sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Caso Leadrinha Du´Art segundo a filosofia

 





Sociedade hipócrita, pessoas fúteis, egoístas e interesseiras.

Khan Alniz

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

Poderiam dizer que a deficiência poderia me incomodar, porém, a questão da deficiência tem uma outra terminologia e entendimento, dentro da questão ótica do corpo, para mim. Por outro lado, muitos deficientes vem me incomodando bastante com atitudes que não ajudam a acessibilidade e a aceitação da deficiência dentro de uma ótica maior social – até mesmo uma maior aceitação do corpo com deficiência – que ainda vê a deficiência ou como uma doença, ou como um mal a ser purgado por pecados de antepassados ou alguma coisa que tenha feito em uma outra vida.  Nesse contexto, diríamos que o caráter de um indivíduo não pode ser medido por sua cadeira de rodas (ou outro aparelho ou deficiência), porque tem a ver com o que você é dentro de um contexto maior.

Artigos acadêmicos mais sofisticado – não menos analítico – começaria essa análise dizendo o conceito de preconceito em Foucault. Claro, em matéria de preconceito e normalidade, poderemos encaixar muito bem a questão da normalidade social que o filosofo francês Michel Foucault (1928-1984) tanto investigou. Na verdade, Foucault fez uma investigação sobre a discriminação dentro de uma ótica muito abrangente – até mesmo com uma vasta pesquisa da idade média – e que poderemos, porventura, usar nesse artigo que abortara o corpo com deficiência e mostrar que uma coisa é ter um corpo com deficiência, outra coisa é ter atitudes para ganhar ainda mais evidencia dentro da ótica singular. Mas, eu alguns aspectos não poderemos concordar, porque segundo o filosofo, há dentro de qualquer preconceito, um discurso de controle governamental que quer o controle da grande massa. Mas, o que poderia interessar, por exemplo, um preconceito de pessoas de outra etnia se acontecera um aumento substancial da questão da mão de obra? Podemos colocar diante da análise de Foucault, talvez, uma percepção da cultura europeia e o ressurgimento, ora sim ora não, de movimentos reacionários de propagação de um passado inexistente.

O discurso do preconceito e da discriminação – em vários períodos históricos – são culturais e se são culturais, tendem a abarcar ate mesmo o discurso político. Mas, nos deparamos em uma ótica diferente, quando vimos que o aspecto do nascimento do antissemitismo como uma “intriga” de industriais burgueses fizeram para eliminar a concorrência (como os fetos da Pepsi ou o hamburger de minhoca do McDonald) e que culminou em última análise no holocausto nazista. Daí a análise foucaultiana é certa e deve ser adotada, mas, com a deficiência é algo diferente. Poderemos dizer, que a essência ou a raiz do pensamento capacitista vem de uma crença que existem pessoas superiores (pessoas com o estereotipo normativo) e outras inferiores (com o estereotipo não normativo), que são hierarquizadas de acordo com certas habilidades físicas ou laborais (de trabalho).

Muitas vezes, esse capacitismo resulta em uma inclusão ou ate mesmo, assedio moral e sexual, e indo além, a morte. Existe a famosa história que Hitler ao assinar o decreto da eliminação de pessoas com alguma deficiência chorou, não faz desse decreto algo suave. Mas, mostra, que havia – e de algum modo ainda há – uma visão preconceituosa que as pessoas com deficiência são “sofredoras” e que só é feliz com a perfeição. Isso é alimentado desde a pré-história, quando o ser humano era nômade e muitas pessoas no mesmo clã não poderiam ser aceitas, ou se fosse pela deficiência (como forma de atrasar o clã), velhice (como forma de lentidão do clã) ou doentes (como a parada frequente do clã). Em uma análise profunda, as questões da pré-história são de fato, enterradas em um passado distante e deveriam ficar lá como o resto dos preconceitos que ainda assombram a sociedade.

Se poderemos dialogar com Foucault diante do discurso dominante de ainda achar que o corpo com deficiência não é um corpo funcional, com a filosofia da diferença de Giles Deleuze (1925-1995). A filosofia da diferença proposta por Deleuze apresenta uma abordagem crítica e inovadora em relação às tradições filosóficas que priorizam a identidade em detrimento da diferença. Essa perspectiva nos desafia a repensar as formas estabelecidas de nos relacionarmos com o mundo, com os outros e conosco mesmos, permitindo-nos acolher a diferença e afirmar as singularidades. Além disso, essa filosofia também se configura como uma crítica à visão tradicional que tende a estabelecer identidades fixas e categorias rígidas.

Se essa filosofia (da diferença) tem a configuração como uma “critica a visão tradicional de mundo”, então, podemos afirmar, que a filosofia da diferença de Deleuze tem a ver com o único. Mas – que podemos concordar com ele – não é uma visão identitária dentro de um prognostico do preconceito. Mesmo assim, a visão da deficiência é quebrada dentro da questão máxima do capacitismo. Mas tem um outro lado.

