Não se ensina filosofia; ensina-se a filosofar.Immanuel Kant
Escrevi no meu Instagram – que uso agora para fazer minhas reflexões
e nem sempre as pessoas gostam – que estou relendo um livro muito pequeno do filósofo
italiano Enrico Berti, Convite à Filosofia. Onde ele explana toda a motivação que
ele teve para estudar filosofia, mas, como trabalhou vários anos como professor
– 40 anos na Universidade de Pádua – ele também vasculha algumas questões filosóficas.
É um livrinho bastante interessante que podemos nos perguntar: o porquê fazemos
filosofia? Por causa da curiosidade?
Em muitos posts no próprio Instagram, as questões filosóficas
– bem parecidas com o do Berti que faleceu em janeiro – começaram a povoar em
mim muito cedo. Por exemplo, lá na Rodrigues Alves – chamamos carinhosamente o colégio
que estudávamos – estava deitado no pátio das classes especiais (AACD) vendo o céu
e eis que de repente, passou um meteoro bem rente a Terra. Dai pensava: o que é
aquilo? Um disco voador? Será que pedras voam? Depois a noite, na minha casa,
Cid Moreira dizia que tinha mesmo passado um meteoro muito perto da Terra e que
daria para ver a olho nu. Claro, hoje eu sei o que é um meteoro – e sei que
muitas extinções foram por causa deles – sei que o prédio ao lodo da Rodrigues Alves
era sinal de desenvolvimento da Avenida Paulista (que hoje, está infestada de
bandidinho e viciado). Sei que há um fluxo no tempo e vai muito para o futuro –
físicos já afirmaram, que podem existir universos que tem o tempo invertido – e
que, graças a lei da relatividade geral de Einstein, onde estiver ele passa
lento ou rápido. E sei muito bem, que o que vi deitado no banco do pátio –
naquele tempo eu andava de andador – era um fenômeno raro de se vê.
Ora, essa curiosidade – eu lia já Freud e O Manual do Prof
Pardal – sempre me envolveu e sempre vai me envolver. Com o tempo eu comecei a
ser muito mais cético e seletivo nas minhas leituras e, claro, nas ideologias, religiões
e tudo que remete em nossa cultura. Por causa da nossa origem latina – uma cultura
luso medieval – muitas coisas são usadas como religiões e se acaba fanatizando certos
conceitos. Que, aliás, como aprendi com o filósofo francês Gilles Deleuze, filósofos
gostam de conceitos porque eles mexem com objetos da realidade e nesse processo
– dentro de uma linguagem própria – a questão da realidade vai sendo construída
a partir dos conceitos que os filósofos vão inventando.
Eu não sabia, mas, estava vivenciando um fato histórico que,
talvez, a maioria não percebeu. A questão
de muitas coisas são coisas que o ser humano se escraviza por ele mesmo, e ao contrário
o que os esquerdistas pregam, isso não é uma questão de alienação. Talvez, um
cara em um carro qualquer passando por algum lugar da Paulista ou, no trânsito
de algum ponto, tenha visto o fenômeno e nem se dado conta. Aliás, outra característica
minha desde garotinho, era olhar pela janela da “perua” – sim, chamávamos as kombis
da AACD de Perua – e ficar imaginando o que o motorista do outro carro estava
pensando, qual seria a vida dele, qual seus sofrimentos e suas alegrias. não seria
isso que está em jogo dentro da filosofia?
Como disse Kant na frase do começo do texto, as pessoas não aprendem
filosofia (amor pela sabedoria), mas, você aprende a pensar, ver o mundo mais
criticamente. Não me interessa se o meteoro que eu vi foi mentira ou não, meu
testemunho diz que uma pedra (imensa) estava lá no céu e isso não vai mudar o
fato. Acontece, que as pessoas ainda confundem negar com duvidar, pois, negar é
uma negação a partir de crenças dentro dos seus valores, a dívida, é o querer
saber a partir do fato que pode ou não ter acontecido. Na maioria das vezes,
sempre negamos aquilo que não concordamos. Porém, não temos – principalmente,
quando não concordamos – na filosofia, olhar o que concordamos apenas. Deleuze,
por exemplo, mesmo sendo de esquerda – como sempre foi – ele dizia que não existem
governos de esquerda, porque a esquerda é um olhar crítico da política e do governo
que acontece. Eu concordo. Eu vejo aulas e leio coisas que não concordo.
Do mesmo modo que não entendia a pedra que voava, eu não entendia
que ninguém queria namorar comigo. Só ser amigo. Do mesmo modo que eu entendi o
meteoro, eu entendi os preconceitos que existem dentro da sociedade e nem é uma
culpa das pessoas. As pessoas rejeitam ou aceitam aquilo que são socialmente
aceitos, até mesmo, ideais de pessoas e isso era muito pior nos anos 80. As adolescências
eram assombradas por idealizações que remontavam as mídias da época. Isso mudou
pouco, mas, existem pessoas que aceitam mais o outro como ele é de verdade.
Amauri Nolasco Sanches Júnior