Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.
Simone de Beauvoir
Por Amauri Nolasco S.
Jr
Dentro da premissa
filosofia, a questão da liberdade e da igualdade é uma questão
quase paradoxal. Porque, se você olhar dentro da vida prática –
no sentido concreto da vida cotidiana – nem sempre temos liberdade
e nem sempre somos iguais. A questão da liberdade tem a ver com o
individual, portanto, ela fica no escopo da ética (muito embora, no
dicionário e nos manuais de filosofia, ética é social). A questão
da igualdade tem a ver com o coletivo (no sentido social), portanto,
tem a ver com a moral. A confusão tanto da ética, quanto da moral,
vem do fato da origem etimológica das duas palavras e assim, achar
que moral e ética tem a ver com costumes só. Ética vem de uma
variante do termo grego ETHOS, que é ETHIKA, que tinha como
significado, caráter. Mas, se irmos mais para tras na linha do
tempo, vamos chegar ETHOS como moradia de homens, ou casa. Talvez,
por causa disso, o conceito de caráter veio do conceito de casa ou
moradia. Depois, os romanos – que herdaram a cultura grega e nós
herdamos a cultura latina – traduziram como MOS e no plural, MORES
e queria dizer modo de costume.
Por que tudo isso? A
questão de igualdade (moral) tem a ver com a liberdade (ética),
porque sem a igualdade não existe nenhuma liberdade. Uma sociedade
muito desigual nunca haverá liberdade. Isso nem tem muito a ver com
lados ideológicos e sim, uma justiça dentro da sociedade, porque a
sociedade feliz (podendo satisfazer seus desejos) não tem como não
ter produção boa. O feminismo clássico visa a igualdade entre
homens e mulheres e não, a supremacia da mulher como o feminismo
mais atual (que chamo toxico). Dai cairmos em uma outra questão, a
mais conhecida frase “todo homem é igual” tem um erro bastante
grande. Pois, ninguém pode ser igual ao outro ao ponto de se
padronizar, porque existe a ética que é construída por educação
quando somos crianças. Por isso mesmo que Immanuel Kant diz que a
educação vem de berço. Se um homem cresce com hábitos de judiar
da mulher, mandar na mulher e não tem nenhum respeito pela mulher,
foi a educação que ele recebeu ou exemplo do próprio pai em algum
momento. Isso não significa, que todo homem teve esse tipo de
educação.
Por outro lado, muitas
mulheres que nasceram numa família desestruturada – isso,
infelizmente, é muito comum no nosso país – começam a crescer
com esse tipo de pensamento, pois, é a realidade que ela conheceu. A
ética dela foi construída a partir da violência da relação entre
o pai dela e a mãe e começa a refletir para fora isso. Só que,
existem famílias que há harmonia, há uma boa educação de dizer
que devemos respeitar a mulher ou o homem, que esta no seu lado. Não
existe relações tóxicas, há escolhas de ambiente, há escolhas de
companheiro. Por isso mesmo, há o período do namoro de conhecer
quem pretende viver junto. Você não quer encontrar um cara legal em
uma balada ou o primeiro que te canta? Do mesmo modo, você não quer
encontrar uma companheira legal em baladas ou a primeira que você
tem tesão? Talvez, por isso mesmo, eu não acredito em pessoas
tóxicas, mas acredito em pessoas com a carência tão alta, que
escolhem o primeiro que aparece e dá merda. O pior que dessa merda,
os filhos (mais expressivamente a filha), fica com uma visão que só
há aquela pessoa.
Dai cairmos,
exatamente, na frase da Simone de Beauvoir, que além de sr
feminista (não vou entrar nos outros méritos que a direita acéfala,
acha que sabe) era existencialista. Ora, a corrente existencialista
defendia que por sermos obrigados a escolher, somos presos a sermos
livres para colher aquilo que escolhermos. Portanto, somos
responsáveis por aquilo que escolhermos como constrição de nós
mesmos. Essa exata frase de Beauvouir diz que nada deveria ser
definido e nada deveria se sujeitar, ou seja, as pessoas vão se
definindo ao longo da sua vida e a independência está, exatamente,
de não seguir um padrão de definição. Mas a frase também diz que
a liberdade seja a própria substância, pois, viver é ser livre.
Ser livre é oprimir os outros ou imputar uma culpa que não tem?
Porque se todo homem é igual, então, nem todo ser humano é livre
de ser o que é, porque existe um padrão a ser seguido e ai mora o
perigo. Você está definindo uma coisa porque viveu aquilo, porque
alguém da sua família era assim, você mede a realidade daquilo que
você viveu. Então, se nada se define, ate mesmo os homens, não são
definidos.
Portanto, essa história de homem
toxico ou relacionamento tóxico, na visão existencialista, não
existe, é uma questão de escolha.
Leiam Mais: