terça-feira, 12 de agosto de 2025

A CONSCIÊNCIA E A MATERIA

 

Hegel Cyberpunk Dystopic 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Faz muito tempo que não falo sobre o tema espiritualidade – mesmo porque, eu tenho a concepção de pensamento humano como filosofia, ciência e religião como uma coisa bem mais ampla – e lendo um texto do colega de muitos anos, Luís A. W. Salvi, eu queria falar sobre minha concepção espiritualista a partir de alguns pontos do texto dele. Salvi disse no texto:

 

A consciência representa um dos maiores enigmas do Universo, e a Ciência não sabe nem por onde começar a pesquisar, temerosa de terminar encontrando coisas que ela sempre negou. Entre outros fatores, a consciência humana está constituída por uma complexa rede de energias às quais tem acesso através das faculdades sutis desenvolvidas por nossa espécie, mediante dons como a telepatia, a intuição e a mediunidade; apenas para mencionar as mais comuns. E naturalmente evolui através da cultura e da educação.

Hegel, na “Fenomenologia do espírito”, vai dizer que a consciência é um modo sensível e não é algo fixo. Você ter a consciência de algo é você perceber esse objeto como verdadeiro, que constrói por sua vez, conceitos desse objeto. Mas, para o filosofo, essa certeza se desfaz em algumas vezes, por exemplo, quando você escreve em um papel “agora é noite” registrando que naquele momento “temos a certeza” de que é noite. No dia seguinte, essa certeza se desfaz por captarmos que a realidade se transforma em dia. Ou seja, para Hegel existe a certeza (uma determinação subjetiva) e existe a verdade (uma determinação objetiva) que forma a dialética hegeliana.

Só que Hegel – como todo protestante – tinha um problema e não é a toa, que dialogava com Kant (outro protestante), não há como avançar em uma discussão sobre consciência sem dar um passo adiante. O problema do protestantismo e do catolicismo é seu materialismo, seu assombro sobre temas importantes da consciência. Por exemplo, Hegel tinha resoluções empiristas e racionalistas diante da certeza e da verdade. Posso usar um exemplo de uma foto do Instagram, onde ela não mostra o agora nesse instante, ela mostra o instante agora da pessoa que tirou. Estamos vendo, na verdade, o passado. Então, o eu-ego sempre tratara aquilo que eu sinto e vejo e o eu-outro é aquilo que não vejo em imediato.

Lembra minha concepção de pensamento? A filosofia (como modo racionalizado da realidade), a ciência (como modo de entender os objetos dentro da realidade) e a religião (um religamento com a consciência primordial). Quando Salvi diz: “e a Ciência não sabe nem por onde começar a pesquisar, temerosa de terminar encontrando coisas que ela sempre negou.” Erra no sentido que primeiro a ciência começou sim e tem avançado, mas não desvendou o porquê somos seres sencientes. Depois, não li nada que dissesse que a ciência “negou”, muito pelo contrário, a ciência sabe que o ser humano tem uma consciência de si (que muitas vezes, esquece) e do mundo. Daí vem a dialética hegeliana sobre a consciência, que mesmo deficiente de alguns elementos, pode nos ajudar a entender isso.

Hegel tem para si a realidade do Absoluto que várias religiões vão chamar de Deus, ou melhor, a Consciência Primordial do Universo. A meu ver, as religiões materialistas negam essa visão, porque transformaram essa consciência em mera figura igualitária humana. O deus-homem para pessoas ignorantes que tem muito medo e temem aquilo que não entendem. Por isso mesmo, essas religiões bloqueiam nosso lado de ligação desse Absoluto; pois, como a filosofia começa com os físicos (physys) dizendo que há um começo dentro do mundo físico (hoje chamado de big bang) e esse elemento era da natureza. Hoje existem teorias da simulação, mas, a questão da simulação é um platonismo computacional onde há uma realidade real com seres perfeitos e o nosso mundo é imperfeito por sermos copias. Será que somos simulações, já que tudo é codificado?

Salvi diz: “O preconceito contra a vida natural e espiritual tem servido de viseira para não se enxergar outras realidades, e o mais interessante é que também se trata esta de uma viseira mágica, e não propriamente científica ou isenta. Esta é ainda uma viseira muito ideológica feita de maya, de ilusão, de obsessão e de feitiço -o que apenas prova aquilo tudo que estamos aqui afirmando.”. Todo pré-conceito – como um conceito produzido com a subjetividade – visa aquilo que julgamos “certezas” e que não passa de instintos da nossa subjetividade.  O que seria toda a vida, uma existência natural e espiritual? Dai não há dualidade e sim, unidade entre aquilo que interagem na realidade e a essência daquilo que somos. O ser-ego se encontra com o ser-Outro. Ai quando enxergamos a verdadeira realidade – como dizem os budistas, o maya – estamos no meio filosófico e científico, onde o conceito se une ao devir. A filosofia faz conhecemos a s si mesmo, pois assim, conhecemos o universo (realidade) e os deuses (espiritual). Enquanto a ciência, fruto da tekné, a arte da invenção e da descoberta.

Mas e a religião? Salvi escreve sobre “outras realidades” que são “viseiras magicas”. A realidade como evento. Vou além do que Whitehead, pois li pouco. Quando Salvi diz que “não se enxerga outras realidades” se esquece que só há duas realidades: subjetiva do ser-ego e objetiva do ser-Outro. A realidade é o eu-Consciente com o Outro-Absoluto.

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