Se a sociedade tem uma certa visão do corpo com deficiência como algo incapaz ou sofredor, por outro lado, existem pessoas com deficiência que aproveitam da deficiência. Como dissemos antes, uma cadeira de rodas (ou outro tutor de locomoção) não pode ser métrica nenhuma para ser colocado como se a pessoa tem caráter ou não. Sempre temos que lembrar que a raiz dos termos caráter tem a ver com ETHOS que é, segundo Werner Jaeger, o espírito do mundo grego. Muito recentemente, ETHOS passou a ser tratado coimo o espírito de uma nação ou povo (até mesmo, época). Ou seja, quando dissemos que depende do caráter de um indivíduo, devemos nos focar naquilo que a cultura traz. Mas, o que a nossa cultura nos traz como educação? Se submeter a grande maioria ou a instituições para conseguirmos algumas coisas? Nos ensinam que as leis são para os outros e não para si também?

A questão da Leandrinha – como de todos os influencers com os sem deficiência – tem a ver com o gosto do publico e como o publico reage em certas atitudes. Porque sabemos – com certeza – que somos criados desde a infância (desde os anos 80 do século passado), com a visão que vídeo tem que ter entretenimento e não modos educacionais. Muito poucas visualizações tem vídeos de coisas relevantes e que tenha certa relevância, seja dentro de qualquer mídia social. O nosso Instagram – onde eu escrevo coisas de filosofia e alguns pensamentos – não tem curtidas porque não se submetemos a modas passageiras e coisas afins.

Portanto, por mais que sabemos que há sim um capacitismo muito grande, Leandrinha só é produto de uma cultura do “maria-vai-com-as-outras”.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

O existencialismo da Barbie

 










“Havia a civilização ateniense, houve o Renascimento,
agora entramos na civilização da bunda.”
Pierrot le fou

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Desde que foi cunhado o termo “indústria cultural” – por Theodor Adorno e Max Horkheimer – sempre os intelectuais criticam o cinema popular como se o entretenimento fosse algo alienante, que por um lado não esta errado totalmente, porém, não podemos radicalizar a questão. Se por um lado, ao longo da história humana, a arte foi algo como comunicar um sentimento que esteja no artista, também foi usado como meio político para doutrinar certas ideias. Principalmente, depois da segunda guerra mundial com o aprendizado das táticas nazifascistas que colocaram o cinema como um meio para mostrar que o capitalismo era a liberdade que a humanidade desprezava, assim como, o cinema soviético (sim, se teve um cinema soviético) dizia que o povo tinha que saber da “verdade”. A questão é muito mais profunda.

A questão pode ser levada até dos primórdios das tragedias gregas onde os autores eram consagrados por levar ao público à estase. Mas, talvez, os grandes intelectuais modernos ou pós-modernos, podem ter em mente figuras como Homero (Ilíada/Odisseia) e Hesíodo (trabalho dos dias). O que podemos duvidar se uma obra artística tenha uma “obrigação” educadora de mostrar valores sendo isso uma “obrigação” familiar de fato. A cultura pop – poderemos dizer assim – foi uma cultura não só voltadas para só o entretenimento, pois, a meu ver (e lendo o texto famoso de Adorno em torno do jazz), essa é uma visão bastante conservadora e não menos, reacionária, como um filme ou um artista (diretores ou roteiristas) devem se portar em roteirizar e passar a mensagem do filme. Desde a Família Adams (com o estereotipo da Wandinha) até filmes mais cults (não menos chatos), como Melancolia, tendem a passar a mensagem que se queira sem ficar presos em certas “obrigações” educativas. Por outro lado, não poderemos esquecer, que mesmo com um verniz de ser só um filme sem história ou sem atitude educativa, a mensagem filosófica aparece e, por incrível que possa parecer, ela aparece. Até mesmo em filmes como Rambo (que poderemos analisar em um outro momento).

Nesse interim – sendo a arte algo muito mais real – poderemos fazer uma análise bastante criteriosa do recente filme da Barbie (a boneca famosa da Mattel) onde podemos ver uma crítica acida os milhares de estereótipos que fizeram ela famosa. A grande maioria, não entendeu, pois, para entender tais críticas deveremos ter uma leitura da filosofia estética (como o confronto daquilo que é ou não normal) e aquilo que chamamos de filosofia da linguagem como discurso dominante. As partes do filme e sua estética – como uma fotografia feita para construir a história como um todo (que foi chamado de narrativa) – contém vários indicativos de uma mensagem a mais dentro de uma história que se faz um “apoderamento”. Em uma primeira análise temos uma certa “tentação” de colocar o filme em um patamar antifeminista – como muitos da esquerda colocaram de verdade – mas, conforme a história vai se desenvolvendo, as coisas não são assim. Pois, ela começa a desconstruir uma “Barbie” tradicional, ela (Margot Robbie) é a “Barbie estereotipada”, ou seja, a imagem primeira que fez a boneca ser o que é até hoje.

A humanização do personagem começa com o “pensar da morte”. A questão é: o que nos torna humanos? Em uma primeira análise poderemos responder que temos a capacidade de pensar, e o pensamento como modo de “saber” tem uma conotação filosófica. Na modernidade – assim como na antiguidade teremos Aristóteles dizendo que o homem (ser humano) tem “sede” de saber – teremos o pensar na figura de Descartes na sua celebre frase: “penso, logo sou”. A única certeza que temos é o nosso pensar e com isso, sabemos que somos um ser no mundo. Barbie não sabia disso, ela existia porque foi feita para estereotipar certa imagem da mulher e agradar certas narrativas do mundo. Mas, em que mundo? O mundo dos homens ou o mundo da Barbielândia? Ai que está a fronteira daquilo que é (o mundo humano) e aquilo que imaginamos (a Barbielândia). Como se houvesse – sem medo de errar na análise – o mundo imperfeito e perfeito platônico (que colocamos como um mundo idealizado).

