quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Ah, nossas universidades!

 



Antes de analisarmos um conteúdo equivocado da matéria de antropologia filosófica temos que deixar bastante claro a importância de se ter um povo educado dentro do que a sociedade determinou, pois, a educação é a construção de um ethos que passa em geração em geração com as mudanças ou não. No mais, segundo as tradições ocidentais, na matéria da educação herdamos muitas coisas dos gregos e muitas coisas dos latinos (através de Roma). O primeiro – o berço da civilização ocidental – cria a educação como modo de propagação de suas tradições em gerações em gerações começando com os mitos (mythos) e depois com o pensamento filosófico. Mas, como defende alguns pensadores do dezenove com o vinte, os grandes educadores que continuou a base educadora das tradições foi Homero e Hesíodo. Não nos interessa aqui saber ou investigar se os dois poetas existiram de fato, mas, como defende o filosofo Werner Jeager (na sua obra Paideia), através dos poemas deles, houve uma revolução como era passado os costumes e as tradições gregas.

 Dos latinos (representada pela figura imponente romana) herdamos o modo de educar as crianças conforme as tradições e conforme a sociedade onde esta inserida, como se a realidade dependesse disse e o “educare” era mostrar a realidade de fato (mesmo que essa realidade seja meros conceitos condicionados por vozes dissonantes coletiva). Poderíamos enveredar no campo da metafisica ou da física e perguntar o que seria a realidade – como o tempo e sua prisão que está no passado, presente e futuro – e que natureza que ela tenha (que poderemos chamar de metafisica). Mesmo o porquê, a realidade mudou muito entre aquilo que os romanos acreditavam que era e os modernos enxergam hoje em dia com o avanço de pesquisas físicas, biológicas cosmológicas e até mesmo, pesquisas antropológicas, filosóficas e históricas que podem modificar uma civilização.

Refletindo como reconhecemos a realidade – a verdade tem uma outra natureza e tem a ver com a subjetividade – poderemos nos perguntar: o que seria educação para nós pós-modernos? Porque se para civilizações gregas e romanas – não só elas – a educação (paideia/educare) era um meio para continuar suas tradições importantes, na civilização pós-moderna, a educação só é um treinamento para serem maquinas de gerar lucros e esquecer quem somos e acreditarmos em uma falsa noção de felicidade. O marketing se tornou a nova religião, como se a felicidade estivesse entrelaçada com o prazer a todo custo e para isso, podemos dizer que o ganhar o dinheiro é o mais importante. Nem que meninas novas se prostitui com um verniz de entretenimento, nem que para isso você se humilhe e deixe ser humilhado por míseros lakes ou visualizações. Muito pouco ganha aquele que ainda insiste em dar um conteúdo de qualidade: aqui você tem que fazer cara de burra ou de safada e mostrar suas partes intimas, porque senão não se tem a visualizações necessárias. Por quê? Porque o trabalho é desvalorizado.

A tradições universitárias foram “prostituídas” em nome do capital. Mesmo cursos como filosofia – que deveria ter Sócrates como patrono, mas tem Marx como tal – há erros porque se prisma muito mais a quantidade do que a qualidade e a tradição filosófica fica na lata do lixo pós-moderna. Dai, fazendo bacharelado de filosofia, descobri que erros não são corrigidos e mesmo apontados não se assume esses mesmos erros. Então, em ultima analise, as universidades saíram da tradição de dois mil anos (desde Platão) para não mais passar o conhecimento e sim, passar cada vez mais ignorância e desprezo pela tradição filosófica ocidental. Nem ao menos corrigem erros primários como esse:

“A nominação Antropologia Filosófica deriva da junção das palavras gregas anthropos, que significa o ser humano ou algo relativo ao homem e logia, que significa estudo, acrescentadas da palavra filosófica, derivada também do termo grego philosophia, que literalmente significa amor pela sabedoria, mas que após a junção com anthropos, consiste no estudo de problemas fundamentais do homem dentro da totalidade de saberes (...)”

