sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Caso Leadrinha Du´Art segundo a filosofia

 





Sociedade hipócrita, pessoas fúteis, egoístas e interesseiras.

Khan Alniz

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

Poderiam dizer que a deficiência poderia me incomodar, porém, a questão da deficiência tem uma outra terminologia e entendimento, dentro da questão ótica do corpo, para mim. Por outro lado, muitos deficientes vem me incomodando bastante com atitudes que não ajudam a acessibilidade e a aceitação da deficiência dentro de uma ótica maior social – até mesmo uma maior aceitação do corpo com deficiência – que ainda vê a deficiência ou como uma doença, ou como um mal a ser purgado por pecados de antepassados ou alguma coisa que tenha feito em uma outra vida.  Nesse contexto, diríamos que o caráter de um indivíduo não pode ser medido por sua cadeira de rodas (ou outro aparelho ou deficiência), porque tem a ver com o que você é dentro de um contexto maior.

Artigos acadêmicos mais sofisticado – não menos analítico – começaria essa análise dizendo o conceito de preconceito em Foucault. Claro, em matéria de preconceito e normalidade, poderemos encaixar muito bem a questão da normalidade social que o filosofo francês Michel Foucault (1928-1984) tanto investigou. Na verdade, Foucault fez uma investigação sobre a discriminação dentro de uma ótica muito abrangente – até mesmo com uma vasta pesquisa da idade média – e que poderemos, porventura, usar nesse artigo que abortara o corpo com deficiência e mostrar que uma coisa é ter um corpo com deficiência, outra coisa é ter atitudes para ganhar ainda mais evidencia dentro da ótica singular. Mas, eu alguns aspectos não poderemos concordar, porque segundo o filosofo, há dentro de qualquer preconceito, um discurso de controle governamental que quer o controle da grande massa. Mas, o que poderia interessar, por exemplo, um preconceito de pessoas de outra etnia se acontecera um aumento substancial da questão da mão de obra? Podemos colocar diante da análise de Foucault, talvez, uma percepção da cultura europeia e o ressurgimento, ora sim ora não, de movimentos reacionários de propagação de um passado inexistente.

O discurso do preconceito e da discriminação – em vários períodos históricos – são culturais e se são culturais, tendem a abarcar ate mesmo o discurso político. Mas, nos deparamos em uma ótica diferente, quando vimos que o aspecto do nascimento do antissemitismo como uma “intriga” de industriais burgueses fizeram para eliminar a concorrência (como os fetos da Pepsi ou o hamburger de minhoca do McDonald) e que culminou em última análise no holocausto nazista. Daí a análise foucaultiana é certa e deve ser adotada, mas, com a deficiência é algo diferente. Poderemos dizer, que a essência ou a raiz do pensamento capacitista vem de uma crença que existem pessoas superiores (pessoas com o estereotipo normativo) e outras inferiores (com o estereotipo não normativo), que são hierarquizadas de acordo com certas habilidades físicas ou laborais (de trabalho).

Muitas vezes, esse capacitismo resulta em uma inclusão ou ate mesmo, assedio moral e sexual, e indo além, a morte. Existe a famosa história que Hitler ao assinar o decreto da eliminação de pessoas com alguma deficiência chorou, não faz desse decreto algo suave. Mas, mostra, que havia – e de algum modo ainda há – uma visão preconceituosa que as pessoas com deficiência são “sofredoras” e que só é feliz com a perfeição. Isso é alimentado desde a pré-história, quando o ser humano era nômade e muitas pessoas no mesmo clã não poderiam ser aceitas, ou se fosse pela deficiência (como forma de atrasar o clã), velhice (como forma de lentidão do clã) ou doentes (como a parada frequente do clã). Em uma análise profunda, as questões da pré-história são de fato, enterradas em um passado distante e deveriam ficar lá como o resto dos preconceitos que ainda assombram a sociedade.

Se poderemos dialogar com Foucault diante do discurso dominante de ainda achar que o corpo com deficiência não é um corpo funcional, com a filosofia da diferença de Giles Deleuze (1925-1995). A filosofia da diferença proposta por Deleuze apresenta uma abordagem crítica e inovadora em relação às tradições filosóficas que priorizam a identidade em detrimento da diferença. Essa perspectiva nos desafia a repensar as formas estabelecidas de nos relacionarmos com o mundo, com os outros e conosco mesmos, permitindo-nos acolher a diferença e afirmar as singularidades. Além disso, essa filosofia também se configura como uma crítica à visão tradicional que tende a estabelecer identidades fixas e categorias rígidas.

Se essa filosofia (da diferença) tem a configuração como uma “critica a visão tradicional de mundo”, então, podemos afirmar, que a filosofia da diferença de Deleuze tem a ver com o único. Mas – que podemos concordar com ele – não é uma visão identitária dentro de um prognostico do preconceito. Mesmo assim, a visão da deficiência é quebrada dentro da questão máxima do capacitismo. Mas tem um outro lado.

Se a sociedade tem uma certa visão do corpo com deficiência como algo incapaz ou sofredor, por outro lado, existem pessoas com deficiência que aproveitam da deficiência. Como dissemos antes, uma cadeira de rodas (ou outro tutor de locomoção) não pode ser métrica nenhuma para ser colocado como se a pessoa tem caráter ou não. Sempre temos que lembrar que a raiz dos termos caráter tem a ver com ETHOS que é, segundo Werner Jaeger, o espírito do mundo grego. Muito recentemente, ETHOS passou a ser tratado coimo o espírito de uma nação ou povo (até mesmo, época). Ou seja, quando dissemos que depende do caráter de um indivíduo, devemos nos focar naquilo que a cultura traz. Mas, o que a nossa cultura nos traz como educação? Se submeter a grande maioria ou a instituições para conseguirmos algumas coisas? Nos ensinam que as leis são para os outros e não para si também?

A questão da Leandrinha – como de todos os influencers com os sem deficiência – tem a ver com o gosto do publico e como o publico reage em certas atitudes. Porque sabemos – com certeza – que somos criados desde a infância (desde os anos 80 do século passado), com a visão que vídeo tem que ter entretenimento e não modos educacionais. Muito poucas visualizações tem vídeos de coisas relevantes e que tenha certa relevância, seja dentro de qualquer mídia social. O nosso Instagram – onde eu escrevo coisas de filosofia e alguns pensamentos – não tem curtidas porque não se submetemos a modas passageiras e coisas afins.

Portanto, por mais que sabemos que há sim um capacitismo muito grande, Leandrinha só é produto de uma cultura do “maria-vai-com-as-outras”.

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