Paul Ricoeur dizia que Platão pegou do senso comum o termo “eidos” para se valer do seu significado, que em um primeiro momento, significou contorno e foi se modificando para formas (como contorno e conjuntura do que está dentro das formas). Platão – segundo Ricoeur – queria explicar a essência das coisas (como Parmênides) e como a questão da essência nasce de uma pergunta muito particular: “o que é aquilo?”. Como “o que é a coragem?” ou “o que é a virtude?”. O que estaria em questão em uma pergunta como esta? Segundo Ricoeur, essas perguntas surgem com sua virulência interrogativa para um interlocutor – iria mais longe de Ricoeur e diria que não precisaria de um interlocutor – que houver entrado pessoalmente numa espécie particular de mal-estar. Porém, não é um mal-estar vital – que sentimos quando não estamos bem – mas, um mal-estar do conhecimento.

Quando voltamos a Barbie e a pergunta <vocês já pensaram na morte?> é um mal-estar do pensamento – fugindo de um mundo virtualizado em um simulacro idealizado – quando não mais uma realidade se sustenta dentro de uma ideia de realidade. Talvez, o mundo idealizado da Barbie – em uma época – foi idealizado pelo sonho de uma mulher “estereotipada”. Como diriam tempos atrás – com a primeira-dama Temer – “recatada e do lar” (não tendo nem uma sexualidade) e ao mesmo tempo, empoderada. Mesmo assim, a figura da Mattel como idealizadora dessa imagem – como a imagem do capital e da fazedora de sonhos dentro de uma imagem “estereotipada”, como o nome dela – também tem o papel de ser uma fronteira e idealizadora da imagem platônica. Aliás, esse repertorio todo é platônico e ao mudar de idealizada boneca para humana, ela se torna ao contrário do platonismo.

Voltando ao pensamento de Ricoeur, a questão dos “eidos” (ou “idea”) tem a ver da questão do não ser de Parmênides que Platão não concordava. Dai, “eidos” passou a ser não só um contorno – como nos primórdios foi dito – mas, as formas tanto internas como externas. Ora, a oposição epistemológica ser-aparecer e a oposição física ser-devir coincidem já no inicio, porque podem coincidirem na linguagem. Segundo Ricoeur, o aparecer das palavras é o devir da linguagem, pois, dizer “as coisas são o que aparecem para mim” e “as coisas são fluentes” é a mesma coisa. Platão sempre conduziu um só e único processo contra Protágoras e Heráclito. E é o “legislador bêbado” (Ricoeur chama a linguagem de Platão como “um legislador bêbado”) que faz coincidir “o homem é a medida de todas as coisas” e o “tudo flui”, é que dará ao ser humano uma falsa medida para a aparecia do ser, porque ele próprio é berrante e aberrante. É por isso mesmo, em compensação, a essência dependera da unidade e da identidade com relação a Heráclito, a essência introduz uma trava de segurança, impedem que as coisas se dissolvam. Ai vem a parte interessante disso (que Ricoeur desenvolve), que "O heraclitismo é para Platão a filosofia do "nariz escorrendo", do catarro (440 d) uma filosofia ranhosa”; e que, as coisas escapam da mudança porque tem uma determinação distinta.

Ou seja, Platão (segundo Ricoeur) tem em mente não criar um mundo a parte, mas, se opor ao subjetivismo de Protágoras (e porque não, Heráclito) e determinar o conceito de realidade e o conceito de verdade. A verdade ultima seria uma verdade única, uma verdade que não muda. Uma Barbielândia será um ideal de perfeição por não tem uma outra verdade, ai, a menina que brincava com a Barbie Estereotipada fez ela pensar na morte e ter celulite. Já não se estar em um mundo idealizado, mas, o mundo realizado dentro do que é verdadeiro. A ligação da boneca e sua dona (no caso do filme, a mãe dela) faz ter uma ligação restrita – como acontece com a Barbie Estranha – e que mais adiante, se muda o mundo ideal com o mundo real. Na essência, a imagem da Barbielândia é a imagem de um mundo fantasioso, um mundo de mentira. Ai poderemos até mesmo, dar razão a Platão da filosofia do “nariz escorrendo” de Heráclito, pois, o nariz escorrendo elimina o que esta no nariz. Mas, o que está sendo eliminado é o que faz mal no resfriado ou na gripe, aquilo que não tem mais de ficar no corpo.

No filme – no desenvolvimento da história – há uma ligação do mundo real (a dona da boneca) e o ideal (Barbie e a Barbielândia). Ou seja, há como entrar nesse mundo ideal e sair dele. Com veículos estimados pelo materialismo e que todo mundo sonha – na essência, materialistas são aqueles que acreditam na matéria só e usufruem dela literalmente – colocando um estereotipo do sonho capitalista liberal que chega ate a Barbielândia. Aliás, o mundo igualitário feminino da Barbielândia – onde a imagem de Barbies de vários tipos (tendo o mesmo nome) e o Ken só viver em torno dela – nos faz perceber também uma crítica acida ao feminismo. Mas, adiante no final, a igualdade entre os sexos e o discurso da Barbie Estereotipada nos remete ao existencialismo. E há três características (ou mais) que nos remete a ele: o feminismo existencialista (Simone de Beauvoir), o absurdo (Albert Camus), o existencialismo de Sartre. 

