quarta-feira, 31 de agosto de 2022

O porquê me tornei um cadeirante filósofo

 



 


Não se ensina filosofia; ensina-se a filosofar.

Immanuel Kant

Escrevi no meu Instagram – que uso agora para fazer minhas reflexões e nem sempre as pessoas gostam – que estou relendo um livro muito pequeno do filósofo italiano Enrico Berti, Convite à Filosofia. Onde ele explana toda a motivação que ele teve para estudar filosofia, mas, como trabalhou vários anos como professor – 40 anos na Universidade de Pádua – ele também vasculha algumas questões filosóficas. É um livrinho bastante interessante que podemos nos perguntar: o porquê fazemos filosofia? Por causa da curiosidade?

Em muitos posts no próprio Instagram, as questões filosóficas – bem parecidas com o do Berti que faleceu em janeiro – começaram a povoar em mim muito cedo. Por exemplo, lá na Rodrigues Alves – chamamos carinhosamente o colégio que estudávamos – estava deitado no pátio das classes especiais (AACD) vendo o céu e eis que de repente, passou um meteoro bem rente a Terra. Dai pensava: o que é aquilo? Um disco voador? Será que pedras voam? Depois a noite, na minha casa, Cid Moreira dizia que tinha mesmo passado um meteoro muito perto da Terra e que daria para ver a olho nu. Claro, hoje eu sei o que é um meteoro – e sei que muitas extinções foram por causa deles – sei que o prédio ao lodo da Rodrigues Alves era sinal de desenvolvimento da Avenida Paulista (que hoje, está infestada de bandidinho e viciado). Sei que há um fluxo no tempo e vai muito para o futuro – físicos já afirmaram, que podem existir universos que tem o tempo invertido – e que, graças a lei da relatividade geral de Einstein, onde estiver ele passa lento ou rápido. E sei muito bem, que o que vi deitado no banco do pátio – naquele tempo eu andava de andador – era um fenômeno raro de se vê.

Ora, essa curiosidade – eu lia já Freud e O Manual do Prof Pardal – sempre me envolveu e sempre vai me envolver. Com o tempo eu comecei a ser muito mais cético e seletivo nas minhas leituras e, claro, nas ideologias, religiões e tudo que remete em nossa cultura. Por causa da nossa origem latina – uma cultura luso medieval – muitas coisas são usadas como religiões e se acaba fanatizando certos conceitos. Que, aliás, como aprendi com o filósofo francês Gilles Deleuze, filósofos gostam de conceitos porque eles mexem com objetos da realidade e nesse processo – dentro de uma linguagem própria – a questão da realidade vai sendo construída a partir dos conceitos que os filósofos vão inventando.

Eu não sabia, mas, estava vivenciando um fato histórico que, talvez, a maioria não percebeu.  A questão de muitas coisas são coisas que o ser humano se escraviza por ele mesmo, e ao contrário o que os esquerdistas pregam, isso não é uma questão de alienação. Talvez, um cara em um carro qualquer passando por algum lugar da Paulista ou, no trânsito de algum ponto, tenha visto o fenômeno e nem se dado conta. Aliás, outra característica minha desde garotinho, era olhar pela janela da “perua” – sim, chamávamos as kombis da AACD de Perua – e ficar imaginando o que o motorista do outro carro estava pensando, qual seria a vida dele, qual seus sofrimentos e suas alegrias. não seria isso que está em jogo dentro da filosofia?

Como disse Kant na frase do começo do texto, as pessoas não aprendem filosofia (amor pela sabedoria), mas, você aprende a pensar, ver o mundo mais criticamente. Não me interessa se o meteoro que eu vi foi mentira ou não, meu testemunho diz que uma pedra (imensa) estava lá no céu e isso não vai mudar o fato. Acontece, que as pessoas ainda confundem negar com duvidar, pois, negar é uma negação a partir de crenças dentro dos seus valores, a dívida, é o querer saber a partir do fato que pode ou não ter acontecido. Na maioria das vezes, sempre negamos aquilo que não concordamos. Porém, não temos – principalmente, quando não concordamos – na filosofia, olhar o que concordamos apenas. Deleuze, por exemplo, mesmo sendo de esquerda – como sempre foi – ele dizia que não existem governos de esquerda, porque a esquerda é um olhar crítico da política e do governo que acontece. Eu concordo. Eu vejo aulas e leio coisas que não concordo.

Do mesmo modo que não entendia a pedra que voava, eu não entendia que ninguém queria namorar comigo. Só ser amigo. Do mesmo modo que eu entendi o meteoro, eu entendi os preconceitos que existem dentro da sociedade e nem é uma culpa das pessoas. As pessoas rejeitam ou aceitam aquilo que são socialmente aceitos, até mesmo, ideais de pessoas e isso era muito pior nos anos 80. As adolescências eram assombradas por idealizações que remontavam as mídias da época. Isso mudou pouco, mas, existem pessoas que aceitam mais o outro como ele é de verdade.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

sábado, 27 de agosto de 2022

Régis Tadeu: meu guru



 Por Amauri Nolasco Sanches Júnior 

A ideia de guru que temos é muito a construção do padre da igreja católica ou o pastor das igrejas pentecostais e neopetencostais. Mas, os verdadeiros gurus não querem que que sigamos eles cegamente, eles querem que refutemos eles, que indagamos e tragamos algo melhor. Na tradição budista, buda (o iluminado) Sindarta Gautama disse que toda vez que você encontrar buda, mate ele. No caso, Régis Tadeu é meu guru no ponto da frase <<todo fã é um idiota>> e que remete muito a filosofia cética – quase pirrônica de negar tudo mesmo – onde devemos ter um certo ceticismo. Você gostar não quer dizer que você vai defender até a morte as coisas e nem as pessoas.

Uma questão que me chegou através do Quora: <<a virtude pode ser ensinada?>>. Um sujeito respondeu que Aristóteles dizia que não, mas, temos que ter cuidado quando dissemos isso, porque existem termos gregos que não entendemos. A questão da virtude prática de Aristóteles passa dentro da filosofia grega da época, na questão da felicidade. Os gregos tinham como uma vida feliz – pelo menos, os filósofos –o termo <<Eudaimonia>>, o que seria, grosso modo, um <<gênio bom>>. Seria uma espécie de espírito bom, ou anjo da guarda. Portanto, a felicidade seria atos virtuosos para atrair esses gênios e conquistar dias felizes. Hoje sabemos que nosso comportamento vem de exemplos, por isso mesmo, temos a educação familiar, a escolarização entre outras coisas.

Só que tem um problema: quando construímos nossa ética (virtudes através desses atos), começamos a se distanciar de gurus, porque sabemos que alguns atos são errados. Matar é errado, porque você está tirando do outro o direito da vida. Algumas pessoas acham legitimo matar porque estão na ignorância que aquilo não te pertence, ou que as pessoas podem fazer algo contra nós e esquecemos essa pessoa. O ato virtuoso, nesse caso, é não ir ao extremo de achar o direito que tenho que tirar a vida do outro por causa do meu bem-estar. Não é certo e vai contra todos os preceitos religiosos e filosóficos.

Um guru não te leva através o caminho, ele te mostra o caminho e depois que você aprende, ele se vai. Em um vídeo no YouTube – em forma de podcast – Arthur Petry faz uma reflexão sobre o modo que Régis Tadeu reage a essa juventude idiotizada que não sabe o que está seguindo. Colocando em um modo muito mais filosófico – uma noção mais crítica dentro da concepção do jeito do Régis – ele é cético e o ceticismo dele faz dele um cara que curte o melhor, ele é seletivo. Pessoas seletivas sempre tem um bom gosto, porque não gostam de qualquer coisa. Sabem que o entendimento tem a ver com o gosto e apreciar tudo o que é bom e belo. Daí chegamos em Sócrates e Platão, pois, o bom e o belo não têm a ver com moral – não como entendemos hoje – mas, saber o que se tem de bom e belo e trazer para seu gosto e apreciar. Tem a ver o que você gosta sem ir em tendencias ou modinhas.

