sábado, 25 de novembro de 2023

Por que ‘aulas vagabundas de filosofia’?

 




Amauri Nolasco Sanches Junior

O Secretário da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, Fabio Pietro, disse: "a turma do sindicato fica dando aula vagabunda de filosofia e sociologia, para que vocês não aprendam nada" ainda acrescenta que "o colégio público ensinou matemática e português". Há dois problemas nas falas dos secretários, porque acho que ele tem uma concepção deturpada da filosofia levada a filosofia olavista. Uma que a filosofia e a sociologia sempre foram ligadas a política - como demonstra na segunda fala mostrada no vídeo - e se um jovem quiser sentar na “cadeira do prefeito”, tem que saber matematica e portugues, mas, tem que saber ética (filosofia), como existem morais vigentes (filosofia/sociologia), como as sociedades se comportam (sociologia) e cidadania (filosofia política).

A pergunta <o que é filosofia?> tende a explicar (ou a tentar) o que seria a filosofia e qual sua função. Por isso a questão <para que serve a filosofia?> não faz nenhum sentido, pois, a filosofia como racionalização da realidade existente, não pode servir a ninguém ou a nada. Alias, etimologicamente, o termo servir que veio do latim “servitium” que queria dizer “escravidão, servidão” , ou ainda de “servium”. Ora, talvez porque o ato de servir tenha origem na monarquia, do império, onde o servir estava condicionado em uma satisfação das necessidades do soberano e dos seus. Mas, servir remonta servir algo para, ou seja, tem que ter algo a oferecer e o poder nunca gostou o que a filosofia sempre teve a oferecer: o mundo mais ampliado. Portanto, a filosofia (philia pressupõe escolha e um caminho e Sophia é o objeto dessa procura) com a liberdade que tanto preza nunca iria ser serva a nada. Não é escrava e sim senhora de todos os saberes.

Depois, o secretário não teve aulas de retórica, pois não expressou o que queria dizer. Grande problema dos dias de hoje não só na política, mas as pessoas perderam a capacidade de falar o que pensam. A questão toda é a ideia - de Olavo de Carvalho - que existe um marxismo cultural que degenera nossa cultura e transforma nossa cultura. Como eu faço bacharelado em filosofia - portanto, sei o que estou dizendo - não há um ensino homogêneo de doutrinação marxista nas universidades (pelo menos, olhei o currículo de um monte e não há nada). O que há e isso tem de ficar claro, uma forte tendência de escolha de ser de esquerda (pode ser a marxista) e existe os da direita. Eu estou sendo libertario. Mas há sim estudos sobre Marx por causa da importância dos estudos dele na sociologia.

Outra coisa que temos que esclarecer é que, o marxismo (o de verdade) odeia os wokes e chamam eles de liberais brincando de esquerda. De algum modo a briga política da velha narrativa política da esquerda e a nova, vai ganhando corpo cada vez mais. Acontece que tanto o petismo (que tem um viés antigo de trabalhismo) e o bolsonarismo (que tem um viés da direita olavista), simplificam problemas culturais muito sérios e que deixam de ser analisados por causa dessas análises rasas. A educação que temos aqui - apesar de essa crise mundial - é uma educação científica que vem do positivismo e que não deu certo. Deixam de reforçar o básico (estou falando, exatamente, de portugues e matemática) para querer dar algo que não tem nada a ver, como lógica. Lógica é para pessoas mais velhas, matemática básica é o ideal até o ensino médio.

Voltando a filosofia, se você não estuda a filosofia a fundo - e tem uma diferença entre estudar autodidata e estudar academicamente - não se entende que a filosofia vai puxar a racionalização de qualquer coisa que tem a ver com a política (que vem de politikon que eram cidadãos da polis). E no mais, a filosofia dará uma visão muito mais ampliada da ética e da moral, levando aos cidadãos questionar decisões que não fazem parte da democracia e questionar nossa liberdade sem amarras de fanatismo ideológico ou religioso. Filósofos que defendem uma posição, não são filósofos.

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