domingo, 28 de junho de 2020

Por que não comprar de um cadeirante?



Boneca Cadeirante.#semprecirculo - Amigurumi da Lena | Facebook


Preconceito é opinião sem conhecimento.”
(Voltaire)


Por Amauri Nolasco S. Junior


Como eu gosto de questões filosoficas, eu postei em um grupo uma questão bastante pertinente para esse texto: “existem pessoas não humanas?”. Na nossa língua (português) coloquial, pessoa tem um sinônimo de ser humano. No entanto, na filosofia – minha área – há muitos debates de definição de um sentido mais preciso ao uso desse termo, pois, quais seriam os criterios que poderiam definir algo ou alguém como sendo uma pessoa. Ainda na filosofia, uma pessoa seria uma entidade com certas capacidades ou atributos que associam a personalidade, como por exemplo, em um contexto bastante particular tem a ver com a moral, com a social ou criar instituições para guardar a sociedade (que seria algo bastante discutível). Essas capacidades podem incluir a autoconsciência, uma noção de passado ou futuro, a posse de poder deôntico (refere-se à deontologia, à ciência dos deveres morais, principalmente dos deveres próprios de cada profissão; deontológico). Ou seja, uma pessoa é um agente moral.
O que seria humano? Humano vem do latim “humanus” é a forma adjetival de “homo”, que traduzindo seria homem (incluindo macho e fêmea). Na filosofia é sempre mantida uma certa distinção entre as noções de ser humano (homem) e de pessoa. A primeira definição (ser humano) se refere à especie biológica enquanto a segunda definição (pessoa) se refere à um agente racional. Ou seja, um ser humano é todos que fazem parte da nossa especie e ate onde sabemos, toda a humanidade (aproximadamente, 8 bilhões no planeta Terra) são humanas e não de outra espécie. Existem características estéticas e morais, quem tem a ver com pessoas e essas características não te fazem ser uma outra espécie.
O que você diria se uma pessoa (lembre da definição), dissesse para uma outra pessoa, para não compra de uma cadeirante doces porque ela acha que a cadeirante é suja? Ela seria uma pessoa? Ela seria uma humana? Poderíamos dizer que uma pessoa é um ser que seria um agente moral, pois, moral vem de “mos” (no plural “mores”) que queria dizer “relativo aos costumes”. Ora, um ser que segue um costume – como um ser que é educado pelos mesmos valores morais – podemos concluir, que pensar que um cadeirante ser sujo é comum. Por que isso? Talvez, por ver vários cadeirantes segurar o corrimão para fazer a roda ir para frente, se ache que a mão está na roda ou que o corrimão esteja sujo. Por outro lado, tem outro pensamento que todo cadeirante é dependente do outro (ai depende do grau da deficiência) e, talvez, por isso, nós possamos não se limpar direito ou não tomar banho. Isso como em toda sociedade, se chama generalização. Você pega um estereotipo, coloca em rotulo para ser classificado e começa a colocar todos com aquelas características messe rotulo.
Mas, como pessoas (isso é, seres humanos), cada indivíduo com deficiência tem uma característica diferente. Uns podem – como eu – se virar e tomar banho, ou ir ao banheiro sozinho por ficar de pé (sim, minha deficiência me permite ficar em pé), outros indivíduos podem depender mais por comprometer mais a parte motora ou ate mesmo, a parte cognitiva (consciência) e precisa de um cuidado maior. Existe um leque muito grande dentro do aspecto cadeirante (fora outras deficiências), então, não tem o porquê de achar que os cadeirantes são sujos.
Mas tem uma outra questão: o porque uma pessoa chega na outra para dizer que se fosse ela não comprava doces de uma cadeirante por achar os cadeirantes sujos? Analisamos o conceito (ou preconceito) de achar que cadeirantes são sujos, agora, podemos analisar o porque dela se meter na decisão do outro. Talvez, poderia ser um alerta por achar que a outra pessoa não soubesse que a vendedora era cadeirante, ou ate mesmo, desconhecer que os cadeirantes são “sujos”. Para a pessoa que construiu essa imagem, ela tinha um dever de dizer para outras pessoas, porque as outras pessoas não sabem o que só ela (supostamente, claro) sabe. Mas, também, poderia ser uma pessoa que não gostasse da cadeirante e de alguma forma, sentiria alguma inveja dela vender esses doces. Então, nesse ponto de vista, não no sentido do estereotipo de ser cadeirante e sim, a questão de não gostar da pessoa. Mas, por que uma pessoa não pode gostar da outra? Por que as pessoas podem se incomodar com as outras?

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