Por isso mesmo o Régis Tadeu vai dizer que gosta do mesmo modo metal de cruz invertida e músicas de outras vertentes, porque o ceticismo dele não deixa ele se fanatizar. Eu aprendi com essas pessoas – com filosofias orientais também – a dar minha opinião sem dizer palavrão, sem ir para o lado pessoal, sem se importar muito com que as pessoas dizem. Não fanatizar faz com que seu gosto musical e de tudo, fique muito melhor. 



#registadeu #filosofia

domingo, 21 de agosto de 2022

Bolsonaristas peidam na farofa

 



Essa semana eu escrevi sobre a Rose bot do Telegram lá no Prensa (se quiserem ler, esta linkado no nome dela), hoje aqui vou escrever sobre o bot bolsonarista do WhatsApp: a elite rastaquera. Porque, dia desses, eu estava lendo umas notícias do Meio – jornal vinculado ao jornalista Pedro Doria – que empresários apoiavam o golpe do Bolsonaro no dia 7 de setembro. Ora, quem são essa gente que acha que o Brasil é só deles? Claro, tinha que estar no meio o Veio da Havan bot (Luciano Hang) e outros que não vou me ater, até porque, não vou fazer propaganda para rastaquera. O interessante é que o termo rastaquera sempre cabe no caso dos empresários bolsonaristas e os empresários lulopetistas, porque mostra a mediocridade de pessoas que ostentam posses. Mas, não ostentam cultura. As elites – em toda a história humana – sempre pode ter mais leitura, sempre pode estudar, sempre pode ser os “guardiões” das comunidades onde estavam. No Brasil – que gosta de uma prática e sustentar só aquilo que acreditam – a elite gosta de mostrar dinheiro, balada (putaria) e sempre apoiar aquilo que vai trazer dinheiro para si mesmo. Foda-se a nação.

Mais uma vez – seguindo uma trilha de besteirol e crimes idiotas por causa de índoles duvidosas – bolsonaristas peidam na farofa porque brasileiro que se preza, sustenta sua posição a qualquer preço. Mesmo, se para ter razão, defender coisas ilícitas e mentiras. Porque a grande maioria, na verdade, nem gosta e nem sabe da democracia, porque vai ser sempre a favor de uma oligarquia que traga benefícios para si mesmo. Nem que para isso, tenham mortes. Como diz um velho ditado: o problema não é o cara, são seus fãs. Até poderia ser verdade com Jesus Cristo, Mahatma Gandhi, Luther King etc., mas, não com Bolsonaro e Lula. O bolsopetismo sobrevive assim, porque querem o poder e gostam do Culto a Personalidade. Características de pessoas psicopatas e que fazem de tudo para serem vistos.

A meu ver, existem duas coisas que devem ser explicadas dentro desse texto. Uma é que nosso povo tem uma grande dificuldade em mudar, gostar de mudanças. Porque ele como um ser cordial (ser do coração), se entrega muito fácil para memorias afetivas. Eles não são conservadores, são afetivos dentro de tempos passados por causa de sensações que tiveram em certos períodos naquela época. Ou seja, a esquerda está errada: até eles mesmos são reacionários, porque temos uma cultura reacionária por causa do apego sentimental das coisas e das crenças (que geram mitos). Por isso as pessoas começam a dizer: <<Ah, nesse tempo era bom>> ou <<ah, tempo bom que não volta mais>>. Porque se tem um apego muito forte com essa memória afetiva. Nem lembra pormenores.

Politicamente, nossa cultura pode apresentar riscos de elegermos sempre caudilhos e isso não é novo. Vem desde Vargas. O avô que foi a cavalo lá no palácio do catete e enfrentou o “sistema”, isso gera uma comoção sentimental do homem-lider que defende a nação de pessoas que pouco importam com a nação. Carecemos de heróis. Sempre – em nome de verdades, muitas vezes, duvidosa – destruímos personagens históricos por causa de um ressentimento que se transforma em ideológico. Eu não estou bem e feliz, porque o outro está melhor do que eu. Claro, no mundo de hoje, as pessoas são cobradas o tempo todo e de todas as formas. Porém, não acho que seja um “fascismo-neoliberal”, acho que as próprias pessoas se colocaram assim, e talvez, as pessoas achem que “tem que” ser assim. E a liberdade e o livre-arbítrio que dizem temos?