 

O existencialismo da Barbie

 

 

O primeiro indício do existencialismo no filme é a questão da Barbie perguntar “vocês já pensaram na morte?”. Camus em sua obra “O Mito de Sisifo”, diz ao abrir a obra: “Só existe um problema filosófico realmente serio: o suicídio”. Por quê? Realmente, se fomos bastante rigorosos, a filosofia começa com um suicídio. A morte de um filosofo. Camus retrata dentro dessa frase, a questão de Sócrates e sua morte quase ou sendo, um suicídio pela ética das leis e pelo não medo da morte. Mas, em essência, Camus projeta a frase de Sócrates em sua dizendo: “julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder a pergunta fundamental da filosofia”. Mas que pergunta seria essa que Camus quis responder?

Esse “pensaram na morte” foi escrito pela mãe da dona da Barbie que estava tendo ideias (lembramos de Platão e seu eidos) de “humanizar” a boneca. A Barbielândia é o Mundo das Ideias, todas tem o mesmo nome (Barbie) e fazem o que foram feitas para fazer (essência), a Barbie Estereotipada (mulher perfeita). Simone de Beauvoir diz que não se nasce mulher, torna-se. Claro, sabemos que essa frase não é sobre gênero – como feminino e masculino – mas, um estereotipo como as mulheres deveriam ser. Ora, mesmo a Barbielândia sendo governada por mulheres, elas deveriam ser o que foram feitas para ser. Por outro lado, tem um outro problema, mesmo os Kens (digamos), tendem a serem um padrão e mesmo eles dominando, obedeciam a um padrão. Um liberal fundamentalista tenderia – se ele tivesse, realmente, coragem de assistir o filme – a ver nisso algo de comunismo e não e não é bem assim, essa critica ao capitalismo norte-americano não é ideológico. Eu, por exemplo, mesmo sendo um libertário, tendo a ter criticas ao capitalismo que esta ai hoje.

Dai a Barbie começa a questionar o mundo perfeito – que foi a imagem dos anos 50 norte-americana depois da guerra – onde só existe a felicidade e não tem problemas, para um mundo humano. Finito. Tendencioso a ter imperfeições e maldade (ignorância), e nisso entra a Barbie Estranha que tende a ser diferente. Sócrates e a maioria dos filósofos ate hoje, tende a ter sua imagem a estranheza. Mesmo os pré-socráticos. E uma pergunta nos vem a mente: será que a Barbie Estranha é uma filosofa? Ela vai muito além do que todo mundo é?

Chega-nos Sartre. Sartre dizia que somos condenados a ser livres. Mas, essa condenação tem a ver com o NADA. Entendemos a questão: o conceito do NADA na filosofia pode ser considerada como uma questão complexa e que é amplamente debatida na história da filosofia. Mesmo o porquê, com dois mil anos de história, a filosofia abordou várias perspectivas filosóficas para entender o conceito do nada.

 

1- Nada como ausência de ser: Alguns filósofos consideram o nada como a ausência completa de existência ou ser. Nessa visão, o nada é a ausência total de qualquer coisa, seja física, mental ou espiritual. É uma noção de vazio absoluto e inexistência.

2- Nada como potencialidade: Outra perspectiva filosófica considera o nada como uma condição de potencialidade. Nesse sentido, o nada é visto como um estado a partir do qual algo pode surgir ou ser criado. É o vazio que permite a manifestação do ser e das possibilidades.

3- Nada como conceito abstrato: Alguns filósofos argumentam que o nada é um conceito abstrato criado pela mente humana para contrastar com a existência. Nessa visão, o nada não tem uma realidade objetiva, mas é uma ideia que utilizamos para expressar a ausência de algo.

4- Nada como limite do conhecimento humano: Para certos filósofos, o nada pode ser entendido como um limite do conhecimento humano. É algo que escapa à nossa compreensão e está além da nossa capacidade de conceber. O nada pode ser considerado como uma fronteira do nosso entendimento.

 

Para entrarmos no NADA em Sartre temos que devagar um pouco da pergunta da Barbie “vocês já pensaram na morte?”. Esse “pensaram na morte” tem uma ideia finita da vida e examinar a vida, afinal, Freud dizia que tudo que o ser humano faz é por causa do medo da morte. O impulso da morte. Esse examinar a vida é socrático – que Camus usou para se referir ao absurdo da vida – e tem a ver com o exame para ver se ela vale a pena ser vivida. Mas no ultimo discurso dela para o Ken, ela diz que ele tinha que se desprender dela e construir sua própria personalidade. A dependência do outro gera um mal como acreditar em partidos, ser fanático (de todo tipo), e etc. Ou seja, cada um tem sua personalidade única.

