sábado, 13 de agosto de 2022

Médicos e Filósofos no mundo da bunda elétrica

 

Ilustração de Ibn Sina, considerado um dos principais médicos de todos os tempos



Quando eu faço artigos, são artigos que refletem muitos aquilo que sinto e como vejo a realidade. Agora no meu Instagram, eu o transformei em um microblog para expressar alguns pensamentos e algumas ideias a respeito de assuntos. Mas, lendo Sponville – um dos meus trocentos filósofos de cabeceira – trouxe uma frase de Demócrito na introdução da obra Tratado do Desespero e da Beatitude onde um dia, o filósofo grego disse: “As esperanças dos tolos são desprovidas de razão”. Ou seja, os tolos têm a esperança daqueles que querem uma realidade que não existe, porque creem aquilo que não podem entender. Os tolos são aqueles que enxergam só as sombras. E por que eles enxergam as sombras? Porque querem apenas coisas rasas, sem se aprofundar. Digo aprofundar de pesquisar mesmo, de achar motivos práticos. Por outro lado, Aristóteles nos coloca um meio termo: toda ação é teoria e ao mesmo tempo, deve ser prática.

Por isso mesmo, as pessoas não querem coisas aprofundadas. Só olhar o Instagram, pois, aquelas postagens que aparecem bundas, aparecem memes ou algo, mais fácil, terá muitos likes e terá muitas visualizações e nem sempre é verdade. Fora a moda é o Onlyfans – não pagaria mesmo se eu não tivesse compromisso ou tivesse grana – onde caras pagam para ver as mesmas moças nuas e pousando. Aquela cena de um filme antigo chamado Cocom – onde o terráqueo se relaciona com uma alienígena – está chegando à realidade, ou seja, vão transar por pensamento. Essa juventude está perdendo o interesse por sexo presencial, isso é alimentado pela indústria como na idade média era alimentado pela igreja católica. Mas, aquilo não é verdade. Não é você que elas desejam o querem namorar, é o dinheiro. Vou chamar de “bundas elétricas” – em homenagem a Philip Dick que o detetive de Blade Runner tinha uma ovelha elétrica – onde as pessoas pensam ser verdade, mas, só são pixes, números binários e fantasias intimas.

E, por isso mesmo, acho que a grande maioria não gosta de médicos e de filósofos. Porque, médicos e filósofos, mexem muito com as realidades que a grande maioria, não gosta. Primeiro, médicos e afins – qualquer modalidade – lidam com o mundo fisiológico e não tem tempo e nem querem fazer carinho no seu ego, pois, eles diagnosticam os fatos sem que você goste dele. Dane-se se você concorda com o diagnostico, ele joga a realidade na sua cara e você que lute com ela. Ele pode sentir muito, mas, é isso que tem para hoje. E não adianta mudar de médico, a realidade vai estar lá. Ardendo dentro de você. Te deixando aflito. E a realidade não mudara por causa disso.

O filósofo também. A tradição diz que os filósofos, na verdade, são médicos da alma. Lidam com os fatos morais e dizem a verdade dos fatos. Filósofos, a meu ver, que defendem posições – sejam elas que forem – são apenas professores de filosofia. Como os sofistas. Não acho que sofistas eram errados, mas, temos que colocar cada um no seu devido lugar. Filósofos não tem frases feitas e nem tem pensamentos construídos – ou pensamentos sólidos – eles vão construindo ao fazerem suas reflexões como um construtor.  Filósofos não conseguem idealizar – a idealização filosófica é uma transcendência da realidade – mas, focar na realidade. Mas, além disso, filósofos são apegados em conceitos dessa realidade.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, cadeirante e um quase bacharel de filosofia 

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