Minha resposta poderia ser um “não” simples, mas, como todo filósofo que se preza, eu não vou dar uma resposta simples. Pois, quando dissemos que existe uma “carta” e ele defende uma democracia, ela pressupõe uma questão de liberdade diante sua escolha. Porque quando só uma vertente defende uma suposta democracia – nem mesmo os liberais concordam com essa carta – ela se torna bilateral e se torna perigosa nas mãos de pessoas que defendem uma hegemonia do discurso. Diante de tal coisa, existem outras questões que não me deixam assinar a suposta carta a democracia.
Primeiro, filósofos não falam o que a maioria gosta e não dá
a mínima para críticas infundadas. Talvez, por isso mesmo, Sócrates foi “suicidado”
pelo povo de Atenas, pois, o acusaram de ter subvertido os deuses da polis
(cidade-estado) onde morava. Mas, tudo é uma grande inverdade (cuidado, inverdade
não é o mesmo que mentira, já que uma inverdade é uma ilusão e mentira é uma distorção
da realidade por seu próprio interesse), pois, Sócrates mexeu com coisas que não
deveriam ser mexidas e combateu – como soldado que sempre foi – com a filosofia.
A meu ver, Sócrates dizia ser verdade (aletheia), aquilo que os fatos são, sem dizer
inverdades, sem achismo (doxa). E um detalhe importante: era uma democracia. Como
em uma democracia, um homem foi condenado por causa de questões importantes, até
mesmo, da questão da polis?
Cartas são mensagens, manuscrita ou impressa, a uma pessoa
ou uma organização, para lhe comunicar de algo. Ora, uma carta é um comunicado,
um comunicado tem o dever de comunicar para que veio comunicar e o porquê dessa
comunicação. Mas, uma carta também pode ser considerada um diploma, algo que
pode ser um documento oficial. Ou seja, poderia ser uma defesa a democracia,
mas, o porquê só partidos de esquerda estão defendendo isso? porque, oposição
eu já sou, mas, não voto na esquerda que já teve governo – mesmo achando como Deleuze
que não existe governo de esquerda – e fez igual os outros governos fizeram. Agora,
para entendemos isso, temos que entender uma coisa bastante importante: o que
seria democracia.
O erro da filosofia moderna e a iluminista foi traduzir
democracia como o governo do povo, pois, hoje em dia, democracia tem uma outra tradução
e entendimento. Esse DEMO, não tinha conotação de povo, porque nem todo mundo poderia
votar e no mais, significava bairro. Ou seja, a democracia ateniense era nada
mais do que: o governo dos bairros. Claro, as democracias ficaram mais livres, Montesquieu
separou por instituições que fariam contrapesos – de maneira rude, mas, foi aperfeiçoado
– e hoje, temos o executivo (que executa), o legislativo (que forma as leis) e
o judiciário (que cuida da justiça). A questão é: e os contrapesos ideológicos?
Cade o diálogo com todas as categorias e minorias? Agora vamos falar da Universidade de São Paulo
(USP).
Tempos atras li uma matéria no blog VencerLimites onde houve
discriminação em edital e várias pessoas relatam escadas até a diretoria onde,
se deveria levar o laudo e levar a quantia (sendo que pessoas com deficiência,
por lei, devem ser isentos dessa quantia). Ora, primeiro, a meu ver, universidades
públicas deveriam fazer vestibulares de graça, pois, são públicas e são pagas
com o dinheiro do contribuinte. Segundo, se a USP está tão preocupada com a
democracia, porque não acessibilizar a universidade para pessoas com deficiência,
não virtualizar o envio da documentação e o porquê não criar cotas para pessoas
com deficiência. afinal, todas as instituições que se preocupam com o ESTADO democrático,
tinha que dar o exemplo e bonito.
A OAB deveria denunciar empresas que não cumpri as leis de
cotas. Por que não denunciam? Afinal, num ESTADO democrático, pessoas com deficiência
tem o direito de trabalhar, pois, não podemos estudar porque não temos colégios
acessíveis, não temos universidades públicas sem a burocracia para se ter uma
vaga. Prefiro pagar a universidade. Isso é democracia? Se você mesmo não tem
atitudes democráticas, como quer que os outros o tenham? Fora a Fiesp que luta
a anos pelo fim da Lei de Cotas e no fim, não tem nada de democrático e muito
menos liberal. Qual país do mundo tem um sindicato dos empresários?
Acho isso uma tremenda palhaçada.
Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas
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