Personalidades como as Barbies, o “pensar na morte” significa o nada dentro da ruptura daquilo que elas vivem. No existencialismo de Sartre o conceito do NADA desenvolve um papel muito grande dentro de sua filosofia, pois, ele considera o NADA não apenas em uma ausência ou um vazio, mas como uma dimensão fundamental da existência humana. Assim sedo, o NADA esta ligado a liberdade e a responsabilidade individual. A argumentação é muito simples, os seres humanos são essencialmente livres e que essa liberdade se manifesta na capacidade de escolher e tomar certas decisões (ou todas). Por outro lado, essa mesma liberdade também traz consigo a angústia e a responsabilidade de criar significado e proposito em um mundo aparentemente sem nenhum sentido.

O NADA sartriano esta presente em nossa consciência, especialmente, quando confrontamos ela a uma falta de proposito. Exatamente, quando a Barbie Estereotipada acorda e se questiona – começa o pé ficar reto (sem o modo salto) e ter estria – ela começa a entrar nesse NADA de Sartre. Pois, ele enfatiza que não há um significado objetivo ou essência em nós, e com isso, somos responsáveis por criar nosso próprio significado através das escolhas que fazemos. O NADA não é algo a ser temido, mas sim algo que nos desafia a assumir a responsabilidade por nossas vidas e a enfrentar a liberdade de escolha de forma autêntica. E é através desse confronto com o NADA que somos impulsionados a agir e a criar sentido em nossas vidas, mesmo em um mundo sem significado objetivo.

No final, no mundo humano, ela foi no ginecologista. Parece que a Barbie Estereotipada promoveu a igualdade na Barbielândia, e acima de tudo, deu um significado para a sua vida. Escolheu ser humana.

Quer história mais filosófica?

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Ah, nossas universidades!

 



Antes de analisarmos um conteúdo equivocado da matéria de antropologia filosófica temos que deixar bastante claro a importância de se ter um povo educado dentro do que a sociedade determinou, pois, a educação é a construção de um ethos que passa em geração em geração com as mudanças ou não. No mais, segundo as tradições ocidentais, na matéria da educação herdamos muitas coisas dos gregos e muitas coisas dos latinos (através de Roma). O primeiro – o berço da civilização ocidental – cria a educação como modo de propagação de suas tradições em gerações em gerações começando com os mitos (mythos) e depois com o pensamento filosófico. Mas, como defende alguns pensadores do dezenove com o vinte, os grandes educadores que continuou a base educadora das tradições foi Homero e Hesíodo. Não nos interessa aqui saber ou investigar se os dois poetas existiram de fato, mas, como defende o filosofo Werner Jeager (na sua obra Paideia), através dos poemas deles, houve uma revolução como era passado os costumes e as tradições gregas.

 Dos latinos (representada pela figura imponente romana) herdamos o modo de educar as crianças conforme as tradições e conforme a sociedade onde esta inserida, como se a realidade dependesse disse e o “educare” era mostrar a realidade de fato (mesmo que essa realidade seja meros conceitos condicionados por vozes dissonantes coletiva). Poderíamos enveredar no campo da metafisica ou da física e perguntar o que seria a realidade – como o tempo e sua prisão que está no passado, presente e futuro – e que natureza que ela tenha (que poderemos chamar de metafisica). Mesmo o porquê, a realidade mudou muito entre aquilo que os romanos acreditavam que era e os modernos enxergam hoje em dia com o avanço de pesquisas físicas, biológicas cosmológicas e até mesmo, pesquisas antropológicas, filosóficas e históricas que podem modificar uma civilização.

Refletindo como reconhecemos a realidade – a verdade tem uma outra natureza e tem a ver com a subjetividade – poderemos nos perguntar: o que seria educação para nós pós-modernos? Porque se para civilizações gregas e romanas – não só elas – a educação (paideia/educare) era um meio para continuar suas tradições importantes, na civilização pós-moderna, a educação só é um treinamento para serem maquinas de gerar lucros e esquecer quem somos e acreditarmos em uma falsa noção de felicidade. O marketing se tornou a nova religião, como se a felicidade estivesse entrelaçada com o prazer a todo custo e para isso, podemos dizer que o ganhar o dinheiro é o mais importante. Nem que meninas novas se prostitui com um verniz de entretenimento, nem que para isso você se humilhe e deixe ser humilhado por míseros lakes ou visualizações. Muito pouco ganha aquele que ainda insiste em dar um conteúdo de qualidade: aqui você tem que fazer cara de burra ou de safada e mostrar suas partes intimas, porque senão não se tem a visualizações necessárias. Por quê? Porque o trabalho é desvalorizado.

A tradições universitárias foram “prostituídas” em nome do capital. Mesmo cursos como filosofia – que deveria ter Sócrates como patrono, mas tem Marx como tal – há erros porque se prisma muito mais a quantidade do que a qualidade e a tradição filosófica fica na lata do lixo pós-moderna. Dai, fazendo bacharelado de filosofia, descobri que erros não são corrigidos e mesmo apontados não se assume esses mesmos erros. Então, em ultima analise, as universidades saíram da tradição de dois mil anos (desde Platão) para não mais passar o conhecimento e sim, passar cada vez mais ignorância e desprezo pela tradição filosófica ocidental. Nem ao menos corrigem erros primários como esse:

“A nominação Antropologia Filosófica deriva da junção das palavras gregas anthropos, que significa o ser humano ou algo relativo ao homem e logia, que significa estudo, acrescentadas da palavra filosófica, derivada também do termo grego philosophia, que literalmente significa amor pela sabedoria, mas que após a junção com anthropos, consiste no estudo de problemas fundamentais do homem dentro da totalidade de saberes (...)”

