicismo é seu materialismo, seu assombro sobre temas importantes da consciência. Por exemplo, Hegel tinha resoluções empiristas e racionalistas diante da certeza e da verdade. Posso usar um exemplo de uma foto do Instagram, onde ela não mostra o agora nesse instante, ela mostra o instante agora da pessoa que tirou. Estamos vendo, na verdade, o passado. Então, o eu-ego sempre tratara aquilo que eu sinto e vejo e o eu-outro é aquilo que não vejo em imediato.

Lembra minha concepção de pensamento? A filosofia (como modo racionalizado da realidade), a ciência (como modo de entender os objetos dentro da realidade) e a religião (um religamento com a consciência primordial). Quando Salvi diz: “e a Ciência não sabe nem por onde começar a pesquisar, temerosa de terminar encontrando coisas que ela sempre negou.” Erra no sentido que primeiro a ciência começou sim e tem avançado, mas não desvendou o porquê somos seres sencientes. Depois, não li nada que dissesse que a ciência “negou”, muito pelo contrário, a ciência sabe que o ser humano tem uma consciência de si (que muitas vezes, esquece) e do mundo. Daí vem a dialética hegeliana sobre a consciência, que mesmo deficiente de alguns elementos, pode nos ajudar a entender isso.

Hegel tem para si a realidade do Absoluto que várias religiões vão chamar de Deus, ou melhor, a Consciência Primordial do Universo. A meu ver, as religiões materialistas negam essa visão, porque transformaram essa consciência em mera figura igualitária humana. O deus-homem para pessoas ignorantes que tem muito medo e temem aquilo que não entendem. Por isso mesmo, essas religiões bloqueiam nosso lado de ligação desse Absoluto; pois, como a filosofia começa com os físicos (physys) dizendo que há um começo dentro do mundo físico (hoje chamado de big bang) e esse elemento era da natureza. Hoje existem teorias da simulação, mas, a questão da simulação é um platonismo computacional onde há uma realidade real com seres perfeitos e o nosso mundo é imperfeito por sermos copias. Será que somos simulações, já que tudo é codificado?

Salvi diz: “O preconceito contra a vida natural e espiritual tem servido de viseira para não se enxergar outras realidades, e o mais interessante é que também se trata esta de uma viseira mágica, e não propriamente científica ou isenta. Esta é ainda uma viseira muito ideológica feita de maya, de ilusão, de obsessão e de feitiço -o que apenas prova aquilo tudo que estamos aqui afirmando.”. Todo pré-conceito – como um conceito produzido com a subjetividade – visa aquilo que julgamos “certezas” e que não passa de instintos da nossa subjetividade.  O que seria toda a vida, uma existência natural e espiritual? Dai não há dualidade e sim, unidade entre aquilo que interagem na realidade e a essência daquilo que somos. O ser-ego se encontra com o ser-Outro. Ai quando enxergamos a verdadeira realidade – como dizem os budistas, o maya – estamos no meio filosófico e científico, onde o conceito se une ao devir. A filosofia faz conhecemos a s si mesmo, pois assim, conhecemos o universo (realidade) e os deuses (espiritual). Enquanto a ciência, fruto da tekné, a arte da invenção e da descoberta.

Mas e a religião? Salvi escreve sobre “outras realidades” que são “viseiras magicas”. A realidade como evento. Vou além do que Whitehead, pois li pouco. Quando Salvi diz que “não se enxerga outras realidades” se esquece que só há duas realidades: subjetiva do ser-ego e objetiva do ser-Outro. A realidade é o eu-Consciente com o Outro-Absoluto.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O ODIO DA DEFICIÊNCIA SEGUNDO A FENOMENOLOGIA


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 "Se não está nas tuas mãos mudar uma situação que te causa dor, podes sempre escolher a atitude com que enfrentas esse sofrimento." - Viktor Frankl

 

Tenho muitos textos aqui no blog sobre deficiência, exatamente, por eu ser um deficiente – foi o nome de um outro blog da Wordpress que esqueci a senha e perdi o blog – por viver o fenômeno da deficiência como uma condição dentro das limitações do meu corpo e isso não foi uma questão que me levasse a se matar (como muitos colegas) e ter ódio da deficiência. Confesso não ser um tema que eu debruce nele e estude como matéria filosófica e como estudo fenomenologia e ontologia (também antropologia filosófica), poderá no futuro ser um tópico importante dentro de um estudo mais sistemático.

