Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Nenhuma paixão pode, como o medo, tão efectivamente
roubar o espírito da capacidade de agir e pensar.
Edmund Burke
Não sou conservador, mas gosto do modo que os conservadores,
de verdade, escrevem. Burke, assim como outros como Scruton ou Olavo de
Carvalho, são direitos e não fazem muito rodeios o que querem passar. São do
tipo de filósofos que gosto de ler. E sim, li muita coisa do Olavo e existem
coisas ruins e existem coisas boas, como todos os filósofos (não vou entrar no
mérito se era filosofo ou não por causa do diploma). Mas, uma pergunta nos vem
a cabeça: manifestações são coisas da direita? Não a direita conservadora de
verdade – que, no Brasil, teria que ser católica, imperialista e liberais
progressistas – mas a direita bolsonarista (que eu chamo de direita revolucionária)
que fazem todo esse carnaval para livrar o Bolsonaro da cadeia. Vocês acham que
essas pessoas estão ligando para os velhinhos da Papuda? Claro que não, estão
preocupados com seu político de estimação,
No final das contas, essas manifestações não são sobre
ideias (principalmente, do conservadorismo) – são sobre sentimentos mal
resolvidos. E isso, na essência, é um tipo de sintoma claro de uma democracia emocionalmente
doente. Sabemos muito bem que, mesmo com um certo grau de autoritarismo, o
ministro do STF, Alexandre de Moraes, não é de esquerda. Isso enriquece o
debate, porque temos muita coisa a ser debatida. Porque isso não impede que
muita gente o trate como se fosse – porque hoje, principalmente, nas redes, no
Brasil, basta você contrariar o bolsonarismo para ser rotulado como
“comunista”, “globalista” ou qualquer outro rotulo da moda (porque aqui tudo
vira modinha). É na essência, um empobrecimento do debate público: tudo se
torna binário, uma torcida organizada.
Filosoficamente, uma direita conservadora tem
características não só de uma defesa a não mudança das instituições – uma
ditadura militar não seria um ato conservador – mas a continuação de
instituições e uma cultura vigente. Aqui no Brasil, temos festas tradicionais,
temos religiões tradicionais e temos uma moral dentro dos limites entre o “tudo
pode” com “nada de libertinagem”. O grande problema do Brasil é a homogeneidade
das camadas populares que acreditam em uma religião afro, onde evangélicos vão
dizer que é do “demônio”. Tradicionalmente, desde sua fundação, o Brasil foi
católico e sempre acreditou – pelo menos desde a sua independência – de um
liberalismo mais progressista no sentido clássico do progressismo. De outro
modo depois do século dezenove, o Brasil absorveu o progressismo positivista de
Comte (alguns elementos da filosofia de Marx também, mas é um texto a parte).
Mas o porquê não se enxergam isso? Porque, como tudo,
achamos que a grama do vizinho é mais verde, e importamos conservadorismos de
plástico. Conservadorismos de famílias de margarina e nunca aceitamos a cultura
do Brasil. De um lado isso é culpa de uma cultura avessa a leitura, um povo que
não sabe nem mesmo sua historia. E outra confusão é confundir moralidades e
moralismo, pois, moralidade e saber quais morais importantes são importantes,
moralismo é uma imposição a alguma moral. O brasileiro é moralista no sentido
de imposição. Impor não é convencer, impor é aquilo que você acha certo. O que
deveria ser certo? O que deve ser errado? O mal ao outro – como violências –
são errados, mas a visão moral religiosa depende do que se acredita.
Mas o Brasil, como
nação, nos tempos modernos – quase contemporâneo – e não nos tempos medievais. Mesmo
que contemos elementos medievais dentro da nossa cultura, como o elemento
escravocrata – que vieram primeiro com os indígenas e depois terminou com os
negros africanos – onde ainda hoje é o elemento que não faz nosso país avançar na
educação. Aliás, muitas ainda capitanias hereditárias (com suas famílias coronelistas
ainda) ainda existem e só estão transvestidas de voto democrático. Na essência,
o brasileiro médio nunca chegou a ser democrático e sim, defender seu politico
favorito. Herança medievalista. O senhor do feudo tem que ganhar para os vassalos
obedecerem. Nada mais.
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