Por Amauri Nolasco Sanches Junior
Quem ler meus textos sabem muito bem, que no fundo eu sou anarquista. Como anarquista eu acredito que o único problema da humanidade é o Estado e ele atrapalha mais do que ajuda, mas, estamos numa democracia republicana e temos que lutar para melhorá-la. A questão é: por que as pessoas com deficiência, em sua maioria, vai para o lado da esquerda? As pessoas poderiam colocar que por causa da sua condição social, outras podem argumentar, que a esquerda parte na premissa social e defenderá a causa PCD. Eu digo que é puro interesse. Quando ganhamos doces dos nossos avós quando eramos crianças, não dava uma sensação gostosa de bem-estar? O mesmo vamos ver quando o Estado lhe dará alguma coisa, vai ter também essa sensação gostosa. Mas, existe um problema, o Estado não é nossos avós e por ele ser pago pela população, eles são nossos empregados e não fazem mais que a obrigação.
A meu ver, fica claro que as pessoas não leem e não se informam e fica, realmente difícil, incluir sem que as pessoas entendam, que incluir não tem ideologia. Incluir, assim como a ética, tem que ser prática. Mas, o conhecimento sobre sempre é importante e é muito bom para a nossa alma. Primeiro, para começarmos falar em inclusão, temos que discutir os pontos éticos e morais tanto dentro do ato de incluir, quanto a moralidade social vigente. E mesmo que muitas pessoas digam que ética e moral sejam a mesma coisa, não são. O capacitismo, por exemplo, é uma atitude de ter ou não ética. A ética na minha área – na filosofia – tem como questão o bem ou o mau e até mesmo, melhor. Essa noção veio por causa da origem do termo “ethos” que segundo o estudioso do mundo antigo grego, Werner Jeager em Paideia, era o espírito da sociedade grega na época. Podemos traduzir o termo “ethos” como “costumes” ou “caráter” e ai que quero chegar. A noção de caráter tem a ver da visão de bem ou mau.
Eu, particularmente, não acredito que exista bem ou o mau de forma concreta e presente. Acho, que exista, na verdade, o conhecimento e a ignorância. Isso é claro, quando você conhece o limite do seu direito e começa o dever entre a sociedade. Eu não posso bater em uma namorada minha, primeiro, porque ela é um ser humano e merece respeito e segundo, estou agredindo alguém gratuitamente só porque fiquei com raiva. Eticamente, eu não posso agredir outra pessoa se a outra pessoa não me agrediu, porque eu conheço o meu limite entre o que eu posso ou não fazer. Isso é o conhecimento e o que o filósofo Platão chamaria de “sophia”, ou seja, a ética teórica. Essa ética teórica é a busca do bem, e para a teoria platônica, o bem maior é a elevação da consciência até chegar na sabedoria. O mau seria a ignorância de não saber que existe na realidade de fato, como acontece, quando uma pessoa olha e vê uma pessoa com deficiência e não tem nenhum conhecimento sobre a deficiência em si mesma. Qual a solução? Propagar o conhecimento.
Por outro lado, tem o problema da inclusão e para incluir precisa ter prática. O aluno de Platão, Aristóteles, não concordava com seu mestre e dizia que havia uma ética pratica. Se para Platão o conhecimento ético era teórico porque teríamos de saber e com o saber, sairíamos da ignorância, para Aristóteles a ética não de poderia existir sem ela ser praticada. A ética teórica (aophia) era importante para o começo, mas, não servia para nada. Já a prática (phronesis), seria uma forma de chegar até o equilíbrio, a “eudaimonia”. Muitas pessoas traduzem “eudaimonia” por felicidade, mas, para o mundo grego onde viveu Platão e Aristóteles, o termo seria um espírito protetor que traria bom humor ao individuo. Talvez, por isso, muitos especialistas tenham traduzido o termo para felicidade.
O problema que a nossa cultura não foi construída dentro do conhecimento e o querer progredir, pois, a questão tem a ver com a igreja católica. Fomos colonizamos pelos portugueses que eram (ou são) católicos fervorosos, sendo assim, quem veio fazer as aldeias foram os jesuítas e a essência da igreja romana era o pensamento que a riqueza e o conhecimento eram pecados. Mostrar conhecimento e riqueza era um sinal de vaidade (claro, que tinha hipocrisia no meio), era pecado e no passar do tempo, nossa cultura ficou avessa a leitura. Então, ninguém ler e não se enganem, nem mesmo na internet as pessoas buscam alguma leitura. Como queremos que a ética seja algo pratico se não se sabe o teórico? Ai voltamos a inclusão.
O ato de incluir é um ato pratico e teórico que tem a ver com a ética. Ética tem a ver com o capacitismo. Capacitismo tem a ver com ignorância de não conhecer a deficiência. Portanto, todo e qualquer preconceito não pode ser levado por maldade e sim, só a falta de conhecimento de algo. E ai que eu chego na ideologia (qualquer uma), pois, elas geram dificuldade para vender facilidade. Não se inclui pessoas com deficiência dentro de empresas, inclui pessoas com deficiência com escolas, acompanhamento psicológico com as famílias – que envolvem, também, a ignorância – um trabalho de reabilitação e o mais importante, acessibilizar a cidade. Qual governo de partidos de esquerda (não só o PT) acessibilizou ou fez tudo isso que eu disse? Ratificar a Convenção da ONU é uma coisa, cumprir o que está escrito lá é outra coisa. Criar uma Lei Brasileira de Inclusão é lindo – está cheio de erros e não punição – o problema é cumprir o que está escrito lá. Se nenhum governo fez nada, o porque as pessoas com deficiência são de esquerda?