Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Quando eu estudava nas classes especiais da AACD, havia
colegas que aprendiam rápido (eu era um deles) e outros que eram mais lentos
para aprender e sempre me intrigava essas coisas como se não houvesse outros
fatores. Logico, muitos médicos e educadores – por causa de uma romantização
das classes especiais, nem sempre eram especializados – diziam que eram parte
da deficiência e isso era normal. Como estamos em um país colonizados por
jesuítas, a elite utilitarista e duas filosofias predominam de forma obscura (o
positivismo e o marxismo soft), a especialização tinha razão e todo mundo
achava aquilo muito normalizado. Só que a normalização do discurso atrapalha a
discussão, e mesmo fora da instituição, o problema persiste.
Sempre olhei de “rabo de olho” na famosa frase de
Aristóteles quando fala que “todos os homens têm necessidade de saber”, pois, o
que vejo no dia a dia, são músicas sem o menor sentido, culturas falidas e uma
enorme gama de universitários que não mudam seus gostos e não tem posturas de
universitários. Por outro lado, poderemos dizer que, há uma questão muito mais
profunda do que isso e é um tema que me interessa bastante. O conhecimento
sempre me colocou em ressonância a certas linhas de pensamento onde eu comecei
a questionar certos saberes e o porquê, se todo ser humano tem esse desejo de
sabe. Isso recai muito na questão entre o discurso de poder de Foucault e bases
mais geneticistas de setores que puseram esse tipo de discussão em tabu para
não alimentar preconceitos. Mas, temos que basear essa “igualdade” em alguma
coisa, além da ciência empírica, não conheço nenhum método.
Em uma página dentro do Facebook (raciocínio aberto) o autor
escreve:
Mesmo entre aqueles que aceitam a existência de
diferenças cognitivas inatas entre sexos e raças, prevalece a ideia de que isso
não deve ser discutido. O problema é que a sociedade busca respostas. Se for
tabu abordar as diferenças inatas, continuaremos debatendo apenas as diferenças
ambientais. Como estas não são suficientes para explicar certas desigualdades,
torna-se necessário postular causas ambientais cada vez mais complexas e
intangíveis, como os epiciclos ptolomaicos.
Brutal e verdadeiro, pois, sempre achei – como mostrei lá
acima – que existiam algumas camadas que não teriam algum poder cognitivo para
certos conhecimentos. Platão sabia disso, mesmo o porquê, em seu celebre livro,
República (Politéia), ele propõe uma sociedade dividida em três classes: os
produtores, os guardiões e os governantes. Cada um dessas classes teriam uma
função especifica, baseada em sua natureza racional, emocional ou apetitiva.
Nem todos teriam a mesma capacidade de alcançar o mundo das ideias
(conhecimento?), haveria um filosofo-rei que transcenderia as aparências e
compreender a verdade, algo que exigiria uma alma “bem ordenada”. Essa visão
pode ser considerada brutal – muitos chamam essa teoria platônica de
proto-fascista – mas também muito influente. Ou seja, Platão achava que saberes
mais profundos não eram acessíveis para todos, e que tentar democratizá-los
poderia ser perigoso (será que estamos vendo isso nas redes sociais?).
Tirando a questão de raça e sexo – que o autor disse – há
uma questão que sempre me intrigou que seria: por que existem pessoas que
aprendem rápido e outras que demoram para aprender? Daí chegamos a uma
epistemologia radical sem todo esse idealismo que todo mundo gosta de repetir.
A questão começa dentro do idealismo moderno – de Descartes até Kant – que
chega a sustentar a tese de que a razão é universal, igualmente distribuída e
acessível a todos. Daí a educação iluminista herdou esse postulado, e defendendo
isso, bastaria remover barreiras externas para que todos alcançassem o mesmo
patamar do saber. Ora, esse tipo de pressuposto se torna dogma: negar as
diferenças de capacidade cognitiva passou quase a se tornar quase um imperativo
moral.
Como disse no começo do texto eu demonstrei que a
experiencia cotidiana desmente esse universalismo. Ora, quantas pessoas sofrem
bullying das pessoas que não conseguem, chamando estas de “nerds” (de uma forma
desdenhosa)? Mesmo porque, haverá sempre aqueles que, diante do mesmo conteúdo
avançam com clareza, enquanto outros tropeçam e se perdem. Quando eu entendia
com clareza, muitos colegas demoravam a entender (só era muito ruim em
matemática até entender a tabuada do 9). Mas, outros eram mais habituados em
assuntos fúteis ou achavam chato coisas mais complexas, pois, uns possuem
incitação para abstração, outros apenas para repetição mecânica. E isso eu vi
claramente.
Daí chegamos a Nietzsche, onde faz uma denúncia sobre essa
ilusão igualitária ao afirmar que a maioria não busca a verdade, mas o consolo.
Não é isso que vimos nas redes sociais? Porque, segundo ele, tem força para
enfrentar a instabilidade do pensamento e a ausência de garantias. Coisas
fáceis para simplificar coisas complexas. Além dos meus colegas que nem
completaram o ensino médio – afinal, para quê teriam que ter esse ensino e ter
todo esse esforço? – outros sem deficiência, não foram além disso. Não só isso,
você ouvi músicas sem sentido, músicas para dizer que você ou é um fracassado,
ou é um Zé ninguém. Pesquisas cientificas são atadas por interesses e não por
discursos, requer mexer com ideologias que já quase massacraram a humanidade
(como a eugenia e o nazismo) que mesmo com o humanismo, muitos países adotam a
filosofia do aborto por causa da deficiência.
Nessa perspectiva exigira uma epistemologia radical: uma que
não tenha que partir a partir do idealismo de que são igualmente aptos, mas que
reconheça certa diferença construtiva da capacidade de conhecer. Não defendemos
– como filosofo – uma afirmação a favor de uma aristocracia do espírito em
termos morais, mas de admitir que no campo humano do saber é desigual em potência
e em resultado.
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