Mas o que levou a esse texto? Porque uma amiga disse que poderia ser um coaching – na verdade, filósofos não são coaching, são aqueles que jogam a verdade e mostram que na essência, o que temos como certeza são só determinação da nossa subjetividade – e que poderia juntar o que eu sei de filosofia e o que eu sei da deficiência. A deficiência eu vivo (como fenômeno da existência) e a filosofia eu estudo (como um conhecimento adquirido). Mas, vendo o podcast Aderiva (com o Arthur Petry) da mãe de um menino TEA (Transtorno do Espectro Autista) que disse que odiava o autismo (odiamos aquilo que não entendemos) me fez refletir o que minha amiga disse, já que minha amiga vive a deficiência.

Existem dois ramos que filósofos da deficiência (ou filosofas feministas da deficiência) colocaram na filosofia da deficiência (e sim, existe a filosofia da deficiência): primeiro a ontologia e segundo a fenomenologia. A ontologia é um estudo do “ser enquanto ser”, ou seja., poderemos dizer que seja um estudo das essências dentro das coisas e dos corpos e seres que exigem uma essência para existirem (seria o que Aristóteles colocou na obra Metafisica). Já a fenomenologia, ou melhor, o fenômeno da existência dentro da capacidade de adaptar e perceber a deficiência de uma certa situação. Ou melhor, ser um deficiente (ou um corpo divergente) que tem que se adaptar para a vida. O que seria “se adaptar para a vida”? Porque a deficiência – de (negação) eficiência (aquilo que é eficaz) – é o corpo não eficaz em algo e esse algo, não é  o ser em sua natureza, mas é o ser em sua condição de não eficácia de movimentos, de não percepção da realidade ou a não materialização de sentimentos ou consciência da realidade. Porém, com tudo, um corpo humano, descendente do mesmo ancestral do ramo hominídeo.

Mas, o corpo – que poderíamos chamar de Coisa em si – tem aquilo que percebemos e aquilo que somos. Quando o outro não nos deixa perceber quem somos, tendemos querer eliminar o ser-outro que não deixa encontrar o ser-eu em estar no mundo. A coisa em si vem do modo kantiano de pensar e quer dizer aquilo que existe independente da percepção, eu sei que no meu quintal tem um pé de manga, por exemplo, porque meu pai disse que esta carregada de flores. De onde eu fico não vejo, mas a “coisa em si” do pé de manga existe. No caso do corpo – enquanto coisa extensa da existência – é mais do que mera aparência, seria a essência, presença, existência concreta. Aquilo que existe e faz eu dizer que “sou”.

Odiamos aquilo que nos incomoda enquanto ser egoísta que somos – a mãe mesmo confessa ser egoísta – por sermos animais sociais para mostrar ao outro e não a nós mesmos. O objeto do desejo do prazer de conversar – no caso dela, a prima de longe – transcende o querer e passa a ser uma imposição social, como uma lei que quero e preciso. Mas, como diria o existencialismo de Sartre, escolhemos nossas vidas e muitas vezes, não nos responsabilizamos a nós mesmo de ter escolhido essa vida. Como diria Sartre, temos a liberdade de escolher, mas ao mesmo tempo, temos responsabilidade das nossas escolhas. Nesse caso, a culpa recai no autismo. Ou em outros casos, a culpa recai na deficiência.

Daí vem a pergunta quase existencialista: como alguém tem ódio de uma condição? Como alguém acha que o filho com deficiência tem que ser trancado ou tem que estar seguro? E assim, passamos para o ser-Eu (em inglês self) em o ser-Outro (Other). Como um ser-Eu com um corpo divergente – de-eficiente – ou como disse, aquilo que percebemos (a deficiência) e aquilo que somos (eu sou) posso dizer que, classes especiais não são seguras assim. Mas indo mais além do corpo, há uma distinção entre o corpo como objeto percebido (eu e o outro) e o corpo como sujeito vivido – como que sente, age, sofre e deseja. Isso é bem central na fenomenologia. Ora, quando o outro passa a nos definir, quando nos rotula ou impede de nos expressar totalmente, ele passa a interferir na nossa liberdade de ser. isso é uma forma de “objetivar” o ser-Outro como um objeto da nossa vontade,

A vontade. O desejo de eliminar o ser-Outro – não literalmente, mas de modo simbólico – é uma provocação no sentido da reflexão do papel do outro na nossa vida. Ela mostra a vontade de ter uma vida “normal”, passa a ser uma vontade imposta pela moralidade social que achamos estar em negação do nosso ser. dai poderemos desenvolver um impulso destrutivo, não só de eliminação, mas de calar tudo aquilo que me impede de ser massificado.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A DIREITA REVOLUCIONÁRIA

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Nenhuma paixão pode, como o medo, tão efectivamente roubar o espírito da capacidade de agir e pensar.