Antropologia filosófica tem uma tradição muito longa para ser desprezada destro de uma universidade de poucas décadas, pois, não há em toda a historia do pensamento isso. Não existe “logia” e sim “logos” que se flexiona para “logia” como um sufixo para caber no conceito de estudo de alguma coisa. O “estudo do homem” começa com uma frase de um templo de um oraculo onde as pitonisas (médiuns, muitas vezes) representavam o que os “deuses” diziam em enigmas. Foi assim, que o amigo de Sócrates levou ao mesmo que era o mais sábio de Atenas e ele levou como uma missão, como se ele não acreditasse que era o mais sábio e adotou a frase “conheça-te a ti mesmo”, mas, ela tem uma outra parte que era “conhecera o universo e os deuses”. Jesus em um dos evangelhos – não me lembro qual – vai dizer “sois deuses”, e disse também “conhecera a verdade e a verdade o libertara”. O que seria essa verdade libertadora?

Talvez, poderemos ir muito mais a fundo e dizer “quem somos”. Três grandes verdades antropológicas foram ditas: Buda disse que deveríamos matar nosso falso EU (produto de um discurso dominante) e que tudo não se passava de uma ilusão (meros conceitos), depois foi Sócrates com o “conheça-te a ti mesmo” porque somos a única verdade que existe no agora, nesse instante. Jesus disse “sois deuses” e que a verdade está dentro de nós e que ela é libertadora. Mas, o que seria essa verdade? Saber quem somos?

Mitologias pós-modernas como Guerras nas Estrelas (Stars Wars) mostram que a escuridão é sentimentalista, mecânica e ressentida no ponto de alimentar seus ódios. A luz é serena, contém a ataraxia dos estoicos com o egoísmo e a entrega de uma vida sem apego e sem nenhum sentimento. Esse dualismo levou o fim do modo democrático e o aparecimento (do universo expandido) de jedis cinzas. Mais poderosos e mais livres. E então, o humano é o lado sombrio e que os sentimentos lhe dão desprezo com aquilo que importa: o outro como referência do EU. A luz tem o preço da solidão enquanto tal. racionalidade e o sentimentalismo tem que estar em equilíbrio.

Precisamos de professores que possam – sem medo nenhum – fazer análises mais profundas do que meras conjunturas ideológicas dos seus conceitos em cima das suas crenças. Já denunciei em outros textos que tiraram a metafisica da filosofia – por causa da confusão iluminista em confundir metafisica com teologia – e isso foi um erro, pois, tiraram a matriz do pensamento mais profundo além da nossa realidade. Na filosofia – sem nenhuma exceção – a realidade e os objetos são meros conceitos e não tem como ser de outro modo.

Mas, os erros continuam como esse:

 

“Para Platão, Protágoras foi o criador do ofício de sofista, professor na Grécia Antiga e no Império Romano, que ensinava a aretê, palavra grega que significa perfeição, nas atividades exercidas pelos indivíduos.”

Não vi paragrafo com tantos erros possíveis. Platão – que iniciou a tradição acadêmica que se perdeu – nunca achou que Protágoras tivesse iniciado a carreira sofista. Nem mesmo Protágoras foi professor do império romano e nem mesmo, areté pode ser traduzido por perfeição. Protágoras ficou conhecido por causa de Platão e por causa da sua celebre frase: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são, das que estão na sua natureza e, da explicação da sua inexistência”. Essa “medida de todas as coisas” não se refere de coisas materiais (ou naturais) e sim, das coisas psicológicas, segundo os especialistas. Eu desconfio dessa interpretação, porque essa “medida de todas as coisas” me parece muito mais profunda. Claro, a Cruzeiro do Sul (UNICSUL) é evidentemente, uma universidade católica.

A “medida de todas as coisas” pode ser interpretado como a medida de toda a realidade (processo físico/químico) e toda não-realidade (sua natureza espiritual). Os antigos tinham um modo muito diferente em lhe dar com a filosofia, pois parece (muito diferente dos modernos) que eles tinham uma intuição muito mais espiritual. Isso não tem nada a ver com o espírito em um modo religioso – sem ser essas religiões espiritualistas – e sim, em um modo muito mais profundo da realidade do que nós os modernos. E isso era muito racional, porque instintivamente, não lhe damos com ideias de modo racional, mas daquilo que colabora com nossas crenças. De marxistas a liberais, de ateus a religiosos, tudo não passa de crenças justificadas no meio de ideias e desse modo, somos a medida de todas as coisas dentro de uma realidade que, muitas vezes, queremos esquecer.

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

sábado, 7 de outubro de 2023

Rebelde Estudioso

 

 





A persistência é o melhor caminho do êxito.

Charles Chaplin

 

 

Uma das milhares de frases e pensamentos que eu cunho, um deles, é que o maior meio para ser um rebelde é estudar e buscar o conhecimento. Porque, com o conhecimento, isso nada tem a ver com conotações politicas ou religiosas – no sentido das ciências politicas ou das teologias da vida – mas, nossa natureza intrínseca de sempre procurar saber. A questão aristotélica sempre foi uma incógnita para mim, porque como somos animais que temos sede de saber, ao mesmo tempo, existem pessoas que não querem saber e se orgulham disso? Saber é sair da minoridade, como disse Kant, porque é sair das questões banais e se aprofundando da realidade. Mas, como diria Cassirer, o homem se aprisiona do tempo (passado, presente e futuro) porque temos a necessidade de simbolizar tudo.