A questão não pode ser explicada em algumas linhas, porque requer explicações gigantescas. Pois, sabemos muito bem, que não estamos em nenhum fascismo (não interessa o que isso possa parecer), pois, nossos direitos civis não foram cassados. Nem estamos e nunca ficamos um país socialista. O socialismo não é o mesmo que comunismo e nem anarquia. As coisas são bem mais complexas, e o Hang bot deveria saber, que em 64 teve financiamento americano e aval da CIA para o “comunismo” não invadir o sul. Hoje, não tem nenhuma União Soviética, não tem nada que convença os americanos de apoiarem uma intervenção ou ditadura. Por outro lado, Bolsonaro sabe que se ele instaurar uma ditadura, poderemos perder indústrias, o investimento vai embora e o país entra em um período devastador. Maluco ele não é (nem come um prato de merda e nem rasga dinheiro). Ele era e continua sendo centrão.

Do mesmo modo o Lula. Mesmo que tenha bens – Collor disse em 1989, que ele tinha um aparelho de som que nem ele tinha e não duvido – a áurea de um torneiro mecânico, nordestino que foi para São Paulo de “pau de arara”, não saiu nas mentes da maioria. A meu ver, as pessoas vão votar no Lula não por causa dele ou porque gostam, mas, por causa das asneiras que Bolsonaro disse. Ou seja, o diabo acaba sendo o mesmo.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, cadeirante e um quase bacharel de filosofia

sábado, 13 de agosto de 2022

Médicos e Filósofos no mundo da bunda elétrica

 

Ilustração de Ibn Sina, considerado um dos principais médicos de todos os tempos



Quando eu faço artigos, são artigos que refletem muitos aquilo que sinto e como vejo a realidade. Agora no meu Instagram, eu o transformei em um microblog para expressar alguns pensamentos e algumas ideias a respeito de assuntos. Mas, lendo Sponville – um dos meus trocentos filósofos de cabeceira – trouxe uma frase de Demócrito na introdução da obra Tratado do Desespero e da Beatitude onde um dia, o filósofo grego disse: “As esperanças dos tolos são desprovidas de razão”. Ou seja, os tolos têm a esperança daqueles que querem uma realidade que não existe, porque creem aquilo que não podem entender. Os tolos são aqueles que enxergam só as sombras. E por que eles enxergam as sombras? Porque querem apenas coisas rasas, sem se aprofundar. Digo aprofundar de pesquisar mesmo, de achar motivos práticos. Por outro lado, Aristóteles nos coloca um meio termo: toda ação é teoria e ao mesmo tempo, deve ser prática.

Por isso mesmo, as pessoas não querem coisas aprofundadas. Só olhar o Instagram, pois, aquelas postagens que aparecem bundas, aparecem memes ou algo, mais fácil, terá muitos likes e terá muitas visualizações e nem sempre é verdade. Fora a moda é o Onlyfans – não pagaria mesmo se eu não tivesse compromisso ou tivesse grana – onde caras pagam para ver as mesmas moças nuas e pousando. Aquela cena de um filme antigo chamado Cocom – onde o terráqueo se relaciona com uma alienígena – está chegando à realidade, ou seja, vão transar por pensamento. Essa juventude está perdendo o interesse por sexo presencial, isso é alimentado pela indústria como na idade média era alimentado pela igreja católica. Mas, aquilo não é verdade. Não é você que elas desejam o querem namorar, é o dinheiro. Vou chamar de “bundas elétricas” – em homenagem a Philip Dick que o detetive de Blade Runner tinha uma ovelha elétrica – onde as pessoas pensam ser verdade, mas, só são pixes, números binários e fantasias intimas.

E, por isso mesmo, acho que a grande maioria não gosta de médicos e de filósofos. Porque, médicos e filósofos, mexem muito com as realidades que a grande maioria, não gosta. Primeiro, médicos e afins – qualquer modalidade – lidam com o mundo fisiológico e não tem tempo e nem querem fazer carinho no seu ego, pois, eles diagnosticam os fatos sem que você goste dele. Dane-se se você concorda com o diagnostico, ele joga a realidade na sua cara e você que lute com ela. Ele pode sentir muito, mas, é isso que tem para hoje. E não adianta mudar de médico, a realidade vai estar lá. Ardendo dentro de você. Te deixando aflito. E a realidade não mudara por causa disso.

