quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Eu assinei a Carta a Democracia?

 


Minha resposta poderia ser um “não” simples, mas, como todo filósofo que se preza, eu não vou dar uma resposta simples. Pois, quando dissemos que existe uma “carta” e ele defende uma democracia, ela pressupõe uma questão de liberdade diante sua escolha. Porque quando só uma vertente defende uma suposta democracia – nem mesmo os liberais concordam com essa carta – ela se torna bilateral e se torna perigosa nas mãos de pessoas que defendem uma hegemonia do discurso. Diante de tal coisa, existem outras questões que não me deixam assinar a suposta carta a democracia.

Primeiro, filósofos não falam o que a maioria gosta e não dá a mínima para críticas infundadas. Talvez, por isso mesmo, Sócrates foi “suicidado” pelo povo de Atenas, pois, o acusaram de ter subvertido os deuses da polis (cidade-estado) onde morava. Mas, tudo é uma grande inverdade (cuidado, inverdade não é o mesmo que mentira, já que uma inverdade é uma ilusão e mentira é uma distorção da realidade por seu próprio interesse), pois, Sócrates mexeu com coisas que não deveriam ser mexidas e combateu – como soldado que sempre foi – com a filosofia. A meu ver, Sócrates dizia ser verdade (aletheia), aquilo que os fatos são, sem dizer inverdades, sem achismo (doxa). E um detalhe importante: era uma democracia. Como em uma democracia, um homem foi condenado por causa de questões importantes, até mesmo, da questão da polis?

Cartas são mensagens, manuscrita ou impressa, a uma pessoa ou uma organização, para lhe comunicar de algo. Ora, uma carta é um comunicado, um comunicado tem o dever de comunicar para que veio comunicar e o porquê dessa comunicação. Mas, uma carta também pode ser considerada um diploma, algo que pode ser um documento oficial. Ou seja, poderia ser uma defesa a democracia, mas, o porquê só partidos de esquerda estão defendendo isso? porque, oposição eu já sou, mas, não voto na esquerda que já teve governo – mesmo achando como Deleuze que não existe governo de esquerda – e fez igual os outros governos fizeram. Agora, para entendemos isso, temos que entender uma coisa bastante importante: o que seria democracia.

O erro da filosofia moderna e a iluminista foi traduzir democracia como o governo do povo, pois, hoje em dia, democracia tem uma outra tradução e entendimento. Esse DEMO, não tinha conotação de povo, porque nem todo mundo poderia votar e no mais, significava bairro. Ou seja, a democracia ateniense era nada mais do que: o governo dos bairros. Claro, as democracias ficaram mais livres, Montesquieu separou por instituições que fariam contrapesos – de maneira rude, mas, foi aperfeiçoado – e hoje, temos o executivo (que executa), o legislativo (que forma as leis) e o judiciário (que cuida da justiça). A questão é: e os contrapesos ideológicos? Cade o diálogo com todas as categorias e minorias?  Agora vamos falar da Universidade de São Paulo (USP).

Tempos atras li uma matéria no blog VencerLimites onde houve discriminação em edital e várias pessoas relatam escadas até a diretoria onde, se deveria levar o laudo e levar a quantia (sendo que pessoas com deficiência, por lei, devem ser isentos dessa quantia). Ora, primeiro, a meu ver, universidades públicas deveriam fazer vestibulares de graça, pois, são públicas e são pagas com o dinheiro do contribuinte. Segundo, se a USP está tão preocupada com a democracia, porque não acessibilizar a universidade para pessoas com deficiência, não virtualizar o envio da documentação e o porquê não criar cotas para pessoas com deficiência. afinal, todas as instituições que se preocupam com o ESTADO democrático, tinha que dar o exemplo e bonito.

A OAB deveria denunciar empresas que não cumpri as leis de cotas. Por que não denunciam? Afinal, num ESTADO democrático, pessoas com deficiência tem o direito de trabalhar, pois, não podemos estudar porque não temos colégios acessíveis, não temos universidades públicas sem a burocracia para se ter uma vaga. Prefiro pagar a universidade. Isso é democracia? Se você mesmo não tem atitudes democráticas, como quer que os outros o tenham? Fora a Fiesp que luta a anos pelo fim da Lei de Cotas e no fim, não tem nada de democrático e muito menos liberal. Qual país do mundo tem um sindicato dos empresários?

Acho isso uma tremenda palhaçada. 


Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

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