Porém, mesmo que conceituamos a realidade, estamos nela e não dará para perceber fora dela. Esse saber pode ser definido como conhecimento adquirido por meio de um estudo, de experiencia e de reflexão. Pode abranger um conjunto de informações, habilidades e compreensões que uma pessoa pode adquirir ao longo da vida. Mostrando que, na verdade, somos animais curiosos. Por causa da nossa ascendência primata? Talvez. Por sermos animais curiosos temos sede de saber e de parecer que gostamos de saber – como uma curiosidade inata que pode ser explicada em explicações espiritualistas – e que temos essa sede por uma certa necessidade. Indo muito mais além de Aristóteles, temos necessidade de saber. Mas, ao mesmo tempo, uma pergunta vem a cabeça: por que existem pessoas que não se interessam?

Medo. Tudo que o ser humano teme, ele rejeita por natureza e uma dessas varias coisas são o conhecimento. Ora, muitos pensadores colocaram em questão se o discurso de algumas outras pessoas – em discursos políticos ou não – poderiam fazer essas pessoas sentirem medo de conhecer e sentir medo daquilo que elas desconhecem. Uma frase de uma musica do Legião Urbana é bastante enigmática, pois, “o medo de sentir medo” sempre rondou varias áreas do pensamento humano. Afinal, como diria Mestre Yoda (Star Wars): o medo traz o ódio, o ódio traz o lado escuro da FORÇA. Ou seja, tudo que podemos odiar sempre é algo que ignoramos e assim, estamos falando entre conhecimento e ignorância. Então, essa “sede do saber” aristotélico é a necessidade de sair da ignorância e acaba caindo inevitavelmente, na questão socrática-platônica do “conheça-te a ti mesmo” como uma “sede de saber”. Uma necessidade.

Mas, sobre a ignorância e o conhecimento, os filósofos budistas têm uma interessante resposta na filosofia oriental (como os yogis na filosofia hindu). O interessante é que o ocidente pensa – pelo menos, quem não estudou o budismo e o hinduísmo a fundo – que a ilusão e a “morte” do ego, tem a ver com o esquecimento do EU que somos. Não é nada disso. Os budistas falam que tudo que conhecemos tem um nome e esse nome é condicionado em nossa mente, mas, na verdade, os objetos são meras coisas que interagimos com elas. Uma maçã é só uma maçã porque aprendemos a chamar de maçã, mas, é só um fruto que nos alimenta e que comemos para saciar nossa fome. Só isso que devemos esperar da maçã. Assim como nosso EU (EGO), é apenas aquilo que fazem de nós como uma “caixinha” que devemos ficar, mas, só devemos esperar algo de nós aquilo que somos. Ou seja, conhecer a nós mesmo e ficar no momento presente.

Há uma discussão muito grande dentro da academia e até entre filósofos, ate que ponto a filosofia enquanto pensamento grego teve influencia oriental. Porque o pensamento simbólico (como conceitos) já era realidade entre eles e ate mesmo, há uma leva de pensadores que dizem ser Pitágoras era, ne verdade, o Buda Sakiamuni – por causa do seu surgimento repentino e seu sumiço – o que não vejo tão correlação. Mas, tem alguns pensamentos, como de Heráclito, que poderíamos até dizer ter uma ligação entre aquilo que flui dentro do tempo. Ou seja, o sofrimento do ser humano só é o apego dele sobre coisas que só são conceitos e não tem tanta importância, porque ou vão apodrecer ou vão morrer. Se você não come uma banana, ela não vai esperar você a comer, ela vai apodrecer sem você querer ou não. Para os filósofos budistas (e para Buda histórico e até mesmo, para Jesus), tudo que está dentro da linha do tempo morre ou falece como se o tempo engolindo seus filhos. Nascemos nele para sofrer doenças – muitas vezes – e para ter alegrias, porque a grande parte da humanidade, vive na ilusão no apego a bens materiais e não buscam o conhecimento.

Voltamos a questão aristotélica metafisica do conhecimento. Uma pergunta epistemológica (como a frase do filosofo) não pode faltar: o porquê conhecemos e o porquê construímos conhecimento? Será mesmo por causa da nossa necessidade de conceituar as coisas?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

terça-feira, 3 de outubro de 2023

O mito da liberdade

 

 

 

O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado.
Jean-Jacques Rousseau

  

Meu amigo desde o Orkut perguntou no final do seu texto: “Seria a liberdade o maior mito da humanidade?”.

Enst Cassirer (1874-1945), dizia que somos animais simbólicos. Ou seja, todas as formas mitológicas, ideológicas e teológicas (muitas vezes, cientificas também) tendem a serem símbolos que produzimos dentro de determinadas culturas e determinadas linhas do tempo. Alias, interessante o livro dele chamado “Ensaios sobre o homem”, por abordar muito mais simples a questão que ele defendia, que por ser um neokantiano, colocava muito a visão de Immanuel Kant (1724-1804). Mas, na essência – pegando a teoria de Cassirer – o que seria a liberdade além de um simples símbolo?