O filósofo também. A tradição diz que os filósofos, na verdade, são médicos da alma. Lidam com os fatos morais e dizem a verdade dos fatos. Filósofos, a meu ver, que defendem posições – sejam elas que forem – são apenas professores de filosofia. Como os sofistas. Não acho que sofistas eram errados, mas, temos que colocar cada um no seu devido lugar. Filósofos não tem frases feitas e nem tem pensamentos construídos – ou pensamentos sólidos – eles vão construindo ao fazerem suas reflexões como um construtor.  Filósofos não conseguem idealizar – a idealização filosófica é uma transcendência da realidade – mas, focar na realidade. Mas, além disso, filósofos são apegados em conceitos dessa realidade.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, cadeirante e um quase bacharel de filosofia 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Eu assinei a Carta a Democracia?

 


Minha resposta poderia ser um “não” simples, mas, como todo filósofo que se preza, eu não vou dar uma resposta simples. Pois, quando dissemos que existe uma “carta” e ele defende uma democracia, ela pressupõe uma questão de liberdade diante sua escolha. Porque quando só uma vertente defende uma suposta democracia – nem mesmo os liberais concordam com essa carta – ela se torna bilateral e se torna perigosa nas mãos de pessoas que defendem uma hegemonia do discurso. Diante de tal coisa, existem outras questões que não me deixam assinar a suposta carta a democracia.

Primeiro, filósofos não falam o que a maioria gosta e não dá a mínima para críticas infundadas. Talvez, por isso mesmo, Sócrates foi “suicidado” pelo povo de Atenas, pois, o acusaram de ter subvertido os deuses da polis (cidade-estado) onde morava. Mas, tudo é uma grande inverdade (cuidado, inverdade não é o mesmo que mentira, já que uma inverdade é uma ilusão e mentira é uma distorção da realidade por seu próprio interesse), pois, Sócrates mexeu com coisas que não deveriam ser mexidas e combateu – como soldado que sempre foi – com a filosofia. A meu ver, Sócrates dizia ser verdade (aletheia), aquilo que os fatos são, sem dizer inverdades, sem achismo (doxa). E um detalhe importante: era uma democracia. Como em uma democracia, um homem foi condenado por causa de questões importantes, até mesmo, da questão da polis?

Cartas são mensagens, manuscrita ou impressa, a uma pessoa ou uma organização, para lhe comunicar de algo. Ora, uma carta é um comunicado, um comunicado tem o dever de comunicar para que veio comunicar e o porquê dessa comunicação. Mas, uma carta também pode ser considerada um diploma, algo que pode ser um documento oficial. Ou seja, poderia ser uma defesa a democracia, mas, o porquê só partidos de esquerda estão defendendo isso? porque, oposição eu já sou, mas, não voto na esquerda que já teve governo – mesmo achando como Deleuze que não existe governo de esquerda – e fez igual os outros governos fizeram. Agora, para entendemos isso, temos que entender uma coisa bastante importante: o que seria democracia.

O erro da filosofia moderna e a iluminista foi traduzir democracia como o governo do povo, pois, hoje em dia, democracia tem uma outra tradução e entendimento. Esse DEMO, não tinha conotação de povo, porque nem todo mundo poderia votar e no mais, significava bairro. Ou seja, a democracia ateniense era nada mais do que: o governo dos bairros. Claro, as democracias ficaram mais livres, Montesquieu separou por instituições que fariam contrapesos – de maneira rude, mas, foi aperfeiçoado – e hoje, temos o executivo (que executa), o legislativo (que forma as leis) e o judiciário (que cuida da justiça). A questão é: e os contrapesos ideológicos? Cade o diálogo com todas as categorias e minorias?  Agora vamos falar da Universidade de São Paulo (USP).