Antropologia filosófica tem uma tradição muito longa para ser desprezada destro de uma universidade de poucas décadas, pois, não há em toda a historia do pensamento isso. Não existe “logia” e sim “logos” que se flexiona para “logia” como um sufixo para caber no conceito de estudo de alguma coisa. O “estudo do homem” começa com uma frase de um templo de um oraculo onde as pitonisas (médiuns, muitas vezes) representavam o que os “deuses” diziam em enigmas. Foi assim, que o amigo de Sócrates levou ao mesmo que era o mais sábio de Atenas e ele levou como uma missão, como se ele não acreditasse que era o mais sábio e adotou a frase “conheça-te a ti mesmo”, mas, ela tem uma outra parte que era “conhecera o universo e os deuses”. Jesus em um dos evangelhos – não me lembro qual – vai dizer “sois deuses”, e disse também “conhecera a verdade e a verdade o libertara”. O que seria essa verdade libertadora?

Talvez, poderemos ir muito mais a fundo e dizer “quem somos”. Três grandes verdades antropológicas foram ditas: Buda disse que deveríamos matar nosso falso EU (produto de um discurso dominante) e que tudo não se passava de uma ilusão (meros conceitos), depois foi Sócrates com o “conheça-te a ti mesmo” porque somos a única verdade que existe no agora, nesse instante. Jesus disse “sois deuses” e que a verdade está dentro de nós e que ela é libertadora. Mas, o que seria essa verdade? Saber quem somos?

Mitologias pós-modernas como Guerras nas Estrelas (Stars Wars) mostram que a escuridão é sentimentalista, mecânica e ressentida no ponto de alimentar seus ódios. A luz é serena, contém a ataraxia dos estoicos com o egoísmo e a entrega de uma vida sem apego e sem nenhum sentimento. Esse dualismo levou o fim do modo democrático e o aparecimento (do universo expandido) de jedis cinzas. Mais poderosos e mais livres. E então, o humano é o lado sombrio e que os sentimentos lhe dão desprezo com aquilo que importa: o outro como referência do EU. A luz tem o preço da solidão enquanto tal. racionalidade e o sentimentalismo tem que estar em equilíbrio.

Precisamos de professores que possam – sem medo nenhum – fazer análises mais profundas do que meras conjunturas ideológicas dos seus conceitos em cima das suas crenças. Já denunciei em outros textos que tiraram a metafisica da filosofia – por causa da confusão iluminista em confundir metafisica com teologia – e isso foi um erro, pois, tiraram a matriz do pensamento mais profundo além da nossa realidade. Na filosofia – sem nenhuma exceção – a realidade e os objetos são meros conceitos e não tem como ser de outro modo.

Mas, os erros continuam como esse:

 

“Para Platão, Protágoras foi o criador do ofício de sofista, professor na Grécia Antiga e no Império Romano, que ensinava a aretê, palavra grega que significa perfeição, nas atividades exercidas pelos indivíduos.”

Não vi paragrafo com tantos erros possíveis. Platão – que iniciou a tradição acadêmica que se perdeu – nunca achou que Protágoras tivesse iniciado a carreira sofista. Nem mesmo Protágoras foi professor do império romano e nem mesmo, areté pode ser traduzido por perfeição. Protágoras ficou conhecido por causa de Platão e por causa da sua celebre frase: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são, das que estão na sua natureza e, da explicação da sua inexistência”. Essa “medida de todas as coisas” não se refere de coisas materiais (ou naturais) e sim, das coisas psicológicas, segundo os especialistas. Eu desconfio dessa interpretação, porque essa “medida de todas as coisas” me parece muito mais profunda. Claro, a Cruzeiro do Sul (UNICSUL) é evidentemente, uma universidade católica.

A “medida de todas as coisas” pode ser interpretado como a medida de toda a realidade (processo físico/químico) e toda não-realidade (sua natureza espiritual). Os antigos tinham um modo muito diferente em lhe dar com a filosofia, pois parece (muito diferente dos modernos) que eles tinham uma intuição muito mais espiritual. Isso não tem nada a ver com o espírito em um modo religioso – sem ser essas religiões espiritualistas – e sim, em um modo muito mais profundo da realidade do que nós os modernos. E isso era muito racional, porque instintivamente, não lhe damos com ideias de modo racional, mas daquilo que colabora com nossas crenças. De marxistas a liberais, de ateus a religiosos, tudo não passa de crenças justificadas no meio de ideias e desse modo, somos a medida de todas as coisas dentro de uma realidade que, muitas vezes, queremos esquecer.

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

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