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Hegel Cyberpunk Dystopic |
Amauri Nolasco Sanches Júnior
Faz muito tempo que não falo sobre o tema espiritualidade –
mesmo porque, eu tenho a concepção de pensamento humano como filosofia, ciência
e religião como uma coisa bem mais ampla – e lendo um texto do colega de muitos
anos, Luís A. W. Salvi, eu queria falar sobre minha concepção espiritualista a
partir de alguns pontos do texto dele. Salvi disse no texto:
A consciência representa um dos maiores enigmas do
Universo, e a Ciência não sabe nem por onde começar a pesquisar, temerosa de
terminar encontrando coisas que ela sempre negou. Entre outros fatores, a
consciência humana está constituída por uma complexa rede de energias às quais
tem acesso através das faculdades sutis desenvolvidas por nossa espécie,
mediante dons como a telepatia, a intuição e a mediunidade; apenas para
mencionar as mais comuns. E naturalmente evolui através da cultura e da
educação.
Hegel, na “Fenomenologia do espírito”, vai dizer que a
consciência é um modo sensível e não é algo fixo. Você ter a consciência de
algo é você perceber esse objeto como verdadeiro, que constrói por sua vez,
conceitos desse objeto. Mas, para o filosofo, essa certeza se desfaz em algumas
vezes, por exemplo, quando você escreve em um papel “agora é noite” registrando
que naquele momento “temos a certeza” de que é noite. No dia seguinte, essa
certeza se desfaz por captarmos que a realidade se transforma em dia. Ou seja,
para Hegel existe a certeza (uma determinação subjetiva) e existe a verdade
(uma determinação objetiva) que forma a dialética hegeliana.
Só que Hegel – como todo protestante – tinha um problema e
não é a toa, que dialogava com Kant (outro protestante), não há como avançar em
uma discussão sobre consciência sem dar um passo adiante. O problema do
protestantismo e do catolicismo é seu materialismo, seu assombro sobre temas
importantes da consciência. Por exemplo, Hegel tinha resoluções empiristas e
racionalistas diante da certeza e da verdade. Posso usar um exemplo de uma foto
do Instagram, onde ela não mostra o agora nesse instante, ela mostra o instante
agora da pessoa que tirou. Estamos vendo, na verdade, o passado. Então, o
eu-ego sempre tratara aquilo que eu sinto e vejo e o eu-outro é aquilo que não
vejo em imediato.
Lembra minha concepção de pensamento? A filosofia (como modo
racionalizado da realidade), a ciência (como modo de entender os objetos dentro
da realidade) e a religião (um religamento com a consciência primordial).
Quando Salvi diz: “e a Ciência não sabe nem por onde começar a pesquisar,
temerosa de terminar encontrando coisas que ela sempre negou.” Erra no sentido
que primeiro a ciência começou sim e tem avançado, mas não desvendou o porquê
somos seres sencientes. Depois, não li nada que dissesse que a ciência “negou”,
muito pelo contrário, a ciência sabe que o ser humano tem uma consciência de si
(que muitas vezes, esquece) e do mundo. Daí vem a dialética hegeliana sobre a
consciência, que mesmo deficiente de alguns elementos, pode nos ajudar a
entender isso.
Hegel tem para si a realidade do Absoluto que várias
religiões vão chamar de Deus, ou melhor, a Consciência Primordial do Universo.
A meu ver, as religiões materialistas negam essa visão, porque transformaram
essa consciência em mera figura igualitária humana. O deus-homem para pessoas
ignorantes que tem muito medo e temem aquilo que não entendem. Por isso mesmo,
essas religiões bloqueiam nosso lado de ligação desse Absoluto; pois, como a
filosofia começa com os físicos (physys) dizendo que há um começo dentro do
mundo físico (hoje chamado de big bang) e esse elemento era da natureza. Hoje
existem teorias da simulação, mas, a questão da simulação é um platonismo
computacional onde há uma realidade real com seres perfeitos e o nosso mundo é
imperfeito por sermos copias. Será que somos simulações, já que tudo é
codificado?
Salvi diz: “O preconceito contra a vida natural e espiritual
tem servido de viseira para não se enxergar outras realidades, e o mais
interessante é que também se trata esta de uma viseira mágica, e não
propriamente científica ou isenta. Esta é ainda uma viseira muito ideológica
feita de maya, de ilusão, de obsessão e de feitiço -o que apenas prova aquilo
tudo que estamos aqui afirmando.”. Todo pré-conceito – como um conceito
produzido com a subjetividade – visa aquilo que julgamos “certezas” e que não
passa de instintos da nossa subjetividade.
O que seria toda a vida, uma existência natural e espiritual? Dai não há
dualidade e sim, unidade entre aquilo que interagem na realidade e a essência
daquilo que somos. O ser-ego se encontra com o ser-Outro. Ai quando enxergamos a
verdadeira realidade – como dizem os budistas, o maya – estamos no meio
filosófico e científico, onde o conceito se une ao devir. A filosofia faz
conhecemos a s si mesmo, pois assim, conhecemos o universo (realidade) e os
deuses (espiritual). Enquanto a ciência, fruto da tekné, a arte da invenção e
da descoberta.
Mas e a religião? Salvi escreve sobre “outras realidades”
que são “viseiras magicas”. A realidade como evento. Vou além do que Whitehead,
pois li pouco. Quando Salvi diz que “não se enxerga outras realidades” se
esquece que só há duas realidades: subjetiva do ser-ego e objetiva do
ser-Outro. A realidade é o eu-Consciente com o Outro-Absoluto.
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