Para os gregos – antigos e mitológicos – a liberdade representava uma autonomia de ir onde quisesse. Claro, podemos analisar a liberdade como algo restrito onde moravam, pois, um homem sem uma polis era um homem sem uma alma. A questão dos antigos gregos eram questões coletivas. Talvez, como alguns anarcocapitalistas defendem, os gregos deram certo por muito tempo por não ter um governo central e mesmo coletivos, eram restritos a suas polis. A grande potencias da época eram Esparta e Atenas. Uma era monárquica – com uma forte ascendência dórica – e teriam dois reis, um iria para a guerras (por serem militaristas) e outro ficava na cidade-estado. O outro, desenvolve um sistema de governo que o povo (a oligarquia de lá) escolheria seu governante.  Portanto, a autonomia de um grego era reduzida.

A questão é que o mito – tanto grego como de outras regiões – mostravam que a liberdade era restrita por causa da vontade dos deuses. E deuses representavam as forças da natureza que restringiam o ser humano a fazerem o que quiserem, o que mostra que a liberdade como um mito tem a ver com o conceito de cada época e cada lugar. Mas, qual o problema da liberdade? A questão é que herdamos a concepção do livre-arbítrio cristão, pois, a questão da liberdade é uma questão central dentro das escolhas que fazemos e onde Deus dará a graça ou não. Se o individualismo começa com o conceito de direito dos romanos – herdamos a filosofia dos gregos e o direito dos romanos – o cristianismo pega essa individualização, através da figura de Santo Agostinho, e colocou como um dos itens da sua teologia. Os antigos gregos não tinham a ideia de individualização.

Vamos explorar o termo mito e depois vamos ir adiante. Mito é uma lenda ou história fantástica que pode ser contada para explicar alguns fenômenos climáticos ou é uma fenomenologia (bem rustica) daquilo que acontece na realidade. Mas, também, tem a ver com crenças infundadas que a grande maioria aceita, como teorias da conspiração, teorias antigas que voltaram a circular etc. Portanto a questão de a liberdade ser um dos maiores mitos da humanidade – ele faz essa pergunta elencando todos os fanatismos que temos hoje no Brasil em um texto – por causa das crenças infundadas que o pós-modernismo inventou. Liberdade deixou de ser algo concreto e passou a ser algo abstrato ou subjetivo.

Dai temos o mito liberal da liberdade restrita – coimo se o ser humano tem liberdade restrita e sem se enjaular em suas próprias crenças – e o mito do comunismo com a superação. Claro, o capitalismo opera em milhares de contradições e liberdades restritas, mesmo o porquê, quem não tem dinheiro ou não tem ou teve oportunidade, não tem liberdade. Aliás, quem não tem esse tipo de consciência de classe (que começou no liberalismo) não vai saber detectar certas nuances dentro da questão mais além do típico “fla flu” das redes sociais.

Assim, quando meu colega escreve: <<O bolsonarista contrapõe liberdade a comunismo>>, mostra muito isso. Por não se entender que a questão de o “comunismo” ser algo muito mais profundo do que o modo do que Olavo de Carvalho deixou idealizado no bolsonarismo. Ate mesmo a ideia do Bolsonaro ser um mito, mostra como a questão de saber o que esta dizendo é importante. Mas, não poderemos achar que bolsonaristas defendem a liberdade sendo que são a favor de uma intervenção (chamando os militares de melancia). Mas o outro lado também não é diferente.

Quando meu amigo escreve: “Para o socialista, a liberdade é um conceito coletivo em contraposição à liberdade dos liberais, uma vez que a riqueza definitivamente não vem de esforços e talento, mas da exploração, logo, a liberdade ocorre na medida da distribuição da riqueza...”. A liberdade do socialista não é diferente do que a liberdade de um liberal, pois, os dois lados acreditam só em uma liberdade econômica. Vamos além: liberdade não tem a ver só com o modo econômico que as pessoas possam conquistar, mas, tem a ver com a vontade de fazer o que tiverem que fazer. Daí os antagônicos se unem, pois, o ser humano quer muito além de ter coisas e os socialistas (que a grande maioria nunca leram Marx) erram. No mais, socialistas e liberais são contra ou a favor do mesmo pensamento que coloquei de Rousseau no começo do texto.

Talvez, nessa frase mostre como essas “correntes” são conceitos que o senso comum produz para se auto enjaularem para não tomarem suas próprias decisões, pois, talvez, Platão tenha razão em dizer (seguindo seu mestre Sócrates) que o conhecimento te trará a verdade. E verdade aqui não é a crença em algo ou em alguma narrativa política ou religiosa, a verdade esta além daquilo que podemos enxergar. Não enxergamos toda a realidade (nossas vistas enxergam uma fração dessa realidade), não ouvimos todas as frequências, não temos pelos e não temos garras para nos defender, então, somos seres limitados que precisamos desenvolver essas coisas artificialmente através da imaginação. O conhecimento te liberta da questão das amarras desses conceitos. Só que nos fizeram acreditar que somos dependentes do poder e esse poder nos amarra. No final das contas, essa liberdade pode ser um mito.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Referência:

Sobre a liberdade