Tempos atras li uma matéria no blog VencerLimites onde houve discriminação em edital e várias pessoas relatam escadas até a diretoria onde, se deveria levar o laudo e levar a quantia (sendo que pessoas com deficiência, por lei, devem ser isentos dessa quantia). Ora, primeiro, a meu ver, universidades públicas deveriam fazer vestibulares de graça, pois, são públicas e são pagas com o dinheiro do contribuinte. Segundo, se a USP está tão preocupada com a democracia, porque não acessibilizar a universidade para pessoas com deficiência, não virtualizar o envio da documentação e o porquê não criar cotas para pessoas com deficiência. afinal, todas as instituições que se preocupam com o ESTADO democrático, tinha que dar o exemplo e bonito.

A OAB deveria denunciar empresas que não cumpri as leis de cotas. Por que não denunciam? Afinal, num ESTADO democrático, pessoas com deficiência tem o direito de trabalhar, pois, não podemos estudar porque não temos colégios acessíveis, não temos universidades públicas sem a burocracia para se ter uma vaga. Prefiro pagar a universidade. Isso é democracia? Se você mesmo não tem atitudes democráticas, como quer que os outros o tenham? Fora a Fiesp que luta a anos pelo fim da Lei de Cotas e no fim, não tem nada de democrático e muito menos liberal. Qual país do mundo tem um sindicato dos empresários?

Acho isso uma tremenda palhaçada. 


Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

Jô Soares e o limite do humor

 



Os humoristas Jô Soares e Chico Anysio, durante entrevista em São Paulo, em 5 de maio de 1985.



Como disse no meu Instagram, cresci vendo Jô Soares e cresci rindo dele das piadas. Seja no humor, seja no seu programa diário de entrevista – o talk show Programa do Jô – sempre me lembrava das entrevistas e fiquei conhecendo varias pessoas através dele. em alguns momentos poderíamos dizer que ele era um pouco chato, mas, ele tinha que direcionar as entrevistas para onde se deveria estar as entrevistas. Meu pai me conta varias historias como que o Jô tentou emagrecer e ficou doente, que enteados do Jô trabalhavam na Praça é Nossa – apresentado por Carlos Alberto de Nobrega que é amigo dele – e que o Jó já teve um Gordini. Quem se lembra como era um Gordini vai dar risada e imaginar um Jô- Soares dentro de um carro tão pequeno.

Talvez, por anos, tenha protegido seu filho que tinha autismo – no caso dele, bastante rigoroso – e não mostrava ele. Raras são as fotos com seu filho, que se foi vítima de câncer. Existem pessoas que não gostam de falar da sua vida privada, que muitas vezes, não tem nada de errado e até é uma forma de preservar a integridade familiar. Afinal, o que interessa se o filho dele tem ou não deficiência? O que interessa ou não se a pessoa é isso ou assado?

Podemos analisar a geração do Jô de humoristas – como o Chico Anysio, Costinha, Ari Toledo entre outros – como uma geração que teve que aprender a fazer humor não explicito. Ou seja, um humor que tinha que mostrar a crítica que se queria passar, mas, que não poderia ser claro por causa das pessoas que cuidavam dessas censuras. E, além do mais, muitos não entendiam as sutilezas ali apresentadas como críticas políticas e sociais. Não tinha palavrões, mas tinha um duplo sentido. Não tinha malicia sensual, mas, sempre tinham mulheres seminuas nos programas. Até mesmo o seriado Chaves, que na época que vinculavam o programa, o Mexico passava pelo mesmo problema.

As piadas hoje, tem um ar de crítica acida porque o mundo mudou, muitas pessoas, querendo ou não, luraram pela liberdade e a democracia. E sabemos muito bem, que as ditaduras militares existiam interesses geopolíticos que tinham a ver com a Guerra Fria – socialismo VS capitalismo – e que EUA não queriam os comunistas no lado deles (América latina). Hoje, se pode ofender muito mais pessoas do que se ofendia antigamente – e nem tinha redes sociais – porque hoje se tem mais liberdade de se dizer o que quiser.

Mas, existiria um limite para o humor? A meu ver, existiria um bom senso de se ter em ter lugar para dizer, e se tem o bom senso de dizer o que se quer. Condenar ou não, fica a cargo da justiça e as pessoas que se sentirem ofendidas. E tenho certeza de que o Jô concordaria com isso, pois, hoje se censura quem não concordamos, amanhã pode censurar quem gostamos ou a nós mesmos.