quinta-feira, 2 de novembro de 2023

O evangelismo político capacitista

 


"Há um desmonte das políticas para pessoas com deficiência"

 

(Senadora Mara Gabrilli, Agência Senado)

 

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Muito se fala do capacitismo (vindo do espanhol, “descapacita”), mas, ninguém exigiu um estudo muito mais profundo sobre o assunto. Afinal, o que seria o capacitismo? A fala de uma vereadora de uma cidade de Pernambuco – que pais de deficientes são pecadores – reabre a discussão sobre o preconceito dentro de qualquer diferença dentro de certas normalidades que estão no discurso vigente. Poderíamos colocar como Foucault refletiu sobre o discurso de uma classe que dispõem a espalhar certos conceitos – que podem virar preconceitos – de um discurso da normalização de uma sociedade. Ou por não ter recursos na época, ou por pura falta de vontade politica de efetivar uma melhora no tratamento, pessoas com deficiência sempre foram hostilizadas, trancafiadas, usadas como objeto de crença ou bode expiatório para promoção e propagação dessas crenças, teve seu ápice no nazismo onde milhares vieram a óbito. O ser humano só pode ser feliz na normalidade, pois, só andando se pode ter autonomia.

O povo evangélico – que segue muito mais o velho testamento do que o novo, parecendo judeus – ainda não aprendeu com Cristo a serem cristãos e com isso, acham que estão (como sua religião mesma prega) no tempo dos profetas. No velho testamento – não sei dizer em que parte – esta que pessoas com deformidade e mulheres menstruadas não podem subir no altar para fazer o holocausto (o sacrifício de animais e queima em uma pira, por isso que se chamou o extermínio de judeus nos campos de concentração de holocausto) e isso diz muito com o cristianismo. Se uma pessoa com deficiência quiser ser padre, por exemplo, tem que pedir permissão ao papa. Muito pouco existem pastores com deficiência – só se ele abrir uma igreja – por terem a visão da perfeição e da normalidade do corpo.

O medo do desconhecido sempre assombrou a humanidade, só que o medo traz mais sofrimento e exclusão daquilo que lhe dará medo. Muito mais fácil e seguro colocar as coisas como certezas absolutas do que vê que a realidade é muito mais complexa. Ou seja, o ser humano é uma construção e seu poder racional e sua consciência, faz entender essa realidade num ponto onde ele sabe que a única certeza da vida é a sua própria existência. Ou seja, a existência sempre foi colocada como um ponto inicial para o questionamento de algumas verdades, e essas verdades nunca são questionadas por causa dessas falsas certezas que só existem na nossa subjetividade.

Gosto, nesses casos, de colocar como a má-fé de Sartre. Ora, a má-fé ai – no caso da vereadora – é que, duas mulheres adultas brigando (uma delas usando uma plenária para futricar uma briga que não é dos vereadores) e envolvem uma criança com deficiência. Como a vereadora tivesse fugindo de algo, pois, ela teria liberdade de não dizer que um filho com autismo (a deficiência da criança) fosse um tipo de castigo. Ela não tem certeza. Se acha a vitima. Se acha superior por ter filhos que não tem uma deficiência. A deficiência – nesse caso – é vista como uma fraqueza e não como uma condição. Existe, a meu ver, a fenomenologia da deficiência. A existência em si da condição que não é a pessoa, não tem a ver com uma qualidade e sim, existe por ela mesma. Ou por causa de doenças, ou por condições que descapacitaram o corpo de uma função. Mas, que não é a pessoa em si.

Sim, a fenomenologia da deficiência existe, porque foi usada por muitos professores para estudarem o fenômeno do aprendizado das crianças deficientes. O fenômeno para Husserl, tem a ver com o fenômeno na sua pureza, por exemplo, a deficiência como fenômeno em si mesmo sem preconceitos ou conceitos. Ou melhor, para a fenomenologia, o que importa é a experiencia vivida por pessoas deficientes.  Como elas percebem o mundo e como nós, experimentamos a nossa própria corporeidade e como se relacionamos com os outros e com o ambiente ao seu redor. Ou seja, se busca – através da fenomenologia da deficiência – entender as vivencias subjetivas que vivemos. Ou seja, a questão da deficiência é sempre uma questão subjetiva e depende do grau, das condições que se estão essas pessoas, e como elas foram educadas. A deficiência é uma realidade posta, a sociedade ainda no medievalismo – lembrando que o protestantismo se dará na era moderna – tem que entender isso.

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