Edmund Burke

 

Não sou conservador, mas gosto do modo que os conservadores, de verdade, escrevem. Burke, assim como outros como Scruton ou Olavo de Carvalho, são direitos e não fazem muito rodeios o que querem passar. São do tipo de filósofos que gosto de ler. E sim, li muita coisa do Olavo e existem coisas ruins e existem coisas boas, como todos os filósofos (não vou entrar no mérito se era filosofo ou não por causa do diploma). Mas, uma pergunta nos vem a cabeça: manifestações são coisas da direita? Não a direita conservadora de verdade – que, no Brasil, teria que ser católica, imperialista e liberais progressistas – mas a direita bolsonarista (que eu chamo de direita revolucionária) que fazem todo esse carnaval para livrar o Bolsonaro da cadeia. Vocês acham que essas pessoas estão ligando para os velhinhos da Papuda? Claro que não, estão preocupados com seu político de estimação,

No final das contas, essas manifestações não são sobre ideias (principalmente, do conservadorismo) – são sobre sentimentos mal resolvidos. E isso, na essência, é um tipo de sintoma claro de uma democracia emocionalmente doente. Sabemos muito bem que, mesmo com um certo grau de autoritarismo, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, não é de esquerda. Isso enriquece o debate, porque temos muita coisa a ser debatida. Porque isso não impede que muita gente o trate como se fosse – porque hoje, principalmente, nas redes, no Brasil, basta você contrariar o bolsonarismo para ser rotulado como “comunista”, “globalista” ou qualquer outro rotulo da moda (porque aqui tudo vira modinha). É na essência, um empobrecimento do debate público: tudo se torna binário, uma torcida organizada.

Filosoficamente, uma direita conservadora tem características não só de uma defesa a não mudança das instituições – uma ditadura militar não seria um ato conservador – mas a continuação de instituições e uma cultura vigente. Aqui no Brasil, temos festas tradicionais, temos religiões tradicionais e temos uma moral dentro dos limites entre o “tudo pode” com “nada de libertinagem”. O grande problema do Brasil é a homogeneidade das camadas populares que acreditam em uma religião afro, onde evangélicos vão dizer que é do “demônio”. Tradicionalmente, desde sua fundação, o Brasil foi católico e sempre acreditou – pelo menos desde a sua independência – de um liberalismo mais progressista no sentido clássico do progressismo. De outro modo depois do século dezenove, o Brasil absorveu o progressismo positivista de Comte (alguns elementos da filosofia de Marx também, mas é um texto a parte).

Mas o porquê não se enxergam isso? Porque, como tudo, achamos que a grama do vizinho é mais verde, e importamos conservadorismos de plástico. Conservadorismos de famílias de margarina e nunca aceitamos a cultura do Brasil. De um lado isso é culpa de uma cultura avessa a leitura, um povo que não sabe nem mesmo sua historia. E outra confusão é confundir moralidades e moralismo, pois, moralidade e saber quais morais importantes são importantes, moralismo é uma imposição a alguma moral. O brasileiro é moralista no sentido de imposição. Impor não é convencer, impor é aquilo que você acha certo. O que deveria ser certo? O que deve ser errado? O mal ao outro – como violências – são errados, mas a visão moral religiosa depende do que se acredita.

 Mas o Brasil, como nação, nos tempos modernos – quase contemporâneo – e não nos tempos medievais. Mesmo que contemos elementos medievais dentro da nossa cultura, como o elemento escravocrata – que vieram primeiro com os indígenas e depois terminou com os negros africanos – onde ainda hoje é o elemento que não faz nosso país avançar na educação. Aliás, muitas ainda capitanias hereditárias (com suas famílias coronelistas ainda) ainda existem e só estão transvestidas de voto democrático. Na essência, o brasileiro médio nunca chegou a ser democrático e sim, defender seu politico favorito. Herança medievalista. O senhor do feudo tem que ganhar para os vassalos obedecerem. Nada mais.